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eu destruirei vocês #18: Club Social sabor tristeza
+ uma pesquisa científica sobre camisas de futebol, Palésia, Homer e Marge pelados, HinoKuri2 e Pedro Sampaio cantando sobre bunda
três meses atrás, eu secretamente comecei um dos projetos mais bestas de toda a minha vida: anotar em uma planilha do Sheets toda camisa de time de futebol que eu via nas ruas de Criciúma e região, afinal, já que o IBGE não faz isso, alguém tinha que fazer. foram 231 camisas avistadas desde o dia 4 de dezembro de 2021, quando eu vi uma camisa do Paris Saint-Germain no ônibus, até essa sexta-feira, 4 de março de 2022, quando vi um motoboy usando aquela camisa nova horrorosa do Corinthians. não importa o que eu estivesse fazendo, se eu estava na rua e visse alguém usando uma camisa de qualquer time, eu pegava o celular e anotava. uma vez eu fiquei caminhando por um dos parques da cidade só pra ver mais camisas. eu não me orgulho disso. as únicas camisas que eu não anotava eram as de times amadores, porque eu não sei absolutamente nada sobre eles além do fato de que existem e que, de vez em quando, chutam bolas. esse projeto só funcionou porque eu tenho duas coisas necessárias para uma pesquisa desse tipo: um conhecimento extenso sobre camisas de futebol e parasita no cérebro
nesse momento você deve estar pensando “foda-se, eu não me importo, só me diz qual camisa que tu mais viu, sua insurportável”. bom. ok. eu vou fazer isso. a primeira posição, surpreendemente, ficou com dois times! foram 36 camisas do Criciúma e 36 camisas do Flamengo vistas nesse período. eu digo surpreendemente porque, durante quase toda a minha pesquisa, o Criciúma ficou na segunda ou na terceira posição do ranking, e foi literalmente nessa última semana que o número de camisas dele que eu vi subiu abruptamente. minha teoria, sem nenhum embasamento científico, é que nessa semana foi o primeiro jogo oficial do Criciúma desde que eu comecei a pesquisa (um empate em 0-0 contra o Nova Iguaçu) e aí o pessoal lembrou que o time existia. mas durante praticamente todo esse período, o Flamengo era líder, seguido pelo Paris Saint-Germain. uns 80% das camisas do PSG que eu vi eram aquela rosa e roxa da temporada atual, sempre com o número ou do Neymar ou do Messi atrás. chegou ao absurdo de eu ver cinco camisas dessas iguais em um só dia, quando eu e a Bruna fomos no Park Tupã. ver três pessoas diferentes saindo do mesmo brinquedo usando essa camisa foi o momento em que eu me questionei se o universo não era uma simulação no Brasfoot
mas o mais interessante, ao menos pra mim, são as camisas menos vistas, aquelas que eu olhava na rua e pensava “é isso mesmo que eu tô vendo?”. a mais bizarra nessa categoria deve ter sido uma do Cerezo Osaka, time do Japão, sendo usada por um senhorzinho em um supermercado. eu fiquei extremamente confusa na hora, mas quando vi o nome Tiago atrás da camisa, tudo fez sentido: o zagueiro Tiago Pagnussat atualmente joga nesse time, e ele começou a carreira aqui no Criciúma, então com certeza era algum parente que recebeu uma camisa dele direto do Japão. é incrível as coisas que a gente consegue descobrir quando pensa um pouco. outras camisas inesperadas foram uma do Feyenoord, um dos maiores times da Holanda mas que ao mesmo tempo ninguém conhece, uma da seleção dos Estados Unidos, usada por algum colonizado perto da UNESC, uma do Brusque, que é uma cidade distante mais de 280 km daqui, e uma da seleção de Gana, mas essa faz sentido porque tem muitos imigrantes ganeses em Criciúma. eu também vi duas camisas do Brasil de Pelotas nesse período, o que é mais do que eu vi camisas do Borussia Dortmund e do Vasco. sim, foram 36 camisas do Flamengo e exatamente uma do Vasco. essa pessoa é a resistência. ou então o Casimiro
e tiveram algumas camisas que eu não sabia exatamente o que fazer. por exemplo, no dia 22 de dezembro, eu vi um senhor usando uma camisa do São Paulo. o problema é que ele estava na varanda da casa dele, ou seja, ele não estava andando na rua. ele tava em casa. mas eu vi ele usando a camisa. eu decidi incluir essa camisa na pesquisa porque… porque sim. eu nunca deixei uma especificação me atrapalhar na vida e não vai ser agora que eu vou começar. e no dia 18 de fevereiro, eu estava passando na frente da loja oficial do Criciúma quando avistei duas atendentes usando camisas do Criciúma. e aí, essas eu poderia colocar na lista? depois de muito debater com a Bruna, chegamos à conclusão de que esse era o uniforme de trabalho delas, então eu optei por não incluir essas duas camisas. seria como se eu fosse assistir um jogo no estádio e anotasse na planilha todos as camisas que os jogadores em campo estavam usando

eu também simplesmente ignorei todas as camisas que eu vi quando fui para o Rio Grande do Sul mês passado, porque eram tantas camisas de Grêmio e Internacional que elas deixariam a pesquisa completamente desbalanceada. se eu incluísse o que eu vi lá, seriam 77 camisas do Grêmio e 50 do Inter. isso é um absurdo completo. parem com isso, gaúchos
mas eu vi uma camisa do São Gabriel quando fui pra Capão da Canoa. só queria deixar isso registrado
voce moraria agui
o país que não existe. ou existe. não sei ao certo.
hoje em dia, existe uma wiki diferente para cada especificidade do mundo moderno, inclusive pra… logomarcas de empresas que não existem. e essa aí tem 17.000 páginas. eu encontrei a Logofanonpedia esses dias meio que do nada e fiquei embasbacada com a existência desse negócio. só de logomarcas de canais de televisão falsos são mais de 8.0001, e uma dessas aí é uma tal de Rede Sigma, que é um dos maiores rabbit hole da internet que eu já vi. o artigo principal da Rede Sigma é gigantesco, com centenas de imagens de logos diferentes, desde o início nos anos 60 até hoje em dia, chamadas para programas e tudo mais que se tem direito dessa emissora falsa. que não existe. e sabe o mais curioso? ela é praticamente igual à Globo em todos os sentidos. a única diferença é que a logo é um pouco mais achatada.
o mais doido disso tudo é que se você for clicando nos links do artigo, vai encontrar um monte de páginas de empresas falsas baseadas em empresas que existem no mundo real tipo… Ifin Seguros, que é o Itaú com outro nome? e aí eu comecei a ver que tinha algo chamado Palésia sendo mencionado em várias imagens e decidi ir atrás. aparentemente, esse é o nome do país da Rede Sigma, e ele é só… um Brasil de uma realidade alternativa. a única diferença do Brasil pra Palésia é que o Brasil existe e a Palésia não. no Brasil tem Sergipe? em Palésia tem Siripe, que é uma frase que faz eu parecer que vou ter um derrame quando leio. a capital de Siripe? Amacalú. tem Rio Longo do Norte e Rio Longo do Sul. Rio de Sineiro, pelo amor de Deus. só o Distrito Federal que continua igual. trocar esse nome já seria bobo demais
isso é um trabalho imenso de um único usuário dessa Wiki, que foi lá e criou um universo super extenso. digo universo porque tem muitos outros países criados por essa pessoa, tipo a Liberdesia e Anglosaw. assim, eu estou confusa com isso? é claro que sim, mas ao mesmo tempo eu estou muito impressionada com a dedicação que a pessoa que criou isso aqui tem à arte dela. é não-ironicamente incrível e a internet foi feita exatamente pra isso
Club Social sabor tristeza
uma análise dos novos sabores de Club Social
depois de maravilhas como destruição do meio ambiente, apoio à políticas fascistas e propagandas no YouTube, o capitalismo nos deu mais um presente: novos sabores de Club Social. agora o povo brasileiro tem acesso a uma bolachinha salgada sabor bacon & provolone e outra sabor cebola com sour cream. podem privatizar os Correios, não precisamos mais de serviços públicos de qualidade: nós temos opções agora. obrigada, Paulo Guedes. só não entendo porque o nome é Club Social. parece meio cubano, hein. Buena Vista Club Social
ok, desculpa, parei. Club Social é coisa séria. o que importa é: o que eu achei dos sabores? eu provei primeiro o de cebola com sour cream, e… hm… nota 3/10. ★½. é um gosto de cebola meio suave mas ao mesmo tempo super perceptível, já que fica um retrogosto horrível na sua boca. isso é um paradoxo? talvez. o Club Social sabor original, que só tem sal, tem mais gosto do que isso. e pensando agora, esse nem é um sabor que tinha muito potencial, né? cebola é uma comida maravilhosa misturada com outras coisas, mas só com um molho qualquer misturado não vai ficar bom. é tipo tu picar uma cebola, colocar maionese em cima e comer. provavelmente não vai ser a melhor experiência do mundo. ou vai, eu sei lá. tenta aí na sua casa e depois me fala o que achou
já a de bacon & provolone é nota 8/10. ★★★★. é a parte do provolone que me pega, já que esse é o melhor queijo que existe, então qualquer coisa sabor provolone vai ser ao menos boa. o maior problema desse aqui é que o gosto de bacon é suuuper artificial, é tipo bacon de lojinha de R$1,99. por isso, esse é um alimento que tem chances de dar mal-estar instantâneo em quem o consumir. na verdade, eu tô no meio do pacote e ele já tá ficando super enjoativo. quanto mais eu vou comendo isso, mais eu quero baixar a nota. 5/10. vou parar antes que a nota chegue nos numerais negativos
em conclusão, eu não entendo porque inventaram esses sabores, e eu não quero comprar nenhum deles novamente. todo mundo vai esquecer que eles existiram dentro de seis meses e a vida vai continuar normalmente. e agora, um ranking de sabores de Club Social
queijo. realmente tem gosto de queijo, parabéns pro chef que cozinhou
a original. a célebre. a consagrada. a pioneira. a tradicional. a clássica.
aquela recheada sabor queijo, tomate e manjericão que eu não compro há muito tempo porque é cara
integral sabor cebolinha, que NÃO é o personagem da Turma da Mônica. aquele se chama Cascão
integral sabor tradicional, a trad wife das Club Social
presunto, até hoje não entendi porque fizeram bolachinha sabor defunto
pizza. pizza do quê.
bacon & provolone, uma carrinho de rolimã indo ladeira abaixo
cebola com sour cream, não quero falar sobre isso
aquela recheada sabor requeijão que eu não compro há muito tempo porque é horrível
emoções!
Pixelated and Afraid, um episódio atual dos Simpsons
por favor não aceitem isso como se fosse um fato, mas parece que a fandom de Simpsons chegou num consenso de que a temporada atual, a trigésima-terceira, é uma das melhores da série em pelo menos uns 20 anos. com a qualidade declinante da série nesse período, isso não é muito difícil, mas se Simpsons pode voltar a ser bom, eu acho que a humanidade ainda tem salvação. enfim, Pixelated and Afraid foi o primeiro episódio dessa temporada que eu assisti, mas se o resto for tão bom quanto ele, é, os fãs de Simpsons vão estar certos ao menos uma vez na vida
o enredo de Pixelated and Afraid é: as crianças acham que o Homer e a Marge não se amam mais, então fazem uma intervenção e enviam eles para um resort nas montanhas. chegando lá, os dois se perdem na floresta e coisas acontecem. esse é um episódio que foge dos padrões da série em vários quesitos. ele é super focado, ou seja, não tem nenhuma história secundária besta que só serve pra aumentar a duração, tipo, sei lá, o Bart comprando um sabor novo de Club Social, que eu aposto que é algo que aconteceu nas últimas temporadas. e que bom que não tem isso, porque algo assim destruiria completamente o impacto emocional desse episódio. a gente não sabe em nenhum momento o que as crianças estão fazendo enquanto o Homer e a Marge tentam sobreviver, e que bom que a gente não sabe, porque não precisamos saber. não importa. só quem se importa com coisa assim é youtuber bosta que faz review de filme do Homem-Formiga
eu não quero dar spoilers, mas esse é um episódio lindo, lindo e lindo, uma das melhores histórias sobre o relacionamento do Homer e da Marge já escritas, e eu chorei copiosamente durante todo o terceiro ato. é a coisa mais doida do mundo pensar que eles ainda conseguem escrever uma história tão comovente assim depois de 33 anos, e é a prova de que a melhor coisa do mundo é fugir dos padrões. isso é um conselho que serve para roteiros e também para relacionamentos
a pior gosma cônica do mundo
o inimigo mais horrível da história dos videogames
tem alguém lendo isso aqui que odeia o game mais hidratado da história, Super Mario Sunshine? então pode se retirar, faz favor. Sunshine não só é o melhor jogo do Mario sobre água, como é o segundo melhor de toda a franquia, perdendo só pro Pelé dos videogames, Super Mario 64. lançado em 2002 para o GameCube, Super Mario Sunshine tem tudo: tem foguete de água, tem a pior fase do mundo, tem um Goomba perdido embaixo de uma fase, e tem o inimigo mais aterrorizante da história dos videogames escondido em seus arquivos
HinoKuri2 é uma aberração que debutou para a sociedade no primeiro trailer do jogo, onde ele só andava por uma das fases, e por algum motivo, ele é um dos focos do trailer, aparecendo em literalmente umas dez cenas de um trailer de 45 segundos, ou seja, a Nintendo queria muito que o público conhecesse ele. as crianças vão adorar o HinoKuri2! ele corre atrás de você quando te vê, parece ter ao menos uns 10 metros de altura, um capacete assustador, e uma expressão super depressiva no rosto! pelo amor de Deus, ninguém gosta disso. eu quero felicidade no meu joguinho do Mario. cadê o Luigi com um balão
apesar dessa criatura não aparecer em nenhum momento na versão final do game, existe um monte de arquivos sobre ele escondidos no código do jogo, caso você bote o seu disco de GameCube no PC e abra as pastas. foi assim que algumas pessoas super dedicadas conseguiram hackear ele de volta ao jogo, ressuscitando esse desgraçado. tudo nele é horrível, eu odeio isso. e sabe o pior? tem uma versão diferente dele, meio que sem rosto, que consegue ser pior ainda. é uma gosma cônica com um olho no topo da cabeça. essa versão aparece no test map do jogo, e foi vendo esse exato vídeo, lá em 2010, que eu descobri que esse inimigo existia. desde então, nunca mais tive paz em minha vida. na mesma semana, cobras começaram a se materializar misteriosamente em minha casa. eu queria que o HinoKuri2 fosse real para eu poder atropelar ele com um Passat 1997
vai ter gente dizendo “ah, mas e o pyramid head? não é mais fudido que esse aí? e os bicho assustador do Resident Evil? hein? hein, puta?”, e pra essas pessoas eu só digo uma coisa:
oi, tudo bem?
Songs About Bunda
uma análise do álbum Pedro Sampaio – CHAMA MEU NOME
Pedro Sampaio está no topo do mundo. ou ao menos no topo das paradas do Spotify no Brasil. Dançarina, com um clipe que parece uma alucinação febril gerada por inteligência artificial, virou um ultra mega smash hit nas últimas semanas, e agora ele lançou seu primeiro álbum, entitulado CHAMA MEU NOME. não precisa gritar, eu tô do teu lado
CHAMA MEU NOME é o Songs About Fucking brasileiro. no sentido de ser 11 músicas sobre foder. é um álbum extremamente one-note, ou seja, quase todas as músicas são iguais e falam sobre o mesmo tema, mas se você for ver, um monte de álbum que todo mundo gosta também é assim. Clube da Esquina, por exemplo, é só sobre um clube que fica numa esquina. eu prefiro dizer que CHAMA MEU NOME é um álbum conceito. e o conceito é bunda. uma coisa que eu descobri ouvindo esse álbum é que o Pedro Sampaio gosta de bundas, e é incrível como ele consegue encontrar tanta beleza no universo das bundas que consegue escrever 11 músicas diferentes sobre o tema. na faixa BAGUNÇA, ele canta que “bunda foi feita pra bagunçar”, o que não é tecnicamente verdade, mas é meio poético. em BUQUEZIN, um dueto com o rapper Mateca, ambos cantam que “sua bunda quase caiu, mas eu consegui segurar”. é um ato heróico. em NO CHÃO NOVINHA, a novinha vai no chão. e não podemos nos esquecer que ela “tá viciada em sentar com a bunda”. isso é imprescindível
ironicamente, Dançarina, a música que ultrapassou Malvadão 3, é a pior desse álbum. é uma melodia muito similar a ringtones de celular Nokia e a Anitta parece que gravou os vocais dela via áudio do WhatsApp. eu achei péssima também a música em que o Ferrugem aparece cantando em cima de uma batida de funk, isso vai totalmente contra a ordem natural das coisas. a com o Zé Vaqueiro me decepcionou também, jurava que ia ser a melhor do álbum porque o Zé Vaqueiro nunca erra mas piseiro com um autotune tão carregado desse jeito é algo que eu ainda não estou preparada. as duas únicas faixas que eu tolerei no disco foram SURREAL, que tem uma beat muito interessante de funk atmosférico, mas a música em si é meio bosta, e GALOPA, que é uma música genuinamente boa! ótimo refrão que era pro Zé Vaqueiro ter cantado. parabéns, Pedro Sampaio. você conseguiu fazer uma música boa entre onze. melhor sorte na próxima vez
a melhor parte desse álbum é que ele tem só 27 minutos de duração, então ele passa rapidinho. você começa a ouvir e vai ver, ele já terminou. é uma porta de agência bancária musical
não
eu destruirei vocês #18: Club Social sabor tristeza
acho que você já tinha comentado em algum outro lugar sobre esse projeto de contar as camisetas dos times que você vê na rua, e eu confesso que acho genuinamente inspirador!! atenção especial ao rotineiro é algo que sempre me tira do sério, e essas análises de Club Social vão na mesma linha. sempre me lembro de um dos blogs mais formativos pra mim, o blog de reviews de refrigerante intitulado "Refrigerando" (https://refrigerando.wordpress.com/)
e eu não consigo parar de pensar na porra da Palésia. eu não tenho nem palavras. eu fui vasculhar, o cara nem é brasileiro, ele é português!!!
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