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eu destruirei vocês #32: estiramento muscular causado por tênis do Wii Sports
falando sobre a Malhação bíblica da Record, E3-que-não-é-E3, Wii Sports pra Switch e arte de inteligência artificial
Brida, a novela que ajudou a falir a Manchete, finalmente ganhou uma concorrente de peso. Todas as Garotas em Mim é a mais nova aposta da Record para alavancar sua audiência do horário nobre, e observando a repercussão e audiência da novela até o momento, tá parecendo mais uma aposta enlouquecida de um milhão de reais de que a Costa Rica vai ganhar a próxima Copa do Mundo do que qualquer coisa. TAGEM, acrônimo que a Record vem forçando nas redes sociais e que mais parece nome de remédio pra hipertensão, pode ser descrita perfeitamente com duas palavras: Malhação bíblica. não tipo a de Judas, tô falando da novelinha da Globo mesmo
a história segue uma digital influencer rica e popular chamada Mirela, que descobre, com a ajuda de sua avó, que muitos problemas que os jovens enfrentam são iguais aos problemas enfrentados na Bíblia… tipo ficar dividida entre dois amores, a pressão dos pais, ou enfrentar nuvens de gafanhotos. e como a Record não consegue — e nem quer — se desvincular das novelas bíblicas, toda vez que alguém começa a contar alguma história de um texto sagrado, a novela sai do ano de 2022 e vai pro ano 0, onde tem Sansão, Dalila e edição, atuações e cenários constrangedores. é uma novela com várias timelines e todas são uma merda

já que eu não queria dar minha audiência pra Record na TV e gastei meu período de testes grátis do PlayPlus há um tempo, tive que assistir o primeiro capítulo disso aqui num stream pirata no Dailymotion mesmo. e você sabe que uma novela é boa quando ela te choca logo nos primeiros segundos; Todas as Garotas em Mim tem, de longe, a pior música de abertura que eu já ouvi na vida. meu pai do céu, socorro. é uma aberração no estilo tropical house de 2016 misturada com música da Manu Gavassi, que aparentemente é o suprassumo da música jovem pros executivos da Record. sabe aquela horrorosa canção Orange Trees da Marina ex-Diamonds? é uma versão gospel daquilo. caso alguém queira se aventurar pelo pop mais datado de 2022, a banda que fez a abertura também lançou uma trilha sonora original da novela, tá. tem uma música chamada Maquiou Sua Rotina e eu não quero ouvir isso
mas talvez o que mais me surpreendeu nesse primeiro capítulo não foi a ruindade, mas sim o quão chato ele é. tipo, óbvio que é muito ruim, mas isso foi uma das coisas mais chatas que eu já vi na vida. os primeiros 15 minutos até que tem algumas coisas acontecendo, cenários diferentes e tal, mas quando a mãe da Mirela recebe a notícia que o seu pai morreu, todas as cenas passam a seguir a fórmula duas pessoas dentro de uma casa escura conversando, uma vibe meio série canadense de drama que passa no Mais Globosat. de vez em quando alguma pessoa sobe o tom da voz, mas sem demonstrar muita emoção também. e o pior de tudo é que o capítulo tem uma hora e meia de duração, então é chato e longo. daria fácil pra confundir ele com um filme mumblecore. o Michael Cera se sentiria em casa atuando nessa novela
e é uma novela da Record, então eu já esperava isso, mas eu ainda fiquei chocada com o quão branca e heteronormativa essa novela é. nesse primeiro capítulo não teve uma pessoa negra sequer, nem mesmo nas cenas da escola em que aparecem uns 30 mil personagens, e tudo gira em torno do conceito de família tradicional, como se jovem ainda se importasse com isso. a família da protagonista é podre de rica, vive numa casa enorme, segue sempre os ensinamentos da Bíblia, e os vilões são os personagens que se posicionam contra a família. que não se importam com os pais, com os filhos. não é uma novela pra jovem, é uma novela pras avós desses jovens assistirem e pensar ai, mas por que que os jovens de hoje em dia não são assim? a minha netinha só fica dançando naquele TicoTeco o dia todo
o que me acalenta um pouco é saber que a audiência dessa novela está no chão, chegando até aos 2 pontos de Ibope no compacto exibido no sábado. para efeito de comparação, o Corujão na madrugada da Globo exibido no mesmo dia, com os filmes Ladrões e Doentes de Amor, deu 4 pontos de audiência
povo revoltado com falsa E3
as conferências de games das últimas semanas
ah. pior que videogame até que é ok, se você parar pra pensar. agora que a E3 morreu, está enterrada e talvez até ressuscite — completando assim o ciclo da vida — todas as empresas do mundo estão fazendo suas conferências na mesma época em que antes acontecia a E3. desde o começo de junho já teve, entre outros, uma conferência chatíssima da falecida empresa de games Sony, um tal de Summer Game Fest que mostrou trezentos jogos supostamente diferentes sobre astronautas matando aliens em uma nave espacial, a Devolver Digital fazendo a mesma merda dos anos anteriores, e um showcase de jogos do Xbox e da Bethesda que foi decente e interessante. aparentemente teve algo da Capcom também, mas eu prefiro não me aventurar por aqueles mares
eu até pensei em fazer uma análise mais detalhada dessa E3-que-não-é-E3, mas sinceramente, não teve taaaanta coisa diferente sendo mostrada. em 90% dos casos, era só mais do mesmo. ainda existe jogo de tiro demais. por isso, decidi que só vou falar do que causou alguma impressão em mim, positiva ou negativa. roda a vinheta! (não tem vinheta, isso é uma newsletter)
os 5 melhores momentos das conferências de games de junho de 2022
5. o anúncio de Ravenlok, que tem tudo pra ser o Zelda do Xbox. garota de cabelo roxo com espadinha? ela é igual a mim…
4. o novo trailer de Lightyear Frontier, um simulador de fazenda alienígena muito lindinho. mal posso esperar para plantar meus legumes favoritos glorb e plink
3. o anúncio de Cocoon, novo jogo do criador de Inside e Limbo e que parece muito mais legal que ambos
2. o anúncio de The Plucky Squire, um trailer com um plot twist que eu não esperava. como é bom ver mais jogos no mesmo estilo gráfico do remake de Link’s Awakening
1. o anúncio de Skate Story, um jogo cheio de estilo. isso é a obra de arte com mais estilo que eu já vi na vida. se o trailer já é uma viagem, imagina o jogo em si
os 5 piores momentos das conferências de games de junho de 2022
5. a Sony falando incessantemente sobre PlayStation VR2, um produto que umas cinco pessoas no mundo vão comprar
4. as duas horas que a Microsoft passou falando de Diablo IV em seu showcase. já tem um Diablo III, pra que um IV
3. o anúncio de High on Life, novo FPS do criador de Rick & Morty. quem sabe um dia eu consiga rir de alguma piada desse cara
2. a Bethesda começando a sua primeira conferência junto com a Microsoft falando sobre… Elder Scrolls Online e Fallout 76
1. a existência de um remake de The Last of Us, uma afronta a… porra, praticamente tudo em videogames. nenhum jogo lançado depois de 2011 precisa de remake
os 5 momentos mais normais das conferências de games de junho de 2022
5. o novo trailer de The Callisto Protocol, jogo de tiro no espaço
4. o novo trailer de Routine, jogo de tiro no espaço
3. o anúncio de Aliens: Dark Descent, jogo de tiro no espaço
2. o novo trailer de Starfield, jogo de tiro no espaço
1. o novo trailer de Scorn, jogo de tiro no espaço
joga bola, jogador
o game Nintendo Switch Sports, lançado para Nintendo Switch em 2022
agora que eu voltei a jogar videogames após o ___________ do meu Switch, eu finalmente posso aproveitar os melhores jogos que o console tem para oferecer, e é por isso que a primeira coisa que eu fui fazer foi sair correndo jogar Nintendo Switch Sports. um dos jogos que mais existem no mundo. Nintendo Switch Sports é a volta da amada franquia Wii Sports depois de mais de uma década de esquecimento, ainda mais se você ignorar aquela versão fantasma pra Wii U chamada Wii Sports Club. e é exatamente isso que eu vou fazer
a maior novidade dessa nova versão foi o assassinato em praça pública dos Miis, que foram substituídos pelos novos, modernos e odiados Sportsmates, que… certamente é um nome, né. os amigos do esporte. parece slogan de canal esportivo de TV a cabo. mas sinceramente, desculpa a heresia, eu gosto mais desses carinhas novos do que os Miis, as criaturas mais sem personalidade da história da Nintendo e que só são amadas hoje em dia por causa da famigerada nostalgia. eu tenho nostalgia atrelada a eles? claro que tenho, mas também reconheço que essa nova & divertida trupe é muito mais caristmática. por favor, não me processem por isso
uma das minhas partes favoritas de Nintendo Switch Sports é o lugar onde os esportes acontecem, a Spocco Square, que é o centro de uma cidadezinha que eu adoraria morar. ela é meio que uma versão solarpunk de Wuhu Island, aquela ilha magnífica onde Wii Sports Resort se passava e que é tipo O lugar da ficção que eu traria pra realidade se tivesse dinheiro infinito. eu acho incrível como uma cidade que só serve pra aparecer de fundo durante os esportes consegue ter tanta vida, ser tão confortável de se estar. a quadra de vôlei, por exemplo, fica dentro de um shopping completinho com cafézinhos e livrarias, e é só comparar a quadra de tênis do Wii Sports com a desse jogo pra ver como esse lugar é incrível. parece até que se passaram 16 anos de um jogo pro outro
sobre os esportes, a parte do jogo que você realmente joga, eles são… hm. são seis esportes no total, e todos utilizam os motion controls que a série Wii Sports necessita pra sobreviver. o vôlei é no máximo divertidinho — mas isso já torna ele um dos melhores jogos de vôlei que eu já joguei na vida — e badminton não tem razão nenhuma pra estar nesse jogo, sendo que o gameplay é praticamente a mesma coisa do tênis só que mais chato e com peteca. chambara, aparentemente um esporte, é só OK e é meio que uma versão mais séria daqueles brinquedos de salão de festas infantis que as crianças se digladiam até a exaustão com cotonetes gigantes. ah, e o boliche também voltou! pra mim ele continua perfeito, assim como tênis, com aquele gameplay super simples & super satisfatório que tinha no Wii. mexa o seu joy-con como se fosse uma raquete até sentir um estiramento muscular
mas a verdadeira estrela aqui é obviamente o futebol. pela primeira vez na franquia, dá pra chutar uma bola em direção a um gol, e o que eu tenho a dizer sobre essa inclusão é que é o melhor gameplay de futebol que eu já joguei em toda a minha vida. é melhor que qualquer FIFA da virada do século, melhor que qualquer Wing Elevel, melhor que Sega Soccer Slam. o melhor jeito de descrever o gameplay é que ele é um Rocket League de gente: tem uma bola gigantesca andando pelo campo e você tem que correr atrás dela pra fazer coisas de futebol. tipo gols.
é simplesmente o negócio mais satisfatório do mundo, os personagens dão um trilhão de acrobacias chutando as bolas, é uma coisa de maluco. é Kung Fu Futebol Clube: O Jogo. são dois modos diferentes, um com 1 x 1, o famoso gol a gol, e um 4 x 4, de times, que tem mais estratégia envolvida, uma novidade pra franquia Wii Sports. no 4 x 4 dá pra passar a bola, uma técnica avançada que eu não esperava em um jogo desse tipo, e se você apertar o botão A, seu persongem começa a pedir a bola para os outros jogadores, fazendo desse o primeiro jogo da história a ter um botão de toca po pai
mas como é o modo online desse jogo, talvez a parte mais importante dele? eu… é… eu não quis jogar. não preciso.
inteligência arteficial. pois faz arte
arte feita por inteligência artificial
se você, como eu, sempre teve curiosidade em saber como seria um encontro entre o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o amado mascote dos anos 90 Bubsy, agora, com o uso de inteligência artificial, você pode presenciar isso. com um nome que mais parece uma onomatopeia que tocaria no Vai Dar Namoro, a DALL·E é um programa de inteligência artificial desenvolvido pela OpenAI que simplesmente vai lá e cria qualquer imagem que você mandar ele criar. a Torre de Babel como se fosse uma fase de Super Mario 64? tá lá. Brian Wilson se fosse membro do Slipknot? fácil. Clifford atacando de DJ no Boiler Room? sem problema. é só mandar que ele faz
segundo a Wikipédia, fonte infinita de conhecimento, a DALL·E utiliza uma versão do modelo de inteligência artificial GPT-3 Transformer com 12 bilhões de parâmetros para transformar esses textos em imagens, e eu não faço a menor ideia do que qualquer uma dessas palavras significa. parece bem complicado. você com certeza viu essas monstruosidades criadas por computador nas redes sociais essa semana, em todas as páginas de meme do mundo, mas sabe qual é a parte mais doida? a versão da DALL·E que qualquer um pode usar, online, não é a mais avançada que existe. é só a primeira versão, que já tá meio datada. a DALL·E 2 é muito mais poderosa, tem muitos mais recursos, e é aí que eu começo a ficar meio preocupada
eu li esses dias uma thread no Twitter do Alan Resnick sobre essa tecnologia e ele levanta um ponto bem interessante. com o avanço tão rápido que a criação de imagens por inteligência artificial teve nos últimos dois/três, quanto tempo até um programa conseguir criar um filme inteiro, uma película, sozinha? imagina só: você digita o roteiro lá e sai um filme completinho. se ela já consegue criar imagens, é só uma questão de tempo até conseguir fazer um vídeo e sons. e aí eu penso, tá, nem vai precisar ter um roteiro digitado por um humano daqui a pouco. se a tecnologia continuar avançado, o que vai impedir uma inteligência artificial de criar um roteiro completo sem a ajuda de uma pessoa? ela própria ter uma ideia para um blockbuster e entregar ele completinho pra uma distribuidora lançar no cinema?
eu não tenho dúvidas que, com o andar da carruagem, isso vai ser possível daqui uns 25 anos. é ao mesmo tempo super legal e super distópico, e, em uma tacada só, você deixa desempregadas umas cinco mil pessoas da indústria do cinema. mas você deve estar pensando ah, mas eu duvido que um dia o ser humano vai preferir histórias criadas por uma máquina do que por outro ser humano e aí eu te respondo: será? será que, no futuro, histórias humanas não vão ser consideradas um negócio antiquado? tipo pra que eu vou assistir um negócio que um cara fez se eu posso assistir esse filme feito por uma inteligência artificial que pode criar literalmente qualquer coisa sem restrições metafísicas ou de orçamento? pode ser que sim, pode ser que não! não dá pra saber o que o humano de 2052 vai achar disso
e eu penso também nas implicações políticas desse negócio, em dois sentidos. primeiro que eu não quero nem ver como vão ser as fake news políticas quando essa tecnologia estiver um pouquinho mais afiada, você vai poder gerar em cinco segundos uma imagem do Geraldo Alckmin recebendo propina do Bubsy e aí eu quero ver como vai ser feito o fact-checking, como que a população vai saber se aquilo é verdade ou não
e segundo, como fica… o mundo? antes, eu acreditava que os únicos trabalhos que existiriam no futuro seriam programadores e artistas; agora, nem isso eu acho que vai mais ter. não dou cinco anos pra existir alguma inteligência artificial que consegue criar um update pra si própria. e quando não existir mais nenhum emprego no mundo, como que a gente vai viver? ou o planeta Terra vai virar uma utopia ou uma distopia, não tem meio termo. e considerando que nós vivemos no capitalismo, provavelmente vai ser uma distopia. alguém começa uma revolução socialista logo, pelo amor de Deus. eu juro que vou junto, já confirmei minha presença no evento da Facebook
é, inteligência artificial é o futuro da arte mesmo, mas será que isso é uma coisa boa? ou será que eu só estou com inveja dela por que eu sou, por mais que eu não queira me rotular como tal, artista, e tenho medo de ficar obsoleta? não sei. ninguém sabe de nada