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eu destruirei vocês #102: joguinho do Mario e joguinho do Sonic
Super Mario Bros. Wonder de um lado, Sonic Superstars do outro
finalmente aconteceu: depois de anos de uma morosidade nintendista, de Mario Tennis: Ultra Smash sendo lançado como se não fosse um produto claramente ainda em fase de testes, de um Yoshi’s New Island exclusivo para 3DS, games de Mario Party sem tabuleiros, inúmeros jogos da série Mario vs. Donkey Kong sem nenhum motivo pra existir… a Nintendo respirou fundo, pensou bem e decidiu criar um jogo com ideias.
Super Mario Bros. Wonder é o primeiro jogo 2D do Mario em décadas que possui ideias. claro, determinados games do bigodudo possuem talvez uma ideia, mas raramente isso passava do primeiro numeral. em New Super Mario Bros. 2, a ideia é que você coleta moedas. em New Super Mario Bros. Wii, você pode jogar como um Toad azul. em New Super Mario Bros. U eu não lembro se tinha alguma. já em Super Mario Bros. Wonder, cada fase é uma ideia nova. uma mecânica inesperada, um inimigo novo, um obstáculo que em 36 anos de Mario você nunca viu. cada segundo desse jogo possuí mais ideias de game design que um camponês do século XII veria em toda a sua vida
Super Mario Bros. Wonder é como se fosse um amalgamado de todas as séries que a Nintendo já produziu em toda a sua história. existe um pouco de Zelda, uma pitada de Metroid, duas colheres de sopa de StarTropics, um bocado de WarioWare e uma boa dose de Rhythm Heaven. esse é um jogo 2D de Mario que, pasmem, valoriza a exploração.
sem querer trazer lembranças traumáticas da série New Super Mario Bros., é preciso ser dito que tudo que você faz nesses jogos é ir para a frente. não existe nada além disso. algum cano pode te levar para uma parte secreta da fase, mas o máximo que ele terá serão algumas moedas amarelas habituais & comuns que não valem nada. uma fase de New Super Mario Bros. é uma pista de corridas de drag: você dirige em linha reta e alguns segundos depois, tudo acabou. não há uma nuance sequer. o máximo que um New Super Mario Bros. vai te entregar é uma fase com o background inspirado em Van Gogh. quer mais? isso é tudo o que a gente tem. volta amanhã, talvez tenha mais coisa
Super Mario Bros. Wonder é o amanhã — e surpreendentemente, de algum modo, o hoje também. esse é um game em que eu frequentemente me jogo em algum abismo sem fundo só para ver se tem algum segredo lá. eu não jogo isso passivamente; games antigos da série pareciam quase jogos do Sonic de tão lineares. aqui, eu quero encontrar todos os segredos. se eu não encontrar um deles, eu sinto que estou perdendo algo — e conseguir fazer eu, uma escritora de newsletter/redatora publicitária/pessoa ocupada em geral, me importar em completar um jogo 100% é um feito colossal. nem Animal Crossing: New Horizons fez isso comigo, e eu tinha depressão quando aquilo saiu
basicamente, esse é um jogo que eu nunca imaginei que poderia existir. um game que mostra que Mario pode ser muito mais do que qualquer coisa que estava acontecendo nos estúdios de desenvolvimento da série nos anos 2010. um Mario não precisa ter um mundo de grama, um mundo de fogo e um mundo de gelo. não tem necessidade alguma de uma overdose de fases de água em um mundo com a temática praiana. as coisas podem ser diferentes, é só pensar um pouco.
os mundos de Super Mario Bros. Wonder parecem mais mundos de um Paper Mario do que qualquer coisa. Fungi Mines é focado inteiramente em cogumelos & suas mais variadas variações, Shining Falls é um mundo cheio de cachoeiras, Fluff-Puff Peaks constantemente te leva para os ares e Sunbaked Desert, mesmo sendo uma área de deserto, talvez seja o melhor mundo em todo o jogo — Color-Switch Dungeon, uma das fases desérticas, exemplifica perfeitamente o apelo desse jogo.
há uma infinidade mecânicas diferentes introduzidas nessa fase, que você encontra depois da metade de jogo: vasos que você pode arremessar em obstáculos, cobras que se escondem em tais vasos, botões que você aperta e mudam a trajetória de plataformas, chaves que você precisa coletar para abrir portas, portas abertas que levam a lugar nenhum e corridas contra uma versão sombria do Mario. e só esse parágrafo contém mais ideias do que a totalidade de Dr. Luigi
a grande novidade de Super Mario Bros. Wonder é a introdução das wonder seeds — sementes de alguma árvore não-específica que causam efeitos alucinógenos nos personagens que a ingerem, o que não ajuda a Nintendo em sua batalha com as piadas sem-graça envolvendo cogumelos e drogas. esses efeitos alucinógenos assumem diversas formas: de repente a fase entra em slow-motion, ou de repente as plataformas começam a se fazer. do nada você começa a controlar o Mario de ponta cabeça, ou então você começa a sentir uma ansiedade severa e parece que o seu coração explodiu. efeitos alucinógenos comuns que ocorrem com pessoas normais
e essas tais sementes maravilha realmente mudam o game do jeito mais óbvio, mas também mudam o jeito que você joga o game. o objetivo final não passa mais a ser simplesmente terminar a fase: você quer encontrar a semente para ver o que ela fez. é uma curiosidade quase infantil, como se você estivesse colocando uma formiga no micro-ondas pra descobrir o que acontece. qual será o efeito dessa vez? o Mario vai espichar de tamanho ou eu vou ver um demônio no canto do meu quarto?
talvez como uma forma da Nintendo tentar matar Markiplier e outros streamers famosos, Super Mario Bros. Wonder conta ainda com um sistema de gameplay embutido. são as famigeradas flores — uma das mecânicas mais desconcertantes que eu já vi em um videogame. basicamente, quando você passa por uma flor dessas, ela conversa com você em alto e bom som. ao longo de toda fase, você encontra diversas flores que vão tentar puxar um papo com você — os papos mais desinteressantes possíveis, mas ainda assim papos. é como tentar conversar com um homem hétero. homens adoram falar que está gelado quando você visita uma fase de gelo
e o melhor de tudo é que agora a Nintendo traduz jogos para o português do Brasil, o que significa que essas flores, no joguinho do Mario, falam comigo em português. o que já era irritante em outras línguas se torna muito pior em brasileiro pelo fato de terem escolhido a voz mais genérica do mundo para dublar essas plantas: é como se fosse tivessem pedido para o dublador do Mr. Beast falar com a entonação do Gato Galáctico. eu sei que isso é um jogo pra crianças, mas mesmo crianças merecem algo melhor do que isso
e a melhor parte de tudo isso é que se tornou impossível os jogos 2D do Mario voltarem a ser o que eram há poucos anos atrás: uma gosma gelatinosa sem forma definida com um cérebro rudimentar que implorava para ser aniquilada após anos, décadas de sofrimento. Super Mario Bros. Wonder traz um frescor pra série que é comparável a um Halls de menta: pequeno, curto, mas fica contigo para toda a vida. e faz com que você ouça as plantas do seu quarto conversando contigo
um hamburguer mais ou menos
o jogo Sonic Superstars, lançado para Nintendo Switch em 2023
em 1976, após mais de uma década de discos experimentais da banda, os Beach Boys decidiram jogar fora todo aquele arsenal de canções maduras e belamente compostas para se dedicar à nostalgia. foram embora os shows com Grateful Dead, álbuns gravados na Holanda e composições de sete minutos de Dennis Wilson: eles perceberam que dava mais dinheiro viajar por todo o mundo cantando as músicas simples e desleixadas que fizeram tanto sucesso no início dos 1960.
é mais fácil: ninguém quer algo novo. as pessoas querem apenas o mesmo conteúdo que cresceram amando sendo regurgitado de volta pras suas vidas. remakes de filmes clássicos da Disney, outro novo Ghostbusters, a Taylor Swift regravando seus discos: essas coisas todas servem ao mesmo propósito nefasto: alimentar o saudosismo.
hoje em dia, Sonic é isso.
apesar de ter uma história extremamente longa com Sonic — o primeiro jogo que joguei na vida — eu até hoje não tenho certeza de verdade se eu gosto dessa série. é difícil de explicar: ao mesmo tempo em que eu me divirto com um Sonic 2 ou um Sonic Mania, é como se a memória deles tivesse se misturado com todos os tenebrosos jogos da série que saíram ao longo das últimas décadas. eu não consigo pegar um Sonic Generations para jogar sem me lembrar de um Sonic and the Black Knight, é impossível olhar para Sonic Frontiers sem pensar em Sonic Forces e eu não consigo tirar da minha cabeça enquanto jogo Sonic Superstars que eu estou apenas fingindo que não estou jogando Sonic the Hedgehog 4
a abertura de Sonic Superstars conta um Sonic muito legal em um estilo anime destruindo inimigos — para os fãs lembrarem da abertura de Sonic CD. a Amy Rose, inclusive, está usando o mesmo look que usava em Sonic CD. em Sonic Superstars, o Sonic é gordinho. isso remete aos jogos clássicos da série, em que ele também era possuidor de uma pancinha. algumas fases bônus lembram fases bônus dos jogos originais, assim como a estética de diversas fases é parecida com a das zonas dos jogos clássicos. mas e aí? nesse ponto, por que simplesmente não jogar um jogo antigo ao invés de me submeter a uma imitação fajuta? eu quero saber, de coração: o que Sonic Superstars traz de novo?
todos os jogos de Sonic possuem uma certa ilusão de liberdade. olhando para uma fase, você sente como se pudesse ir para qualquer lugar — mas o jogo sempre vai te levar para o mesmo caminho. não adianta o que você tentar: de vez em quando ele te leva pra trás, mas a maior parte do tempo você só está indo pra frente. houve mais de um momento em Sonic Superstars em que coloquei o controle do videogame em cima da cama e simplesmente fui deixando o jogo se jogar sozinho. ele pode. Sonic Superstars é um jogo que não precisa de você. ele é autossuficiente.
acima de tudo, ele é também um jogo extremamente japonês. é cada vez mais difícil separar as linhas entre o que constituí um jogo japonês e um não-japonês, mas existem algumas características que sempre estão presentes nos jogos japoneses. eles são meio Balan Wonderworld, Stranger of Paradise ou Tekken's Nina Williams in: Death by Degrees: um negócio menos fluído mas com uma vibe tão estranha que é impossível não apreciar o quão desconcertante é.
Sonic Superstars possui uma escort mission em que você precisa lentamente levar um robô por toda uma fase até ele encontrar sua família. Sonic Superstars possui um quantidade sem igual de mecânicas novas e inúteis para o gameplay, que não fazem nada além de te dar mais tempo para colocar o controle em cima da cama. Sonic Superstars traz o retorno de Fang, um clássico personagem dos anos 90, em um papel ridículo e sem carisma. Sonic Superstars é um jogo.
Sonic Superstars é quando você visita uma hamburgueria pra provar um lanche que nunca havia comido antes e não tinha muitas expectativas, e ele acaba sendo completamente normal. é um sanduíche competente. a carne não está crua nem queimada, os molhos estão aceitáveis, o cheddar até mesmo está derretido. você come o lanche inteiro, mas ao final seu coração sabe que você nunca mais quer comer nesse lugar. existem opções muito melhores na sua cidade. algumas delas fazem até hamburgueres com cogumelos e sementes
gente, viram que negócio bizarro aquela newsletter que saiu essa madrugada? juro que não fui eu que escrevi. apareceu do nada no meu Substack também.
enfim, gostaria só de agradecer o incrível Emílio @insetonarrando pela logomarca especial de halloween. eu até agora estou apaixonada por ela. é tudo que eu sempre quis
incrível que a perfeita Izzzyzzz falou de Mereana Mordegard Glesgorv no mesmo dia que eu escrevi sobre na newsletter. nós temos sim uma conexão cósmica 🌌
e vocês, foram do que nesse halloween? eu decidi ser básica e ir de palhaça mesmo, que nem todas as garotas que vivem na internet em 2023. eu não sou melhor do que ninguém
eu destruirei vocês #102: joguinho do Mario e joguinho do Sonic
(voz do mario elefante) WOWIE ZOWIE
DUAS edições na mesma semana?!!! Isa, você faz tanto por nós <3