ao contrário da maioria das pessoas, eu acredito que grande parte das canções existentes no mundo são boas. sei lá, na minha visão é uma lógica bem simples: eu gosto muito de música, e eu gosto muito de escutar música, e eu gosto muito de escutar músicas diferentes. portanto, se a maioria das músicas fossem ruins, eu não gostaria tanto assim de música. é difícil você, um ser humano comum, produzir algo realmente horrível de se escutar — existe alguma obra musical sem qualquer qualidade positiva, não tenho certeza. mas talvez isso seja uma questão especificamente minha. eu escuto os piores discos dos Beach Boys e consigo encontrar algo de bom. Summer in Paradise? hm. é ok. até que o som de bateria não é tão doloroso aos meus ouvidos
mas de vez em quando, eu sinto ódio. uma tristeza profunda quando ondas sonoras batem em meu ouvido. às vezes uma canção pop muito medíocre chega em você e te faz sentir emoções muito negativas. sentir raiva. e como eu morro de medo de sentir emoções quando consumo arte, isso é a pior coisa que pode acontecer para mim.
por isso, hoje eu decidi sentir raiva de propósito. convidei a
, da ótima newsletter — assine imediatamente — para comentarmos um pouco sobre as músicas que mais odiamos. porque às vezes é bom colocar mais negatividade no mundoOneRepublic — Counting Stars (2013)
por isabela thomé
então, talvez eu não odeie completamente essa música. existem composições muito piores nessa era deprimente do rock: grupos tentando reinventar o country cantando ho e hey ao som de batidas de pé, Maroon 5 descobrindo que synthpop dá muito mais dinheiro que fazer soul pra gente branca e Awolnation. por favor, alguém lembra de Awolnation? mas Counting Stars ocupa um espaço muito especial na minha mente, no meu cérebro, nas minhas memórias. toda vez que um Uber está escutando a Atlântida e ela começa a tocar, eu imediatamente me lembro desse vídeo. Daniela Albuquerque surge misteriosa ao som de Counting Stars
eu possuo um fascínio enorme pelo programa Sensacional. entrevistas semanais com celebridades irrelevantes que muitas vezes nem querem estar aí falando sobre assuntos que nem se importam — hoje, perguntaremos o que a Mylena Ciribelli acha sobre a seleção brasileira e depois a despejaremos em uma roda de conversa sobre cirurgia plástica. é um feed de Instagram na sua televisão toda quarta-feira. e uma vez, a Daniela Albuquerque surgiu misteriosa ao som de Counting Stars
é uma grande combinação de fatores. é a interpretação medíocre da canção pela banda do programa, os tecidos coloridos dos dançarinos provavelmente comprados na Cricifios algumas horas antes da gravação, a coreografia que parece improvisada e, principalmente, o tecido dourado de Daniela Albuquerque. ela é a rainha desse programa. e ela está surgindo misteriosa. no GC, uma informação: daqui a pouco, Scheila Carvalho revela se tem mágoa do É O Tchan. estou preparada
Imagine Dragons - Believer (2017)
por
a década de 2010 foi a pior da história da humanidade porque nos trouxe Imagine Dragons e bandas derivadas de Imagine Dragons. além de ter um vocalista que sempre está seminu (não importa onde esteja), o grupo tem como característica principal uma energia 100% Rede Globo de entretenimento. estou falando de Tiago Leifert, propagandas da Tim com a ex-cantora Iza, o programa The Masked Singer com a apresentadora Ivete Sangalo e The Voice Brasil com o (ainda) cantor Lulu Santos, lineup ruim do Rock in Rio, marcas tentando hitar no finado Twitter e o nepobaby Boninho – só para citar alguns exemplos. quando penso em Imagine Dragons também consigo visualizar nitidamente imagens de lobos com triângulos e cores neon que faziam sucesso no Tumblr. tudo muito 2013. tudo muito ultrapassado.
eu poderia ter escolhido qualquer canção da banda de Las Vegas (a cidade mais brega dos Estados Unidos), afinal, são todas iguais, mas optei por Believer porque creio que é a que mais representa tudo de errado na sociedade atual. ela é quase uma palestra de algum coach picareta, infestada de frases motivadoras cantadas como grito de guerra. contra o quê exatamente? quem é o grande inimigo da banda Imagine Dragons? essa filosofia barata de superação é adorada por marombas de academia e usada como indireta nos stories do Instagram das pessoas mais sem personalidade que você conhece, que acreditam piamente que existe alguém com inveja do seu plano black da Smart Fit.
Believer, assim como qualquer coisa que o Imagine Dragons já tenha feito, tem tantos “oh oh’s” e “ah ah’s” que se assemelha aos hits nacionais do início da década de 2010, quando era impossível escapar do sertanejo universitário (ainda é). era “tchê tcherere tchê tchê” para lá e “tchu tcha tchá thcu thcu tchá” para cá. enfim, o pior de todos os mundos
Train — Hey, Soul Sister (2009)
por isabela thomé
talvez o meu ódio por Hey, Soul Sister diga mais sobre mim do que sobre a música em si. Hey, Soul Sister é a minha adolescência — um período em que você ainda não tem as referências necessárias para entender que certas coisas são muito ruins. talvez você assista Epic Rap Battles of History e ache a coisa mais genial do mundo e em alguns anos perceba que aquilo era bizarramente horrível, ou então você vai ficar muito fascinada com um curta-metragem stop motion do Jan Švankmajer e quando assistir novamente quinze anos depois, vai ficar chocada ao descobrir que realmente era bom. eu acho que o problema era a falta de sofisticação do meu eu-adolescente. eu deveria ter percebido mais cedo o quão ruim é essa música
quem é o culpado por isso? foi algum filme que eu nunca ouvi falar, algum seriado médico da Fox, uma novela das 21h do Manoel Carlos? por que essa música era tão onipresente? ao menos com Big Girls Don’t Cry eu sabia que estava tocando no rádio porque o povo brasileiro amava o Diego Alemão. I’m Yours era famosa porque tocou no casamento da minha tia. Hey, Soul Sister eu não faço ideia. talvez as pessoas gostassem muito de ukuleles. uma pena. eu não
eu acredito que, no fundo, meio que todo mundo consegue olhar pra trás hoje em dia e aceitar que essa música nunca foi boa. nós só estávamos sofrendo com uma escassez de hits pop. deve ser por isso que todos os comentários no YouTube mencionam o quão nostálgica essa canção é. nenhum deles fala que ela é boa
Legião Urbana - Tempo Perdido (ANICIO, DANNE & VIPP CODE Remix) (2018)
por
peço desculpas pela escolha óbvia, afinal, uma lista das piores músicas existentes não seria uma lista das piores músicas existentes sem Legião Urbana. mas mais uma vez o ser humano conseguiu a proeza de piorar o que já era ruim e é por isso que outras civilizações intergalácticas se recusam a estabelecer qualquer tipo de contato conosco. somos uma vergonha universal.
me diga QUEM foi o cidadão que achou genial a ideia de fazer um remix eletrônico de uma música do Legião Urbana. me diga que eu mando prender! tenho uma amiga advogada, ela vai me ajudar. é um absurdo, um ultraje sem tamanho um crime como esse. e é ainda pior quando você precisa aguentar Tempo Perdido (ANICIO, DANNE & VIPP CODE Remix) tocando na academia enquanto você questiona sua existência (é só para isso que elas existem. tocar na academia. motivação e tal. eu quero me matar).
infelizmente essa moda assassinou mais algumas músicas da mpb (vide Trem Bala, da Ana Vilela, com remix do marido da influencer política Gabriela Prioli), provando que os grandes vilões da história são os DJ’s – e não Renato Russo e sua turma. na verdade, culpo sim os membros remanescentes. seria melhor o Marcelo Bonfá continuar tocando bateria em um aplicativo do celular do que permitir algo assim.
Glass Animals — Heat Waves (2020)
por isabela thomé
é extremamente engraçado pensar que, em determinado ponto dos anos 2010, Glass Animals até que era uma banda respeitada. eles ocupavam um espaço meio alt-J e/ou Yeasayer na cena indie mundial — estruturas de música pop com uma produção meio estranhinha por cima, e as pessoas amavam esse tipo de coisa na época. uma instrumentação meio diferente e todo mundo enlouquecia. era uma banda que queria ser o Animal Collective, mas não sabia que ninguém pode ser o Animal Collective. nem o Animal Collective é o Animal Collective mais
eu não entendo o sucesso de Heat Waves, e acima de tudo eu não entendo o impacto de Heat Waves. eu não sei como as pessoas gostavam disso, e eu não sei como isso toca nas rádios até hoje como se fosse uma canção pop duradoura. como se fosse a nova Thriller. talvez tenha sido culpa da pandemia e a distorção de tempo por ela causada. Blinding Lights sofreu com um destino parecido, mas pelo menos Blinding Lights é muito boa — e nenhuma saturação por motivos de Mix FM jamais mudará isso
Heat Waves nem foi o primeiro single desse álbum. eles lançaram outros três antes. nem a própria banda tinha fé nisso aqui. eles já estavam pensando em outras coisas. almoço, quem sabe. talvez eles estavam pensando muito em comer um Subway mais tarde. frango defumado com cream cheese
Passenger - Let Her Go (feat. Ed Sheeran) (2012)
por
em 2012 fomos assombrados por Let Her Go, mais uma das milhões de baladinhas sentimentais que atacavam todas as festas de formatura e de casamento possíveis, como a tenebrosa A Thousand Years, da Christina Perri, que poderia facilmente ter entrado nessa lista deplorável.
acho que a pior coisa de Let Her Go, além dos tecladinhos quase infantis que me dão ânsia de vômito logo no início, é a voz forçadíssima do famigerado Passenger, que chega a dar vergonha alheia. mas calma, o que é ruim sempre pode ficar pior! para comemorar (!) o aniversário de 10 anos da música, o cantor achou de BOM TOM chamar o ruivo Ed Sheeran para um dueto. simplesmente o que já não tinha sal algum ficou com o sal negativado, já que a soma do carisma dos dois britânicos é nula. água de chuchu pura.
resumo da ópera: Passenger, Ed Sheeran e Christina Perri também são adorados pelas pessoas mais sem personalidade que você conhece.
eu não odeio tanto assim Shape of You. existem coisas piores no mundo. outras músicas do Ed Sheeran, por exemplo
Eu simplesmente não lembrava da Daniela Albuquerque surgindo misteriosa ao som de Counting Stars no programa Sensacional, e, de certa forma, counting stars se tornou MELHOR devido a esse evento. De resto, quanta música asquerosa. Deixo aqui minha menção desonrosa para Dance Monkey, a música que iniciou a pandemia.
isa obg por postar a newsletter no horário que tenho aula filler na faculdade, assim posso aprender algo de importante