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eu destruirei vocês #44: ninguém vai ler essa edição
nenhuma pessoa sã vai abrir o e-mail num feriado
é incrível pensar que, até poucos anos atrás, o povo brasileiro conseguia comemorar o Dia da Independência sem ter que se preocupar anualmente com um possível golpe de estado perpetrado por pessoas com nomes tipo Zé Trovão e políticos que parecem um dedão
eu sou da época em que o feriado de sete de setembro tinha um significado muito claro: era mais um dia em que eu não precisava ir pra escola. mas aí o povo supostamente intelectual desse país começou a reclamar no Facebook que o brasileiro “só era patriota em época de Copa do Mundo” e nós adentramos nessa areia movediça em que nos encontramos hoje em dia. por favor, gente, o patriotismo que essas pessoas pregam é uma merda. ser patriota só quando o Brasil tá jogando é o certo
a bandeira do Brasil, por exemplo. alguém já viu ela? é aquele negócio retangular com um losango no meio que normalmente tu encontra em repartição pública. é super bonita! e agora, toda vez que eu vejo ela sendo hasteada em alguma casa ou estabelecimento comercial ou então avisto um carro com um adesivo desse outrora símbolo nacional, eu sei que eu devo evitar aquela pessoa pra não sofrer algum crime de ódio
onde eu moro, tem um mercadinho na esquina de casa no qual seria super conveniente fazer pequenas compras, exceto pelo fato de ter uma bandeira do Brasil enorme na frente dele. e só por isso, eu nunca compro nada lá e prefiro pegar um ônibus pra ir em qualquer outro supermercado
e o uso da bandeira como símbolo fascista é engraçado — no sentido ruim da palavra — porque meio que representa uma nostalgia burríssima, né. é a mesmíssima coisa dos Estados Unidos — o lugar que os comentaristas de Facebook dizem que deveria ser um exemplo pro Brasil mesmo não tendo saúde pública lá. o Trump adorava dizer make America great again, mas quando que ela foi grande? nunca foi, é puro delírio isso. e a versão brasileira disso acaba sendo essa saudade da ditadura vinda de gente que não viveu ela. um suposto retorno a uma glória que nunca existiu
enfim, só sei que quero muito usar uma camisa amarela da seleção brasileira pra assistir a Copa do Mundo desse ano depois que o Lula ganhar. obviamente comprada na Shopee, porque nem a pau vou dar 350 reais na mão da Nike
agora, segue uma lista dos melhores dias da história do Brasil desde a sua independência, há exatos 200 anos, no dia sete de setembro de 1822
5. 26 de julho de 1930 — nasce Plínio de Arruda Sampaio
4. 29 de março de 2001 — a estreia de A Grande Família
3. 2 de junho de 1991 — Criciúma é campeão da Copa do Brasil
2. 25 de agosto de 1979 — Belchior lança a música Medo de Avião
1. 17 de março de 2020 — último episódio da versão original do Se Joga
um pequeno Angeloni
o novo Angeloninho
imagine você um supermercado Angeloni. imaginou? agora pense em um pequeno Angeloni, um mini Angeloni. um Angeloninho, se preferir. sentiu? é isso que foi inaugurado em Criciúma no último mês. Angeloninho é como é conhecido o supermercado Angeloni do centro da cidade, já que existe um Angeloni maior na avenida Centenário, comumente chamado apenas de Angeloni. esse padrão nomenclatural se estende para os outros supermercados da cidade: temos um Bistek e um Bistekinho, um Giassi e um Giassinho. é tudo muito fofinho nessa cidade, exceto absolutamente todo o resto
na verdade, o Angeloninho existe há muito tempo — não sei quanto — só que ele passou por uma reforma grande nos últimos dois anos depois que um incêndio quase destruiu ele. e se antes eu já sentia que aquele era um supermercado para ricos, até por ficar no centro da cidade, agora aquilo virou um lugar tão chique que eu sinto que nem deveria estar lá dentro. lá vende cereal matinal importado, sabe? lá vende Oreo O’s, tem pasta de amendoim Jif, tem Goldfish Crackers, esse tipo de coisa. é tão chique tem até neve lá dentro. no caso, o papel higiênico
só pra você ver, esse é um supermercado que a seção de vinhos fica na entrada. não tem arroz, feijão ou salgadinho Torcida nas primeiras prateleiras, você entra e já cai direto em um Chandon de 400 reais, pra impedir que qualquer pessoa que ganha menos de R$99999999 por mês sinta que aquele é um lugar pra ela. a seção de orgânicos também é gigante comparada com outros mercados de porte similar, com umas quatro prateleiras lotadas de chocolate Choco Soy e sucos supostamente do bem — mesmo sendo produzidos pela Ambev
fora isso, o novo Angeloninho é um supermercado que vende todos os produtos que você espera de um supermercado. tem laranja, tem sabão em pó, tem água mineral, coisas que são vendidas apenas em mercados. se você entrar lá pensando “bah, queria comprar um queijo hoje", você vai sair de lá com um queijo. eu saí de lá com uma Pepsi de 2 litros, e é assim que termina a minha análise desse supermercado. se eu consigo escrever quatro parágrafos sobre isso, consigo escrever sobre qualquer coisa
parem de centralizar camisas
as camisas reservas da Puma para a Copa do Mundo de 2022
em 2021, a fabricante de camisas Puma — conhecida no mundo principalmente por ter patrocinado o Paysandu na década de 2010 — chocou o universo do futebol ao anunciar que haviam cometido um crime contra a humanidade. em nome da inovação e da quebra de paradigmas, a empresa simplesmente meteu essa e lançou para todos os times europeus patrocinados por ela uma terceira camisa horrenda, horrorosa, horrífica e acima de tudo ofensiva
eram camisas que não tinham o escudo do time, só o nome dele.
não só quebraram o paradigma como destruíram o paradigma, destroçaram o paradigma, esquartejaram ele. foi uma vergonha completa e a única lembrança boa que eu tenho desse surto coletivo foi aquela vez que um jogador do Fenerbahçe marcou um gol, foi beijar o escudo na camisa e não o achou. eu pensei que esse conceito de camisas centralizadas já havia ido pra lata de lixo da história, mas semana passada a Puma anunciou as novas camisas reservas das seleções patrocinadas por eles para a Copa do Mundo e… meu Deus
ok, eu tenho vários pensamentos sobre isso. o primeiro deles é um intrusivo: eu vou me matar. isso é uma afronta, uma declaração de guerra contra as coisas boas em geral. eu sinto que depois da icônica camisa da Nigéria pra Copa de 2018, as empresas estão fazendo de tudo pra inovar nos designs tentando criar um novo futuro clássico, e aí essas fornecedoras ou acertam muito a mão — a camisa reserva do Equador pra essa Copa é maravilhosa — ou erram tanto a mão que ela é decepada e jogada num caminhão de lixo, caso da Puma aqui
e pior que eu acho que eles poderiam ter acertado nessas camisas, mas cometeram um erro crasso e grave: fizeram quase todas elas brancas. as melhores camisas dessa leva — as que eu não exatamente odiei — são a de Gana, que eu diria até ser bonita, e a de Senegal, que é quase normal. e tudo bem que isso é culpa de boa parte dessas seleções normalmente terem camisas reservas brancas, mas custava inovar nessa parte também? faz uma camisa reserva da Argélia roxa, uma camisa do Uruguai bege, sei lá, qualquer cor menos um chatíssimo branco. olha aquela da Sérvia lá, é só um desenho dourado numa camisa branca com uma fonte de número feia. eu odeio tanto design
a melhor coisa que eu posso dizer sobre essas camisas é que pelo menos elas são melhores do que as reservas de seleções da Puma do ano passado
there's no Michelangelo coming from Pittsburgh
o álbum Lou Reed & John Cale – Songs for Drella
Andy Warhol: o que falar sobre ele que nunca tenha sido dito até hoje? calma, deixa eu tentar. Andy Warhol está vivo e trabalhando como corretor de imóveis em Santarém, no Pará. pronto, duvido que alguém já tenha falado isso. mas de todas as análises ensaios artigos dissertações sobre ele, nada é mais importante ou melhor dito do que um disco de 1990 que eu descobri na semana passada: Songs for Drella, da duplinha Lou Reed e John Cale, conhecidos por serem metade — ou uns 80% — do Velvet Underground

esse é um disco-homenagem pro Andy Warhol lançado três anos depois da morte dele e marcou a primeira vez que o Lou e o John trabalharam juntos desde 1968, com a experiência tendo sido tão boa pra ambos que eles prometeram que jamais se reuniriam de novo! é meio que um disco auto-biográfico-não-auto, já que conta a história da vida do Warhol em primeira pessoa e em ordem cronológica mas nada foi escrito por ele, é tudo vindo das memórias dos dois velveteiros — termo que acabei de inventar para designar ex-membros do Velvet Underground
e a primeira faixa foi o que fez eu já me apaixonar por esse álbum. Smalltown é uma ótima primeira-música porque pra mim é óbvio que quem escreveu a música foi o John Cale — com aquele pianinho safado dele — e quem escreveu a letra foi o Lou Reed, com aquele ritmo nos vocais que é tão específico dele. é um álbum do Lou Reed e do John Cale e cada um fez metade da canção, é perfeito. é uma música com um ritmo quase ragtime com letras sobre como é uma merda crescer numa cidade pequena
Where did Picasso come from? / De onde veio Picasso?
There's no Michelangelo coming from Pittsburgh / Não tem um Michelangelo vindo de Pittsburgh
If art is the tip of the iceberg / Se a arte é a ponta do iceberg
I'm the part sinking below / Eu sou a parte que afunda embaixo
essa letra é simplesmente perfeita, e dá pra ver que eu gosto muito dela pelo fato de eu ter postado em todas as minhas redes sociais na última semana, até no Ello. e o pior é que eu nem concordo tanto assim com o sentimento da canção, considerando que eu não tenho tantos problemas assim em viver numa cidade pequena — não acho que Criciúma seja exatamente um lixo completo do qual eu tenho que fugir imediatamente — mas mesmo assim letras como
I hate being odd in a small town / Eu odeio ser estranho em uma cidade pequena
If they stare, let them stare in New York City / Se eles vão me encarar, que me encarem em Nova York
me pegam demais. preciso imediatamente me mudar para uma cidade grande, tipo Mogi das Cruzes
as letras do disco, em geral, são bem diretas sobre o seu significado, não tem tantas metáforas, até porque isso é coisa de compositor covarde demais pra expressar os sentimentos. o Lou e o John vão cantar this is a rock group called The Velvet Underground e você vai gostar
e falando em Velvet Underground, tem várias músicas nesse disco que parecem muito músicas da banda, e isso não deveria ser algo que me choca tanto mas choca. fazia mais de 20 anos que não tinha uma música nova do Velvet e mesmo assim, a única coisa que me diz que Work não foi escrita em 1967 é o fato de ser uma música sobre a morte do Andy Warhol, e teria sido estranho escrever isso vinte anos antes do fato
são vários os destaques nesse álbum — Style It Takes que é super John Cale, Trouble with Classicists que tem umas letras ótimas, A Dream que é muito bonita, etc. — mas a mais linda de todas pra mim é a faixa final, Hello It’s Me. sete pequenos versos escritos pelo Lou Reed descrevendo a relação dele com o Warhol e terminando a música com um goodbye, Andy. droga, desculpa pelo spoiler
considerações finais
o SBT é um antro de decisões horríveis de programação nos últimos anos, mas a que aconteceu semana passada foi uma das mais engraçadas que eles já tomaram. simplesmente cortaram 107 capítulos da reprise de Carrossel. na terça-feira passou o capítulo 197, e na quarta-feira pulou direto pro 304. em dez anos, o SBT vai ser apenas um fragmento do passado
Bart Simpson pré-cristão
decidi que vou assistir o vídeo de cinco horas sobre Sam & Cat que o Quinton Reviews fez. é uma grande responsabilidade, mas sinto que também é algo importante para mim. nunca podemos desistir na primeira adversidade que encontramos
você sabia que o instagram Palavra Escocesa está participando do Scots Language Awards 2022 na categoria “projeto do ano”? provavelmente não, mas agora sabe! vote já!!!!!!!!!!!!
ok, fazendo meus cálculos aqui, se o Criciúma ganhar sete jogos dos dez que faltam pra ela na Série B, ele muito provavelmente sobe. se ganhar oito, ele com certeza sobe. se não ganhar nenhum, acho que não sobe
eu acho muito legal que o Masahiro Sakurai começou um canal no YouTube pra falar de game design. entre isso e o podcast do Hideo Kojima no Spotify, sinto que estamos entrando em uma nova era. não sei exatamente do que, mas certamente é uma nova era
e o show do Justin Bieber no Rock in Rio, hein? eu não assisti
eu destruirei vocês #44: ninguém vai ler essa edição
Torcer por um time patrocinado pela puma é toda semana sentir a vontade de abrir a boca com as mãos igual o Renato Aragão
palavra escocesa campeão!!!