acredito que tenha ficado evidente, ao longo desses quase três anos de newsletter, que eu tenha uma idade mental de 14 anos. são vários os indícios que apontam para tal: um fascínio eterno com a franquia Mario, uma pequena coleção de CDs dos Beatles que ainda persiste e uma forte inclinação a beber Smirnoff Ice — sinal de um paladar infantil para bebidas alcóolicas. e acima de tudo, eu amo bonequinhos. é provável que minha vida seja vazia para todo o sempre, mas quando eu pego na mão uma pequena marmota-bebê da Sylvanian Families de uma coleção de blind bags com o tema crustáceos, e ela está usando uma roupinha de lagosta, eu sinto como se tudo valesse a pena. como se por um breve momento, essa marmota-bebê… fosse o meu filho. e eu faria qualquer coisa por um filho. inclusive assassinar
na verdade, não é como se eles fossem meus filhos. eles são. todos eles nasceram de meu ventre e se formaram em meu útero, mesmo eu não tendo nenhum dos dois. talvez estes pequenos bichinhos tenham se tornado algo como um vício para eu e a minha esposa — eu tenho certeza absoluta que poderíamos ter comprado um terreno em Braço do Norte com o dinheiro que já gastamos com estas criaturinhas — mas ao mesmo tempo, o que faríamos com um terreno, sabe? eu tenho 28 anos de idade e fui criada em um sítio até os meus 15 anos. pra que eu vou capinar um lote? se possível, eu não quero nem mais ver terra na minha frente. eu sou hater da natureza. quanto mais plástico flocado no mundo, melhor
ao longo dos últimos meses, estes blind bags foram nosso alimento dia e noite. nesse tempo, praticamente todas as lojas de brinquedos próximas à nossa casa estocavam a lindíssima coleção amigos da natureza da Sylvanian Families — olha esse nome, eu vou chorar —, que é basicamente um monte de bichinho lindinho vestindo roupinhas de inseto ou cogumelinho. sabe, de tão minúsculos que eles são. um pequeno koala vestido de joaninha, um porquinho bebê se aventurando pelo mundo com uma linda jangadinha, um ursinho com uma maçã na cabeça — eu sinto que vou chorar a qualquer momento. um chapéu de cogumelo. pelo amor de Deus.
nossas últimas aquisições neste sentido foram feitas semana passada — influenciadíssimas, infelizmente, por uma propaganda do Instagram. uma certa loja criciumense cujo nome não mencionarei sem um gordo cheque endereçado a isabela thomé descobriu que há um nicho enorme de garotas com 20 e tantos anos que não param de comprar bichinhos lindinhos e decidiu adquirir um grande estoque morto de blind bags antigos da Sylvanian Families — e Deus os abençoe por isso. acabei comprando dois: um da coleção Baby Costume, com vários bebês usando fantasias, e um da Baby Treats, com pequenas crianças-animais comendo quitutes variados
eu amo meu filho gato que brilha no escuro e o meu filho koala que come sorvete de koala. eu faria qualquer coisa por eles. sim. inclusive assassinar
e agora, uma pequena pausa para te fazer uma pergunta: você conhece a Filmicca?
a Filmicca é uma plataforma de streaming nacional e independente com uma curadoria exclusiva focada em cinema autoral e cult, com novos lançamentos todas as semanas. quer assistir algo que fuja do óbvio? esse é o lugar ideal!
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minha recomendação essa semana é Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080, Bruxelles, de 1975. dirigido por Chantal Akerman, o filme narra três dias na vida de uma dona de casa viúva em Bruxelas — até que as coisas começam a desmoronar. e sim, recentemente ele foi eleito o melhor filme da história na renomada lista da Sight & Sound. é impossível falar sobre ele sem mencionar isso
e se você já assistiu, a Filmicca possui no total dezoito obras diferentes de Chantal Akerman no seu acervo. é uma ótima dica para a melhor maratona de filmes do mundo
bonequinhos de fast food
quer mais uma prova da minha imaturidade crônica? bonequinhos de fast food. a primeira lembrança que eu tenho relacionada a brindes de McDonald’s é de algum ponto longínquo do ínicio da década de 2000, antes da saída da rede de fast food da cidade de Criciúma que durou quase dez anos — sim, por muito tempo o McDonald’s mais próximo ficava em Tubarão, uma cidade conhecida principalmente por se chamar Tubarão. naquela época, materializou-se nas franquias da rede uma coleção de minigames em LCD do Crash Bandicoot e do dragãozinho Spyro — e eu conhecia e amava o Crash do meu PlayStation 1, então precisava colecionar todos esses games horrorosos e chatos que mais pareciam um Game & Watch do que, bem, um game. eu acabei ganhando só um deles. talvez tenha sido para o meu bem
ao longo dos anos, eu fui sim para Tubarão unicamente para conseguir alguns bonequinhos legais para a minha coleção — e sinceramente, tem tanta coisa diferente na minha vida pra se arrepender que isso aqui nem sequer conta como uma delas. em 2011, para o lançamento de Pokémon Black & White — a melhor geração — o McDonald’s lançou uma série de bonecos articulados dos monstrinhos e que muitas vezes faziam coisas incríveis. um Snivy que mexia levemente sua cauda, um Tepig que brilhava alguma luzinha — olha, isso não era tão legal assim. mas o propósito desses brinquedos não é ser legal. é você colocar em cima da sua mesa e olhar de vez em quando. pesquisam indicam que a simples presença de um Zoroark em seu ambiente de trabalho o deixa 19% menos estressante. a menos que ele seja seu chefe
enfim, o McDonald’s está de volta. em Criciúma, desde 2014, e trazendo algo interessante para mim, desde muito, muito tempo. desenvolvida em um laboratório para agradar pessoas nascidas exatamente em abril de 1996, a coleção Yu-Gi-Oh! x Sanrio é praticamente uma collab Harry Potter x Disney para pessoas menos insuportáveis. é a junção perfeita para crianças que assistiam TV Globinho em 2003 e tiveram o caminho desvirtuado até chegarem no Tumblr em 2011 e descobrirem algo sobre o seu gênero. talvez elas estivessem no WeHeartIt nessa mesma época, descobrindo algo sobre sua sexualidade. ou ignorando tudo
assim, eu amo essas coisinhas — conceitualmente. claro, eu vi os inúmeros avisos online: “isso não são pelúcias de verdade. isso é um aglomerado de enchimento com um formato que remete levemente ao seu monstrinho e/ou bichinho favorito.” mas tendo uma relação parassocial comigo, você realmente acredita que, sendo quem eu sou, isso impediria alguma coisa? claro que não. eu sou a dona de um Pochacco Mago do Tempo, e sinto apenas um pouquinho de vergonha disso. mas meu Keroppi Kuriboh não precisa saber disso
aquisições no Sebo Alternativo
eu já falei sobre esse espaço aqui na eu destruirei vocês algumas vezes, mas é preciso repetir que o Sebo Alternativo é o melhor lugar de Criciúma. estou incluindo nessa contagem todos os teatros, cinemas, supermercados e até mesmo estádios de futebol: eu não acredito que o Estádio Engenheiro Mário Balsini seja tão legal quanto o Sebo Alternativo. você pode até assistir uma bela partida da segunda divisão catarinense lá, mas não encontrará um CD usado de Ween — 12 Golden Country Greats por 20 reais. isso eu te garanto
normalmente, de três em três meses, eu faço uma nova visita ao Sebo Alternativo meio que para ver o que está rolando — e gastar uns 150 reais em coisas que eu não preciso. há algum tempo, criei um fascínio e adquiri uma vontade de continuar uma coleção de CDs — eu até tinha uma quando era criança, mas uma vez em 2010 deu um temporal enorme no sítio em que vivíamos e eu tive que jogar quase tudo fora, e isso dói ainda mais quando lembro que eu era uma criança indie que tinha Demon Days e alguns discos do Weezer. pelo menos, toda vez que eu visito o Sebo, eu descubro que existiam outros indies nessa cidade
sabe o meu maior arrependimento? não ter comprado o CD de 12 Golden Country Greats quando o vi. pelo menos só a ideia de que alguém tenha comprado o álbum sem saber que era um disco do Ween e imaginando que encontraria 12 clássicos do country muito me diverte. mas não importa o quão desesperançosa eu entre naquele local, eu sempre encontrarei algo que mudará minha vida. tipo Steve McQueen, do Prefab Sprout
esse é o tipo de coisa que eu nem sequer imagino encontrar lá, mas mesmo assim encontro. mais alguém em Criciúma escuta Prefab Sprout, e eu não tenho mais medo de morrer. nessa mesma visita, também trouxe para o meu lar uma cópia de Reveal, do R.E.M., uma banda que eu nunca gostei tanto assim — mas eu sou apaixonada por Imitation of Life, e sou apaixonada pela capa extremamente y2k do disco. talvez um dia eu escute ele inteiro. e como eu sou uma grande apreciadora da cultura criciumense — quando ela de fato existe —, aparentemente existiu em algum ponto da história um Conservatório de Música de Criciúma. eles tocavam músicas regionais. o CD foi produzido com apoio da RBS TV Criciúma. são muitas informações diferentes para pouco tempo de explicação
o que isabela thomé encontrará em sua próxima visita? impossível dizer. talvez nada. às vezes, nosso maior inimigo é a expectativa.
ah. agora tem mais um
Oi meu nome é Andrea, tenho 44 anos e eu adoro comprar bonequinhos para (aspas) meus filhos (fecha aspas).
também tô construindo minha coleção de cds!!!! essa semana minha irmã achou o 1 dos beatles e me deu e foi o momento mais feliz da minha semana toda