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ah, o futuro. vocês já pararam pra pensar na sorte que temos de viver no ano de 2023? trinta anos atrás, as únicas opções de entretenimento que tínhamos eram assistir uma novela na Globo ou escutar um disco de vinil de uma trilha sonora de novela da Globo — experiências que reuniam pais, mães, tios, tias, filhos e amantes em torno de um mesmo propósito. hoje em dia, graças a Deus, podemos simplesmente colocar um fone de ouvido bluetooth da JBL e fazer todas essas coisas completamente sozinhos, sem precisarmos sequer reconhecer a existência de qualquer outro ser humano
imagine só a dificuldade que era, em 1993, você conseguir montar uma playlist. era uma época em que o Spotify estava disponível em pouquíssimos países, não existia um Nero para você gravar um CD para alguém e o máximo que um disquete aguentava era alguns arquivos MIDI da trilha sonora de Doom.
quer demonstrar seu amor por alguém? a única coisa que você pode fazer é contratar um carro de som com uma mensagem carinhosa pra ela. comprar um buquê de flores. pedir ela em casamento no meio de um shopping lotado para que ela sinta a pressão e julgamento dos olhares alheios e nem sequer cogite dizer não. não tinha como você abrir o Apple Music, criar uma playlist chamada nós 💕 com duas músicas da Lupe de Lupe e mandar pra pessoa amada pelo Discord. eram tempos complicados.
hoje, n’o futuro, você pode fazer o que quiser. eu admito: não sou tão adepta assim da tal arte da criação de playlists. acho todo o trabalho de curadoria que vai por trás de algo assim um negócio incrível, mas sinto que a parte do meu cérebro responsável por achar isso divertido acaba sendo toda voltada para a criação de sets de DJ — um trabalho parecidíssimo, mas ao mesmo tempo completamente diferente
as únicas playlists que eu realmente adoro montar são as feitas quando um amigo meu me pede recomendações musicais de algum gênero específico. “isa, eu queria escutar um pouco de folk… umas músicas mais calminhas, sabe… conheces alguma coisa?” é claro que eu conheço. eu literalmente não viveria sem folk depressivo dos anos 70, principalmente folk depressivo dos anos 70 feito por mulheres. eu preciso dar um rolê na sua mente
fora isso, minhas playlists consistem em compilações de sete músicas de harsh noise com o título “músicas para tocar quando tem alguém que eu não gosto no carro” ou uma lista com mais de 3500 músicas que eu mantenho desde 2014 contendo praticamente todas as canções que eu gosto no mundo. por isso, eu acho muito mais divertido escutar playlists de outras pessoas. uma playlist é um negócio muito pessoal — pois foi feito por uma pessoa, e cada pessoa no mundo é diferente. se quiserem que eu explique melhor esse conceito mais tarde, é só me ligar
as minhas playlists favoritas normalmente são mais temáticas — não que eu também não adore listas com as músicas mais aleatórias possíveis, mas existe uma beleza em algo tão bem curado que precisa ser apreciada. dá uma olhada em moomin valley
essa é uma playlist composta inteiramente das músicas mais soft que você já escutou em toda a sua vida. as trilhas sonoras de jogos indie mais calminhas, os discos japoneses de ambient dos anos 80 mais serenos e os folks mais tranquilos que já existiram. é tudo muito cheio de sinos de vento, teclados MIDI e instrumentos de corda — exatamente o tipo de música que você precisa quando quer estudar, ler um bom livro ou escrever uma newsletter
quando eu estou com preguiça de procurar um disco novo do James Ferraro pra ouvir enquanto escrevo uma edição, normalmente eu coloco para escutar moomin valley. isso tem tudo que eu preciso. é a versão mais culta de um lofi hip hop radio - beats to relax/study to. você se sente superior ouvindo essas músicas, e é isso que importa
FUCK ART, LET’S DANCE! é uma playlist direta demais. tudo bem, eu quero dançar sim, mas calma aí: eu não quero que a arte se dane. essa é uma compilação do melhor do indie dos anos 2000 — mas não aquele indie pau mole que serve apenas para sofrer. não tem The National ou Bon Iver: aqui tem Yeah Yeah Yeahs, Chromeo e Justice. graças a Deus
essa playlist é incrível principalmente pela dimensão: tem mais de mil músicas aqui e você pode até conhecer a maioria, mas eu te garanto que você não conhece tudo — até porque é impossível que realmente exista uma banda dos anos 2000 chamada Go-Kart Mozart. na verdade, pensando na existência de Clap Your Hands Say Yeah, isso é completamente plausível
e qual o conceito de 💉fila da hemodiálise 💉? não sei direito. todas as músicas são brasileiras, mas é uma mistura tão eclética, quase esquizofrênica que eu não sei te dizer direito o que ela propõe — e é por isso que ela é incrível. músicas de Quinteto Ternura e Miriam Batucada misturadas com Kelly Key e Rogério Skylab, Fellini com Arlindo Cruz, Denise Assunção e logo depois Vanusa. eu não quero nenhuma explicação. estou ótima assim. a vida precisa de mistério de vez em quando
a única coisa que une todas essas músicas é que tudo é muito brasileiro e muito bom. eu, particularmente, não preciso de mais nada
essa foi a Bruna que fez. eu amo namorar a pessoa mais emo que eu conheço
olá! esse texto faz parte da edição #X23 da eu destruirei vocês, intitulada isabela's version.
é isso mesmo: já foram lançadas 23 edições exclusivas para assinantes da eu destruirei vocês nesse último ano! para ter acesso a todas elas e maratoná-las como se o meu conteúdo fosse uma série ruim da Netflix, é só clicar aqui embaixo
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fique agora com uma crítica do disco 1989 (Taylor’s Version), da cantora estadunidense Taylor Swift. eu te amo
uma versão da Taylor Swift de 1989
o disco Taylor Swift — 1989 (Taylor’s Version)
não adianta: de algum modo, a básica Taylor Swift é a maior artista do mundo — e é isso é um fato, não uma opinião. talvez ela seja o maior exemplo de uma artista que estava no lugar certo na hora certa: nunca existiu algo que melhor combinasse com a estética do tumblr 2010 print galáxia do que uma garota nerd em seu quarto no clipe de You Belong With Me, nada mais conivente com o estilo tumblr 2013 alex turner mod do que a menina indie no clipe de I Knew You Were Trouble e nada mais tumblr 2015 gatekeep gaslight girlboss do que tudo que acontece no clipe de Blank Space. se você não entende nenhuma dessas palavras, tudo bem: você só não estava lá
desde 2021, por causa de problemas de direitos autorais que apenas pessoas interessadas demais em música pop saberiam explicar, Taylor Swift anda regravando e relançando todo o seu catálogo musical até 2017 — ano de lançamento do tenebroso Reputation. e num caso de anti-arte, essas regravações não buscam transformar as canções em algo diferente ou mostrar uma nova perspectiva sobre aquela música — ela tenta ao máximo deixar as obras mais parecidas possível com a original. claro que isso é uma tarefa quase impossível, mas o objetivo principal é que as canções sejam iguais ao que eram antes. uma obsessão com controle no estúdio que apenas o Steely Dan conseguiu alcançar
e por isso o lançamento de 1989 (Taylor’s Version) é tão importante pra mim: esse é o único disco da Taylor Swift que realmente fez parte da minha vida. escutei um pouco de Red na minha adolescência, achei Lover relativamente competente e folklore embalou uma ou duas noites da minha pandemia, mas 1989 foi o álbum que mais fez sentido pra mim — e toda pessoa que gosta um pouquinho da Taylor tem um disco assim.
1989 é como se Taylor Swift tivesse feito um disco da Lorde — mesmo sendo um ícone da cultura pop e conhecida em todo o mundo, ela ainda é um ser humano normal que escutou Royals em 2013 e ficou maluca. 1989 foi o momento em que a Taylor realizou a transição integral para uma estrela pop convencional. ela não precisa mais tocar seu violão pra ser levada a sério: ela só precisa do carisma e da presença de palco. a partir desse momento na história, se ela quiser, pode decidir ser só um rostinho bonito cantando canções de amor. a escolha é dela
Taylor Swift não é Joni Mitchell, mas eu não tenho problema nenhum em comparar ela com uma Carole King da vida: compositoras que tem um talento incrível pra escrever canções pop que fazem sentido pra muita gente. músicas como Welcome to New York e I Wish You Would fazem tanto sentido para pessoas de idades e vivências específicas se é como se a Taylor conhecesse você — mas ela não te conhece. é que quase todo mundo sente as mesmas coisas na vida, só que a gente não fala
uma Style da vida, por exemplo: existe algum sentimento mais clássico e menos blasé do que simplesmente achar um homem gostoso? ou Wildest Dreams: como é possível alguém escrever uma música tão linda sobre sentir saudades de um homem gostoso? é inacreditável como essa mulher consegue fazer as maiores obviedades do mundo parecerem tão sinceras. '“he's so bad but he does it so well” é um post que eu encontraria no tumblr em 2012 escrito com caneta Stabilo cinza em um papel de gramatura 120. como então eu consigo sentir tanta verdade quando ela fala isso?
“if i'm junk, might as well be junk in love”? como assim não foi um dos meus amigos patéticos do twitter que escreveu isso? lançado na última sexta-feira, 1989 (Taylor’s Version) é a versão de Taylor Swift do álbum 1989 — novamente, porque ela já tinha feito esse disco uma vez. essa é um auto-cover feita por uma pessoa que não existe mais: a Taylor Swift de 2014 não pode falar no telefone agora, pois está morta. ela não é mais uma mini-adulta de 24 anos: ela é uma trintona cujas próprias composições antigas nem fazem mais tanto sentido assim, e isso transparece nesse disco
Blank Space se tornou uma música insípida, Style não tem metade do impacto emocional da original e Shake It Off continua tão constrangedora quanto era no seu lançamento em 2014 — Bad Blood eu não sei se é melhor que a original, porque nunca consegui ouvir essa música até o final. toda essa estética meio padronizada adulta contemporânea dos Taylor’s Version pode combinar com a visceralidade do Red ou a sonoridade mais real de um Fearless, mas tentar transmitir o mesmo sentimento com um disco totalmente e inequivocadamente pop como 1989 não parece fazer sentido pra mim. todas as canções perderam algo nessa transição. eles Jack Antonoff-icaram demais o negócio
1989 (Taylor’s Version) é uma versão da Taylor Swift de 1989 — isso não se pode negar. pode-se perguntar também qual a necessidade de uma regravação como essa, que não traz quase nada de novo à mesa — o remake de Psicose dirigido por Gus Van Sant da música. mas nesse caso, a resposta é óbvia: ela fez isso por dinheiro. portanto, não tem muito o que fazer: 1989 (Taylor’s Version) é um disco feito exclusivamente para que uma artista rica fique ainda mais rica. motivos artísticos para a sua existência não existem.
é como ter uma reprodução de um Magritte na sua casa: é ok, mas você sabe que não é o original. ele está ali, e tudo bem.
atenção para a #publi: pessoal de Criciúma & região, eu estarei tocando um set do melhor da disco music na Discoteca Transléxica: Disco Inferno dia 18 de novembro! como diz o release da festa: separem os looks glamurosos e tragam seus leques! eu farei exatamente isso.
ingressos disponíveis pelo instagram da festa! mandem DM! venham me ver! não sejam estranhos!
decidi pesquisar um pouco sobre Skank outro dia e me deparei com a informação de que Balada do Amor Inabalável foi escrito pelo Samuel Rosa junto com ninguém menos que Fausto Fawcett. e realmente, escutando a instrumental você vê como isso faz sentido. só Fausto Fawcett escreveria o verso “eterna love song de nós dois”
é incrível como esse nome continua aparecendo nas minhas obsessões efêmeras, porque ele também escreveu uma música no melhor disco da Angélica. o fato de eu ter uma opinião sobre o melhor disco da Angélica diz tanto sobre mim
frase escrita antes da partida Criciúma x ABC, pela 35ª rodada da Série B de 2023: gente, se o Criciúma ganhar a partida contra o ABC, ele sobe pra vice-liderança da Série B faltando só três rodadas pro final! eu tô extremamente empolgada!
NÃO ESQUECER DE EDITAR DEPOIS, ISABELA!!!! É SÉRIO!!!!!!!!!
acho incrível que estão vendendo mãos decepadas para crianças nas lojas de brinquedo de todo o país. o fenômeno Wandinha precisa ser estudado — mas não por mim. tenho outras coisas pra fazer. a área de serviço lá de casa está uma bagunça
essa música e esse clipe são tão icônicos… ela foi tão injustiçada, meu Deus. jamais errou em toda a sua vida
Sonho de Valsa é tãããão melhor que Ouro Branco.
eu destruirei vocês #103: a única opção de entretenimento
eu acho muito engraçado quando não tem uma música no spotify ou disco e os cara cria uma playlist como se ela fosse substituir a mesma... é uma lógica de bait por click que me confunde muito
Você com suas expetativas razoáveis sobre o Criciúma enquanto me deparo com a seguinte reportagem na imprensa local: Vila Nova, agora com 58 pontos, iguala com suas duas melhores campanhas na Série B.
Em ambas o Vila não subiu.