acalmam-se, fãs. após quase uma década de dor, sofrimento, tristeza, decepções e mais dor, talvez 2024 finalmente seja o ano de Anitta. não que realmente exista qualquer evidência disso, claro: ser fã da cantora é acima de tudo um grande exercício de fé. é praticamente uma religião. não há motivo nenhum para acreditar no sucesso de Funk Rave, mas nós precisamos sempre crer. talvez Biquini Vermelhinho, a collab com Costa Gold & Rafinha RSQ, seja o hit do verão. talvez a música do carnaval seja Tudo nosso, aquele feat. com o Filipe Ret. talvez Jesus Cristo volte semana que vem. os sinais estão todos aí
Funk Generation, lançado em abril de 2024, é um disco da Anitta — e provavelmente o melhor de sua carreira. bem produzido, features não-terríveis, poucas letras vergonhosas, nenhuma inclusão de qualquer MC Kevinho ou um póstumo Mr. Catra — Lose Ya Breath? ótima canção. Funk Generation, para todos os efeitos legais, é o 2024 de Anitta.
ao mesmo tempo, essa mulher participou de outras onze canções ao longo do ano. e nós estamos em agosto. e eu garanto que você não escutou nenhuma delas1
mas calma. está tudo bem. não precisa ouvir nenhuma. eu já fiz isso pra você.
Anitta & Melody — Mil vezes (Remix)
a Mil Veces original é mais um daqueles hits de Anitta que você ouviu tocar duas vezes na rádio e nunca mais — canções com impacto cultural similar ao remake live-action de Aladdin. 39 milhões de visualizações no YouTube e uma existência ainda não comprovada. já Mil Vezes (Remix) meio que serve apenas para ser um feat. da Anitta e da Melody. serve para que as pessoas falem sobre. serve para as páginas de fofoca do Instagram fazerem posts do tipo WOW! Anitta e Melody fazem as pazes e lançam remix de Mil Veces! alguma pessoa cujo maior sonho da vida é ser uma ex-participante d’A Fazenda se importará muito com essa notícia. talvez um dia ela entre no A Grande Conquista. eu estou torcendo por ela.
Mil Vezes (Remix) é uma tentativa patética de recriar o sucesso, carisma e autenticidade de Fake Amor. mas apesar de parecer, o povo não é bobo.
Justin Quiles, Anitta & Lenny Tavárez — Faldas y gistros
peço mil perdões, mas eu não sei o que é uma falda e muito menos um gistro. se eu conheço Justin Quiles e Lenny Tavárez? prefiro não demonstrar minha ignorância logo cedo. eles meio que são aqueles artistas que surgem do nada quando um gênero se torna muito popular. J Balvin está bombando em todo o mundo não-tupiniquim, então as gravadoras vão atrás de qualquer homem levemente parecido com ele para dar dinheiro para produzir clipes — e outro setor da gravadora chega à conclusão de que a Anitta faria muito sentido em uma colaboração. é assim que acontece uma Faldas y Gistros
bandeiras de Porto Rico, carros vindos diretamente de Need For Speed Underground 2 e uma Anitta no canto. não é necessariamente uma canção horrorosa, mas é incrível o quão avulsa a cantora carioca ainda parece nesse mundo. é como inserir uma espécie não-nativa em um novo ecossistema. a Anitta é um sapo australiano levado em uma mala para a Suécia. nos próximos anos, reportarão a extinção de centenas de insetos no país. saberemos de quem é a culpa
Omar Montes, Anitta & Sech — Arena y sal (Remix) (feat. Yandel, Saiko, FMK, Lit Killah e Tunvao)
Omar Montes, Anitta e Sech feat. Yandel, Saiko, FMK, Lit Killah e Tunvao. inacreditável como uma música com tanta gente envolvida pode ser um completo nada. ruído branco em forma de neoperreo. realmente, a Anitta está aqui — por cerca de trinta segundos. é o que deu tempo. não é como se Arena y Sal (Remix) fosse algum tipo de poesia acústica. isso aqui só tem cinco minutos de duração. o verso do Lit Killah chega, passa e você nem percebe. quem é Lit Killah, meu Deus? é como se essa música fosse vento. já foi.
nem clipe fizeram pra isso aqui. imagina o pesadelo logístico de tentar colocar oito artistas diferentes em um mesmo set de gravação. é impossível. todo mundo tem show. algum compromisso. pelo menos um deles vai ter entrevista marcada no Hoy do Las Estrellas bem às oito da manhã de uma quinta-feira. a produção televisa mexicana nunca para. nem mesmo para um videoclipe do Tunvao
Tiago PZK, Emilia & Anitta — Alegría
é isso mesmo que você ouviu: um mandelão em espanhol. não que eu tenha falado sobre isso antes. ao mesmo tempo em que Alegría é interessantíssima conceitualmente, ela passa uma vibe levemente rançosa de canção oficial de Copa do Mundo — e não me venha falar que Waka Waka possui qualquer qualidade positiva. é a nostalgia que está te cegando. aceite de uma vez por todas que Shakira é falível
é que assim… é muito curioso basear o refrão da sua música na voz do Google falando meu coração está cheio de alegria. escutar um argentino cantando “baile funk pra todas essas meninas” é com certeza uma experiência muito diferente, e nesse caso, o diferente me assusta. talvez eu preferia algo normal, que não abalasse nenhuma concepção que eu tinha do mundo. talvez eu preferia uma canção que não fizesse eu me questionar. em determinado ponto da canção, há dois cantores argentinos cantando “baile funk pra todas essas meninas” . o Pelé não morreu pra isso
Menos é Mais & Anitta — Um por cento (UN X100TO)
parece que a Anitta não consegue se livrar do reggaetón. à primeira vista, Um Por Cento, parceria da cantora com o grupo de pagode Menos é Mais, parece uma canção de pagode normal — até você olhar a lista de compositores e perceber que o nome do omnipresente Bad Bunny lá está. isso é um cover em português de Bad Bunny. a versão original se chama UN X100TO. e aí. o que fazemos com isso?
talvez o melhor que eu possa dizer é que, se eu não soubesse que era uma versão, eu jamais teria imaginado que isso originalmente era um reggaetón. tem uma vibe parecida com aquelas canções da Anitta da metade da década passada — consigo ver isso tocando em um disco logo depois de Você Partiu Meu Coração feat. Nego do Borel. e feat. Wesley Safadão. não há nada mais 2017 que isso
Wisin, Anitta, Shaggy & Maffio — Peligrosa
sim, Anitta. eres mucho peligrosa. eu sei que pode parecer uma completa balela, mas há uma música lançada em 2024 que possui contribuições tanto de Anitta quanto do cantor Shaggy, conhecido pelo mega hit Y2K It Wasn’t Me. quer dizer, se nós formos pensar de verdade nessa combinação, ela faz total sentido. o que é o reggaetón se não um dancehall levemente mais rápido? muitas outras coisas, claro, mas peço que siga a minha narrativa aqui. por favor, me ouça como se eu fosse a única voz do mundo
todo mundo nessa música é meio velho. Wisin era um dos grandes nomes do reggaetón nos anos 2000, Shaggy era e ainda é o Shaggy e a Anitta, acredite ou não, tem mais de dez anos de carreira. por isso, essa canção tem uma deliciosa vibe Gasolina by Daddy Yankee que não se vê mais tanto hoje em dia. até a correção de cor do clipe é meio feia, talvez para condizer com os amarelados anos 2000 — novamente, peço que siga a narrativa. Peligrosa é ruim, claro. mas tem seu charme. tipo Você Partiu Meu Coração. feat. Nego do Borel. e feat. Wesley Safadão.
Tiago Iorc & Anitta — Na ausência de ti (In assenza di te)
ai. pelo amor de Deus. na minha cabeça, o Tiago Iorc tinha sumido completamente depois daquele ano sabático e nunca mais havia voltado — e talvez seria melhor mesmo se o homem por trás de um disco chamado Troco Likes nunca mais voltasse para a civilização. mas aqui está ele. um dueto com Anitta. um cover de Laura Pausini. uma balada acústica. a morte completa da cultura. se houvesse um Eurovision das Américas, colocariam essa música para competir. e isso é a pior coisa que se pode dizer sobre uma canção pop
lembra daquele dueto do cantor supostamente indie Silva com a cantora supostamente fluminense Anitta alguns anos atrás? é uma versão 2024 dela. mais deprimente, mais irritante, mais nostálgica no pior sentido possível. sinceramente, colocar a Anitta nessas baladinhas acústicas é um completo pecado. eu prefiro a beat porto-riquenha mais genérica do mundo a isso. Deus, traga-me o Shaggy. eu preciso de um ritmo latino
Bad Gyal & Anitta — Bota niña
sim, é reggaetón. mas não é horrível! com um clipe levemente homoerótico — o que é sempre um plus — a collab entre a cantora espanhola Bad Gyal e a cantora latino-americana Anitta possui um refrão envolvente que conta com um dos melhores usos da palavra maluca na música pop desde o tema oficial da dança maluca de iCarly. infelizmente, a palavra culo também é utilizada, e eu odeio ela. utilizando os conceitos já conhecidos de matemática, conclui-se que essa canção é uma nota 5. não mais que isso
Léo Santana & Anitta — Posso beijar sua boca?
hm. ok. Posso beijar sua boca? é insana.
um funk de Léo Santana que conta com um loop estereotipado de música árabe — descanse em paz MC Vuk Vuk — e vocais de Anitta que certamente foram gravados com o iPhone da cantora. a não ser que ela seja embaixadora da Samsung. enquanto Léo Santana pergunta “posso beijar sua boca?”, Anitta responde com um “pode” em baixíssima qualidade. talvez seja o conceito. os dois estão transando pelo telefone e a ligação está caindo. Léo Santana pergunta “posso tirar sua roupa?” porque websexo é assim mesmo. não tem como tocar na pessoa. é só um grande roleplay. nada disso é real
aos 50 segundos da música, o loop estereotipado cessa e começa a tocar um outro loop. você não consegue mais escutar os vocais da música a partir desse ponto. é possível que quem mixou isso só colocou todos os sliders pra cima e rezou para que desse tudo certo
Alejandro Fernández & Anitta — La tóxica
prazer, Anitta. a tóxica. essa aqui é muito curiosa: Alejandro Fernández é um dos maiores cantores mexicanos e expoente da ranchera — música mexicana de violão e, se você quiser ser redutivo, meio que o sertanejo raíz deles. não é uma Simone e Simaria, é mais um Eduardo Costa. e sinceramente, ranchera não é ruim. talvez se eu fosse mexicana e constantemente exposta a esse gênero a todo momento da minha vida, eu odiaria ele. mas em pequenas doses, esses violões mariachi enchem minha alma de alguma coisa. talvez eu precise ir no Loca Madre ainda essa semana
La tóxica é legal! a Anitta funciona muito bem em duetos pop desse tipo — com uma banda inteira atrás, e não só com um homem branco tocando um violão chato. essa canção poderia facilmente estar na trilha sonora de uma novela agro do Walcyr Carrasco. eu prometo que isso é um elogio
FloyyMenor, Ozuna & Anitta — Gata Only (Remix)
chega um ponto em que todas essas músicas começam a se tornar uma só em minha mente. eu escuto o remix de GATA ONLY, do cantor chileno maior de idade FloyyMenor, e não sinto nada. não me lembro de nada. tem um homem cantando, e eu acho que eu escutei a voz da Anitta em algum ponto. não que eu ache que arte precise ter qualquer significado, mas o que está acontecendo aqui? há algo sendo dito? eu não tenho certeza. é como se fosse uma música efêmera. ela chegou e ela passou. e eu provavelmente nunca mais a verei. adeus
oiê! aqui estou eu de novo. nessa segunda-feira, saiu mais uma edição exclusiva para assinantes da eu destruirei vocês — essa newsletter aqui, que você está lendo neste exato momento. caramba!
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é… se você escutou alguma delas, peço desculpas.
Me desculpa mas Waka Waka é sim um hino, estou nas trincheiras com a Shakira nessa
obrigado por me poupar tempo tendo que ouvir as músicas. a propósito, você recebe adicional de insalubridade? se não, deveria...