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eu destruirei vocês #26: introduzindo o Quociente de Irrelevância
falando sobre one-hit wonders brasileiros, Mystery Science Theater 3000, os curtas dos Simpsons no Disney+ e uma pastelaria aleatória no centro de Criciúma
one-hit wonders. as maravilhas de uma pancada só. não sei direito o motivo, mas eu acho super interessante isso de artistas que só tiveram uma música de sucesso e sumiram logo depois, ao mesmo tempo em que eu acho a coisa mais triste do mundo. parece que um dia você está no topo do mundo, cantando seu novo sucesso Tô Nem Aí pelas maiores casas de show do Brasil, e no outro você está participando de uma discussão sobre procedimentos estéticos no Superpop. é aquela decadência que todo artista famoso um dia vai vivenciar, mas que acaba chegando muito mais cedo e durando muito mais tempo para alguns. tipo, até a Fernanda Montenegro já fez Zazá, sabe? mas aí, como ela é a Fernanda Montenegro, no ano seguinte ela já estava fazendo Central do Brasil e perdendo um Oscar pra uma atriz de Shakespeare Apaixonado. mas os membros do Dallas Company, donos do hit Clima de Rodeio, não são a Fernanda Montenegro. o MC Créu não é a Fernanda Montenegro. a Marjorie Estiano não é a Fernanda Montenegro. pelo menos não por enquanto
ao menos pra mim, é difícil um one-hit wonder brasileiro ser melhor que a Vanessa Rangel. a sua música Palpite é a trilha sonora perfeita pra uma novela do Manoel Carlos, e eu diria isso mesmo se ela não estivesse na trilha de Por Amor. eu acho é que tinham que ter colocado em todas as trilhas de novela dele, até as que passaram antes da música ter sido escrita e gravada. é a música mais Leblon que existe, e talvez por isso muita gente acha até hoje que é uma canção da Adriana Calcanhotto, mesmo nunca tendo sido dela. eu não acho que a Adriana escreveria uma letra tão bizarra quanto “tô com saudade de você censurando o meu vestido”. mas todo o resto de Palpite é maravilhoso, é um rock que me transporta diretamente pra 1997, e a capa do álbum da Vanessa é extremamente engraçada e assustadora ao mesmo tempo. que nem Todo Mundo em Pânico 3
a própria Tô Nem Aí, da Luka, querendo ou não, é um hit atemporal magnífico. se você for analisar friamente a composição, essa música poderia facilmente ser um pop rock daquela época, tipo uma Pitty da vida, mas a produção foi pra um lado mais dance pop, algo que eu jamais teria pensado nisso se fosse a produtora da música. Tô Nem Aí é ótima, todo mundo sabe disso, mas eu escutei a discografia completa da Luka há alguns meses para um projeto nunca-concretizado (não pergunte) e tem muita bizarrice lá. lembro de Baranguinha, dona de uma das piores letras que eu já ouvi na vida, e Ópio, que tem uma instrumental tão estranha que eu achei que estava com duas abas abertas tocando música quando a escutei pela primeira vez. assim, não é uma música horrorosa, mas parece que foi feita em cinco minutos. mas também muitas coisas maravilhosas já foram feitas em cinco minutos. um Cup Noodles de frango e requeijão, por exemplo. ah, e tem uma música da Luka num dos álbuns seguintes dela que o refrão tem a seguinte letra
Sua chamada esta sendo encaminhada
Para a caixa de mensagens
E será cobrada após o sinal
seguido de uma versão remix dance da musiquinha de ligação a cobrar. tudo isso é real
mas entre os one-hit wonders brasileiros mais famosos, quem é o maior de todos? não o maior artista, mas o maior one-hit wonder mesmo. fui atrás de descobrir isso usando um recurso criado há alguns anos chamado matemática e também os dados do Spotify. meu método foi o seguinte: eu peguei o maior sucesso do artista e a segunda música mais escutada dele e aí calculei umas coisas. por exemplo, no caso do grupo Os Virgulóides, que fizeram Bagulho no Bumba, o hit tem 1.908,016 reproduções, e Chevette Velho, a segunda mais ouvida, tem 69.180. portanto, Chevette Velho tem exatamente 3.63% da quantidade de reproduções do maior hit, uma porcentagem ridícula pra qualquer artista. foi usando essa técnica avançadíssima que eu descobri que chamar a Luka de one-hit wonder é meio que uma mentira, já que Porta Aberta também foi um hit, mesmo que não tão gigantesco. o quociente de irrelevância (um termo que eu acabei de inventar) dela é de 39.90%, totalmente normal. mas enfim, quem é o maior one-hit wonder brasileiro da história seguindo esse cálculo? segue a minha coisa favorita: um ranking
5. Hanoi Hanoi, banda dos anos 1980 que fez a versão original da música Totalmente Demais, depois tema da novela homônima com um cover da Perlla. quociente de irrelevância → 3.32%
4. Fausto Fawcett, que escreveu o ultra-clássico Kátia Flávia, a Godiva do Irajá. quociente de irrelevância → 1.64%
3. Braga Boys, sexy. o movimento é bem sexy. quociente de irrelevância → 1.56%
2. Dallas Company, donos do sucesso dos rodeios Clima de Rodeio. quem gosta de rodeio bate forte a mão. quociente de irrelevância → 1.33%
1. a incomparável Vanessa Rangel, com a maior música da história, Palpite. um inacreditável quociente de irrelevância → 0.20%
eu sempre soube que a Vanessa Rangel seria a maior artista do Brasil um dia
A Seção Mais Idiota do Mundo
o programa dos anos 1990 Mystery Science Theater 3000
eu sou uma pessoa que ama falar sobre as coisas que eu gosto. acho que todo mundo já percebeu que eu sou fã de Simpsons, do David Lynch, de Weezer e que eu torço pro Criciúma Esporte Clube, mas existe um trilhão de coisas que eu amo mas nunca falo sobre. tipo, o terceiro artista que eu mais escutei na vida segundo o last.fm é Elvis Costello & the Attractions, uma banda que eu não devo ter mencionado nenhuma vez nessa newsletter aqui, mesmo ainda escutando ela bastante. tem também Tim & Eric, a maior dupla de comédia da história e talvez as pessoas que mais influenciaram o meu estilo de humor na vida, e eu gosto de Futurama também, né? eu só lembro de ter falado sobre esse desenho uma vez aqui, o que é ridículo considerando o quanto eu falo sobre Simpsons e os dois têm o mesmo criador. Futurama é tão bom quanto Simpsons. fiquem com essa opinião, estou indo embora
mas essas coisas todo mundo meio que conhece, né. são famosinhas. uma obsessão minha que eu falo muito pouco e que é super ignorada no Brasil é Mystery Science Theater 3000, comumente abreviado para MST3K e de longe a melhor ideia para um programa de televisão da história. Joel Robinson é um faxineiro de uma empresa que um dia é enviado ao espaço por seu chefe, um cientista maluco, e é obrigado a assistir filmes horrorosos, normalmente de terror e ficção científica. pra não enlouquecer, ele cria alguns robôs para ter alguma companhia e assistir os filmes com ele, e eles ficam fazendo divertidas piadas durante a película. e nós, o público na vida real, assistimos o filme inteiro com os comentários do Joel, do Tom Servo e do Crow. vai dizer que não é a melhor coisa do mundo? e é um conceito extremamente bem executado também. até as partes do programa que não são eles assistindo um filme são ótimas & engraçadíssimas, e é tudo muito confortável de se assistir. é comfort TV décadas antes desse termo existir. e eu não tenho nenhuma prova do que eu vou falar, mas eu acredito piamente que todo o gênero reviews de games/filmes ruins no YouTube não existiria se não fosse MST3K. o Angry Video Game Nerd nunca teria começado a xingar Fester’s Quest se não tivesse antes dois robôs e um cara falando mal de Santa Claus Conquers the Martians
Mystery Science Theater 3000 é um negócio meio inacessível se você não sabe inglês, porque ninguém no mundo já dublou ou legendou algum episódio, o que é uma merda. eu até entendo o motivo, são episódios de uma hora e meia com muitas referências a coisas específicas da cultura pop norte-americana dos anos 1990, mas não existem legendas nem em inglês pra grande maioria dos episódios. mas perceba que até agora nesse parágrafo eu falei episódios. em 1996, quando o programa já estava na sua sétima temporada, eles fizeram um filme, e ele era basicamente um episódio do programa só que um pouco mais bem produzido e em widescreen. e eu não sei como nem porque, mas esse filme foi dublado. para português. português do Brasil.
Mystery Science Theater 3000: The Movie foi traduzido para O Filme Mais Idiota do Mundo, o melhor título de qualquer filme na história da humanidade, e os três personagens principais foram dublados pelo Márcio Simões, Alexandre Moreno e Guilherme Briggs, um dream team da dublagem besta. e já que traduzir literalmente o filme ia ser quase impossível, eles meio que escreveram piadas completamente novas pra versão brasileira, e eu só percebi isso quando assisti a versão em inglês algum tempo depois de assistir a em português. são filmes que teoricamente são o mesmo filme mas também são completamente diferentes. tipo Pokémon Red e Pokémon Blue. ele foi até mesmo lançado no cinema por aqui, uma coisa de doido, e passou no Corujão da Globo algumas vezes no começo do século. saber que MST3K já passou na Globo me deixa extremamente feliz. caso queira dar uma olhada, metade do filme tá disponível no YouTube na pior qualidade do mundo, mas eu não sei se é a melhor experiência
e caso você queira se aventurar pelo programa em si, meus episódios favoritos são Pod People, Merlin's Shop of Mystical Wonders, Space Mutiny e Manos: The Hands of Fate. é tudo de altíssima nível. caso alguém queira fazer uma versão brasileira disso, me chama que eu vou. eu quero fazer piada com Punks – Os Filhos da Noite
capitalismo tardio
os curtas dos Simpsons no Disney+
como fã de Simpsons, a pior notícia que se pode receber é que um episódio novo vai ter uma participação especial. desde que episódios dedicados inteiramente à ter uma celebridade se tornaram mais comuns, lá pela décima temporada (23 anos atrás!), alguns dos piores episódios foram os que focaram nas estrelas, tipo o com o desgraçado do Elon Musk, Lisa toca Gaga, uma atrocidade cometida na vigésima-terceira temporada, ou Mamãe trabalhadora, onde a Marge vira uma… drag queen. com a ajuda do RuPaul. eu nunca assisti esse episódio e nem quero, em nenhum momento da minha vida. foi por esse motivo que o meu corpo gelou quando eu vi o pôster de Quando Billie conheceu Lisa, o novo curta dos Simpsons exclusivo para o Disney+. spoilers: é ruim. todos esses curtas são
desde o ano passado, já foram lançados quatro curtas dos Simpsons para o Disney+, todos eles crossovers com qualquer coisa que a Disney esteja lançando no momento. são eles
Maggie Simpson em O Despertar com Força da Soneca, em que a Maggie vai para uma creche cheia de referências a Star Wars e luta contra um Baby Darth Maul
O Bem, o Bart e o Loki, em que o Loki vai parar em Springfield, fica na casa dos Simpsons e todos os super-heróis do MUNDO aparecem
Plusniversário, em que todos os personagens da Disney e todos os personagens dos Simpsons se encontram no bar do Moe e interagem
Quando Billie conheceu Lisa, em que a Billie Eilish conhece a Lisa. é literalmente só isso
e todos eles são diferentes, falam de franquias diferentes, tem conceitos diferentes, mas ao mesmo tempo são a mesma coisa. já que eles duram no máximo 5 minutos, os roteiristas são obrigados a enfiar no curta o maior número possível de referências à franquia parodiada. caramba, que engraçado, tem um bebê Chewbacca na creche da Maggie! isso é muito engraçado, porque eu sei quem é o Chewbacca. não sei se tem mais alguma piada além disso. e olha só, o Detona Ralph tá no Bar do Moe! que divertido. é meio que a Disney mostrando pro público “olha só, nós temos todas as propriedades intelectuais do mundo e podemos fazer o que quisermos com elas!”. é a Disney querendo demonstrar poder, que nem um desfile militar na Coreia do Norte
mas o que mais me irrita nesses curtas são as inúmeras piadas meta & irônicas sobre aquilo estar acontecendo, sobre todos esses personagens estarem se juntando. tipo em O Bem, o Bart e o Loki, quando todos os habitantes de Springfield se tornam super-heróis e o Rainier Wolfcastle segura uma placa que diz “isso é o que acontece quando a Disney compra a Marvel e a Fox”. beleza, mas se tudo que você faz é reconhecer o problema ao mesmo tempo em que não faz nada pra resolvê-lo, não adianta de muita coisa. eu sinto que esse tipo de piada é escrita pra ser uma forma de defesa contra as acusações de que os crossovers desse tipo são a coisa mais ridícula do mundo. como se eles estivessem falando “ei, vocês não podem criticar a gente por isso! nós já reconhecemos que é uma situação estranha! hahahahaah assine o Disney+ :-)”
o que eu quero dizer é que esses curtas são todos horrorosos e que a revolução socialista precisa acontecer imediatamente. estatizem a Disney
a pastelaria perdida
a Pastelaria Sachet, no centro de Criciúma
é incrível como coisas que estão na nossa frente podem se esconder tão facilmente, né. Não é? quarta-feira passada, eu e a Bruna estávamos andando pelo centro de Criciúma lá pelas 18h da tarde, com aproximadamente muita fome, e todos os estabelecimentos de comida já estavam fechados, até mesmo o insalubre Bob’s. estando nessa situação desumana, entramos num lugar que eu já tinha visto várias vezes na vida, mas nunca tinha prestado atenção. fica numa parte meio ignorada da Praça Nereu Ramos, do lado da Casa de Cultura, e é tão ignorada que nem o Google Street View caminhou por aquelas partes. preferiram ficar só por perto do Della Giustina mesmo. por ali, tem algumas salas comerciais que eu não saberia te dizer o que são. eu acho que tem uma farmácia, eu acho que tem uma lotérica, e eu tenho certeza que tem uma pastelaria. porque eu entrei nela
a Pastelaria Sachet não mente no nome: ela é uma pastelaria, e também oferece vários sachês de maionese, ketchup e mostarda. nós entramos nela mais como última opção mesmo, é o que tem, então imagine a nossa surpresa quando descobrimos que ela é… boa? muito boa? pra começo de conversa, é uma pastelaria de verdade, ou seja, eles não compram pastéis de uma distribuidora, eles fazem os pastéis, e dá pra ver que o Brasil chegou no fundo do poço quando isso é algo digno de nota. ironicamente a gente não pediu um pastel lá, mas sim um calzone que custou 10 reais e era gigantesco. é difícil demonstar escala por meio de um computador, mas ele era mais ou menos assim ó: ——————————————————————, muito grande. ele tinha aproximadamente todos os recheios do mundo, desde calabresa até mais calabresa, e era enorme. eu já mencionei que ele era super grande? eu comi metade, a Bruna comeu metade e ficamos satisfeitíssimas. e eles ainda vendem caldo de cana, o que inexplicavelmente é uma raridade em Criciúma, não entendo o motivo. que se foda a doença de Chagas, porra
enfim, ótima pastelaria, muito bem localizada, curti muito, e essa seção não fez sentido nenhum pra quem não é de Criciúma. desculpa
eu destruirei vocês #26: introduzindo o Quociente de Irrelevância
estatizem a Disney!!!!!
a luka sempre pareceu mto mais relevante do que isso p mim, pode ser pq eu ouvi diversas piadas durante anos por tb chamar lu(cc)a