olá! a ‘eu destruirei vocês’ de hoje é uma recapitulação — lembra quando o Jô Soares entrava de férias e eles reprisavam umas entrevistas antigas com o Rogério Skylab? é mais ou menos isso.
peço perdão pela falta de novidades, mas eu e a Bruna estamos nos mudando para um apartamento novo e, consequentemente, nós duas estamos completamente lelé da cuca. não tenho tempo pra mais nada além de enfiar coisas dentro de caixas que anteriormente serviam como lar de uma dúzia de embalagens de amaciante Downy.
por muito tempo da minha vida, eu fui uma pessoa noturna — não no sentido de ser gótica e escutar The Cure, mas no quesito sono mesmo. durante as minhas férias da escola, por exemplo, era comum o meu sono ficar tão desregulado que lá pelo início do mês de janeiro eu estava indo dormir 7h da manhã e acordando 16h da tarde — uma verdadeira inversão de valores que deixava a família brasileira em polvorosa. quer dizer, só a minha família mesmo. que, ironicamente, se você for ver, é brasileira
era uma época em que eu ficava a madrugada inteira no computador fazendo basicamente o que eu faço hoje: lendo todos os artigos da Wikipédia, conversando com amigos no Twitter — a diferença maior é que eu também jogava muito Football Manager, e hoje em dia eu tenho um ódio mortal com esse game por eu ter desperdiçado ao menos 2000 horas da minha vida o jogando ao longo dos meus dias na Terra. mas em uma época em que não existiam youtubers direito, qual era o meu som ambiente para essas noites de fazeção de nada no computador? ora bolas, é óbvio. Tecendo o Saber.
a programação da Globo de madrugada era mais diversificada do que em qualquer outro horário do dia. ao invés de só novelas ou programas de variedade, a madrugada tinha tudo: talk show, sessão de filmes, educativos, desenhos e até sitcom — na forma de Tecendo o Saber. quando há alguns anos o termo comfort television começou a ser usado pra descrever séries que dão um quentinho no coração e te acalentam, eu só conseguia pensar que essa série da Globo é o maior exemplo possível disso pra mim
estrelando Bemvindo Sequeira, Antônio Fragoso, Roberta Rodrigues e grande elenco, Tecendo o Saber seguia a vida de várias pessoas de um bairro humilde em uma cidade não-especificada que aprendiam lições valiosas não só sobre a vida, mas também sobre matemática, biologia, língua portuguesa e muito mais. todos os problemas, todas as situações dos personagens eram solucionados usando o poder do conhecimento
em um dos episódios, por exemplo, o bairro inteiro fica sem água e o único lugar que ainda tem é a mercearia do Bemvindo Sequeira, porque ele tem uma cisterna. então, nos próximos três minutos, o público aprende tudo sobre a história das cisternas. é a informação sendo passada adiante de um modo lúdico. eu quero saber quem inventou as cisternas porque eu gosto desses personagens
Tecendo o Saber era exibido junto com um dos maiores sucessos do edutenimento da Rede Globo de Televisão, o igualmente icônico Telecurso 2000. eu não lembro qual passava antes, mas eles eram colados um no outro para o telespectador receber uma enxurrada de aprendizado logo no começo do seu dia — é o horário perfeito para aprender sobre mecatrônica e segurança no trabalho. eu não diria que eu aprendi muito assistindo o Telecurso 2000, mas eu adorava assistir especialmente as lições de inglês com o grande professor Tom — que eu acabei de descobrir que na verdade não era americano e era só um ator brasileiro fazendo um sotaque falso muito bom
eu achava legal também assistir os Telecursos de uns negócios que eu não tinha nenhum conhecimento ou interesse sobre — tipo, sei lá, usinagem eletroquímica. eles eram interessantes porque tudo era de um nível tão mais avançado do que a minha cabeça de quinze anos de idade sabia que eu não aprendia absolutamente nada com eles, eu só recebia as informações e elas eram imediatamente jogadas pra fora do meu cérebro. “ahã, cloreto férrico. é verdade. vou voltar a jogar Elite Beat Agents no meu DS agora “
também passava Luluzinha esse horário na Globo, mas isso talvez tenha sido só uma alucinação contínua da minha adolescência causada pelo sono
oiê! aqui estou eu de novo. essa segunda-feira trouxe uma novidade incrível para os assinantes eu destruirei vocês — um tipo de pessoa que deveria ser todos vocês.
foi a estreia do relatório, um novo formato mensal de newsletter que está em fase de protótipo — basicamente, coisas em geral que eu não tive tempo para falar nas outras ediçóes da newsletter. o filme Tá Escrito, de Larissa Manoela? os novos singles do Vampire Weekend? o Yannick Bolasie no Criciúma? é disso que estamos falando.
dez reais mensais te dá acesso a mais de 32 edições exclusivas lançadas ao longo do último ano e a uma nova edição toda segunda-feira, às 8h da manhã. é só clicar no botão abaixo!
tema da Alienware
customizando o Windows XP
é curioso pensar a quais pontos a inconformidade com o sistema pode nos levar. vários movimentos artísticos ao longo dos séculos, por exemplo, surgiram da necessidade de reinventar algo que já existia mas que não necessariamente conversava com o artista — Marcel Duchamp, Andy Warhol e MC Pipokinha são três exemplos evidentes disso. ou então a arte do drag, que surgiu de uma necessidade de se quebrar os padrões de gênero e qualquer preconcepção do que é um homem ou uma mulher. a humanidade nunca irá evoluir se o ser humano não ir contra a maré, não destruir aquilo que é estabelecido como regra, e é por isso que quando eu tinha 11 anos de idade, eu instalei um tema da Alienware no meu Windows XP
e isso pode não ter mudado o mundo, mas mudou completamente o meu PC — que se parar pra pensar, na época, era o meu mundo. enquanto as pessoas normais vestiam luvas preto e branco listradas até o cotovelo, o jeito que eu me expressava era instalando um tema novo no Winamp ou usando um texto colorido nas minhas mensagens no orkut — ser adolescente e ter toda sua personalidade reprimida ao máximo significa que você nunca vai querer se destacar entre as pessoas na vida real. era um negócio meio “se você olhar pra mim eu vou sair correndo”, então eu acabava querendo que o pessoal na internet me achasse legal — só que a galera da comunidade do GTA: San Andreas não se importava muito que o meu post estava totalmente escrito em vermelho. para mim, aquilo era o ápice da subversividade. para eles, era apenas uma terça-feira
até hoje, assim que eu instalo um programa ou aplicativo novo, uma das primeiras coisas que eu faço é ir direto pra página de configurações tentar mudar o visual e deixar ele do meu jeito. quando eu paro pra pensar, acredito que isso tem alguma relação com o fato de eu também conseguir passar horas lendo sobre arquivos não-usados em games — quando, sei lá, uma pista de algum Mario Kart foi removida antes do lançamento mas ainda existem arquivos dentro do disco do jogo que aludem a ela. ambos partem do mesmo princípio: são coisas que estão quebrando regras. não era pra eu descobrir essa textura de uma arma encontrada em Angry Birds Star Wars, assim como a Microsoft te impede ao máximo de instalar Windows XP Gangster Edition
o Windows XP, mesmo sendo o sistema operacional mais lindo de todos os tempos, tinha funções de customização super avançadas — quase todas criadas pelos próprios usuários. a quantidade de ferramentas que deixavam o seu computador parecido com o Windows Vista, por exemplo, era colossal: você conseguia mudar a tela de login, a barra de tarefas, a margem das janelas, tudo para deixar seu PC parecendo a pior versão do Windows já feita — mas que ao mesmo tempo, também é extremamente bonita. parecido comigo, que sou extremamente gostosa mas tenho pouquíssimo conteúdo
customizar os cursores do mouse era algo que me trazia muita alegria na época também — e até hoje, na verdade. o CursorXP era um dos programas mais mágicos que existiam porque te permitia instalar com facilidade os cursores mais imbecis possíveis — desde uma gota tridimensional realista até um tubarão raivoso que te ataca de vez em quando. o único limite é a sua imaginação — e as limitações técnicas do Windows XP. o meu favorito de todos e que usei por vários anos, porém, era a variante Bubblegum que já tinha instalada no software, um cursor azul bebê meio gordinho que se transformava em uma massa gelatinosa de vez em quando. semi-cronenbergiano
eu não diria que hoje em dia a customização de software é tão presente quanto era nos anos 2000, mas com certeza existem opções que são ainda mais avançadas do que naquela época. o problema é que estamos numa era em que as empresas não querem que você mexa no que elas criaram — um exemplo prático disso é o Android, que a cada nova atualização adora retirar alguma opção diferente — a ponto de que eu não duvido que daqui a alguns anos eles não te deixem mais acessar livremente as pastas do seu próprio celular, tal qual faz a nefasta Apple. as empresas querem que você use o software pra função que Deus designou a ele, ao invés de cometer pecados capitais como instalar uma extensão que remove os trending topics do Twitter. isso é passível de prisão em alguns condados da Califórnia
Maravilha d+ o Vale A Pena Ver de Novo de newsletter, esse é um dos melhores. Diria eu, uma ode ao Y2K de verdade que precisa voltar
não existe experiência individual mesmo né!? vivi tudo que foi dito aí, até a (não) alucinação de assistir luluzinha por volta de 4h30