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eu destruirei vocês #12: o quindim vermelho não existe e não pode te machucar
o disco do Celso Portiolli, uma análise de um serviço de streaming e... NFTs 🙄
más notícias, pessoal: nós nos rendemos aos grandes conglomerados de mídia e finalmente assinamos um serviço de streaming. agora, nosso lar possui acesso ao Globoplay, que é um site que você pode dar play em programas da Globo. o motivo principal, claro, é que tem um programa passando agora que a gente quer muito assistir 24 horas por dia. o nome é Big Brother Brasil 22, e consiste em 19 pessoas querendo se agredir fisicamente enquanto o entertainer Tiago Abravanel tenta separar elas. é meio que um game show, parecido com o Zig Zag Arena, recomendo
foi só na terceira semana de uso que a gente descobriu que tem mais coisas além de BBB na plataforma. assim, não é tão completo quanto um bom IPTV, mas até que dá pro gasto. tem um monte de obras que se chamam novelas, que é tipo um filme só que com 200 capítulos. pior que o catálogo de novelas do Globoplay anda muito bom, foram adicionados um monte de clássicos tipo Da Cor do Pecado e A Favorita (em HD!), e eles estão produzindo até novelas exclusivas pro streaming, caso de Verdades Secretas 2, que é a primeira novela softcore da história da Globo. pena que ainda falta um monte de novelas antigas no catálogo, e eu nem sei um dia eles irão adicionar todas. coloquem Bang Bang na plataforma, covardes
o catalógo de seriados tem muitas séries que existem, tipo Grey’s Anatomy e The Big Bang Theory, mas também um monte que talvez nem exista. o que é O Clube das Divorciadas? ninguém sabe, e especialistas em televisão debatem há anos a existência de algo com esse nome. tem uns negócios absurdos aqui, tipo Dra. Darci, uma série que o Tom Cavalcante interpreta uma psicanalista. eu tenho certeza que, se eu clicar em algum episódio, não vai ter nenhum vídeo, porque deve ser uma série fictícia que só colocaram no catálogo pra dar a ilusão de que tem mais conteúdo no serviço do que realmente tem
ouvi dizer que tem filmes no Globoplay também, mas todos que eu queria assistir só estavam disponíveis pra quem assina o Globoplay + Telecine, que custa o dobro do plano vanilla. e se você quiser acesso aos canais Globosat ao vivo, porque não quer perder o novo episódio do programa do Esse Menino no Multishow, vai ter que desembolsar mais 50 reais. se quiser assistir CRB x Brusque pela Série B, tem que assinar o Globoplay + Premiere por apenas 70 reais. esse esquema de planos diferentes é tipo um jogo que você paga 60 dólares mas tem que comprar um DLC que habilita, sei lá, o pulo do seu personagem. todos esses planos vêm com Apple TV+ grátis por três meses e Deezer grátis por um ano, mas a que custo?
mas o maior absurdo do Globoplay é o fato de ter propagandas em alguns conteúdos. depois da eliminação do Luciano no BBB nessa terça-feira, nós fomos tentar assistir a entrevista ao vivo com ele na Rede BBB. selecionamos a entrevista, esperamos carregar e começou a passar uma propaganda da Avon. a propaganda acabou, esperamos carregar mais um pouco e começou uma propaganda das Americanas. ficou carregando mais uns 15 segundos e só aí começou de verdade o conteúdo. e tudo isso pra assistir uma entrevista conduzida por Rafa Kalimann
um concept album sobre o domingo
uma análise do disco Celso Portiolli – É Tempo de Alegria
uma coisa que me ofende muito são pessoas insistindo que a carreira musical do Celso Portiolli se resume só ao bip bip bip chamando, alguém na linha do computador. existem pelo menos outras 11 músicas que ele lançou durante toda a sua vida. É Tempo de Alegria é um disco lançado em 1998 pela Universal Music (ou seja, uma gravadora de verdade), produzido pelo Michael Sullivan (o único brasileiro além do Lulu Santos que as pessoas chamam de hit-maker) e o código de barras do disco é 731455929423
essas são basicamente as únicas informações que dá pra encontrar sobre o álbum na internet. eu imagino que o Celso, shitposter como só, já deve ter falado sobre Amizades Virtuais em algum podcast ou no talk show do Danilo Gentili, mas não encontrei nada também. o mais importante é: esse é um disco que existe.
Que Bom Que O Domingo Chegou é o melhor início possível para o álbum, e dita o tom do resto dele. com um coro de crianças ao fundo, Portiolli canta sobre como é bom que o domingo chegou. é como se fosse a música-tema de um programa dominical fictício
Que alegria o domingo chegou, muita musica e diversão
O programa tem variedades tem mil novidades pra gente curtir
Que foi feito com muito cuidado com muito carinho pra lhe divertirÔooo, o nosso show começou
Ôooo, que bom que o domingo chegou
só que isso dura quatro minutos e nove segundos. esse é um ponto muito curioso desse disco: ele tem 46 minutos de duração. isso não é incomum pra um álbum de música, claro, mas esse é um disco que poderia facilmente ter metade desse tempo. você sente que todas as músicas duram muito mais do que deveriam porque todas elas repetem versos e refrões. é quase sempre a estrutura verso-verso-refrão-verso-verso-refrão-refrão. não tem uma ponte, nada. eu não duvido que o álbum inteiro tenha sido escrito em uma tarde. Canção da Criança, por exemplo, é uma música do Francisco Alves, que foi lançada em 1952, e tem 1:56 de duração. a versão do Celso Portiolli dura 4 minutos e 1 segundo. é mais do que o dobro. o refrão se repete seis vezes. não tinha necessidade nenhuma disso!
Fogo na Floresta, única canção do disco que foi escrita pelo próprio Celso Portiolli, é uma linda marchinha de Carnaval sobre como elefantes são preguiçosos. está tendo um incêndio na floresta, o elefante não quer saber de nada e o passarinho é o único que está tentando fazer algo pra salvar o lar dos bichos. desconsiderando que esse era pra ser um problema que o estado deveria resolver, e não um cidadão animal, se esse passarinho que o Portiolli tá cantando sobre é tão foda assim, por que ele não salvou o Pantanal quando estava pegando fogo uns anos atrás? por que ele não faz nada contra o desmatamento na Amazônia? Fogo na Floresta nada mais é que um jingle político pra esse passarinho, querendo mostrar que ele faz muito mais do que realmente faz. o passarinho faz piu piu, faz chuá chuá e acaba de se filiar ao Podemos para ser vice do Sergio Moro
tem uma sequência de faixas estranhas no meio do álbum. Mocinho de Cinema é um ode ao Velho Oeste e a um cavalo (Meu amigo é um alazão, meu amigo é campeão, meu amigo é um alazão, meu amigo é campeão) e provavelmente foi que inspirou o Lil Nas X a compor Old Town Road. Carrossel de Esperança tem um início que parece algo do Kero Kero Bonito, e eu adoraria ver um remix hyperpop dela. Domingo Feliz é uma das músicas mais irritantes da história, mas isso não é culpa do Celso. é só um cover do Ângelo Máximo, que era uma versão em português do mega hit do Daniel Boone, todas músicas horríveis. Moça Bonita de Rodeio tenta ser um sertanejo, mas a melodia em si não tem nada a ver com esse gênero. a produção tem todas as características de algo meio Rionegro & Solimões, mas o esqueleto, a espinha dorsal da música, é igual ao resto do álbum. é uma música que quer ser algo que não é
e aí, chegamos no que mais importa. Amizades Virtuais, a peça central do disco, é uma pioneira, quase um ato de rebeldia. em 1998, quando esse disco foi lançado, fazer um amigo pela internet era uma loucura pra esmagadora maioria da população brasileira. a internet já estava se popularizando lá fora, mas aqui ainda estava engatinhando. pouca gente tinha acesso a ela no Brasil, e pra maioria das pessoas a internet só era algo que elas ouviram falar num Globo Repórter uma vez
Eu tenho muitas amizades virtuais
Eu bato papo pelo meu computador
O meu correio eletrônico é demais
Em um minuto meu e-mail já chegou
veja bem: ele tem muitas amizades virtuais, e bate papo pelo seu computador. o correio eletrônico do Celso Portiolli é tão demais que em minuto o e-mail dele já chegou. pra ele, a internet é um grande parque de diversões. ninguém precisa passaporte para entrar, diz Portiolli em um dos versos. ele é um cidadão do mundo que não acredita em fronteiras. ele é a favor do software livre e da neutralidade de rede. online, ele já foi para a França, mas também para o Japão e Madagascar. o mundo não é só o Ocidente. descolonização. ele pode ir pra Roma, mas se quiser, dá um pulo em Bagdá. só falta agora o computador falar? boas notícias para você, Celso. não falta mais. bip bip bip, chamando. alguém na linha do computador.
É Tempo de Alegria é um concept album sobre o domingo. é a história de um homem que é alucinado pelo dia em que Deus descansou. para Celso Portiolli, as verdadeiras experiências humanas só são sentidas no sétimo dia. existe uma câmara criogênica na casa dele. ele entra nela toda segunda-feira, pontualmente à meia-noite, e só retorna à vida normal à zero hora do domingo seguinte. Celso Portiolli tem um lar: o domingo
É Tempo de Alegria é o It Was A Good Day brasileiro. sim, Celso. é tempo de alegria. para você para nós hoje e sempre.
gastando milhões em um desenho de macaco
por que eu odeio NFTs, metaverso, criptomoedas e web 3.0?
é incrível como o conceito de NFTs é tão ridículo que por muito tempo eu não conseguia entender o que eles eram, mesmo tendo lido várias explicações. eu pensava “não, não pode ser só isso, né? os caras realmente estão comprando um arquivo? o link pra uma foto? não pode ser só isso. não vem nem com um brindezinho? um pingente, um cordão pra crachá, NADA? eu não vou nem receber aquela pixel art 0-bit no correio? pelo amor de DEUS, alguém me ajuda”. os entusiastas desse golpe tecnologia dizem que isso tem um milhão de aplicações, mas tudo que eles falam que NFTs podem fazer já dá pra fazer sem eles
meu Deus do céu, como eu odeio NFTs. esse conceito é um inferno pra mim. quem está envolvido com isso está tentando transformar a internet, que é um lugar onde existe um fluxo gratuito de informações, em mais uma extensão do capitalismo. adicionar o conceito de propriedade privada, o maior lixo desse sistema, à porcaria de uma imagem, um arquivo em um computador, uns bits & bytes, é o maior absurdo que existe, e nenhuma pessoa que é a favor disso pode se dizer apaixonada por tecnologia. pode falar que tu é apaixonado por dinheiro mesmo, não tem problema. NFTs, em sua forma atual, são puramente status. existe muita gente burra que acha super legal ter uma pixel art horrorosa como avatar do Twitter, e é por isso que tem tantas celebridades comprando o link pra um desenho de um macaco por mais de um milhão de dólares. e tem gente que fala que isso vai revolucionar a arte. a única coisa que vai revolucionar é o teu bolso. CANALHAS!
e tem MUITO dinheiro e falcatrua envolvido nisso tudo. fui olhar um tweet antigo, de abril do ano passado, quando o Keylor Navas anunciou uma NFT. sim, essas coisas acontecem hoje em dia. o vídeo nesse tweet tem 55 MILHÕES DE VISUALIZAÇÕES, o que mostra que a empresa que fez esses NFTs, uma tal de Zilliqa, gastou dinheiro demais impulsionando esse tweet, a ponto dele ter sido visto por mais gente que a população da Coreia do Sul, da Espanha e da Argentina. ano passado, o Manchester City anunciou uma parceria com uma empresa de criptomoedas chamada 3Key. dois dias depois, o time reincidiu o contrato, porque os supostos donos dessa empresa não tinham nenhuma presença online e o site dela já tinha saído do ar. tudo completamente normal e transparente!
e aí tem o metaverso, que sempre entra nessas mesmas discussões de blockchain, web 3.0 e o caralho a quatro. a popularidade desse termo aumentou muito depois do Facebook1 anunciar o Metaverse dele, que é um aplicativo exatamente igual ao Second Life, só que agora tu vai ser obrigado a morar dentro dele. tudo que foi mostrado até agora dessa nova realidade é literalmente uma versão piorada do mundo real, e o mundo real já é um lixo. o Facebook quer que a gente viva dentro dele agora, e sabe qual é o pior? tem muita gente empolgada com isso. eu juro que eu não entendo porque. deve ser por que é algo novo, vai ser o futuro da humanidade e outras baboseiras, mas eu não consigo ver o metaverso como sendo algo bom. ele vai ser uma extensão do mundo real com problemas do mundo real, porque nem em uma porcaria de um gamezinho tu vai conseguir se livrar das amarras do capitalismo. enquanto te exploram, tu grita realidade virtual! #NãoVaiTerCopa
outro dia, apareceu no Twitter um exemplo do que pode ser o metaverso. é um aplicativo chamado Decentraland, que já tem um monte de gente usando, inclusive fazendo festas ao vivo, e é a coisa mais engraçada que eu já vi na vida. um monte de gente que não conhece o conceito de diversão tentando se divertir. esse é um futuro que ninguém quer, mas é o futuro que a gente vai ter. agora você pode visitar uma loja sem nenhuma textura da Tim no metaverso e é melhor você se divertir
tudo que eu queria era que o futuro não fosse ditado por homens brancos de meia-idade completamente desconectados da realidade
considerações finais
semana passada, eu e a Bruna fomos numa padaria perto de casa, como fazemos quando queremos adquirir produtos como pão, e compramos dois quindins. muito bom eles, quindim é uma das melhores sobremesas que existem, ★★★★★. só que eu percebi que, junto com vários quindins normais, de raridade Common, tinha, no fundo da bandeja, quase imperceptíveis, dois quindins vermelhos. eu, extremamente confusa, perguntei pro moço o que era aquilo e ele explicou que era uma receita experimental que eles estavam testando, de quindim de morango. então ele simplesmente deu pra gente, de graça, esses dois quindins, pra nós provarmos em casa e depois contar o que a gente achou. basicamente, a gente virou beta tester de quindim. nos fizeram de cobaia, e nós não reclamamos nem um pouco
e o que nós achamos dele? nós gostamos! a Bruna achou ele sensacional, amou. o review dela foi compraria de novo/10. no meu caso, na primeira mordida, a minha reação imediata foi “bah, eu não gostei”, mas o gosto foi melhorando bastante na boca com o passar do tempo. eu acho que eu estava com um certo preconceito quanto ao conceito quindim vermelho e esperava algo bem ruim, mas ele é muito bom! pensei que teria um gosto super artificial, meio de gelatina de morango, mas não é nada disso. o gosto de morango é bem genuíno, e o retrogosto que fica na boca é uma delícia. eu não acho que é melhor que um quindim normal, mas é um experimento super interessante. parabéns para a padaria Bolos Decorados
Bolos Decorados – Quindim de Morango
Lançamento → 20/01/2022
Gênero → sobremesa
Avaliação → ★★★★
agora mudaram o nome pra Meta, né. vou continuar chamando de Facebook. canalhas
eu destruirei vocês #12: o quindim vermelho não existe e não pode te machucar
Como eu amo isso aqui
caralho realmente parece kero kero bonito a intro daquela música lá aquela