observando o calendário gregoriano presente na barra de tarefas do meu notebook, acabo de perceber que hoje é dia 1ª de maio de 2024 — conhecido em boa parte do mundo como dia do trabalho. e considerando essa data especialíssima, eu não quero trabalhar.
portanto, a eu destruirei vocês desta semana será uma retrospectiva com alguns textos anteriormente exclusivos para assinantes! leia já sobre os gêneros musicais mais estranhos do mundo & um belíssimo jogo de cartas que não é um jogo de cartas mas é um jogo sobre cartas
e caso você queira uma quantidade quase infinita de textos by isabela thomé, considere assinar a eu destruirei vocês! toda segunda-feira tem uma edição nova. obrigada. eu te amo
apesar de eu realmente não ter nada melhor que isso pra fazer na minha vida, eu considero absolutamente insalubre a quantidade de tempo que eu passo diariamente no Rate Your Music. mas é aquilo, não adianta: ele é o melhor site do mundo pra quem possui qualquer interesse em música que ultrapasse a barreira do top 50 do Spotify. não só praticamente todos os discos do mundo estão catalogados lá como você ainda pode dar notas para eles, e usuários do Letterboxd já sabem o prazer que traz atribuir um valor numérico a uma obra de arte. o que significa dar quatro estrelas e meia para De Olhos Bem Fechados? não sei, nunca saberei e provavelmente nenhuma pessoa viva no mundo atualmente saiba
mas o grande fato de todos é que o Rate Your Music é a plataforma mais incrível que existe para você descobrir música nova. há uma infinidade de recursos no site que te permite conhecer coisas que você jamais acharia por conta própria — a não ser que fosse garimpar discos em um porão de igreja no sul da Califórnia. suas charts te permitem pesquisar álbuns com um nível insano de especificidade — caso assim deseje, você pode buscar pelos melhores álbuns de new rave lançados em 2007 com vocalista não-binário cujas letras falem sobre introspecção e abandono. se quiser, pode procurar até pelos de 2008. os melhores álbuns improvisados da história é uma das minhas buscas favoritas em qualquer website, logo depois de “super mario 64 creepypasta” no YouTube
mas nada disso seria possível sem os inúmeros gêneros disponíveis no site. há alguns poucos anos, o processo de inserir um estilo musical novo na plaforma foi muito simplificado pelos administradores — quando eu comecei a usar mais seriamente o site, lá por 2015, todos os álbuns/mixtapes/singles de funk brasileiro ficavam embaixo do guarda-chuva de funk carioca, não importa se você fosse o MC Daleste ou a Tati Quebra Barraco. hoje, com o advento da tecnologia, tem até funk de BH, beat bruxaria e mega funk lá. brega funk e batidão romântico aparentemente não são a mesma coisa e, de algum modo, coexistem em harmonia
mas a parte legal de verdade é ficar explorando aqueles gêneros que você não fazia ideia da existência. algo que em anos, décadas de pesquisa musical, você nunca encontrou na sua frente. um negócio tão obscuro que talvez ninguém no mundo além dos artistas que produzem obras para o gênero já tenham ouvido falar. o que diabos é ambient noise wall
na verdade, eu acho que entendi um pouco — mas tem que voltar pra trás. noise é um gênero musical ironizado por adolescentes sem cultura e idolatrado por pessoas legais como eu que consiste em barulho. o noise foge das estruturas normais da música em geral, muitas vezes é inteiramente improvisado e pode ser feito de várias maneiras — tudo que você precisa para produzir noise é uma dezena de pedais de distorção, alguns samples no Ableton e uma relação complicada com a sua identidade de gênero.
harsh noise é noise só que ainda mais agressivo — noise normal não é necessariamente algo violento, mas o harsh noise é feito basicamente pra você sentir dor. o harsh noise quer te matar. e se você passar de fase, encontra o harsh noise wall. uma parede de harsh noise. um harsh noise que não muda ao longo de sua duração. sem alterações na composição, na estrutura, nada. é aquilo e vai ser aquilo. música para quem desistiu
e o ambient noise wall é quase isso — mas é ambient. enquanto o harsh noise wall quer que você morra, quer te ver destroçado no chão do seu quarto, a versão ambient quer no máximo que você sofra um pouquinho. ele quer que você pegue dengue, mas só depois que a vacina estiver disponível na sua região. as texturas não são tão brutais e podem até ocorrer variações ao longo da obra — imagina que legal seria escutar uma mudança de acorde em uma música. tomara que um dia isso aconteça
no outro extremo da música eletrônica, sendo não tão extremo, existe o comfy synth — e se algo mais gênero de internet do que isso, eu quero que você me fale. o comfy synth surgiu nos últimos anos quase como uma resposta ao dungeon sytnh, um estilo meio ligado à cena de black metal norueguesa — o pessoal adorava umas coisinhas medievais pelos motivos mais errados possíveis. era música de sintetizador feita por assassinos em série, enquanto o comfy synth é música de sintetizador feita por gente que ainda posta sobre ser um smol bean no ano de 2024
sintetizador confortável é música feita para usuários de tumblr. música para quem é fã de videogames que utilizam a palavra wholesome no seu marketing. música para quem adora JRPGs conceitualmente, mas não tem paciência para jogá-los de fato. música para pessoas obcecadas com ilustrações de livros infantis da metade do século XX. e infelizmente, eu sou esse tipo de pessoa. comfy synth é tão confortável que eu quero voltar para uma realidade que nunca existiu onde eu sou uma criança estadunidense lendo Frog & Toad e chorando por algum motivo que nem eu mesma sei, mas que talvez faça sentido em algumas décadas
broadband noise é talvez o gênero musical que mais chegue perto de ser considerado não-música do mesmo modo que fascistas adoram falar sobre o funk. broadband noise é unicamente barulho: sinais de áudio com diferentes frequências, normalmente audíveis, que não se alteram e continuam existindo do mesmo jeito por toda a eternidade. talvez você não conheça com esses termos, mas em algum momento de desespero você provavelmente tentou utilizar um ruído branco para se concentrar em alguma tarefa ridícula do seu trabalho
o ruído branco é o mais famoso dos ruídos, mas existem vários outros — e disco acima, technicolors, do artista japonês Ryoji Ikeda, é um bom exemplo de como eles funcionam. o ruído rosa é mais agressivo e poderoso enquanto o ruído cinza parece apenas um chiado de televisão antiga. ruído amarelo parece uma ventania muito forte em um deserto, ruído azul parece um chuveiro ligado no máximo e o ruído preto é quase inaudível — como se uma formiga estivesse passando pelo seu ouvido
e se você for analisar, esse gênero é um dos mais escutados em todo o mundo — seja na natureza, seja em álbuns com bilhões de stream no Spotify com nomes do tipo White Noise for Baby Sleep and a Full Night's Rest
aparentemente música de YouTube Poop também virou um gênero por lá. a influência eterna de Seu Madruga Will Go On na cultura de internet
Rodrigo Lombardi em Bang Bang
o jogo Balatro, lançado em 20 de fevereiro de 2024
para mim, um dos grandes mistérios da humanidade é o poker. um esporte nobre, praticado por pessoas de reputação ilibada do naipe de Neymar Jr. e também responsável por destruir a vida de Norm Macdonald — aparentemente, de algum modo, você pode apostar dinheiro neste jogo de cartas e, na grande maioria dos casos, perder tudo que você tem. na minha cabeça, poker é algo nebuloso, misterioso, meio secreto, conexões com a máfia italiana, uma versão sofisticada de jogo do bicho, episódios do Fat Tony… talvez seja porque eu assistia transmissões de poker na ESPN quando era criança e a iluminação ao redor da mesa era sempre totalmente escura
em Balatro, a mesa não é tão escura. Balatro, na verdade, praticamente não é poker — ao mesmo tempo em que é exatamente igual a poker. ele é o que Fifa Street foi para o futebol, Mario Kart foi para o automobilismo, Cruelty Squad foi para o complexo militar-industrial. em uma simulação realista de poker utilizando o meio dos videogames, você não teria cartas planetárias que aumentam a pontuação dos seus three of a kind, não teria cartas coringa multiplicando em 4 o valor da sua mão caso jogue alguma carta de número ímpar, e muito menos um estilo gráfico metade pixel art, metade televisão de tubo. graças a Deus poker é chato
Balatro, acima de tudo, é um jogo de ver número subindo. o grande apelo do game é você ir construindo um baralho cada vez mais forte, aumentando sempre o poderio de suas cartas até tudo ruir no final — que nem a sua vida após o vício entrar dentro de você. Balatro é um deckbuilder, considerando que você está constantemente construindo um deck, mas é muito além disso: as cartas que você joga nem sempre são o mais importante. se você tem um coringa multiplicando 80 vezes seus pontos, quase não importa a mão que você joga. você vai ganhar. não é irrelevante, mas é praticamente
talvez essa seja uma comparação semi-esdrúxula, mas a sensação que eu tenho jogando Balatro é a mesma de quando eu jogo Tony Hawk’s Pro Skater — que se você quiser forçar muito, também pode ser um roguelike. é o constante aumentar de números, é o contínuo entender as mecânicas, é o incessante meu deus, não posso perder essa manobra que demorei 47 segundos para construir. aumentar o atributo de equilíbrio do atleta Bob Burnquist traz exatamente a mesma satisfação de conseguir uma carta ótima logo no início da partida, e perder um jogo porque não conseguiu míseros 56 pontos a mais é igualzinho a encontrar apenas quatro das cinco letras que formam a palavra SKATE espalhadas pela fase de Chicago. faltou o K. estava dentro de um elevador.
jogando ininterruptamente Balatro nesta última semana, percebi de uma vez por todas o quão eu tenho uma personalidade aditiva — e é por isso que eu jamais criarei uma conta em qualquer site de apostas de futebol, mesmo tendo certeza absoluta que o Botafogo de Ribeirão Preto conseguiria mais de 4,5 escanteios na partida de terça-feira contra a Ponte Preta. tudo bem, o número de horas jogadas na Steam pode ser apenas sete, mas para mim isso é algo completamente absurdo — imagina só: foram sete horas em que eu não fiquei navegando no Twitter, procurando discos de folk punk no Rate Your Music que jamais ouvirei ou me afogando em dúvidas
a quantidade de vezes que escutei na última semana esse cover de dez minutos que o Vampire Weekend fez de Jokerman deve estar perto da casa das centenas. mais alguém pensa o tempo todo no fato do Bob Dylan ter colocado a palavra deuteronomy em uma música pop? ele é o maior, não adianta. não adianta!
eu quero tanto uma camisa do Bragantino com patrocínio da Red Bull, mas pré-Red Bull Bragantino. ela só existiu em 2019, naquele período de transição pós-desistência do projeto Red Bull Brasil.
“mas pq vc quer isso isabela” porque eu gosto de Red Bull. e transição.
existe um maluco no YouTube — sim, eu sei que existem vários, mas me escuta — criando as versões IA de músicas dos Beach Boys mais insanas do mundo. The Like in I Love You se tivesse sido gravada em 1971? uma Desert Drive completa feita em 1996? e mais incrível de tudo, um remix stereo de Good Vibrations? a inteligência artificial é o novo Deus mesmo. o seu novo Deus.
há coisas que são para sempre.
literalmente eu.
criciúma 4x0 no vasco e 1x0 no psg. fé que esse vem a taça do brasileirão ou pelo menos da champions league
Isabela a MINHA vj da MTV