o principal motivo de eu adorar discussões sobre qual a melhor coisa do mundo é que elas sempre são absolutamente inúteis. LeBron James é melhor que Michael Jordan? talvez sim, mas nunca pensei nisso por mais de oito segundos. quem é o maior diretor de cinema da história? não sei. tanta gente já fez um filme desde o início do universo. qual é melhor: Pet Sounds ou Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band? nenhum deles. todo mundo sabe que o melhor disco da história é Live at Slimer Beach. existem pessoas no mundo que acreditam jamais ter existido um console de videogame melhor que um Sega Saturn, e eu respeito muito essa minoria. realmente essa é uma das opiniões mais legais que alguém pode ter em 2024. de vez em quando alguém acha que o melhor console foi o PlayStation e seu número absurdo de RPGs, o Super Nintendo e seus jogos de plataforma memoráveis ou o PlayStation 2 e seus jogos em que um menino com uma espada em formato de chave esquarteja o Pato Donald. infelizmente, eu sou uma pessoa simples. eu acho que todo mundo está errado. não existe outra resposta certa para o debate de melhor console de todos os tempos. é o videogame que tem Solatorobo: Red The Hunter
o Nintendo DS é o suprassumo da cultura. tudo era diferente em 2004, e eu sei porque estava lá: um mundo em que os videogames precisavam seguir regras muito específicas para sempre classificados como videogame de verdade. quanto mais altos eram os números em uma batalha por turnos contra um dragão sangrento, mais videogame o seu videogame era. tiros em primeira pessoa contra inimigos genéricos que de algum modo você entendia que era o inimigo, uma viagem no tempo para a segunda guerra mundial antes do fascismo eclodir no mundo e policiais te perseguindo até a divisa entre Los Santos e San Fierro. qualquer coisa que fugisse da norma era invariavelmente criticada e zombada. jogos japoneses que ousavam ser algo diferente eram crucificados em seções de revistas mensais e tratados como produtos de segunda classe, uma completa besteira que não adere aos nossos gostos ocidentais. o Nintendo DS criou, batizou e cometeu o pior crime que poderia ser cometido em meados dos anos 2000: ele era casual.
eu lembro claramente das peças promocionais do console alguns anos depois, inclusive em propagandas na TV a cabo e revistas que não falavam apenas sobre games. Nintendo DS: É para todos. uma frase que mostrava o quanto videogames eram vistos como sendo exclusividade de um seleto grupo. algo nichado e alienígena para qualquer um fora da bolha. talvez um pai ou uma mãe saiba o que é um Pikachu, mas ele acredita que tal criatura originou-se de um desenho que passava na Eliana — e não de uma série de videogames para algo chamado Game Boy. mas agora, tudo mudou. o Nintendo DS era para todos. você podia treinar seu cérebro solucionando rapidamente uma série de contas matemáticas simples, você podia resolver palavras cruzadas enquanto anda de ônibus ou aprender uma segunda língua com o auxílio de minigames simples e intuitivos. por algum motivo, isso atraiu a ira de qualquer pessoa em fóruns online que se autointitulava e transformava em parte da sua personalidade ser gamer
agora, uma pequena pausa para te fazer uma pergunta: você conhece a Filmicca?
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minha recomendação essa semana é Três Exemplos de Mim Mesma Como Rainha, curta-metragem de 1996 dirigido por Anna Biller. eu sempre serei fã de um anacronismo, então um filme dos anos 1990 com uma estética perfeita de anos 1950 vai chamar minha atenção todas as vezes. é basicamente três exemplos da diretora como rainha — uma governanta de harém, uma abelha rainha e uma jovem em uma pista de discoteca. assista já na Filmicca!
sei lá. eram tempos estranhos. videogame precisa ter tiro e mulher gostosa, e qualquer coisa que não tenha isso precisa passar por um longe e doloroso processo de escárnio. talvez por sempre ter sido uma criança meio estranha, esse tipo de coisa não me abalava tanto. o Nintendo DS era perfeito, e nenhum arauto online da masculinidade com sua foto de perfil sem camisa em uma comunidade do orkut poderia colocar na minha cabeça que jogar Sonic Rush Adventure enquanto eu esperava a minha mãe passar as compras no supermercado não era a coisa mais legal do mundo. tudo bem que minha infância não foi grandes coisas, mas eu ainda lembro de todas as vezes em que eu reuni os meus amigos para jogar uma partida de Mario Kart DS no recreio, ou depois da aula na praça de alimentação de um shopping center, ou enquanto a mãe de um deles preparava um café da tarde com pão de queijo e goiabada. o milagre do download play. Elite Beat Agents com quatro jogadores, Walkie Talkie Man em oito telas. o futuro está aqui
eu tenho plena consciência de que nenhum experiência com videogame que eu venha a ter na vida irá se equiparar a ter acesso a um Nintendo DS com um R4 no auge do console. eu nunca tive problema moral algum com pirataria, e tudo bem se você tiver, mas saiba que eu te acho uma pessoa boba; eu já instrui pessoas a aproveitar os sete dias grátis de assinatura da eu destruirei vocês, baixar uma extensão do Chrome que te permite fazer o download em .html de páginas inteiras da internet e ir lendo todas as edições pagas no seu ritmo. até hoje eu tento recordar qual o nome do site que eu visitava para acompanhar os últimos lançamentos do console — alguma coisa relacionada com a palavra scene, pelo que eu lembro — mas sempre era a melhor sensação do mundo esperar meses por um jogo novo e, numa bela tarde de terça-feira, entrar no site e se deparar com a sua capa na homepage. eu passarei as próximas três semanas jogando Mario & Luigi: Bowser’s Inside Story. assim que eles providenciarem um patch para reverter a proteção anti-pirataria imposta pela Nintendo
pirataria é acesso a cultura, e qualquer pessoa que preze pelo acesso à cultura precisa ter essa opinião. pirataria muda vidas, e eu seria uma pessoa com muito menos bagagem cultural se jamais tivesse um Nintendo Wii com WiiKey em 2008, ou uma conta do What.cd em 2011, ou o conhecimento necessário para usar torrents desde os onze anos de idade. hm, esse jogo parece interessante. eu posso baixá-lo e, em menos de dez minutos, consigo descobrir se é interessante mesmo. ou não. eu poderia ter passado uma vida inteira sem descobrir o que é um Etrian Odyssey III: The Drowned City, mas graças a Deus eu pude viver. eu descobri desde cedo que eu não gostava de Fire Emblem sem gastar 150 reais
é sempre muito fácil deixar a nostalgia nos cegar nesses momentos em que supostamente deveríamos ser objetivos, mas eu não me importo. já desisti de acreditar em uma suposta objetividade em qualquer coisa e hoje em dia, vejo o que eu penso como a verdade universal. tudo bem se você jogou muito Guitar Hero com o controle ao invés da guitarra na infância. eu também fiz isso. Tony Hawk’s Pro Skater 2 sem um memory card? todos os dias. se essas memórias te fazem acreditar na superioridade desses consoles, eu genuinamente fico muito feliz por você. sem ironia alguma. mas rapidamente fechar um aparelho de duas telas e colocá-lo embaixo do travesseiro quando sua mãe entra no quarto às 2:30h da manhã, horário em que você deveria estar dormindo porque tem escola em menos de cinco horas, sempre vai ser a minha verdade
esses não são os meus jogos favoritos de Nintendo DS. mas eles estão aqui
Meteos (Japan).nds
mas também todos os outros jogos de puzzle, enigmas e quebra-cabeça que o Nintendo DS nos trouxe. ele era o console perfeito para isso e sempre será. todos os jogos da série Picross que jamais existiriam se não fosse uma touch screen meticulosamente posicionada abaixo de uma tela sem touch screen, os Color Cross e os Pic Pic e os Picross 3D. um Puyo Puyo 7 imaculado disponível apenas em japonês, um Tetris DS temático da Nintendo, alguém lembra de Exit DS? eu estava lá. inventando novos modos de destruir blocos com Planet Puzzle League e Meteos. Masahiro Sakurai nunca mais dirigiu um jogo de puzzle. coitado do planeta Terra
Time Hollow (Europe) (En,Fr,De,Es,It).nds
mas também todas as visual novels e jogos com histórias longas e complicadas que o Nintendo DS nos trouxe. Another Code: Two Memories ou Trace Memory, qualquer nome que você preferir. toda a franquia Phoenix Wright e Apollo Justice, claro, mas também caminhar e existir sendo Miles Edgeworth investigando cenas de crime. Ghost Trick: Phantom Detective é uma utopia, assim como Hotel Dusk: Room 215 — tem vezes que um detetive é legal demais. desvendando os enigmas mais bestas do mundo com Professor Layton e um moleque de boina azul.Time Hollow não é a melhor visual novel do Nintendo DS, nem de longe. mas sem ela, eu não teria gostado de nenhuma outra
Dragon Quest IX - Sentinels of the Starry Skies (USA) (En,Fr,Es).nds
mas também todos os RPGs, japoneses ou não, que o Nintendo DS nos trouxe. todo mundo lembra do remake de Chrono Trigger, mas quantas pessoas em 2024 pensam constantemente em Avalon Code? quantas pessoas não só jogaram Glory of Heracles como também tiveram uma experiência positiva? Golden Sun: Dark Dawn é quase um milagre em 128MB, e Infinite Space é uma benção em 256MB. eu joguei quatrocentas horas de Pokémon Platinum e eu nem sequer gosto da quarta geração. Shin Megami Tensei: Devil Survivor e Strange Journey. eu poderia passar o dia inteiro fundindo monstros. talvez eu faça isso
Feel the Magic - XY-XX (USA) (En,Ja)
mas também todos os jogos de ritmo e tudo envolvendo o poder da música que o Nintendo DS nos trouxe. e não adianta admitir que não existe nada poderoso acontecendo na fase de Sk8er Boi em Elite Beat Agents. eu nunca havia ouvido falar de Sukima Switch antes daquela primeira fase de Moero! Nekketsu Rhythm Damashii Osu! Tatakae! Ouendan 2 e nunca ouvi falar depois. qual é mais icônica: a fase dos macaquinhos dançando j-pop ou a fase dos cientistas apaixonados em Rhythm Heaven? i suppose. Maestro! Jump in Music é sobre música e pulos. Feel the Magic: XY/XX nem é sobre música, mas é sobre respiração. eu vejo ambos conceitos como a mesma coisa
The Dark Spire (USA).nds
mas também todos os outros jogos estranhos que nunca tiveram uma chance, e que jamais teriam uma chance. em nenhum outro universo uma empresa decidiria gastar tempo e dinheiro em um projeto chamado Big Bang Mini — exceto em 2009. eu não entendo o motivo de terem feito um port de Flower, Sun and Rain para um portátil de duas telas, mas eles fizeram. talvez tenha vendido mais de 500 cópias. reviveram Giana Sisters para um obviamente intitulado Giana Sisters DS. a audácia de colocar isso em um console da Nintendo. uma sequência de Okami com um lobinho no lugar de um lobo? claro. por que não? traduziram para o inglês um jogo da Starfy para nunca mais fazerem o mesmo. jogos em flash transformados em jogos de verdade. N+ e Elf Bowling 1 & 2. tempos que ficarão para sempre no passado
vocês me conhecem. eu amo eventos. e amanhã, dia 05/12, na belíssima cidade de Criciúma/SC, terá um evento! o curso de Teatro da Unesc apresentará a peça Parece que vim por el camino — e ela é ótima porque, spoilers, eu assisti os ensaios. eu estarei lá, o que significa que todas as pessoas legais de Criciúma também devem estar lá. ah droga. fiz um doxxing meu. tudo bem
Comprei um switch em 2021 e o destravei com um chip. De certa forma, é quase a mesma sensação de ser adolescente e se deparar com o lançamento vazado de um jogo novo uma semana antes da data oficial!
Excelente texto e recs, dragon quest 9 é irado e o ds tb teve a versão definitiva de chrono trigger.
Saudades do Saturn! Que beleza jogar Darkstalkers nele!!!! E R4 no DS é simplesmente saber viver - Shin Megami Tensei Strange Journey e IV Apocalypse são obras primas, chora PS5 rs