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eu destruirei vocês #46: Akon, o inventor da solidão
Doritos sabor pizza, Robot Ninja Haggle Man, músicas com vibes noturnas, GTA VI e norueguês
agora eu vou falar uma frase que nunca foi dita na história da humanidade: a Elma Chips está de parabéns. depois de várias decisões desastradas nos últimos anos — como Doritos Dippas, o famoso Doritos sabor nada — eles parecem ter entrado numa nova era de experimentação e ousadia com resultados fenomenais, parecidíssima com quando os Beatles entraram em sua fase mais psicodélica
esse final de semana, tive a oportunidade — não, o prazer — de provar dois novos salgadinhos sensacionais. o Doritos Pizza Rock in Rio é um Doritos sabor pizza Rock in Rio que todo mundo que comeu junto comigo odiou, mas é a melhor coisa do universo. é a oitava maravilha do mundo, parecidíssima com as pirâmides de Gizé tanto em formato quanto em importância
existem muitos debates sobre o que exatamente significa um produto ter sabor pizza, e ao meu ver o termo mais correto seria sabor ideal de pizza. é um sabor de uma pizza que só existe no mundo das ideias, que não é exatamente algo que você come mas sim sente. e toda vez que eu como algo sabor pizza, eu penso “bah… parece pizza mesmo”
esse Doritos simplesmente tem sabor pizza, e é isso. inicialmente eu detectei nele um certo gostinho de infância até perceber que era porque o gosto é quase igual ao do finado Zambinos — o salgadinho, por favor. tenho certeza que existem um trilhão de diferenças entre os dois, mas na minha cabeça, na minha nostalgia, eles têm o mesmo gosto. a Bruna achou o gosto parecido com Club Social de pizza, que é o Club Social que ela mais odeia
a outra novidade chiptástica — relacionada a chips e fantástica — são os ovinhos de amendoim de barbecue. depois de produtos que beiravam o não comestível como ovinhos de amendoim sabor wasabi e flamin’ hot, a Elma Chips decidiu que é melhor não vender para seus consumidores veneno e lançou algo mais soft, não tão explosivo. eu vou falar a verdade: isso tem tudo pra se tornar o meu novo salgadinho preferido, a não ser que eles parem de vender daqui a dois meses
o negócio é que eu sou apaixonada por qualquer coisa que tenha sabor barbecue. molho barbecue? forte. o finado Pringles de barbecue? uma delícia e muito superior ao deprimente Pringles de churrasco que vendem hoje. e esses ovinhos são tão bons que eu quase não tenho nada pra falar sobre eles, só que são divinos. é um ovinho de amendoim normal envolto em um pó de barbecue, é impossível ser ruim. a única parte meio merda é que a primeira vez que eu comi eu decidi por algum motivo lamber o barbecue em pó e ele entrou no meu nariz, quase me sufocando
mas se a causa da minha morte tivesse sido um ovinho de amendoim de barbecue, eu teria morrido feliz
desafio de jogos retrô
o jogo Retro Game Challenge, lançado para Nintendo DS em 2007
assim, não é que eu sou a favor da pirataria, mas de todas as coisas positivas que essa forma de democratização de conteúdo trouxe para a humanidade — e não teve nada de negativo — uma das mais incríveis foi o R4. um pequeno dispositivo que era igual a um cartucho de Nintendo DS com a única diferença sendo uma entrada para cartões Micro SD e, só pela descrição, já dá pra entender pra que ele era usado. pra jogo pirata.
e como o R4 surgiu super cedo na vida útil do Nintendo DS, a história dos dois se confunde muito na minha cabeça. eu ganhei um DS em 2008 e junto com ele já veio um R4, então nunca precisei me sujeitar a atrocidades do tipo jogo do filme Carros custando 150 reais ou ao terrível The Legend of Zelda: Phantom Hourglass. imagina gastar dinheiro de verdade com aquilo
todos os games que eu joguei no console foram piratas, nunca comprei nenhum e até hoje eu sinto que nenhuma experiência que eu venha a ter com um console vai ser melhor do que ter um R4 no auge do DS. era aquela época mágica em que toda semana tinha um grande lançamento e mais uns cinco jogos obscuros que eu baixava meio que no impulso e amava. e alguns dos meus jogos favoritos do console foram esses que eu baixei no calor do momento
é o caso de Retro Game Challenge. gente do céu. com certeza eu fui atrás desse jogo só porque o nome faz parecer uma daquelas coletâneas de minigames feitas pra você perder uns 15 minutos da sua vida todo dia jogando, mas eu jamais imaginaria que isso ia virar um dos meus jogos favoritos de todos os tempos
Retro Game Challenge foi lançado em 2007 — em 2009 fora do Japão — e é baseado no programa de televisão japonês Game Center CX, que basicamente consiste em um homem de meia-idade tentando completar jogos antigos. é uma das maiores obras audiovisuais da história e um dia eu falo mais a fundo sobre ela. como o programa foca em games dos anos 80, o jogo meio que é uma retrospectiva da década pelos olhos de uma criança que vai vendo os jogos ficarem mais complexos ao longo dos anos e sim, esses são games que existem e que você pode jogar
tem uma série de jogos de plataforma dentro do game, por exemplo, chamada Robot Ninja Haggle Man, que o primeiro é um jogo meio arcade, o segundo é a mesma coisa só que com mais fases e gráficos melhores e o terceiro é um clone de Ninja Gaiden. Guadia Quest é um RPG surpreendentemente longo, Cosmic Gate é um shoot ‘em up estilo Galaga, Rally King é um jogo de corrida… ou seja, você compra um jogo e vem mais uns trinta diferentes junto. é a maior barganha do mundo
fora todas as partes do jogo que não são os jogos. o protagonista do game é aquele gurizinho da esquerda e ele sempre está comprando revistas de videogame novas — revistas essas que você pode ler e sempre trazem dicas, análises dos últimos lançamentos, colunas sem graça, essas coisas típicas de revistas da época. você e o seu amigo, que tá sempre te assistindo jogar as últimas novidades, conversa um monte contigo durante os jogos fazendo perguntas pertinentes do tipo “Você come salgadinhos enquanto joga games?”. se você responde sim, ele só fala “Entendo…”
Retro Game Challenge vendeu pouquíssimas cópias nos Estados Unidos e por isso a sequência, incrivelmente chamada de Retro Game Challenge 2, foi lançada só no Japão. em 2014, um grupo de tradutores lançou uma versão em inglês do jogo maaaaas eu nunca joguei. eu devia jogar porque aparentemente tem um jogo de plataforma ótimo lá no meio. e… existiu um Retro Game Challenge 3? que pelo que falam é horroroso? e saiu pra 3DS? e é muito feio? socorro?
o pior dos Beach Boys é o melhor dos Beach Boys
o álbum The Beach Boys – The Beach Boys, lançado em 1985
os Beach Boys são desde a minha adolescência a minha banda favorita e provavelmente sempre serão. e é por isso eu tenho propriedade pra dizer que uns 40% da discografia desse grupo é de intragável pra baixo, um lixo completo, algumas das piores músicas que já foram gravadas pelo ser humano, Chernobyl em forma sonora
já ouviu falar de Summer in Paradise, o disco de 1992? é uma loucura aquele negócio. escute a música Summer of Love, na qual o ser nefasto Mike Love faz um rap deprimente sobre como todas as mulheres do mundo amam ele, ou o cover de Hot Fun in the Summertime, que transformou um clássico do funk americano em uma música em velocidade 0,5x. em 1974, eles gravaram uma versão de Battle Hymn of the Republic que talvez seja a obra de arte mais engraçada da história, e em 1978 teve Wontcha Come Out Tonight. eu poderia ficar horas citando músicas horrorosas deles
mas não tem problema nenhum nisso. eu tenho total consciência da ruindade dessas músicas, mas isso não me impede de gostar delas. eu amo o M.I.U. Album e sua vibe de ter sido gravado num estúdio com cheiro de cigarro, eu amo o Keepin’ the Summer Alive e sua capa horrorosa, eu amo até o 15 Big Ones e seus oito covers de clássicos do rock dos anos 50, mas principalmente, eu amo o The Beach Boys (1985) e suas tentativas desesperadas de tornar a banda relevante na década de 80
The Beach Boys foi lançado em 1985 e foi o 25º álbum de estúdio dos Beach Boys, e sim, até hoje eu me surpreendo que demoraram 25 álbuns pra lançarem um disco com o nome da banda. praticamente ninguém gosta desse álbum: só pra você ver, ele tem uma nota de 2.04 no Rate Your Music, e essa é a mesma nota de Luísa Sonza – DOCE 22. os motivos pra esse ódio são vários: tem a sonoridade ultra genérica — parece que colocaram música anos 80 num gerador de AI e o álbum saiu completo — as composições fracas e uma vibe de que foi tudo feito na pressa, sem se importar muito com nada. e não é necessariamente por isso que eu gosto do álbum, mas essas são coisas que dão um charme todo especial pra ele
Getcha Back é um começo perfeito pro álbum porque, se você não gosta dessa música, não vai gostar de mais nada do que acontece no disco. se achou uma merda, pode ir embora já. na minha opinião, é uma das grandes canções do pop anos 80 e algo que faz sentido os Beach Boys terem feito em 1985, sabe? é uma progressão quase que natural do som pop deles nos anos 60. haters vão dizer que ela é genérica e eles talvez estejam certos, mas essa música apareceu até na trilha sonora de Herbie: Meu Fusca Turbinado com a Lindsey Lohan. e aí, hater, alguma música tua apareceu na trilha sonora de algum filme da Disney?
It’s Gettin’ Late, a segunda música do disco, faz parte de uma série de canções que eu não me importava até recentemente e que agora, talvez com o peso dos meus 26 anos nas costas, eu finalmente entendi. essa é uma quasi-balada com alguns dos vocais mais lindos que o Carl Wilson já gravou, o que é uma constante nesse álbum: a voz dele parecia que ficava melhor com o tempo, como um bom vinho, ou um vinho ruim que também melhora com o tempo. é uma composição meio diferente, um refrão que parece não ter tanto a ver com os versos mas que mesmo assim encaixa perfeitamente
Maybe I Don’t Know é outra canção que eu aprendi a apreciar nos últimos tempos, é uma música que eu consigo imaginar tocando em um episódio de Miami Vice, uma vibe noturna, meio noir, um riff de guitarra cheio de presença e a voz do Carl Wilson, aquele desgraçado. eu te amo
quando eu fiz um top 10 de músicas dos Beach Boys alguns anos atrás, eu coloquei Where I Belong, a faixa 9 desse álbum ignorado, no top 5. é mais um vocal do Carl Wilson e também foi escrita por ele, e eu sinto que é uma música que só funcionaria aqui, nesse álbum, com essa produção, com essas escolhas de estilo, com essas pessoas trabalhando nessa faixa, do jeito que eles eram naquele momento. talvez ela seja cafona, piegas pra quem vive intoxicado pela ironia da década de 20, mas é um dos negócios mais sinceros que existe.
uma performance vocal inacreditável por toda a banda, uma instrumental que completamente perfeitamente a música, e quando o sintetizador sobe junto com a voz do Carl antes do refrão, eu sinto que eu vou ser arrebatada por um feixo de luz e ascender aos céus
a música depois dessa foi escrita pelo Stevie Wonder, se chama I Do Love You e é ruim.
e tem umas músicas do Brian Wilson aqui que são… estranhas. as três contribuições dele tem no máximo 2 minutos de duração, melodias super simples e parecem ter sido escritas em no máximo cinco minutos, como I’m So Lonely. vinte anos antes do Akon, o Brian Wilson já tinha inventado a solidão. a única boa dele nesse disco é Male Ego mas ela é boa por ser meio engraçada, não por ser uma composição ultra sofisticada ou algo do tipo. e California Calling não é dele mas é bem ruim, parece que eles esqueceram no último minuto que um álbum dos Beach Boys tinha que ter uma música sobre a Califórnia e escreveram uma na pressa
praticamente toda pessoa que escutar esse álbum pois se interessou por causa das minhas palavras vai achar ele ruim, mas tá tudo bem. eu sou fã de Beach Boys e é meu dever defender algumas das piores criações artísticas da história da humanidade. e o fato é que essa banda é muito mais legal quando eles estão em seu pior
considerações finais
simplesmente vazou tudo de GTA VI esse final de semana e é, parece legal, mas eu provavelmente não tenho nenhum console que esse jogo vai ser lançado então eu estou meio foda-se. não vai ter GTA VI pra Switch nem pro meu notebook com 4GB de RAM, sabe?
eu achei engraçado que o protagonista masculino é o cara branco mais básico do mundo, e super legal que realmente vai ter uma protagonista mulher que um monte de gente burra na internet vai ficar dizendo que existe só por causa de lacração. como se não existissem mulheres na vida real
aparentemente quem causou esse vazamento foi um hacker de 16 anos de idade que conseguiu entrar no Slack dos funcionários da Rockstar e foi baixando todos os vídeos e imagens que conseguia até banirem ele de lá. imagina como foi a segunda-feira dele na escola
comecei a aprender norueguês no Duolingo. todas as pessoas nos meus círculos familiares, profissionais e de amizade me perguntam “pra que?” e eu não consigo responder. mas sabe como é, né: jeg er en kvinne
esse domingo, enquanto rolava o primeiro jogo da final do Brasileirão feminino entre Internacional e Corinthians, a Globo passava uma matéria no Esporte Espetacular em que o Gustavo Scarpa tentava resolver um cubo mágico.
eu e a Bruna fomos no Criciúma Shopping esse sábado trocar figurinhas da Copa e simplesmente completamos o álbum de um gurizinho. só faltava o Cristiano Ronaldo pra ele e nós tínhamos o Cristiano Ronaldo. ele ofereceu quatro escudos em troca e ficou com um bolinho gigantesco de figurinhas que provavelmente serão coladas em lugares aleatórios da casa dele
The Big Catch é um jogo com previsão de lançamento para 2023 e é a coisa mais linda que eu já vi na vida.
o próximo projeto audiovisual no qual eu estou trabalhando tem exatamente essa vibe
eu destruirei vocês #46: Akon, o inventor da solidão
incrível como não tem a MENOR POSSIBILIDADE de esse The Big Catch ser ruim
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