férias. eu acho que um dos grandes prazeres da vida é, uma vez ao ano, ser uma completa inútil por um mês inteiro. não existe nada melhor do que acordar em uma tarde de janeiro escutando dois ou mais cachorros brigando na rua, levantar da cama, ir para a cozinha e preparar uma refeição misteriosa com o tomate que sobrou na geladeira, as bolachas Club Social meio abertas no armário e um resto de chantilly utilizado em uma sobremesa da ceia de Natal. eu chamo esse prato de preciso me matar imediatamente
nada no mundo me assusta mais do que uma completa e integral falta de rotina — nem mesmo fotos reais do Chupacabra encontradas em sites abandonados. eu até consigo aproveitar umas férias lá pela primeira semana de trégua, quando eu durmo em todos os horários humanamente possíveis, mas chega em um ponto em que eu só quero alguma estrutura no meu dia. acordar às 22h e passar a madrugada inteira jogando Mother 3 pode ser interessante quando você tem 15 anos de idade, mas quando você atinge um certo ponto de maturidade emocional, é complicado não sentir como se estivesse jogando a sua vida fora. é toda a depressão de uma vida de desempregada, só que uma hora você vai voltar pro trabalho
'“mas então isabela, o que você fez nessas suas férias de um mês dessa newsletter além de se alimentar pessimamente e jogar um RPG de Game Boy Advance?” que bom que você me perguntou. coincidentemente eu estava querendo responder essa exata pergunta.
acompanhei o Big Brother Brasil
que programa mais curioso o Big Brother Brasil 24. depois de duas edições em que o povo brasileiro sofreu com as peripécias de Tiago Abravanel, Arthur Aguiar e seja-lá-quem-estava-no-BBB23, parece que o influencer Boninho percebeu que colocar gente famosa demais em uma casa vigiada 24 horas por dia talvez não traga os melhores resultados para o entretenimento. a pior coisa que você pode fazer é colocar no BBB pessoas que tem uma carreira. por isso foi uma decisão tão acertada a entrada de Wanessa Camargo no programa
nesses últimos 30 dias, a nossa casa foi praticamente uma extensão da casa do BBB — mas sem a presença do MC Bin Laden, até onde eu sei. horas e horas assistindo o pay-per-view no Globoplay e analisando todas as relações na casa. acompanhando as chatíssimas festas nas quais ninguém faz nada de interessante, vendo o Davi esperar o Big Fone tocar, observando calmamente todas as violações de direitos humanos da suposta sereia e proto-fada sensata Yasmin Brunet, testemunhando referências caóticas ao filme do gênero braço cortado 127 Horas. isso alimentou nossa alma de algum modo? não necessariamente. mas assistir um filme do Edward Yang também não iria. às vezes uma alma não tem mais reparação
assim como não existe nada pior do que uma edição ruim de Big Brother, não existe nada melhor do que uma edição boa de Big Brother
fiquei obcecada com uma casa da Sylvanian Families
ah, Sylvanian Families: uma das grandes obsessões atuais da geração Z, juntamente com o ator Paul Mescal e o ator-cachorro Snoopy. esses fofíssimos e lindíssimos bonequinhos com cara de decoração de casa de vó vem conquistando o público jovem consumista do TikTok talvez exatamente pelo fato de parecer algo que estaria exposto no guarda-louças da sua tia. o jovem ADORA aqueles banheiros de azulejo verde dos anos 70 e geladeiras azuis que você encontra tanto na casa da Bruna Linzmeyer quanto em um lixão a céu aberto
mas é impossível negar que esses bichinhos japoneses são lindinhos. o fascínio por eles na nossa casa começou com a Bruna, que há alguns anos se apaixonou e comprou um membro da Família dos Coelhos Chocolate — até os nomes deles são altamente cuti-cuti. mas agora, nessas férias, foi adquirida uma peça fundamental para a coleção Sylvanian Families de nosso lar: a Minha Primeira Casa.
eu queria que essa fosse a minha primeira casa. além dela ser maravilhosa, algo que me destruiu completamente foi ver a quantidade de detalhes em todos os móveis inclusos na casa — porque sim, ela já vem mobiliada. existe uma torneira que — calma aí, eu não consigo fazer justiça a isso com palavras. vocês precisam ver pra crer.
como pode o ser humano inventar algo tão extraordinário?
comi no estabelecimento Bruxa's Burger
em determinado momento das férias — não lembro quando, o tempo em período de recesso não é linear — eu e a Bruna fomos visitar a família dela na elusiva praia de Xangri-lá, localizada no litoral norte do Rio Grande do Sul. a cidade é conhecida principalmente por abrigar todos os anos o Planeta Atlântida, festival de música jovem onde tocam todo ano Armandinho, Fresno e Charlie Brown Jr. — quando o Chorão ainda era vivo — e por ter uma infinidade de condomínios chiquérrimos a beira-mar, com Ferraris na garagem e pessoas sem alma dentro delas
mas também tem o Bruxa’s Burger! o x-salada gaúcho realmente é uma entidade muito diferente dos outros x-saladas brasileiros — incluindo o de Criciúma, uma monstruosidade entupida de milho pela qual o criciumense é altamente bairrista. o x-salada gaúcho é quase um prensado. não há nada como ele. e vem batata frita junto
de acordo com a tradição — e o que a Bruna me contou — o Bruxa’s Burger é uma instituição da cidade de Xangri-lá. na última vez que eu visitei a cidade, em 2021, comi um x-salada dele e me apaixonei imediatamente — o que deixa mais engraçado ver que, nessa nova visita, ele se transformou praticamente em um McDonald’s. totalmente reformado, ele agora parece um restaurante de fast food estadunidense completamente normal, exceto que vende x-salada de coração ao invés de limonadas que provocam ataques cardíacos
e pelo que eu entendi pesquisando, é isso que eles querem: a intenção é que o Bruxa’s Burger chegue a mais de 50 lojas pelo Brasil nos próximos cinco anos. é o x gaúcho conquistando o mundo. a não ser que todo mundo seja bairrista que nem o criciumense. um x assim jamais se criaria nessa cidade
assistimos Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo
nossa, é tão bom assistir um filme horrível no cinema. se há algo mais satisfatório que um ser humano possa fazer, não me fale: eu só quero isso pra todo o sempre. Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo é o primeiro e provavelmente último filme da franquia Turma da Mônica Jovem, que decidiu desconstruir o óbvio e não chamou os atores dos filmes da Turma da Mônica para fazer o papel deles mais velhos. aparentemente contratar a Sophia Valverde pra ser a Mônica dá mais engajamento nas redes sociais e portanto é o certo
que filme absolutamente bizarro. eu nunca li Turma da Mônica Jovem porque sou velha, mas se realmente for que nem esse negócio eu necessito ir atrás dos gibis em algum sebo. Reflexos do Medo tem toda a estrutura de um filme de creepypasta: a grande ameaça da história é um mundo de espelhos que os personagens são levados após sofrer uma maldição — e enquanto a alma deles fica presa lá dentro, seus corpos continuam vagando pela Terra como zumbis. enquanto isso, o Mateus Solano interpreta o Louco
fique tranquilo: esse não é nem de longe um filme bom. mas lembra quando existiam filmes brasileiros de aventura para um público infantojuvenil? lembra quando fizeram um filme do Castelo Rá-Tim-Bum? lembra quando transformaram o Fofão em uma criatura intergaláctica em um mockbuster de ET? sabe o filme do Zico em que fazem um clone malvado dele que tenta destruir o futebol? Reflexos do Medo é isso. e ao mesmo tempo, é um We're All Going to the World's Fair sem qualquer pretensão artística. um It Follows que aborda nenhum assunto. e um Twin Peaks porque tem um espelho
joguei Metroid Prime
videogames! desculpa por isso. pela primeira vez em muito tempo, eu tive disponibilidade nessas férias para jogar jogos — e decidi ir atrás de coisas que nunca joguei ao invés de passar meus dias alimentando-me de Doom 64 e The Binding of Isaac. e eu finalmente entendi porque as pessoas gostam de Metroid Prime
meu negócio com a franquia Metroid sempre foi o seguinte: eu odeio metroidvanias. ironicamente, esse sempre foi meu problema com jogos da série Castlevania também. as duas coisas que eu mais odeio em videogames são perder o meu progresso e não conseguir me achar no mapa, e esse tipo de jogo praticamente vive dessas duas mecânicas.
você vai se perder constantemente em Metroid Prime, você vai morrer de jeitos muito idiotas e precisar refazer seu progresso dos últimos 30 minutos, você não vai lembrar onde fica tal sala que você precisa visitar, e você vai passar horas tentando derrotar inimigos irritantes em uma área até perceber que precisa ir pra outro lugar. e é tudo incrível
quem diria que jornalistas de games, tão comumente errados, estariam certos sobre esse jogo. acho que o grande diferencial de Metroid Prime é o gameplay mesmo: você se sente bem fazendo qualquer coisa nesse jogo. andar de um lado pro outro é gostoso, atirar em moscas mutantes gigantes é ótimo e o game sempre te permite fazer o que quiser com as habilidades que você ganha ao longo da história — aí uma parte dos metroidvanias que eu me interesso.
como um jogo de 20 anos atrás consegue ser um FPS melhor do que basicamente tudo disponível no mercado hoje eu não sei, mas fico muito feliz que o universo nos presenteou com isso. o GameCube é o melhor console de todos os tempos
meu Deus, há quanto tempo! a última edição gratuita da ‘eu destruirei vocês’ tinha saído no dia 27 de dezembro, e eu acho que isso foi há uns dois anos. de verdade, eu senti falta demais de escrever isso aqui toda semana — cheguei num ponto da minha vida em que se eu não estou escrevendo algo, parece que minha vida não faz sentido. sou uma poeta torturada, tal qual a cantora Taylor Swift em uma música com participação de Post Malone
quero aproveitar essa oportunidade pra fazer um anúncio também: a partir desse mês, as edições pagas da ‘eu destruirei vocês’ serão semanais! é isso mesmo: toda segunda-feira, na sua caixa de mensagens, você receberá uma nova edição da newsletter. por dez reais ao mês, você tem acesso ao dobro do conteúdo! socorro!
a primeira edição paga nesse novo formato vai ao ar na próxima segunda-feira, e assim ocorrerá perpetuamente até o fim dos tempos. e as edições gratuitas continuarão saindo toda quarta-feira, às 8h da manhã, horário de Brasília!
esse vai ser um ano ótimo pra todo mundo. feliz 2024! sim, eu sei que já é fevereiro!
Férias sempre foi essa tortura pra mim também. A ideia de acordar sem ter um único objetivo e ficar mastigando todas as possibilidades do mundo pós era digital é uma tortura estranha. Vamos superar irmã.
Sobre o Metroid Prime, será que vale mais jogar a versão de switch? Também não sou versado nesta franquia.
Isabella eu tenho umas 40 edições da Turma da Mônica Jovem e estou vendendo!!! Nem de longe é ruim que nem o filme, mas eu li quando era jovem, então me dá um desconto