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eu destruirei vocês #45: Mônica desistindo da democracia burguesa
livro de atividades da Turma da Mônica, brazil grooves, mockumentary do Marcos Mion, Punhos de Repúdio e garota mecânica
esse sábado, eu e a Bruna fomos numa loja de festas que abriu recentemente no centro de Criciúma — não vou mencionar o nome já que não estão me pagando pra isso — e, no meio dos pratos de salgadinho mais chatos que eu já vi, encontramos um dos livros mais importantes já impressos na história da humanidade. sabe aqueles passatempos que tinham no meio dos gibis da Turma da Mônica, entre uma historinha do Piteco e uma tirinha da Turma do Penadinho? aqui tem um livro cheio delas. 551 atividades das mais variadas, desde um caça-palavras com cinco linhas até os jogos de sete erros mais imperdoáveis do mundo
e, bom, considerando que nós adquirimos esta publicação, nada mais justo que começar a edição de hoje com um delicioso top 5 piores passamentos do livro de atividades da Turma da Mônica que eu e a Bruna compramos sábado em uma loja de festas que abriu recentemente no centro de Criciúma. ainda estou pensando se esse vai virar ou não um quadro semanal
Mônica votando no Cebolinha tal qual o proletariado votando em candidatos que não se importam com a classe trabalhadora
Mônica desistindo da democracia burguesa depois do Cebolinha passar uma reforma da previdência no clubinho do Bairro do Limoeiro
Cascão sendo obrigado a realizar um serviço que deveria ser responsabilidade do estado
Cebolinha entrando pro deprimente mundo do design gráfico
vai se fuder isso é impossível
música que o Ed Motta escuta
o conceito de brazil grooves
se eu fosse obrigada a resumir de forma rápida e sucinta o que são brazil grooves, diria que é basicamente música que o Ed Motta escuta. é tchubiriba, é tchiburaba, é o baixo fazendo um toin oin oin. é a música Marcos Valle – Estrelar, é tudo que foi produzido pelo Lincoln Olivetti e pelo Robson Jorge, é o boogie tupiniquim, é música que o seu pai vai escutar e falar essa é das boas, hein e é tudo muito legal
brazil grooves não é exatamente um gênero porque é um negócio bem abrangente, sabe. é mais um conceito do que qualquer coisa, uma ideia. se você quiser definitivamente categorizar em gênero, essas músicas transitam entre o funk, o soul e o boogie, pegando ritmos populares nos Estados Unidos nos anos 70 — qual o gênero de Steely Dan? não sei — e transformando em algo mais brasileiro, mais BR, mais… 𝒃𝒓𝒂𝒛𝒊𝒍 𝒈𝒓𝒐𝒐𝒗𝒆𝒔
ao contrário de quase todo o meu conhecimento musical, que vem de ficar lendo o Rate Your Music obsessivamente, o que eu sei sobre as grooves brasileiras eu aprendi no YouTube. existem vários canais que se especializam em encontrar músicas brasileiras super obscuras — encontrar garimpando vinis mesmo, como faziam os neanderthais — de discos que nem estão disponíveis na internet e disponibilizar de graça pra todo mundo ouvir. e essas pessoas fazem mais pela nossa sociedade do que policiais e militares
só pra citar alguns, porque todos seria impossível, tem o Selecta Brasil, Brazil in Sound, Brazilian Nuggets, Som Mais Puro, engroovinhado e… Romildao_comedor_de_biscoitos. quanto mais ridículo o nome do canal é, melhor ele é. quer outra prova disso? uma das melhores playlists de brazil grooves que existe no YouTube, com quase três mil músicas e inúmeras pérolas, se chama Carlos. só Carlos. não se precisa de mais nada quando se tem Carlos
uma das minhas músicas/descobertas favoritas nesse mundo é Meditando, do grupo carioca Brylho, e você sabe que uma banda dos anos 80 é boa quando eles tem um y no lugar de um i. tudo nessa música é uma loucura, a percussão super veloz que faz até parecer que tem duas músicas tocando ao mesmo tempo, o vocoder que o vocalista usa, a letra meditando — estou transcendental… é a versão brasileira daquele álbum do Neil Young que ele despirocou e começou a fazer música sobre computadores
O Amigo de Nova York, do Emílio Santiago, é outra das mais top pra mim. uma música incrível sobre um… amigo, que é de Nova York. ele mora no gueto, ele mora no Harlem, fez um ôba ôba nesse carnaval, tocou no pandeiro e virou brasileiro. os gritos de alô brother do Emílio no refrão são altamente contagiantes e me dão vontade de gritar quando estou escutando essa música no meio da rua, mas eu não faço isso porque tenho vergonha. a segunda metade da música é a melhor parte porque o groove já está rolando há um tempão, os músicos estão super entrosados no improviso deles e aí tudo vira pura magia
Aleluia do Robson Jorge & Lincoln Olivetti é uma que eu descobri literalmente hoje, no dia em que estou escrevendo isso aqui, e é fenomenal. aparentemente isso tocava no Pânico da Jovem Pan, mas como eu era uma adolescente imbecil que só assistia CQC eu nunca tinha ouvido na minha vida. a única letra da música é aleluia, ow aleluia e mesmo assim é a coisa mais poética do mundo, o groove vai aumentando de intensidade de um jeito que me faz querer chorar. eu amo músicas que tem longas sessões instrumentais só com um refrãozinho no meio, que nem a versão original de Good Timin’ dos Beach Boys ou então O Jeito É Viver, do grupo A Máquina. escuta essa também, por favor
e eu gosto muito dessa aqui, que parece muito uma abertura de anime dos anos 80
é documentário e mockumentary
o programa Um VJ, um Ator, umas Mentiras, da MTV
sim, eu tenho plena consciência de que o que mais tinha na finada MTV Brasil eram programas bizarros, mas eu também tenho certeza que Um VJ, um Ator, umas Mentiras é a coisa mais estranha que já passou naquela emissora. mais do que as propagandas do Instituto Purifica
antes, um mini-contexto histórico: o Marcos Mion saiu pela primeira vez da MTV no final de 2001, quando foi contratado pela Band para apresentar o Descontrole, programa de auditório diário que só é lembrado hoje em dia pela parcela da população do sexo masculino que tinha entre 13 a 16 anos na época. Corvo Repórter e tal, aquela coisa
depois que o programa saiu do ar, em maio de 2003 — sendo substituído pelo Show da Fé do R. R. Soares — o Mion ficou na geladeira da Band por mais de um ano. nesse tempo, ele quase assinou com a RedeTV!, fez teste pra participar da novela Celebridade, mas nada deu certo. então, em setembro de 2004, ele assinou contrato com a MTV e o primeiro programa dele nessa volta foi… meu Deus do céu
Um VJ, um Ator, umas Mentiras estreou em 17 de outubro de 2004, e era um programa de não sei. ele misturava
documentário, com cenas de arquivo
mockumentary, com depoimentos falsos de atores fingindo que são amigos ou familiares ou funcionários da MTV ou etc.
ficção, na forma do Mion encenando momentos-chave da própria vida dele
monólogos do Mion (ou Mionólogos) gravados em um teatro vazio
era um programa que tinha um humor autodepreciativo a maior parte do tempo, mas tinha momentos em que o Mion parecia estar falando sério, tipo nos monólogos, que eram como se fosse a narração da série. como eu disse, o humor era autodepreciativo, mas ao mesmo tempo, era um pouco… egocêntrico talvez seja a palavra. era egocêntrico, mas autodepreciativo com o fato de ser egocêntrico. pronto. é um programa focado em Marcos Mion, a pessoa, apenas ele. é só a história dele. todo mundo não-Mion é um mero coadjuvante
era um conceito muito bizarro pra um programa, ainda mais pensando no contexto que ele foi feito: a carreira do Mion, em geral, não tinha nem cinco anos na época. ele começou na MTV em 2000 e esse programa é de 2004. ele tinha 25 anos na época e já tinha uma série sobre a vida dele, come se fosse uma daquelas biografias que escrevem de algum cantor pop que tá bombando no momento. ninguém tem tanta coisa interessante na vida pra merecer uma obra escrita sobre si aos dezesseis anos de idade, sabe?
e o estilo dessa série é umas trinta mil coisas ao mesmo tempo. tipo, no primeiro episódio, tem uma cena do Mion conversando com a Sandy, do Sandy & Júnior, que obviamente não era a Sandy original. era uma atriz interpretando a Sandy. e o Mion fala sobre como a Globo, sem citar o nome da Globo, não é pra ele, que quer seguir o sonho de ser VJ e tal… é como se essa série/programa/sei-lá-o-que fosse irônica mas ao mesmo tempo… não fosse? é muito David Foster Wallace
dos dez episódios produzidos, só cinco tão disponíveis no YouTube, e os episódios que contam a história da ida dele para a Band e a volta para a MTV, infelizmente, não tão em lugar nenhum da internet. mas a gente tem que agradecer que esses cinco episódios existem, porque essa série é a coisa mais obscura do mundo: ela não tem um artigo na Wikipédia, e se tu procura o nome completo do programa no Google, por exemplo, tem só 93 resultados. a última menção no Twitter a esse programa antes do Mion voltar a aparecer na mídia recentemente tinha sido em 2018, quatro anos atrás
eu sou a única pessoa no mundo que se importa com esse programa, mas agora vocês vão ter que se importar também
ação direta anti-fascista
o jogo Punhos de Repúdio, lançado para PC em 2022
eu nunca, na minha vida, fui fã de beat ‘em ups. Streets of Rage? chato. aquele jogo das Tartarugas Ninjas pra fliperama? um porre. o dos Simpsons? só acho legal porque a Marge ataca os inimigos com um aspirador de pó. eu sempre achei esses jogos lentos demais, com pouca variedade de inimigos e um gameplay repetitivo demais. nem de Double Dragon: Neon eu gostei… mas Punhos de Repúdio é muito foda
esse é um jogo brasileiro em todas as suas facetas. é desenvolvido por brasileiros — do estúdio BrainDead Broccoli — e lida com temas altamente brasileiros. a história, por exemplo, fala sobre um vírus mortal que está assolando o país, um presidente genocida que não se importa com o povo e seus apoiadores que andam pelas ruas sem máscaras e carregando bandeirinhas do Brasil. e você enche eles de porrada
esse não é um jogo que acredita que o diálogo é uma opção com essas pessoas, o jeito que você lida com essa gente é no soco mesmo, e meus advogados acabam de me alertar que eu devo falar que isso é só sobre o jogo. mas que é extremamente satisfatório dar um pau em um personagem suspeitamente parecido com o presidente da república, isso é
e é, satisfatório é a palavra certa pra descrever o gameplay desse jogo. é o primeiro beat ‘em up que eu tenha gostado tanto que queria continuar jogando mesmo depois de zerar, e acho que é porque o gameplay é rápido. não parece que o seu personagem é uma lesma, sabe? fora a variedade extensa de golpes, ainda mais pra um jogo que demora só tipo uma hora pra você fechar. mas tem uns cinco tipos diferentes de chute na boca que você pode dar num fascista e isso me alegra muito
e vou entrar numa mini-área de SPOILERS aqui, mas eu amo todos os chefes desse jogo. Michael Douglas: o saradão que não quer fechar a balada durante a pandemia. Pastor Cruzes: um pastor que usa seu poder e influência para o mal e tem uma última fase genuinamente assustadora. e o icônico Formigoroth, basicamente um Smilingüido portando uma AK-47. eu faria qualquer coisa por ele — inclusive matá-lo
Punhos de Repúdio é uma das únicas obras extremamente políticas do Brasil pós-2018 que não são vergonhosas, e isso é um dos maiores feitos desse jogo: o fato de eu não ter sentido vergonha em nenhum momento enquanto jogava. ele não é didático naquele estilo programa de humor da Globo fazendo uma crítica ao governo atual, sabe? é um jogo que respeita a minha inteligência. eu já sei que o Bolsonaro é um merda, agora só deixa eu encher ele de porrada. obrigada!
considerações finais
ok, teve Nintendo Direct ontem. simplesmente um dos piores que eu já vi na minha vida. eu sinto que uns 60% foram RPGs japoneses e games de fazendinha — jogos que nenhuma pessoa adulta no mundo tem tempo pra jogar, e as maiores novidades foram… meio decepcionantes?
Fire Emblem N-Gage parece legal, mas aí eu lembro que é um Fire Emblem e perco a vontade de jogar. Pikmin 4 está lindo, mas nem teve um trailer direito, foi só um teaser bem foda-se. e o novo trailer do Breath of the Wild 2 teve tipo 30 segundos? Tears of the Kingdom é um nome legal, pelo menos. TotK é um bom acrônimo
melhores momentos do Direct: guria mecânica do Xenoblade, o novo RPG da Square Enix Vários Trabalho e FITNESS BOXING FIST OF THE NORTH STAR
descobri essa semana que existem edições dos álbuns da Copa do Mundo da Panini que são vendidas só na Suíça e tem capas e figurinhas completamente diferentes. tipo, a desse ano se chama Oryx Edition e tem uma capa cinza-claro e figurinhas vermelhas, que por sinal são lindas. e em 2018, as figurinhas eram douradas. eu não sei porque eu acho isso tão legal mas tão idiota ao mesmo tempo
isso é uma das pesquisas acadêmicas mais importantes dos últimos anos
aparentemente o George Romero ia produzir um filme de Resident Evil nos anos 90? mas nunca aconteceu? e agora vai sair um documentário sobre isso? pontos de interrogação?
colocaram uma inteligência artificial pra criar camisas pra todas as seleções da Copa de 2022 e elas são todas melhores que as produzidas pela Puma. top 5: Arábia Saudita, Japão, Marrocos, Coreia do Sul e camisa super experimental do Brasil. eu só falo de Copa do Mundo agora, peço desculpas
Elon Musk está vivo e fundou um time de futebol em Belém para a disputa da segunda divisão paraense
o canal Did You Know Gaming? anda fazendo os melhores mini-documentários sobre obscuridades de videogames no YouTube, e o último deles sobre o suposto The Legend of Zelda produzido pela Retro Studios nos anos 2000 pra Wii é sensacional. é um puta trabalho jornalístico o que eles andam fazendo e isso não é ironia
antes ela do que eu
eu destruirei vocês #45: Mônica desistindo da democracia burguesa
I can excuse mônica sorrindo ao lado da palavra ditadura, but I draw the line at Titi eleito presidente
“Antes ela do que eu” é o comentário do meu pai pra toda morte. Incrível como essa frase me desbloqueou uma lembrança dele