eu destruirei vocês #108: como solucionar um Cruzadox
passatempos da Coquetel e spin-offs dos Flintstones
bom dia/boa tarde/boa noite! esta edição contém dois textos publicados anteriormente em edições exclusivas para assinantes da eu destruirei vocês — mais especificamente, na eu destruirei vocês #X19: eu sou louca e eu destruirei vocês #X5: um carro falante que resolve mistérios
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se algum dia você acordar e decidir que precisa ter sua inteligência completamente insultada, não existe nada melhor do que tentar completar um Cruzadox da Coquetel. enquanto outros gêneros de passatempo ao menos tentam te fazer pensar um pouco, o Cruzadox parece mais algo literalmente para você passar o tempo do que qualquer outra coisa: não existe nenhuma possibilidade, por mais remota que seja, de que isso ajude idosos a segurar mais um pouquinho suas faculdades mentais
ninguém vai ficar menos burro fazendo um Cruzadox, e a demência de ninguém vai ser segurada por um passatempo tão inútil quanto esse. todos os Cruzadox da histórias foram terminados. não há nenhum que tenha sido parado no meio. ninguém jamais olhou as últimas páginas de uma revista Coquetel para encontrar a solução de um Cruzadox. existem passatempos da Turma da Mônica mais desafiadores do que um Cruzadox. e ao mesmo tempo, isso continua vendendo, o que prova que o povo brasileiro precisa cada vez mais de um alívio para as mazelas do dia-a-dia. eu me incluo nessa
mas é possível que o público do Cruzadox seja apenas mais infantil, uma audiência que se sente ofendida pela facilidade uma revistinha Picolé mas que ainda se assusta com palavras cruzadas propriamente ditas. quando se é criança, você tem seus passatempos da Coquetel favoritos: o Dominox é extremamente fácil e não te desafia em nenhum momento, o que significa que é perfeito para pessoas com o cérebro ainda em formação. o Criptograma e seu colega de apartamento Duplex também são altamente lúdicos: é como se você tentasse decifrar dois enigmas ao mesmo tempo, e um deles tem símbolos divertidos atrelados. é impossível não gostar. toda criança adora símbolos divertidos, ainda mais atrelados a algo
mas quando nos tornamos adultos, nossas prioridades mudam. aquilo que antes fazia parte da nossa vida parece não fazer mais sentido. não passamos mais horas do dia jogando League of Legends, entendemos que não é uma boa opção se alimentar exclusivamente de Cheetos Requeijão e vai-se embora a vontade de assistir filmes da nouvelle vague. é nesse ponto em que olhamos para tudo que já fizemos, tudo que já fomos, e entendemos que tudo mudou. agora, nós entendemos a graça da criptocruzada
essa é a única cripto que eu me interesso. a criptocruzada é um passatempo tão bem estruturado, tão genialmente projetado que chega um ponto da sua vida em que você só é obrigado a apreciar o trabalho de quem o criou. os melhores passatempos do mundo são aqueles que fazem você se sentir muito inteligente quando finalmente os desvenda, e a criptocruzada é assim: você inicia com um tabuleiro praticamente vazio, com talvez uma só palavra ou até mesmo poucas letras, e vai solucionando tudo até descobrir todas as letras. acima de tudo, é um jogo mental. você não vai conseguir completar uma criptocruzada se estiver tendo um dia ruim. é que nem ir pro trabalho de ressaca
e as palavras cruzadas, o grande carro-chefe da Coquetel, também são de uma qualidade ímpar — principalmente por causa do formato. aquele estilo clássico de palavras cruzadas New York Times/Revista Caras é, com todo o respeito, uma porcaria. é feio esteticamente, confuso e desnecessariamente complexo — tudo coisas que as palavras cruzadas Coquetel não são. elas são uma obra de arte.
de vez em quando, no meio do seu passatempo, vai ter uma charada em que só está escrito ‘Ítalo Rossi, ator brasileiro’ e você sabe qual a resposta certa. você sabe qual o sufixo de realismo. você sabe como é gato em inglês, e mesmo se você não souber, tudo que é em inglês vai estar nas dicas do canto da página. as palavras cruzadas da Coquetel são o único lugar em que você pode ver uma foto do Michael Jackson gigante no canto do passatempo e ter que dizer qual é o nome daquele homem. eu sei. é Michael Jackson.
ah, e eu gostaria apenas de informar vocês que recentemente eu fui atrás de alguns livros da Coquetel e descobri que eles criaram uma versão analógica de Wordle. porque é óbvio que criaram
um parto realista demais
spin-offs esquecidos dos Flintstones
por mais que eu tenha uma adoração pelos desenhos da Hanna-Barbera na época em que o Canal Boomerang os exibia ao invés de H2O: Meninas Sereias, eu também partilho da opinião de que eles provavelmente são a produtora de desenhos animados mais cínica que já existiu na face da Terra — e nós moramos em um planeta em que a Disney existe
e eu não penso isso só por causa da famosa baixa qualidade da animação, com aqueles backgrounds que se repetem infinitamente e personagens que mexem um quadro por minuto: a partir dos anos 1970, a Hanna-Barbera praticamente passou a viver de fazer remakes dos seus desenhos clássicos com algumas alterações mínimas. Scooby-Doo fez um sucesso estrondoso? então vamos fazer um Scooby-Doo que ao invés de um cachorro, é um carro falante que resolve mistérios. vamos fazer um Scooby-Doo com um cachorro que fica invisível. vamos fazer um Scooby-Doo com dois cachorros
não que isso seja algo inédita na história da animação também — se você for ver, os Jetsons surgiram quando alguém nos estúdios parou e falou “ow, e se tivesse um Flintstones no futuro” e todo mundo concordou. inclusive, talvez essa seja a franquia não-cachorro-falante mais explorada pela Hanna-Barbera na sua história — contando só os desenhos principais, foram dezessete iterações diferentes de Flintstones em toda a sua história, desde o inevitável Flintstones Kids até Yabba Dabba Dinosaurs, algo que aparentemente saiu em 2021 e está disponível no HBO Max. isso sem contar as dezenas de especiais lançados ao longo das décadas, tipo aquele espantoso incidente em que a Pedrita e o Bam-Bam tem um filho. essa é tonalmente uma das cenas mais estranhas que eu já vi na minha vida
é completamente inacreditável a quantidade de coisas em que já enfiaram esses personagens, mas antes de falar disso, precisamos falar do Shmoo. o que porras é um Shmoo? não sei exatamente, mas pelo que eu vejo com os meus olhos ele é uma gosma gelatinosa branca meio sem forma muito popular nos anos 1940, com os quadrinhos Li'l Abner — meu trapper favorito. com todo respeito aos potenciais fãs desse animal sobrenatural, ele é obviamente uma merda. certamente foi desenhado em no máximo 30 segundos por seu criador, é um lixo em geral mas mesmo assim, por algum motivo, colocaram essa criatura pra lutar contra o crime junto com o Fred e o Barney
em 22 de novembro de 1980, o bloco de programação The Flintstone Comedy Show foi exibido pela primeira vez na NBC. ele continha seis desenhos inéditos relacionados tangencialmente aos Flintstones, e um deles era Polícia de Bedrock — all cops are bastards, especialmente Fred e Barney. nesse desenho sem qualquer vídeo na internet, os três embarcam em altas confusões previsíveis, como colocar um carregamento de barras de ouro no carro de um ladrão sem querer ou estragar os planos maléficos do vilão Rockjaw, uma criatura verde quasi-Gremlins que adora furtar, roubar e praticar evasão de divisas
no universo cinemático de The Flintstone Comedy Show, Rockjaw é um dos animais de estimação de Frank Frankenstone — e esse já é todo um outro submundo por si só. Os Frankenstones era um dos outros seis desenhos do Comedy Show e, no outro extremo, tem todos os episódios disponíveis no YouTube — pouco pra muitos, muito pra poucos. como o nome sugere, Frankestones é sobre uma família de Frankesteins que é vizinha dos Flintsones e tem dois filhos humanos normais — talvez não exista necessariamente um DNA de Frankestein que seja passado para os progênitos, não sei
os episódios envolvem em sua maioria muitas piadas sobre o quão estranhos os Frankestones são misturadas com a dinâmica entre a família e os Flintsones — ou seja, isso é mais uma cópia de Família Addams, até no sentido da filha ser muito parecida com a Wandinha original ao mesmo tempo em que possui uma personalidade oposta. a Wandinha mata pequenos animais e destrói plantações? a Atrocia faz poções do amor no meio de pássaros. tudo bem que a poção do amor não dá certo e todo mundo começa a se odiar, mas não foi a intenção dela. Atrocia é inocente
entre esses desenhos, eu diria que o mais simpático é Dino e o Rato das Cavernas — porque também é o mais simples. demorou até 1980 para a humanidade ter a tecnologia avançada o suficiente para criar um clone de Tom & Jerry — mas tudo bem, foram o Hanna-Barbera que criaram os dois mesmo. auto-plágio não é crime, só é meio chato. talvez o mais surpreendente desse desenho é que o personagem Rato das Cavernas foi criado por ninguém menos que Tex Avery, que trabalhou nos estúdios Hanna-Barbera de 1979 até a sua morte, em 1980. trabalhar nisso literalmente matou o coitado
meio que não tem muito o que falar sobre Dino e o Rato das Cavernas porque é um Tom & Jerry mesmo. o rato faz coisas, o Dino vai atrás dele, rolê normal de gato e rato. como esses eram os anos 70, os dois andam de patins enquanto música disco toca no fundo e coisas do tipo. olha, eu tô tendo dificuldade aqui, tenham piedade comigo. uma informação interessante sobre o desenho é que um dos vídeos dele que encontrei no YouTube mostra o Rato da Cavernas ficando gigante em um dos episódios, vídeo esse que foi postado pelo canal Macro Monsters in Media. se já existiu algo na internet mais obviamente um fetiche disfarçado do que isso aqui, eu ainda não encontrei
também tinha um desenho do Capitão Caverna nisso aqui em que a Wilma e a Betty meio que só ficavam do lado dele enquanto ele combatia o crime e tal. tipo, elas nem faziam muito, só ficavam comentando umas coisas enquanto o Caverna batia num cara gigante. desenhos eram muito fáceis de fazer nessa época
este final de semana eu e a Bruna fomos pra Porto Alegre! isso por si só não foi tão interessante, mas eu finalmente visitei o maravilhoso Brechó do Futebol — talvez o lugar que mais tenha sido feito para a isabela thomé em toda a história da humanidade. uma loja gigante abarrotadas de camisas de futebol. eu fiquei tão alucinada naquele lugar que eu nem sequer bati fotos lá dentro, eu só entrei e fiquei vendo camisas de times pequenos do Rio Grande do Sul
e aí eu comprei uma do Esportivo de Bento Gonçalves e uma do Gama. não me perguntem quantos eu gastei. isso literalmente não importa.
completamente obcecada com essa canção… o Prince reencarnou e ninguém me avisou? criaram um novo em laboratório? o que rolou aqui?
e vocês, viram algum cachorro legal na rua ultimamente? eu quero saber
Pesadíssimo o brechó. Eu não sou futeboler, mas certeza que sairia com umas duas camisas.
Já tinha lido o texto da Hannah barbera, mas não tinha visto essa cena uncanny da Pedrita dando a luz. Pra alem de toda a estranheza que é a cena em si, ela tem um timing muito estranho com muito silêncio. Parece que eu m originalmente era pra durar 2/3 do tempo. Sei lá, fiquei mal e angustiado vendo as pausas.
Será que na original tinha laughing track igual o Scooby doo não-dublado?
você comprou uma camisa do maior time do centro oeste, ele mesmo do GAMA