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eu destruirei vocês #48: na verdade isso é uma péssima ideia deixa pra lá
a cobertura das eleições, Mr. Gimmick, Drácula criança, listas da Pitchfork e otimismo
aconteceu: nesse domingo, dia 2, festa da democracia, eu participei pela primeira vez como jornalista de uma cobertura de eleições. eleições, pra quem não sabe, é um evento que ocorre de quatro em quatro anos em que seus compatriotas votam em Astronauta Marcos Pontes pra senador e em Eduardo Pazuello para deputado federal. me lembro que, quando decidi pedir demissão da emissora de TV onde eu trabalhava no começo desse ano, um dos motivos principais era porque eu estava cansada de ter que trabalhar nos finais de semana. então, eu decidi ser jornalista. nunca fui uma pessoa conhecida por fazer decisões sensatas
mas como isso aconteceu? bom, a minha universidade fez uma parceria com uma das maiores rádios de Criciúma e despejaram vários estudantes de jornalismo pela região carbonífera de Santa Catarina para ficarem em diferentes zonas eleitorais e entrarem com boletins ao vivo na rádio atualizando os ouvintes sobre como estava o movimento nas seções, se tinha santinho de candidato no chão, se alguém tinha atirado numa urna, esse tipo de coisa. eu fiquei encarregada de observar duas escolas diferentes aqui do bairro, o que me fez percorrer quase 12km no domingo entre idas, vindas, idas e outras vindas. eu cheguei em casa e caí na cama igual ragdoll de videogame
eu admito que estava super nervosa pra participar dessa cobertura por medo de algum lil’ fascista vir me encher o saco por ser jornalista/mulher, mas deu tudo certo. minha teoria é que ninguém me incomodou porque a camiseta que a universidade nos deu para usarmos de identificação tinha o número 2022 em verde e amarelo, então os bolsonaristas da cidade simplesmente acharam que eu era uma deles. é como se fosse uma roupa militar que me camufla perante os inimig– não, calma, péssima analogia pra essa situação
o crachá de identificação era outro amuleto que me protegia, mas eu acabei tirando depois de uma meia hora porque não parava de chegar gente achando que eu trabalhava lá e me perguntando onde ficava tal seção, se podia votar em trânsito, essas coisas. é óbvio que não pode votar em trânsito, né, tem que parar o carro primeiro. e o pior é que se uma pessoa perguntasse pra mim algo, começava a formar uma fila ao meu redor de gente querendo saber onde fica a seção 192 ou a seção 352 PELO AMOR DE DEUS EU NÃO TRABALHO AQUIIIIIIIIIIIII!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! é o que eu teria dito se não tivesse educação
entre o meio-dia e as 14h, tivemos uma pausa para podermos exercer nosso direito ao voto. já que eu não votava nas zonas que eu estava cobrindo, tive que almoçar numa velocidade supersônica e ir pra minha seção super rápido, porque eu sabia que ia ter uma fila gigante naquele horário, afinal, querendo ou não, eu estava cobrindo as eleições. obviamente várias camisas da seleção brasileira — eu moro em Santa Catarina — mas na fila da minha seção em específico, só tinha duas: uma jovem com uma camisa antiga da seleção e três adesivos do Lula colados no peito, e um homem de meia-idade com uma jaqueta amarela do Brasil mas… de camiseta vermelha. talvez era Lula, talvez era Bolsonaro, talvez tenha sido um corajoso gesto contra a polarização

e sim, eu votei com a nova urna. uma análise rápida dela: achei horrorosa de aparência, muito feia mesmo, a antiga era muito mais simpática, mas as novas teclas são perfeitas. queria saber quanto dinheiro público foi gasto comprando tantas teclas mecânicas — não que eu tenha algo contra, acredito que foi um dinheiro super bem gasto. talvez isso incentive os gamers brasileiros a votarem em peso na próxima eleição calma na verdade isso é uma péssima ideia deixa pra lá
e na hora de registrar o meu voto no Lula, fiquei uns segundos a mais olhando pra cara dele na urna. abri um sorrisão, dei uma piscadinha pra ele e tenho quase certeza que ele piscou de volta pra mim. dia 30 tem mais!
como Mr. Gimmick já dizia
jogos obscuros de NES
se levar em conta os números oficiais, o NES — ou Nintendinho, pra quem é velho e idoso e brasileiro — teve 715 jogos lançados durante toda a sua vida, e o Famicom, a versão japonesa dele, teve 1060 jogos. isso é aproximadamente muito, e se contar os jogos não-oficiais tipo Super Campeonato Brasileiro 1994 ou Super Mario 39, esse número sobe pra mais ainda. mas com tanto jogo assim, como que alguém vai ter tempo de jogar todos esses games pra descobrir quais são os melhores do console? fiquem tranquilos que eu estou aqui pra isso. nos últimos meses, joguei todos os games de NES e Famic- é mentira né porra, eu não ia fazer isso nem fudendo. essa edição ia sair só em 2039
talvez pelo fato de eu ser 𝓁𝑜𝓊𝒸𝒶, eu sempre me interessei muito pela biblioteca do NES, que é cheia de jogos clássicos, pouco complexos e impossíveis de fechar sem save state. tipo, eu amo o Super Mario Bros. original, mas eu nunca zerei ele: o jeito que eu me divirto com esse jogo é colocando ele, tentando fazer uma speedrun da fase 1-1 e parando de jogar imediatamente depois. Super Mario Bros. 2? nunca ouvi falar, só joguei Doki Doki Picnic. Super Mario Bros. 3? ah, é bom. tem Mario furry.
e lá por 2012 foi o auge dessa minha obsessão com o NES. na época, eu tinha um Wii desbloqueado e passava os dias jogando no emulador joias perdidas do console que eu encontrava perdidas pela internet recomendadas por algum maluco em um fórum de games super específico. foi assim que eu descobri, por exemplo, um dos melhores jogos de NES: Mr. Gimmick. o Senhor Gambiarra
lançado no Japão em 1992 com o título de Gimmick! — ele era chamado de Mr. Gimmick só na Escandinávia — esse é um jogo de plataforma 2D em que você controla uma criatura redonda verde, com olhos grandes e um sorriso encantador! ele é tipo um amogus, ou então um Kirby só que verde
mas o poder dele não é tão eticamente condenável quanto o do Kirby, que mata criaturas e rouba os seus poderes: tudo que o Mr. Gimmick faz é materializar estrelas em cima da sua cabeça, estrelas essas que podem ser arremessadas nos inimigos e que depois ficam ricocheteando do jeito mais satisfatório possível pelas fases. ele mata com o poder da astronomia, igual o Neil DeGrasse Tyson. é o jogo com um dos gameplays mais fluidos que eu já vi, uma trilha sonora perfeita e um chefe final extremamente assustador
outro jogo de plataforma 2D que eu viciei durante essa época da minha vida foi Akumajō Special: Boku Dracula-kun, nunca lançado fora do Japão. é simplesmente uma versão kids de Castlevania, esse conceito que era tão popular na época: se até o Scooby-Doo e os Muppets eles transformaram em crianças usando avançadas técnicas de rejuvenescimento, porque não fariam o mesmo com o Drácula?
Akumajō Special: Boku Dracula-kun, que eu chamarei a partir de agora apenas de Akumajō Special: Boku Dracula pra não ficar tão cansativo, é a mesma coisa de Castlevania só que com um moleque de cabelo branco que solta projéteis ao invés de ter um chicote. outra diferença é que, quando algum inimigo morre nesse jogo, aparece um efeito de quadrinhos escrito POW, para sinalizar o falecimento do personagem, e isso pra mim é um plus. é meio que um Mega Man da Transilvânia, e se essa descrição não te faz querer jogar esse jogo, a culpa é tua, não minha
e se você quer ainda mais Mega Man, jogue imediatamente Magical Kids Doropie
esse jogo é a cópia mais descarada de Mega Man que eu já vi na vida, tão descarada que quando o vi pela primeira vez eu achei que fosse um rom hack feito nos anos 2000 em que o criador insere algum personagem de anime no jogo e dá uma mudada básica nas fases. mas não, isso foi oficialmente lançado em 1990! é literalmente tudo igual: as poses da personagem principal, o estilo dos cenários, a música, o design dos inimigos, a barrinha de vida, a tela de pause, tudo. mas o jogo é bom, né. se copiasse tanto assim Mega Man e o jogo ainda ficasse ruim ia ser complicado
mas se você escolher a rota mais Castlevania, então tem que jogar Holy Diver. é meio que uma cópia de Castlevania mas também de Metroid, muito tempo antes de metroidvania existir. inspirado no álbum Holy Diver, do Dio, que aparentemente é uma banda e não um cara, é um dos jogos mais difíceis que eu já joguei e eu vou estar mentindo se disser que joguei mais que uma hora dele, mas é porque é difícil e eu sou fraca e meus ossos doem. e o pior é que eu queria muito jogar mais, porque o gameplay é muito satisfatório e a trilha sonora é impecável, mas eu sou muito piquititita pra conseguir fechar >___<
e Bio Miracle Bokutte Upa é outro que eu joguei pouquíssimo, lembro que nem entendia exatamente como se jogava, mas vale a pena mencionar ele porque é um jogo em que você controla um bebê engatinhando por cavernas de gelo, nadando no fundo do mar e se aventurando dentro de um cartucho de NES. o mundo precisa de mais obras de arte com bebês radicais
considerações semi-finais
muitas polêmicas no blogosfera sobre a nova lista de 150 melhores álbuns dos anos 1990 publicada pela Pitchfork na semana passada. pessoas reclamando que seus álbuns favoritos não estão lá enquanto álbuns que elas não gostam estão nas primeiras posições — ou seja, a mesma coisa que acontece toda vez que sai uma lista nova. a minha opinião é que essa é uma puta lista boa e muito mais interessante que a última que eles tinham feito lá em 2010
naquela época, eles jamais botariam Prefab Sprout – Jordan: The Comeback numa lista dessas, e só isso já prova que ela é muito melhor que a anterior — a Pitchfork finalmente aprendeu que não existiu só indie rock nos anos 90. tem Jonathan Richman, Arthur Russell, DJ Screw, Selena, Scott Walker, Dixie Chicks na frente do Slint, ou seja, se você não gostou, provavelmente é uma pessoa básica e chata. desculpa
estou cada vez mais usando meu caderninho para fazer anotações durante o dia. um caderninho mesmo, analógico, que você escreve com canetas ou lápis. é possível que eu esteja rejeitando a modernidade e em breve comece a datilografar a newsletter numa máquina de escrever, pregando ela em postes da cidade ao invés de enviar por e-mail pra todo mundo
falando nisso, com a newsletter quase chegando aos 800 inscritos, anda cada vez mais trabalhoso produzir ela semanalmente. hoje, por exemplo, tenho que escrever 780 vezes diferentes a edição da semana direto no Gmail, e aí enviar manualmente ela pra 780 e-mails diferentes. tá complicado o negócio, mas não vou desistir
finalmente escutei o novo álbum do Fax Gang, Dataprism. música de fritação, música de doido, e eu amo esse vídeo de uma performance ao vivo deles nas Filipinas com uma guria na plateia gravando com um 3DS. shout out to GLACIERbaby
achei isso um curta de terror extremamente criativo e bem feito. parabéns pra quem fez. mostrei pra Bruna e ela odiou. mas eu gostei!
uma mensagem 𝒆𝒖 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒊𝒓𝒆𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔
é, domingo foi uma merda mesmo, mas não acredito que tenha sido uma merda completa. na última semana começou a me bater um medo de que, dadas as expectativas de muita gente do Lula vencer em primeiro turno, todo mundo ficasse super abalado se acontecesse aquilo que era o mais provável e realmente houvesse um segundo turno, e é o que está rolando mesmo
algo que contribuiu muito pra esse sentimento de derrota foi o jeito que a apuração rolou também, né? você abre o site do TSE às 17:10h esperando ver uns 54% pro Lula, encontra um 49%-40% pro Bolsonaro e já começa a pesquisar luta armada como participar no Google. eu tinha certeza que o Lula viraria a votação ao longo da noite, até porque os estados que apuraram as urnas primeiro eram os lugares mais bolsonaristas do Planeta Terra, mas querendo ou não é um baque grande ver o corno-mor na liderança por mais de 3 horas
só que tem algo que muita gente parece estar esquecendo: o Bolsonaro não ganhou. tem um clima de derrotismo insuportável rolando, parecido com o pós-primeiro turno de 2018, sem considerar que esse é um cenário muito diferente: o Lula terminou na frente com mais de 5% de vantagem, sendo que o Haddad ficou 16 pontos percentuais atrás há quatro anos, e também o Lula… é o Lula, né. ele não é o Haddad. com todo respeito ao professor
e mesmo que o impensável ocorra de novo e nós tenhamos mais quatro anos *gesticulando com as mãos* disso, minha sugestão é que tentem ficar de boa — na medida do possível — e vigilantes. mais importante do que o cenário político nacional é como nós nos organizamos politicamente na nossa cidade, bairro, rua, casa, nas nossas imediações, e sempre vão existir pessoas que pensam como nós em qualquer lugar. e olha, eu falo isso como moradora de uma cidade que deu 81% dos votos pro Bolsonaro no segundo turno de 2018. pode não parecer pelo jeito que falam nas redes sociais do sul, esse espantalho de tudo que há de ruim politicamente no Brasil, mas sabia que também tem gente de esquerda em Santa Catarina? se não tivesse, nunca que o candidato a governador do PT aqui no estado teria ido pro segundo turno no domingo — bora, Décio Lima!!
basicamente o que eu quero dizer é que uma hora, tudo vai dar certo. não desista agora, não desista amanhã e não desista no futuro
Lula 13: Desistir É Uma Merda
eu destruirei vocês #48: na verdade isso é uma péssima ideia deixa pra lá
eu amo gimmick!!! nunca tive saco pra jogar, mas jogos da sunsoft pra nes são sempre muito charmosos e a trilha é sempre muito boa
chegando quase com uma semana de atraso pra recomendar o jogo que trouxe muita alegria pra mim e meus amigos no discord no começo da pandemia enquanto eu jogava e morria e sofria e dava load no save state: Mario 14 https://youtu.be/_BRgFl1Rk-o
o jogo é uma hack de "Kaiketsu Yanchamaru 3: Taiketsu! Zouringen", um joguinho de plataforma com umas mecânicas de samurai/ninja bizarras. e cujo ninjazinho fica aparecendo porque não trocaram ele com o mario em um dos sprites. eu zerei esse jogo e recomendo a todos que curtem uma esquisitice do nes. mas só com save state