eu destruirei vocês #121: a marmita perfeita
o disco de Duda Beat e a marmita do restaurante Brunel
apesar de uma abundância cada vez maior de obras que parecem querer com todas as forças contestar essa teoria, o fato é que existe sim música pop brasileira. em um cenário mainstream tão deficitário, tão degradante que cantores chamados simplesmente de Jão lotam estádios de times da Série A e até da Série B, é difícil acreditar que qualquer coisa com valor artístico e popular possa ser composta, produzida e lançada no Brasil — e muita gente finge estar criando algo de valor, mas quando você chega mais perto e dá uma boa analisada na situação, percebe que tem a profundidade de uma piscina de plástico. ninguém consegue se afogar aí. enquanto algumas pessoas vão no programa da Ana Maria Braga terminar o namoro ao vivo em rede nacional, outras só ficam sentadas ao lado dela. obrigada
Tara e Tal, o novo disco da cantora pernambucana Eduarda Bittencourt, chegou nas plataformas digitais — ou seja, foi lançado — na última sexta-feira, com todas as faixas disponíveis ao mesmo tempo e nenhum áudio da cantora avisando os fãs que ela vai lançar o resto do disco mais tarde
tem vezes que eu sinto que a Duda Beat é um mistério: de três em três anos ela ressurge como uma fênix carregando em seus braços um dos melhores discos de música pop do ano — e eu nunca estou esperando isso dela. em momentos nos quais ela não está ativamente promovendo um álbum novo, ela meio que faz qualquer outra coisa: desova no YouTube péssimos singles escritos com o intuito único de viralizar no TikTok, participa de propagandas completamente originais da Bauducco juntamente da suposta artista Juliette, canta em uma abertura de novela das 18h junto com Ivete Sangalo e Preta Gil — coisas que você bate o olho e pensa “putz, a mulher se vendeu. acabou. ela está morta. a arte morreu”. calma. o ciclo sempre se repete
talvez a grande diferença entre Duda Beat e outras artistas que estavam no Mais Você aquele dia é que você sente que a Eduarda sabe exatamente o que faz. as influências do disco claramente vem de um lugar de apreço pelos materiais originais, e não uma sugestão imediatamente acatada de algum produtor que avisou que tal estilo fazia sucesso na gringa e, portanto, é seu dever copiá-lo. Tara e Tal é house, é jungle, é drum and bass, é samplezinho de guitarra, é beat
PREPARADA, em letras maiúsculas, é música pop com beat. q prazer, em letras minúsculas e abreviada, é um miami bass diretamente de Recife — recife baixo, se preferir. NIGHT MARé, maiusculização irregular, é o mais puro Fernanda Abreu do início dos anos 90 — ao menos conceitualmente. instrumentalmente, e eu peço por favor que acredite em mim, isso é mais uma canção da Fresno do que qualquer coisa — se os tais artistas pop punk da atualidade realmente fossem corajosos e não apenas regurgitassem Avril Lavigne com uma bateria eletrônica por cima, talvez o mundo tivesse mais canções desse tipo. samples de guitarrinha vão sim me conquistar, ainda mais acompanhados de letras tão Duda Beat quanto “dei hide nas tuas coisas”. não podemos aceitar menos que isso na música pop
sim, Eduarda Bittencourt é artista — não importa a quantidade de duetos com Nando Reis que ela participe. acima de tudo, Duda Beat tenta. teu beijo, faixa 6 do disco, é magnífica: em dois minutos e 25 segundos, ela é jungle, R'n'B e meu Deus do céu, mais samplezinha de guitarra — se isso continuar, eu vou chorar de emoção. em doidinha, Duda Beat é doidinha. em SAUDADE DE VOCÊ, Duda Beat está com saudade de você. BABY? você é baby. Tara e Tal está ao menos uns três níveis acima, uns 6 graus a mais na escala Richter do que qualquer outra obra pop despejada em território brasileiro nos últimos 12 meses — mas se vai fazer sucesso eu não sei. talvez o público prefira o mais novo rebranding de Wanessa Camargo. em breve no Altas Horas mais próximo
eu escutei o disco da gay de calcinha também. achei bom
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a marmita perfeita
a marmita do restaurante Brunel, no centro de Criciúma
talvez para você isso seja apenas uma lenda, um devaneio, um sonho de uma noite de verão, mas para mim ela existe: a marmita perfeita. a cidade de Criciúma pode ter muitos defeitos — prefeitos fascistas, eleitores igualmente fascistas, uma falta de apoio à qualquer forma de arte que não seja teatro infantil de Roblox e show de stand-up da Bruna Louise, um time provavelmente rebaixado na Série A de 2024, uma área central impossível de navegar com um carro, pouquíssimos espaços culturais, casas de show e restaurantes que não sejam de comida italiana, pizzas caras demais no iFood... calma. acho que eu me perdi
mas acima de tudo isso, de qualquer falha moral desse município anteriormente pertencente à Araranguá, existe o Restaurante Universitário. veja bem: ele é um restaurante que fica no bairro Universitário. sim, todos os acadêmicos da Universidade do Extremo Sul Catarinense, que fica exatamente no bairro Universitário, o confundem o tempo todo com o RU da universidade — e sinceramente, os donos do Restaurante Universitário deveriam ter pensando nisso antes de batizar o estabelecimento com esse nome. não acredito que ao invés de pensar no branding do negócio, eles pensaram na comida
eis a marmita perfeita. por apenas 17 reais — preço que eventualmente aumentou para 18 reais e mês passado subiu para 20. você leva pra casa um colosso que é um almoço e uma janta. uma quantidade absurda de arroz e feijão, o melhor frango empanado que eu já comi na vida, de vez em quando carne de porco, salada temperada num potinho à parte. é um pote enorme. se você quiser, você vai comer. é o golden standard das marmitas. o Pelé dos almoços, o Michael Jordan das sobras ao fim da noite. é o alfa e o ômega, e eles colocam batata frita se você pedir
mas por que estou falando sobre isso? pois é chegada a hora da rivalidade feminina.
o restaurante Brunel fica localizado em um beco quase escondido no — você acertou — centro de Criciúma. por algum motivo nebuloso, as opções de almoço por um preço mais popular na área central da cidade não são tão amplas assim: consigo contar talvez uns cinco restaurantes, e nenhum deles é necessariamente conhecido por oferecer uma boa comida — as pessoas vão lá porque é onde dá pra comer barato e perto do trabalho. claro, existem restaurantes melhores no shopping Della, mas o buffet livre custa 90 reais — e isso é um preço que eu talvez pagaria só se trabalhasse na Faria Lima, passasse meus dias sofrendo danos psíquicos de homens brancos de terno falando sobre Bitcoin e também fosse burra
a marmita do restaurante Brunel custa exatamente 20 reais — meio que um preço padrão na Criciúma de meados dos anos 20. mas qualquer comparação com a marmita perfeita do Restaurante Universitário é quase uma covardia: talvez a principal diferença é que eu consegui comer essa marmita até o final. sim, o pote é menor. uma quantidade completamente normal de arroz e feijão, uma quantidade um pouco maior de macarrão sem molho, uma batata frita que eu não precisei pedir — isso é um plus. a salada, porém, não vem temperada em um potinho separado: isso é um minus. a imagem acima claramente mostra um pequeno recipiente com saladinha? mentira. alguma coisa mudou no meio do caminho e eles não oferecem mais essa opção. eu recebi alface, tomate, um pedacinho de carne bovina e um frango empanado levemente acima da média. para jantar, precisei procurar outra coisa.
haters dirão que é covardia comparar qualquer marmita com a marmita do Restaurante Universitário, e para essas criaturas maléficas, nefastas, podres, eu digo apenas uma coisa: desculpa :-(
boas notícias: após anos de sofrimento com um objeto que mais parecia um travesseiro da Nasa, eu finalmente comprei uma bateria nova para o o meu 3DS. portanto, a partir de agora, inauguro um novo quadro semanal nesta publicação: a isabela thomé encontrou alguma pessoa no streetpass essa última semana?
a resposta para a edição do dia 17 de abril de 2024 é: não.
eu sinto que todos os momentos importantes do Criciúma na Série A deste ano passarão por Yannick Bolasie. os ótimos, os bons, os ruins e os péssimos. esse é maravilhoso
isso me fez chorar. vocês não podem fazer isso comigo. é ilegal
gente amanhã é meu aniversário :-( vcs me amam? podem me dar parabéns meia-noite? podem me mandar 500 reais no pix? a chave é 22222222222222
Isabela, reveja a chave PIX que colocou no fim do texto. Não acredito que você seja o Casimiro Miguel Vieira da Silva Ferreira (Banco Neon), mas em todo caso mandei um trocadinho pra marmita de sexta. Ainda assim, dá uma conferida.
isa, agora você me encafifou e eu vou precisar começar a procurar marmitas em Osasco e ouvir Duda Beat. Que dias são esses.