existem pessoas no mundo que, por onde passam, exalam sempre uma aura de confiabilidade. pessoas que você faria qualquer coisa para proteger e que você sabe que te protegeriam de volta a todo custo, não importa o que acontecesse. pessoas dignas, íntegras, que jamais lhe dariam um golpe. Danny DeVito, por exemplo: é óbvio que ele te emprestaria quatro mil reais se você um dia precisasse — e talvez até esqueceria de pedir de volta. Taís Araújo e Lázaro Ramos, então: se eles me convidassem para passar uma noite em seu castelo na Transilvânia, eu iria sem medo algum. as histórias que os moradores da vila me contaram certamente são mentira: os dois são ótimos anfitriões e a maioria dos convidados sai de lá vivo e com boa parte do sangue ainda no corpo
mas digamos que o Victor Hugo, do Big Brother Brasil 20, te chamou pra participar de um reality show totalmente online e completamente inovador. você iria? eu quero que você responda olhando nos meus olhos. você iria?
A Bolha, com apresentação, direção geral e direção artística de Victor Hugo, é o primeiro reality show totalmente online da história do audiovisual brasileiro — quer dizer, eu acabei de inventar isso, talvez tenha tido outro antes. mas quem diabos é Victor Hugo, você deve estar se perguntando — e é justo se questionar quanto a isso, já que ex-BBBs raramente garantem a chance de ter um sobrenome. você entra na casa como Eliezer e seguirá para o resto da vida sendo Eliezer, a não ser que insira o Tube na certidão de nascimento
Victor Hugo, ora bolas, é o apresentador, diretor geral e diretor artístico de A Bolha. ao longo dos últimos meses, as redes sociais do influencer foram tomadas de teasers e chamadas anunciando os participantes e dinâmicas daquilo que promete ser, se tudo der certo, um reality show. quer dizer, a divulgação sempre foi meio confusa: sabemos que é um reality show 100% online, mas é difícil entender o quão online um reality show pode ser. o BBB, por exemplo, você pode dizer que é online: dá pra usar o computador pra votar, e você pode assistir pela internet — peço que me interrompa se eu estiver explicando rápido demais. A Fazenda? você assiste pelo PlayPlus. A Bolha? isso não é um reality show. é uma chamada de Google Meet
o primeiro episódio de A Bolha foi transmitido ao vivo na noite de segunda-feira para todos os países do mundo via plataforma YouTube e meu Deus do céu. tal qual o Big Brother Brasil, o programa possui interação do apresentador com os participantes — e como este é um reality show 100% online, tudo é por chamada de vídeo. Victor Hugo conversa com Pâmela sobre ela ter tido uma DR com Vinícius, os dois discutem ao vivo, e você consegue ver apenas o rosto de um dos participantes o tempo todo. durante uma importante prova, o apresentador precisa ficar pedindo para um dos participantes ficar quieto enquanto outro realizava o desafio para a câmera do Meet não focar nele ao inv— calma, eu vou precisar quebrar a linearidade disso aqui. me desculpa.
tudo em A Bolha, tal qual um papel de parede frutiger aero que você achou no reddit, gira em torna de bolhas. antes de tentar explicar, eu quero que você entenda que todos esses nomes e conceitos são reais e existem no jogo — ou seja, eu não inventei absolutamente nada disso. não há um quarto do líder em A Bolha: existe a bolha mestra, onde participantes imunizados podem enviar pessoas para a bolha de chorume — esse é o paredão. você pensa que os participantes são eliminados? óbvio que não. eles são estourados. quem está n’A Bolha pode sim paquerar, mas apenas quando estão na bolha do amor — e eles podem tentar resolver atritos dentro do jogo sim, mas só dentro da bolha de espinho. tudo é muito regrado, tudo é milimetricamente planejado para que toda interação entre os participantes seja sempre gravada e nada aconteça fora dos olhos da produção e do público.
e sabe quando você está assistindo um programa tipo, sei lá, A Grande Conquista e eles mostram os VTs do que aconteceram no dia? que nem um reality show normal? A Bolha também tem isso. “calma aí, isabela” você exclama do terceiro andar. “não tem uma casa nesse reality. é 100% online. como isso funciona?”
eu vou te mostrar como funciona.
literalmente 30 minutos, ininterruptos, de pessoas gravando a si próprias “conversando” com os outros participantes — exceto que não é uma conversa, porque a outra pessoa não vai responder na hora. é mais como se fosse um RPG por turnos. eu quero deixar explícito que eu nunca, na minha vida, assisti uma coisa tão chata quanto isso. é como se fosse um vlog sem contexto algum, pessoas jogando palavras soltas no ar e tentando manter uma comunicação onde não há nada — é como gritar para um abismo e o abismo te responder 15 minutos depois. você nem lembra mais o que gritou. o sol está se pondo. já está lutando contra um urso no meio da floresta
e pelo que Victor Hugo deixou a entender durante o programa, isso tudo rola em um grande grupo do WhatsApp onde você só pode enviar vídeos, nunca texto ou áudio — afinal, isso é uma obra audiovisual. é uma ideia absurda, patética e ao final da meia hora do festival vídeo selfie, um dos participantes reclamou que não conseguiu escutar os VTs. Victor Hugo retruca e diz que todos os seus colegas de Bolha haviam conseguido escutar sem problema algum.
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e a cada edição do programa, teremos provas. assim, eu gosto de pensar que se eu fosse apresentadora, diretora geral e diretora artística de um reality show, eu criaria desafios que não colocassem os participantes do programa pelo qual eu sou responsável em perigo — mas talvez eu seja romântica demais e não saiba como o mundo funciona de verdade. a prova da primeira edição? você deve beber dois litros de água de uma vez só.
sei lá. isso é uma ideia que uma criança de 8 anos de idade teria. nem o Gilberto Barros do velho testamento, no alto da sua negligência para com os convidados de seu Sabadaço, faria uma coisa dessas. não sei quantas pessoas estão na produção de A Bolha, mas alguém no meio de tudo aquilo deveria saber que isso faz mal pra saúde, não deveria? quer dizer, também é totalmente possível que as “reuniões de pauta” do programa sejam apenas o Victor Hugo anotando um monte de ideia besta em um Docs. capaz de nem ser no Docs ainda. abriu uma anotação no Keep
só Deus sabe qual é o propósito de A Bolha. será que Victor Hugo acredita que o programa pode ser um sucesso? tenho minhas dúvidas. quem assistiu o primeiro episódio não vai assistir outro, a não ser que essa pessoa insana tenha uma newsletter semanal de humor & cultura pop e precise do máximo de conteúdo possível. talvez seja exatamente isso que Victor Hugo queira.
e agora, um recado direto d’A Bolha.
esse conteúdo é ✅ legal ✅ que agrega ✅ bem-humorado ✅ dá para aprender muita coisa
fascinante de verdade. é como se a rafa kalimann resolvesse fazer sua própria casa kalimann nos seus próprios termos