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bom dia, pessoal! a edição de hoje é novamente uma coletânea de textos antigos da ‘eu destruirei vocês’ — espero que ninguém me ameace de morte por causa disso.
basicamente, eu ando completamente maluca nos últimos dias: acontecimentos preocupantes, tarefas misteriosas aparecendo do nada e os horrores da vida em geral chegaram e parecem não querer ir embora. mas está tudo ótimo! eu só precisei trancar uma disciplina na faculdade, por exemplo. pelo menos não foi duas. já pensou? seria bem pior. meu olho esquerdo está tremendo
semana que vem, a programação normal eu destruirei vocês está de volta. fique agora com um texto sobre um ARG da novela Negócio da China
uma das partes mais legais do início da internet é que ninguém sabia exatamente qual seria o propósito dela na vida do século XXI — mas no final do último milênio, com essa tecnologia ainda engatinhando, alguns portais já começavam a descobrir o que as pessoas queriam: informações sobre o tempo, wallpapers irados para turbinar o seu PC e notícias sobre o casamento de Ronaldinho e Milene Domingues — se você for ver, o Fuxico nasceu praticamente só pra isso
e nos anos 2000, com o advento do flash & outros absurdos, a palavra multimídia começou a fazer mais parte da vida das pessoas. eram tantos possibilidades trazidas por esse novo meio que todo mundo ficou alucinado e começou a criar umas bizarrices só porque eles podiam — é daí que surgem coisas o jogo de plataforma da novela Fina Estampa, animações em que o Tobby entrevista o lateral Roberto Carlos e os famigerados ARGs
ARG é uma sigla em inglês que significa alternate reality game, ou jogo de realidade alternativa, e que foi bastante popular por um período no final dos anos 2000. sabe os enigmas do Cellbit? os ARGs foram o protótipo disso. eram quebra-cabeças, normalmente criados por marcas como forma de propaganda, que o jogador tinha que seguir várias pistas jogadas pela internet até chegar no grande prêmio, que podia consistir em algum brinde que a pessoa recebia em casa ou só uma tela dizendo parabéns, você ganhou
eu lembro de ler sobre esses tais ARGs em uma edição da Super Interessante por volta de 2007 — o auge da série Lost e seus mistérios — e de fazer parte de uma comunidade no orkut sobre o assunto, que não tinha mais do que 400 participantes mas era surpreendentemente ativa. lembra do ARG do livro Cabeça Tubarão promovido pelo Omelete em 2007? claro que não lembra, mas eu participei daquilo. só que o que mais me marcou certamente foi o ARG da novela Negócio da China, intitulado Segredo da China. sim, essa é aquela novela
se você faz parte do 99,93% da população que não lembra de Negócio da China, o enredo da novela girava em torno um pen drive que guardava os dados de uma transação digital que um bando de mafiosos chineses tinha feito no valor de um bilhão de euros — se eu não me engano, foi aqui que surgiu o Bitcoin
os detalhes desse ARG eu não me lembro muito bem, mas olhando os e-mails que eu recebi na época em que participei dele, nós tínhamos que procurar pistas e números secretos em lugares como o site da academia de kung-fu da novela e enviar eles pro e-mail theo@segredodachina.com.br. e tudo isso pra que? para ganhar uma viagem com tudo pago para o Projac — na época ainda não tinha essa besteira minimalista de Estúdios Globo
nas fases finais do Segredo da China, o negócio foi afunilando até chegar nos 50 últimos concorrentes — e eu estava nessa disputa. os 50 doidos receberam em casa um pendrive oficial da novela que eu lembro de ter umas seis imagens em .jpg que continham coordenadas secretas. quem descobrisse as coordenadas certas e enviasse elas para o e-mail do Theo ganhava o ARG, a viagem pro Projac e a glória eterna. eu não tenho mais esse pendrive e foram anos procurando ao menos alguma foto dele na internet, até que há uns meses alguém aleatoriamente me marcou em um tweet que eu havia feito sobre ele anos atrás. foi bom saber que eu não estava louca e que isso realmente existiu



no final, quem ganhou o grande concurso, segundo um post de fevereiro de 2009 do blog Entre Breaks, foi uma doida chamada Alice. parabéns, Alice. espero que você tenha conhecido a Juliana Didone e o Herson Capri
Os Novos Radicais é um nome horrível de banda
os clássicos do pop rock dos anos 90
para mim, os melhores hits dos anos 90 são aqueles que parecem ter existido desde o início dos tempos. músicas que são tão intrínsecas à nossa sociedade que a gente escuta e reconhece elas na hora mesmo sem nem saber onde a ouvimos antes. tipo, eu não faço ideia qual filme ou desenho eu assisti na minha infância que tocou Bitter Sweet Symphony do The Verve, mas quando ela apareceu pela primeira vez numa playlist que eu estava ouvindo no YouTube lá por 2008 e eu escutei aquele violino icônico no início, todas as memórias voltaram para mim. infelizmente a única parte boa dessa música é esse violino aí, mas o que importa é a intenção
eu acho o pop rock dos anos 90 um gênero engraçado porque grande parte das músicas é muito ruim mas também tinha uma sinceridade nelas que é difícil ver na música pop hoje em dia — e isso é irônico considerando que os anos 90 supostamente eram pra ser a década da ironia. você pode achar Two Princes péssima — e ela meio que é — mas ela era exatamente o que os cantores e compositores da banda queriam fazer. isso não dá pra negar. Mr. Jones do Counting Crows é uma merda? claro que é, mas eu sinto alguma coisa ouvindo. ninguém sente nada com uma música do Imagine Dragons
e por isso eu gosto tanto de New Radicals – You Get What You Give. música sincera da porra
apesar de Os Novos Radicais ser o pior nome possível para uma banda, eu acredito em absolutamente tudo que o Gregg Alexander canta nessa música. you’ve got the music in you? putz, tenho mesmo. eu tenho a música em mim. you've got a reason to live? nossa, sim. não vou mais me matar. é uma música catártica, rebelde, com um refrão enorme e é outra que eu não faço ideia onde eu escutei pela primeira vez — provavelmente foi em algum American Pie da vida. ela tem cheiro, gosto e cor de infância, de um verão na praia, de edição das 18h do Disk MTV, de anos 90. uma década que eu vivi muito mais conceitualmente do que fisicamente. eu nasci em 1996. eu praticamente não tive uma consciência nos anos 90
beije-me, porra. sob o crepúsculo enevoado. caralho. Kiss Me, do Sixpence None The Richer, é uma daquelas canções que quando você para pra analisar é simplesmente a melhor música do mundo. essa é uma música tão boa que até os adolescentes de hoje em dia gostam dela, e eu pensei que eles só escutavam Rap do Coringa ou Kamaitachi
se You Get What You Give é pra ser tocada no verão, isso aqui praticamente inventou o conceito de primavera — antes dela ser lançada, só existia um buraco entre o inverno e o verão. talvez estranhamente, eu sempre associo muito essa música com Smashing Pumpkins, mesmo sabendo que não tem um careca no clipe cantando — mas sei lá, sinto que o Billy Corgan teria feito essa música se nunca tivesse visto um pedal de distorção na vida, sabe? faria sentido. essa é uma música muito trilha sonora de anime dos anos 90 — mas não trilha sonora de anime dos anos 80. essa vibe é totalmente diferente
e se for pra fazer associações quase indecifráveis, gostaria de dizer que Torn é a música mais trilha sonora de novela das 19h da Globo que eu conheço. pode até não ter sido em nenhum momento, mas eu sinto dentro de mim que essa música algum dia tocou no intervalo entre o RBS Notícias e o Jornal Nacional
uma constante com todos esses hits do pop rock noventista é que eles tinham refrãos gigantescos, que não são necessariamente um negócio U2 arena rock mas que te fazem querer os gritar a plenos pulmões. Torn é assim. "i'm all out of faith, this is how i feel” sim, é assim que eu me sinto! “i'm cold and i am shamed” SIM!!!! “lying naked on the floor” hm ok talvez eu não esteja tão mal assim
não sei se ser one-hit wonder chega a ajudar pra um artista ter um hit pop rock anos 90 perfeito, mas é uma coincidência meio curiosa que quase todas as melhores músicas dessa década foram feitas por gente que sumiu imediatamente depois de lançar sua obra-prima. já ouviu falar da Natalie Imbruglia depois de Torn? claro que não. algo sobre a descartabilidade do artista no meio pop, blá blá blá
e agora, mais dez hits do pop rock dos anos 90 que eu tenho sentimentos fortes a respeito
The Cranberries - Dreams. uma música inacreditável, poderosíssima, e daria pra adicionar Linger nessa lista também
The Wallflowers - One Headlight. filho do Bob Dylan escreve um refrão melhor que todos que o pai já fez
Meredith Brooks - Bitch. meio vergonhosa? claro que sim. mas as melhores músicas dessa época tem ao menos um pouco de cringe dentro delas
Mazzy Star – Fade Into You. dream pop mainstream
Blind Melon – No Rain. eu odiava esse estilo de pop psicodélico meio-XTC até literalmente ano passado. agora amo tudo e não há ódio em meu coração
Wheatus – Teenage Dirtbag. meio que aprendi a gostar. não é tão boa quanto qualquer coisa do Weezer dos anos 90, mas me dá vergonha. isso é bom.
Barenaked Ladies – One Week. os mestres da métrica
Goo Goo Dolls – Iris. o nível máximo de pós-grunge que um ser humano normal consegue aguentar — se passa disso, entramos em território quasi-Creed
Harvey Danger – Flagpole Sitta. power pop nerd e para nerds
Len – Steal my Sunshine. não é pop rock, mas é perfeita.
4 Non Blondes – What's Up. na verdade eu odeio essa música mais que tudo e coloquei ela aqui só pra poder xingá-la um pouco. puta merda, que música ruim
não sei se eu escrevo essa texto ou não
uma pergunta pra todo mundo que passou a semana elogiando o novo disco do blink-182: ahn? qual o apelo disso em 2023? é impossível levar a sério uma canção pop punk com um refrão que só repete na na na. isso é música punk pra Renner. eu consigo me imaginar perfeitamente escutando isso enquanto provo uma saia xadrez
você já escutou o disco do Todd Rundgren que ele fez usando só a voz? tipo, não existem instrumentos nesse disco? toda a percussão é só a voz dele modulada? por que ele fez isso?
eu não sei como isso aconteceu, mas o perfil @comidasextintas no twitter chegou aos 17 mil seguidores nas últimas semanas — essa porcaria estava com tipo 5 mil alguns dias atrás.
meu questionamento é: você já segue ele? eu faço piadinha lá também. é sério.
eu destruirei vocês #101: um bilhão de euros
Espero que a comidas extintas faça o favor para a humanidade de iluminar a cabeça do tuiteiro a cerca da existência efêmera mas marcante da caixa de bombom garoto "personalidades", onde era tudo quadrado com a cara dos looney tunes.
Eu era um jovem maluco por tecnologia e com a grana espetacularmente curta, o que me fez ter acesso a muitas novidades por meios alternativos. Quando descobri o Macromedia Flash, corri para instalar em meu Pentium 286 com 4Mb RAM e 1,2Gb HD. Eu estudei tanto... me dediquei tanto... que quando dominei a coisa, ela estava entrando em desuso. Era divertido ocupar 4 horas da minha tarde com uma animação de 30 segundos que ninguém dava a mínima. Minha terapeuta sugeriu que eu parasse de te seguir devido aos gatilhos, mas fazendo reuso do exemplo acima, respondo: boas escolhas não são o meu forte. Então ao menos pra edição de Natal, contará com minha atenção.