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eu destruirei vocês #42: incrível como as coisas funcionam
o Chaves da RedeTV, Jet Set Radio pra GBA, um mar no sertão, gol de falta de goleiro e cabras da montanha
eu acho o conceito de lost media o negócio mais fascinante que existe, e por isso eu acho loucura o fato de eu ter demorado 42 edições dessa newsletter pra falar sobre isso. lost media é basicamente um nome mais legal & impactante pro conceito de qualquer obra de arte que tenha sido perdida ao longo dos anos. tu não consegue achar de jeito nenhum na internet o capítulo #261 do Zorra Total, aquele em que a Gênia Efigênia morreu num acidente de iate? é lost media isso aí
talvez um dos casos brasileiros mais famosos de mídias perdidas seja o Gugu no Carandiru, que por décadas só existia nas lembranças de quem assistiu aquela anomalia ao vivo, até que o youtuber Vídeo CaCelso aleatoriamente postou o vídeo da reportagem em seu canal em novembro do ano passado. e agora, pelo fato de não ser mais uma mídia perdida, ele não é mais lost media. incrível como as coisas funcionam
e eu, enquanto pessoa louca de internet, tenho alguns santo graal de mídias perdidas que eu adoraria encontrar um dia. coisas que não existem, mas que ao mesmo tempo existem e que eu quero ver antes de morrer. Miguelito, por exemplo. a resposta brasileira ao Chaves e também uma das obras mais chocantes já produzidas em território tupiniquim
eles até pegaram um cara parecido com o Chespirito pra interpretar o Miguelito, e pode não parecer, mas eu estou falando de duas coisas diferentes aqui. não é mais Chiquinha, Kiko e Nhonho: é Lilica, Marquinhos e Bolão. eu daria um rim pra assistir algum episódio completo desse negócio um dia, e provavelmente em certo ponto da história terrestre alguém vai encontrar uma gravação de um episódio disso em algum VHS empoeirado numa caixa no porão, mas como o programa só durou cinco dias, talvez essa descoberta demore um pouco. será que é melhor que Galera na TV, a sitcom infantil da Andréa Sorvetão que também passava na RedeTV? eu me pergunto isso todo dia
e essa outra é extremamente obscura, mas por favor me escuta por um segundo: eu quero o clipe completo da versão que o NX Zero fez de Pork and Beans, do Weezer. em 2008, quando a palavra meme ainda não havia entrado no vernáculo de nosso povo, o Fantástico fez uma matéria sobre o clipe do Weezer, que tinha vários astros da internet americanos, e chamou o NX Zero pra gravar uma versão brasileira disso
tinha o Guilherme Zaiden, a Ruth Lemos, o pessoal da Dança do Quadrado e essa versão não está disponível em lugar nenhum da internet. tudo o que sobraram foram as imagens do clipe que foram exibidas no Fantástico e repostadas no YouTube, mas a versão completa dele só estava disponível no site do Fantástico na época e sumiu, não está mais no ar. e tem noites que eu deito na cama pra dormir e só consigo pensar nisso
ah, e o que me inspirou a finalmente escrever sobre lost media? é que esse final de semana, depois de anos de buscas, encontraram o piloto da versão americana de Sailor Moon que nunca foi ao ar. não era mais um anime, tinha partes em live-action e é horroroso, ou seja, é perfeito. porque coisas ruins são boas
jogos para fracassados
versões para portáteis de jogos de consoles
videogames! agora que quem não é nerd já foi embora, posso falar melhor com vocês. algo constante nos anos 2000 — além de um sentimento de que o Brasil poderia dar certo — eram jogos para Game Boy Advance. segundo a fonte inesgotável de conhecimento Wikipédia, foram lançados 1538 games para o portátil entre 2001 e 2008, e isso é mais que o Virtual Boy, Apple Pippin e N-Gage juntos
mas uma parte quase esquecida, negligenciada da biblioteca do GBA são as versões de jogos da sexta geração de consoles, os PlayStation2 / GameCube / Xbox da vida. na verdade, são só esses três consoles. eram jogos que, apesar de terem o mesmo nome, eram — por questão de necessidade — totalmente diferentes das versões para consoles, que eram consideradas as verdadeiras. as pessoas falavam “você até pode jogar The Urbz: Sims in the City no seu portatilzinho, mas saiba que nunca chegará aos pés de quem jogou isso num Xbox” e aí cuspiam na sua cara. era muito complicado o bullying naquela época
mas o que pouca gente não sabe é que algumas dessas versões eram… boas? eu quero falar um pouco sobre Tony Hawk’s Pro Skater, se você me permitir. é possivelmente a melhor franquia da história dos videogames. não sei como a Neversoft fez aquilo, mas eles inventaram o gameplay mais satisfatório do universo sem ter quase nenhuma experiência com desenvolvimento de jogos, e eu sabia que existiam versões pra GBA desses jogos, mas sempre imaginei que só existiam por existir, sabe? fizeram só pra dizer que tem Tony Hawk no GBA. mas não
apesar dos gráficos reconhecidamente engraçados — o Bob Burnquist parece um corvo — eles conseguiram quase que perfeitamente levar o gameplay da série pro GBA, e isso é um feito enorme. o gameplay isomêtrico até pode parecer meio travadão a primeira vista, mas quando você joga é outra história. se você der o controle pra alguém que sabe fazer manobras no Tony Hawk de PS1, a pessoa vai entender o gameplay dessa versão na hora
por causa de limitações técnicas óbvias, o jogo não tem a trilha sonora do jogo original, mas eles criaram novas músicas especificamente pra essa versão que são incríveis, totalmente Rock Wins das ideia. o melhor nu-metal que o GBA já produziu. e é, os gráficos podem não ser os melhores, mas tem um charme inegável. a não ser que você negue eles, e nesse caso teremos que lhe sacrificar
um game que eu descobri só recentemente ter tido uma versão pra GBA foi… Jet Set Radio? eu não sei eu sou burra ou só desconectada do mundo real, mas eu não fazia ideia da existência disso. o Jet Set Radio original eu considero um daqueles jogos que todo mundo diz que gosta mas nem todo mundo jogou de verdade — tipo Earthbound ou Sonic CD — e, tendo dito isso, eu gosto muito de Jet Set Radio. devo ter jogado umas duas horas dele numa viagem que eu fiz pra São Paulo lá por 2014 e só. realmente é um jogo lindo mas o gameplay de Tony Hawk é melhor
e dá pra dizer o mesmo sobre a versão de GBA. a primeira coisa que percebi quando joguei pela primeira vez é que todas as cutscenes são só imagens estáticas em baixa resolução das cutscenes do jogo original, ou seja, nem se deram ao trabalho de fazer uma coisa nova pra essa versão. um mal sinal. a trilha sonora até que foi traduzida de modo “ok” para um portátil, mas o gameplay eu achei triste.
ele também é isomêtrico, mas não chega aos pés da fluidez daquele outro jogo de skate lá. é meio confuso de controlar, talvez porque o gameplay de Jet Set Radio em si é um pouco confuso, mas sinto que poderiam ter feito um trabalho melhor. tudo bem que não fizeram, mas poderiam ter feito. a única parte desse jogo que eu amei foram as fontes usadas nos menus, uma mais linda que a outra
Crazy Frog Racer foi lançado em 2005 para PC, PlayStation 2, Nintendo DS e Game Boy Advance e não vale a pena jogar nem ironicamente. não cometa o mesmo erro que eu cometi
pelo menos a bandeira é bonita
o primeiro capítulo de Mar do Sertão, a nova novela das 18h
eu não falava muito sobre isso — e por que falaria? — mas até maio desse ano, eu trabalhava na afiliada da Globo aqui em Criciúma, a icônica NSC TV. o nome da minha função era operadora de controle mestre, que faz o meu trabalho parecer super legal, mas o que eu fazia basicamente era apertar botões para enviar comerciais ao ar. e por que diabos eu estou falando isso? porque Mar do Sertão é a primeira estreia de novela que eu assisto desde que eu pedi demissão de lá, e é uma sensação muito normal assistir uma novela sem ter visto um trilhão de chamadas dela ao longo de meses
o meu conhecimento sobre essa novela era limitado a “existe uma novela chamada Mar do Sertão”. eu não sabia qual era a história, quem era o autor, quem eram os atores e nem se a Globo já tinha aposentado eles e passado a usar inteligência artificial no lugar. tudo era um mistério pra mim. agora, tendo assistido o primeiro capítulo, eu entendi tudo: eles estão fazendo mais um remake de Pantanal
o foco principal da história é um conto clássico: o triângulo amoroso em que uma mulher linda é disputada por dois homens muito feios. Candoca — o nome mais Walcyr Carrasco não-criado-por-Walcyr-Carrasco da história — é a doce donzela que usa vestido branco interpretada pela Isadora Cruz, um atriz que antes só havia feito Haja Coração na Globo e nem tem um artigo na Wikipédia ainda. isso poderia ser visto como um ponto negativo mas eu gosto de ver gente nova na minha televisão, então eu apoio. nem toda novela das 18h precisa ter o Sérgio Guiz— não calma ele tá aqui também
natural de Santo André-SP, o ator Sérgio Guizé interpreta um homem com cara de besta que parece confuso a maior parte do tempo, um papel que seria de Selton Mello se essa novela tivesse sido feita 20 anos atrás. seu personagem, Zé Paulino, é apaixonado pela Candoca, mas chegou um novo rapaz na cidade para disputar o coração da moça: Tertulinho, o filho mulherengo do coronel Tertúlio interpretado pelo Renato Góes. a única explicação é que eles escolheram deliberadamente os nomes mais ridículos possível
e aí aparentemente vai acontecer umas coisas na novela. desculpa mas esse primeiro capítulo foi chatíssimo. um terço dele foi só de cenas bonitas do sertão, igualzinho a quase todo primeiro capítulo das novelas atuais da Globo, e eu tô cansando disso. eles querem um negócio mais contemplativo, sabe. eu chamo de chato mesmo
os pontos positivos dessa estreia não foram muitos, mas tenho um destaque: Joseph Climber como prefeito da cidade. o Welder Rodrigues é um homem que nasceu pra fazer núcleo cômico de novela das 18h e eu não acredito que demorou tanto tempo pra escalarem ele num papel assim
além disso, eu amei a parte que mostra as cenas do próximo capítulo no final, porque não é só uma montagem com as cenas. o capítulo acaba e vai pra um banco de praça com dois personagens, o Totonho e o Palmito, e eles conversam diretamente com o público enquanto fazem piadas e cantam uns versos. eu achei super criativo, super disruptivo, e se não gostou me processa
mas a melhor parte da novela mal dá pra ver nesse primeiro capítulo: a bandeira da cidade onde se passa a novela, Canta Pedra. ela é linda, apesar de quebrar todas as regras possíveis da vexilologia
como assim existiu um jogador chamado Toto?
o twitter Todo Dia Um Gol do Criciúma
a coisa que eu mais gosto é quando eu tenho uma ideia para um projeto que eu não concretizo pura e exclusivamente por preguiça, aí alguém vai lá e faz exatamente o que eu queria. por isso que eu gosto tanto do perfil Todo Dia Um Gol do Criciúma, que é o que o nome já diz: todo dia eles postam um gol do Criciúma
na verdade, eu estou fazendo um grande desserviço: não sei quem é a pessoa que cuida dessa conta, mas ela faz um trabalho muito melhor do que eu faria. a quantidade de gols lindos do Criciúma que eu nunca tinha visto na vida é enorme, e eu me considero uma semi-especialista em Criciúma Esporte Clube. só que nem eu já tinha visto esse gol do Toto contra o Fluminense na Copa do Brasil de 1996, ou sequer ouvido falar de um cara chamado Toto
é por isso que esse perfil é tão legal: ele vai atrás de gols que ninguém lembra. seria muito fácil só postar gols icônicos ou gols dos últimos anos, que ainda estão frescos na memória, mas quem hoje em dia pensa no gol por cobertura do Éder contra o Metropolitano em 2005? no gol olímpico do Luiz Carlos Oliveira contra o Sport em 1995? na época em que o Zé Carlos goleiro batia falta?

eu poderia ficar horas mostrando gols obscuros desse perfil, mas vou poupar vocês disso. caso queiram me ouvir falar sobre a vez que o Schwenck marcou dois gols de bicicleta em dois minutos contra o Imbituba, vão ter que assinar a versão gold da newsletter 𝒆𝒖 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒊𝒓𝒆𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔. apenas R$99,99 ao mês
considerações finais
aproximadamente vários jogos indie interessantes — indieressantes — foram anunciados nos últimos dias e eu quero jogar todos. Flynt Buckler Wakes the Sleepy Castle é mais um nesse novo gênero de games que é Paper Mario só que sem o Mario, RPGs com exatamente as mesmas mecânicas de Paper Mario mas sem encanador. apesar de ser um negócio meio anti-criativo eu apoio demais a existência de jogos assim, porque se a Nintendo não vai mais fazer Paper Mario bom, alguém tem que fazer
Soccer Story não é uma sequência de Golf Story nem um spin-off de Sports Story, mas parece Super Legal Story. sabe os Mario Tennis e Golf de Game Boy Color, que eram mais RPGs do que jogos de esporte em si? é tipo isso, só que com futebol. os gráficos em voxel são fofíssimos e eu espero uma participação do Marquinhos Gabriel no game
esse não é um jogo em si, mas vale a pena mencionar também. um trailer pra Super Mario Gravity apareceu nas minhas recomendações do YouTube esses dias e esse é um dos mods mais complexos que eu já vi na vida. você já quis jogar uma fase de Super Mario Galaxy 2 que se passa numa cozinha? agora você pode. ou poderá, quando o mod for lançado
saiu um álbum novo dos Mountain Goats — que nem todo ano — e uau. Bleed Out é inspirado por filmes de giallo dos anos 1970 e é um dos melhores discos que eles lançaram nos últimos tempos. se você não conhece Mountain Goats, são cabras que vivem nas montanhas rochosas dos Estados Unidos e Canadá, e também uma banda de folk/folk rock/rock estadunidense. escute Training Montage, porque se não gostar dessa música, não vai gostar do álbum
o fato do Casemiro — jogador da seleção brasileira, não o streamer — ter sido contratado pelo Manchester United está me dando múltiplos ataques de pelanca. quando um jogador fundamental pra seleção vai pra um time que parece sugar completamente a habilidade e a energia vital de quem joga lá, nós temos que nos preocupar, e muito. a pior parte? o governo brasileiro não fez nada pra impedir isso
o sonho mais profético que eu já tive na vida foi quando sonhei, anos atrás, que haviam adicionado vários singles antigos previamente desconhecidos da banda Kero Kero Bonito na página do Rate Your Music deles. anos depois, aconteceu exatamente isso. Weapons Grade é um desses singles e também uma das melhores músicas deles em geral
tem vinte times jogando a segunda divisão do campeonato estadual de Sergipe. por quê?
eu destruirei vocês #42: incrível como as coisas funcionam
Marquinhos Gabriel's Soccer Story (2025, Kojima Productions)
Pau