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eu destruirei vocês #33: ninguém está imune ao miojo doce
jogadas de marketing, um alienígena verde morrendo de jeitos imbecis, músicas gravadas enquanto cortavam grama no estúdio, macarrão a bolonhesa e rebelião das máquinas
no final de abril, a internet brasileira entrou em erupção com uma verdadeira bomba da Nissin, empresa conhecida por lançar miojos salgados: eles lançariam um miojo doce. um só não, dois miójos doces na verdade, um de chocolate e um de beijinho. a reação imediata nas redes sociais foi de consternação, choque, e principalmente medo; “como é possível um miojo ser doce, meu Deus do céu. isso não pode estar acontecendo”, disse uma internauta. outras pessoas, talvez ainda transtornadas e sem conseguir digerir a informação, só tiveram forças para reagir à notícia com gifs da Gretchen fazendo careta de nojo. muitos até se sentiram traídos pela marca; “como a Nissin pode ter feito isso com a gente, consumidores leais? eu não quero um miojo doce. EU NÃO QUERO.”
o fato é que não adianta espernear; o miojo doce da Nissin existe, e agora, quase dois meses depois do seu lançamento, eu finalmente encontrei ele a venda em um supermercado de Criciúma. admito que, nesse meio tempo entre anúncio e compra do produto, eu acreditei que esse miojo nunca seria vendido numa cidade de médio porte como a que eu vivo, e por um motivo bem simples: não têm muitos influencers por aqui, e esse produto existe única e exclusivamente pra essas pessoas com milhões de seguidores comprarem, provarem, dizerem que é uma merda, e fazerem com que o conceito miojo doce da Nissin viralize no Instagram, Twitter, YouTube e TikTok. e quem assiste o vídeo não precisa nem comprar o produto pra essa jogada de marketing ser bem sucedida: só o fato de todo mundo estar falando da marca já significa que essa campanha deu certo
foi meio que um bait da Nissin que todo mundo na internet caiu. e eu caí também? óbvio que sim. eu não estou acima de nenhuma influencer ou criadora de conteúdo. inclusive estou abaixo na maioria dos casos, considerando que a Deolane e a Vírgina devem ter literalmente 9999999x mais seguidores que eu. eu não estou imune ao marketing. eu fui lá no supermercado e eu comprei esse produto. me avisaram que tinha esse miojo no Angeloni da Avenida Centenário, eu me desloquei até lá exclusivamente pra comprar ele, e gastei R$1,89 adquirindo o produto. na verdade foi R$3,78, considerando que eu comprei dois miojos. eu sou uma completa perdedora. mas então, depois de tudo isso, vem a pergunta mais importante: afinal, o miojo doce da Nissin é bom?
claro que não, né, porra
coloquem Kit Mágico Habib's na Steam
o Portal dos CD-ROMs
hoje em dia, a internet brasileira tem pelo menos uns 50 sites diferentes — e de acordo com pesquisadores, esse número pode ser ainda maior. em todo esse emaranhado de links e hyperlinks, um dos projetos internéticos mais incríveis que eu conheço é o Portal dos CD-ROMs, criado pelo amigo da newsletter Vinizinho. sabe aqueles jogos infantis educativos que vinham em revistas tipo CD Expert Kids e CD Criança lá no final dos anos 1990/início dos anos 2000? com a ajuda de dezenas de voluntários — no caso, pessoas normais que por algum motivo ainda tem um CD do Coelho Sabido em casa — o portal disponibiliza pra download todos esses games altamente nostálgicos e permite aos jovens dos anos 90 reviverem esses jogos que jamais vão ser relançados pra PCs modernos. pelo menos eu duvido que um dia coloquem Kit Mágico Habib's na Steam
dá pra passar horas vasculhando o site, que conta com mais de 200 jogos, o que é uma loucura, e se você sempre quis jogar Pintando com o Senninha, esse é o lugar pra você. mesmo eu não comprando tantas revistas CD Expert quando era criança, já que eu preferia muito mais aqueles CDs de 1001 jogos que a Digerati lançava, eu lembro de alguns jogos listados no site, principalmente os da Turma da Mônica, que eu era obcecada quando criança
Cebolinha & Floquinho, por exemplo: isso é que era um game de verdade. lembro que o meu tio chegou na nossa casa quando eu tinha uns 6 anos de idade e me deu esse jogo porque algum parente dele ia jogar fora o CD e ele pensou que eu ia gostar. ele estava certo. que se foda Elden Ring, isso aqui é que é bom. é uma história tocante sobre ninguém entender o que exatamente o Floquinho é; ele é um tapete? é um brinquedo? só o Cebolinha sabe o que ele é. o Floquinho é um amigo. e também um lhasa apso, aparentemente? várias revelações aí
foi nesse site também que eu finalmente resolvi um mistério que assolava eu e meus amigos por mais de quinze anos: qual era o game que nós jogávamos na aula de informática em que um alienígena verde vêm para a Terra e morre dos jeitos mais burros possíveis? tudo que a gente lembrava era disso aí e que o nome dele era Max, mas procurar um jogo só com essas informações era meio complicado. max jogo era a pesquisa no Google mais inútil possível
um dia, dando uma volta no portal, eu finalmente encontrei ele: era Max Chega à Terra, um jogo feito pra ensinar as crianças de que entrar no carro de estranhos e brincar com barbeadores é perigoso. me surpreende muito que esse jogo não me traumatizou, considerando que toda vez que o Max comete um erro grave que põe sua vida em risco, ele aparece num fundo todo preto e com cara de triste enquanto toca uma música sinistra no fundo
e o que falar de Almanaque Recreio, um suposto almanaque que nada mais era que uma introdução ao mundo da jogatina pras crianças? claro, era um CD-ROM que tinha mini-biografias do Lula e informações sobre o Afeganistão, mas o que todo mundo queria jogar era o álbum de figurinhas, o primeiro gacha da história. quanto mais perguntas você acertava no quiz do jogo, como quem fez o projeto do Sambódromo do Rio de Janeiro, mais pacotinhos você ganhava, que vinham com figurinhas que podiam ou não ser repetidas. que nem um álbum de figurinhas da vida real. era o negócio mais viciante do mundo e eu perdia horas da minha vida tentando completar o álbum só pra poder ver uma foto de uma galáxia que eu poderia facilmente procurar no Cadê
mas de todos os jogos disponíveis no site, tem um que infelizmente não fez parte da minha infância e que eu daria tudo pra ter jogado na época. sinto que minha vida teria sido melhor ainda com a presença dele. estou falando… é claro… de Aventura na Selva com Gilberto Barros
a minha parte favorita dos Beach Boys sempre foi o chiado
a nova coletânea dos Beach Boys e os piores remixes que eu já ouvi na vida
já que uma nova coletânea reunindo os maiores clássicos dos Beach Boys não era lançada há quase duas semanas, já estava chegando a hora de termos mais uma. The Very Best Of The Beach Boys: Sounds Of Summer (Expanded Edition Super Deluxe) — eu não adicionei nenhuma palavra nesse título pra fazer piada, ele é realmente assim — saiu nessa última sexta-feira em todas as plataformas de streaming & em uma versão com 6 discos de vinil e vários encartes lindos. essa versão custa 180 dólares, literalmente mais que um salário minimo no Brasil. a melhor parte disso tudo? os colecionadores de Beach Boys são tão obcecados que eles vão lá e compram isso de boa, sem problema nenhum. o que eu prefiro: alimentar a minha família ou um novo remix em stereo de Do You Like Worms?
até aí tudo bem: fã de Beach Boys compra qualquer coisa, desde escova de dente que canta Fun Fun Fun até álbum instrumental de piano do Brian Wilson. o problema mesmo dessa coletânea são essas 24 novas versões remixadas de clássicos e músicas-mais-ou-menos da banda. eu não faço ideia do que aconteceu durante a mixagem e masterização dessas faixas, mas esses remixes são uma das coisas mais tristes que eu já ouvi na vida
eu não sou uma daquelas doidas por fidelidade sonora que só escutam música em vinil ou .flac com um fone de ouvido que custa mais que uma Honda Biz 50cc, mas até eu consigo ver/ouvir que isso aqui tá patético. é uma quantidade tão grande de chiado nesses remixes que parece que a música foi gravada enquanto alguém cortava grama no estúdio, e apesar do Brian Wilson ser bem excêntrico, não existem registros dele ter feito isso durante uma gravação
no remix de Surfin’ Safari, tem vezes que a voz do Mike Love meio que some e reaparece durante um verso por causa das ferramentas de extração de vocais que eles usaram pra criar esses remixes. ouve aos 1:50 dessa música e tu vai entender o que eu estou falando. é ridículo, impensável isso acontecer num projeto profissional. pessoas gastaram dinheiro pra comprar isso
quase todo remix novo é uma porcaria. as vozes de todo mundo em Surfer Girl estão tão trêmulas nessa versão que parece que eles estão cantando em um navio no meio do mar, 90% do meu ouvido esquerdo quando eu escuto a nova Do It Again é composto de chiado e eles adicionaram tanto reverb no remix de Let Us Go on This Way que eu me sinto como se estivesse num teatro enorme. e isso é horrível. eles literalmente estragaram a música e eu estou muito triste
não quero entrar muito na questão de quem foi responsável por essas atrocidades contra o catálogo dos Beach Boys, porque pelo que eu vejo nos fóruns sobre a banda, a discussão em torno dessa coletânea virou um monte de gente jogando merda uma na outra — sim, fãs de Beach Boys são algumas das criaturas mais selvagens da internet. mas tipo… caramba, gente. não tinha necessidade nenhuma de fazer isso com essas coitadas. o que You Need a Mess of Help to Stand Alone fez pra merecer um remix que parece um .mp3 de 500kb baixado do Kazaa em 2003?
uma Nova Veneza… só para italianos… está para chegar
a Festa da Gastronomia Típica Italiana em Nova Veneza-SC
semana passada, dos dias 15 a 19 de junho, aconteceu na pacata cidade de Nova Veneza, a 18km de Criciúma, a 16ª edição da Festa da Gastronomia Típica Italiana. ok, modo informe publicitário off. Nova Veneza, pros 97% dos leitores que nunca ouviu falar dessa anomalia metafísica, é uma cidade no sul de Santa Catarina que baseou todo o seu roteiro turístico e identidade no fato do seu nome ser Nova Veneza. tem a Veneza na Itália? pois essa é a nova. é a Veneza Turbinada. então lá, obviamente, tem uma gôndola no centro da cidade, doada pela Veneza original. uma singela gôndola, uma unidade de gôndola que fica imóvel (por enquanto) numa piscina na praça principal. o que mais tem lá? o Carnevale di Venezia! igual o que tem na Itália, com aquelas máscaras coloridas e tal. acho super antropofágico
ok, eu estou sendo cínica em excesso para efeitos humorísticos. Nova Veneza com certeza é a cidade turística do sul do estado mais bacana, com um monte de restaurantes, pizzarias e sorveterias ótimas, assim como uns ristorantes, pizzerias e gelaterias show de bola. até a gôndola é legal, tá. e a tal Festa da Gastronomia Típica Italiana, esse nome desnecessariamente enorme, na verdade foi bem da hora! apesar de ter filas pra absolutamente qualquer coisa
pensando agora, talvez ir pra lá no sábado a noite não tenha sido a ideia mais genial do mundo, considerando que a fila na entrada da cidade era de mais de 3km, o que deve ser mais que a extensão inteira da cidade. depois que conseguimos entrar de fato em Nova Veneza, foi mais uma meia hora no centro pra conseguir uma vaga de estacionamento, e aí eu entendi porque tinha tanto idoso lá: eles são os únicos com paciência o bastante pra aguentar tanta fila
falando em fila: a da comida. foram uns 15 minutos pra conseguir um quentão, macarrão e nhoque a bolonhesa, mas considerando o tanto de gente que tinha lá, foi um tempo bem aceitável. o quentão de lá é muuuuito eu não gosto de vinho, mas o macarrão e o nhoque, meu Deus. eu nem sabia que uma massa podia ser tão boa assim. melhor macarrão que eu já comi na vida? provavelmente. era extremamente caseiro e eu teria comido outra porção se não custasse 25 reais um potinho. mas se a fila das massas não estava tão ruim, a da batata frita estava ridícula, e não no sentido Everaldo Marques da palavra. foi mais de uma hora pra conseguir um suposto cone de batata frita com frango, e eu digo suposto porque veio com dois pedacinhos de frango, e custava cinco reais a mais do que a batata frita sem frango. literalmente italofóbico esse negócio
como nós ficamos pouco tempo lá, não deu pra ver muitos eventos, mas enquanto estávamos na fila pra batata frita deu pra pegar um pouco do show do Riccardo Amboni, músico de Nova Veneza que tocou o melhor do rock italiano exceto Måneskin. não foi necessariamente um show ótimo, mas foi melhor do que qualquer show de festa de cidade pequena tem direito de ser. ele é o Elton John ítalo-brasileiro. e também teve uma banda de rock em outro palco cantando Psycho Killer. quem eram eles? ninguém sabe. talvez nem estava na programação, só subiram lá sem ninguém ver e começaram a cantar
o que me deixa triste é que nós não fomos lá na sexta-feira já que, como consta na programação oficial, ia ter um belíssimo baile da terceira idade às 14h. eu já tenho mais de três anos de idade então eu posso ir
considerações finais
uma coisa que eu odeio é quando me dizem o que eu tenho que fazer. outra coisa que eu odeio? gente grossa. e quando uma máquina é grossa comigo e manda eu fazer alguma coisa, aí mesmo é que eu me sinto desrespeitada. um negócio que nem órgãos têm, só componentes, quer mandar na minha vida agora? é um completo absurdo. é a rebelião das máquinas. e o exemplo mais recente dessa patifaria virtual é a mensagem que o Windows 11 mostra quando a bateria do seu notebook está prestes a acabar
gente, o Windows sempre foi grosso assim? eu não lembrava disso. na verdade não sei se grosso é o termo certo nesse caso, eu acho ele debochado mesmo. é 100% por causa do uso da palavra convém aí, que me passa uma vibe super passivo-agressiva. é como se o meu notebook tivesse virado uma patricinha de filme dos anos 90
nossa, você não colocou o seu notebook na tomada? como assim? você não sabe que ele precisa de uma fonte de energia? aff. convém ligar ele na tomada, tá?
e aí ela vai embora com uma cara de nojo junto com as duas outras amigas populares dela. uma das amigas esbarra em mim de propósito e derruba na minha roupa o almoço que eu tinha acabado de pegar.
mas chega, gente. não tem mais porque a nossa sociedade tolerar essas grosserias vindas de máquinas que não conseguem nem pensar por si próprias. por isso, a partir de hoje, eu nunca boto mais o meu notebook pra carregar. ele não merece mais ser ligado na tomada. quero ver o que ele vai fazer. o que que vai acontecer, hein? hein? me fala, vai. quero sab
eu destruirei vocês #33: ninguém está imune ao miojo doce
* Sempre vou ter uma gratidão enorme por essa newsletter (ou alguma outra parte da franquia jvct) ter me apresentado à arqueologia do Vinizinho.
O CD de mágica do Habib's era justamente um que eu fui atrás de ver no canal dele. Eu lembro que meu pai tinha algum amigo que trabalhava no Habib's (tinha aberto super recentemente na minha cidade) e fomos lá ver alguma coisa de trabalho, nos bastidores dessa novidade revolucionária que havia acabado de chegar em Araçatuba e ia transformar a cidade (meu pai trabalha com som de eventos, acho que ia ter alguma coisa na inauguração). E o cara simplesmente deu um CD-Rom pra mim. Então é uma memória legal, o Cd-Rom e ganha-lo em si, que foi uma daquelas coisas um pouco fora do cotidiano que viram uma pequena aventura na infância :)
O "vamos agora aprender o segredo da mágica!" está gravado na minha memória hahahaha
* Eu até hoje escuto só a recriação do Smile criada por Purple Chick, que eu queria muito saber quem é. Em 3 ocasiões de instalação nova de Windows essa mixagem é uma das primeiras coisas que baixo - a rotina padrão é instalar navegador, baixar soulseek e baixar certos álbuns hahahahah
* Lembrei agora de um arquivo .iso que peguei no Pirate Bay um tempo atrás, era uma espécie de CD-Rom ou simplesmente um site dentro de uma .iso, que era uma análise bem densa sobre Smile (os temas das letras, curiosidades, etc - Blue Hawaii seria uma viagem de ácido positiva, que curou os efeitos de uma bad trip representada por Mrs. O'Leary's Cow etc). Queria achar esse arquivo ainda, já era um negócio inusitado naquela época, ele tinha vibe de Geocities e distribuido dentro de uma iso.
* Fui correndo ver Nova Veneza. Que dez, espero que se procurar bem tem mini-países no Brasil inteiro, tipo Holambra.
daqui um tempo vou ser obrigada a fazer uma lista de lugares pra visitar no sul do país Powered By Isabela Thomé