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pelo amor de Deus, é impossível que realmente já tenham passado cinquenta edições dessa newsletter aqui. cinquenta vezes diferentes que eu tirei as minhas segundas e terças-feiras inteiras pra sentar quieta em algum lugar e escrever as maiores bobagens já imaginadas por um ser humano. cinquenta edições em que eu falei de absolutamente qualquer coisa… exceto sobre eu
e isso tem um motivo: eu sempre acho muito difícil falar sobre o assunto “eu”. eu sei que eu existo, tenho uma forma física, um cérebro que tem pensamentos diferentes das outras pessoas, mas odeio pensar sobre essas coisas. o mundo externo é muito mais interessante do que qualquer coisa que esteja acontecendo internamente, dentro de mim, aí eu só ignoro o que tá rolando na minha cabeça. pô, vazou uma demo de um Mario Kart nunca-lançado pra GBA? isso é muito mais importante do que depressão
então, para essa especialíssima edição #50, farei um exercício quase torturante pra mim e vou falar sobre… isabela thomé. sobre o que exatamente é uma isabela thomé, esse mistério que intriga cientistas há décadas
informações básicas
prazer! meu nome é isabela thomé — tem mais um sobrenome no meio desses dois mas eu acho ele feio então eu só o ignoro. eu decidi há cerca de um mês que eu quero oficializar a grafia do meu nome somente com letras minúsculas, então se eu ver alguém me chamando de Isabela Thomé eu vou partir pra cima — se me encontrarem na rua e quiserem falar comigo, me chamem sussurrando
eu nasci no dia 18 de abril de 1996, mas curiosamente eu não tenho signo. nasci sem. as pessoas me perguntam o tempo todo “nossa, isa, como assim tu não tem signo” foi um problema na hora do parto. não quero mais falar sobre isso. nasci em Criciúma/SC, resido nesta localidade até hoje e sou uma das únicas pessoas com menos de 30 anos que gosta desse lugar
é um lugar super conservador? sim. existem só tipo dois estabelecimentos que o público não-hétero dessa cidade vai pra se encontrar? aham. o Bolsonaro teve 64% dos votos aqui? óbvio que teve. mas tem uma certa aura nessa cidade que não necessariamente me encanta mas me conforta. é simplesmente uma cidade engraçada de se viver. tendo dito isso, quando eu tiver a oportunidade eu vou sair correndo daqui e ir pra um lugar não-tão cheio de gente desgraçada. eu gosto dessa cidade mas também sei que as coisas podem ser melhores
e até os meus quinze anos de idade eu morei num sítio. essa é uma informação meio inútil que só estou comentando porque todo mundo fica chocado com ela. é por isso que eu passava literalmente o dia inteiro no computador quando era criança e adolescente: meio que era a única companhia que eu tinha. os vizinhos mais perto moravam a dez minutos de caminhada e eram um casal de idosos — saudades, dona Irene
hoje em dia eu moro com a minha namorada, a Bruna. eu sinto que muitas pessoas — principalmente as que começaram a ler a newsletter sem ter qualquer conhecimento prévio sobre quem eu sou — podem ficar confusas quando eu menciono uma Bruna em algum texto, mas agora vocês sabem quem é ela: minha namorada. ela é incrível, uma artista super foda e eu sou uma pessoa completamente diferente desde que conheci ela. ela é minha fã número um e eu não estaria fazendo nada que faço hoje sem o apoio dela — essa newsletter, a faculdade, a transição de gênero, nada. isso é gay mas, quando eu encontrei ela, eu aprendi que a vida pode fazer sentido
agora, informações mais burocráticas: meu CPF é 650.988.900-55, meu PIS/PASEP é 112.15806.96-0, o número da minha CNH é 04330538170, placa do carro é LZY-5156 e meu e-mail é jvcthome@gmail.com
esse último é de verdade, vocês podem me mandar um Pix caso queiram me apoiar ou então uma proposta pra colunista/roteirista/humorista/algo do tipo — meu maior sonho é ganhar dinheiro com o meu trabalho, tomara que um dia isso aconteça
perguntas para conhecer alguém melhor #1
eu tenho um professor na faculdade — eu faço jornalismo, esqueci de falar — que sempre leva umas dinâmicas diferentes pra sala de aula pros alunos se conhecerem melhor e tal — as primeiras fases da faculdade sempre são complicadas assim. e certa vez ele levou um jogo de cartas que tinha várias perguntas sobre assuntos pessoais e aí você pegava uma delas e respondia na frente de todo mundo
mas como eu não tenho o jogo em si e tenho vergonha de pedir emprestado, vou tentar responder algumas das 150 perguntas para conhecer alguém melhor e quebrar o gelo do premiado site Dicionário Popular. agora eu vou abrir o random.org e responder aleatoriamente as perguntas que caírem
#135 → Se você fosse um produto, qual seria o seu slogan?
…eu destruirei vocês?
#144 → Com qual famoso dizem que você se parece?
na infância absolutamente todo mundo na escola me chamava de Otávio porque eu era igual ao Otávio da novela Da Cor do Pecado — o garoto rico e mimado que todo mundo odiava. fui pesquisar por onde anda o ator e vi que ele desistiu da arte, agora é designer :/
#48 → Se pudesse mudar algo em você, o que seria?
eu queria muito ter uns 15 centímetros a menos de altura. tudo bem que eu tenho a mesma altura da Ana Hickmann, mas todo vestido longo vira um midi pra mim e eu não aguento mais isso
interesses: televisão
minha fascinação com obras audiovisuais começou no dia 18 de abril de 1996, logo após o meu nascimento, quando minha mãe assistiu no quarto do hospital ao capítulo #141 da novela Explode Coração, escrita por Glória Perez. desde esse dia, a televisão nunca mais saiu da minha vida
eu era uma criança viciada em televisão porque, como eu já falei, eu morava em um sítio, então a única coisa que tinha pra fazer era ou jogar Megacity Challenge no computador ou assistir uma deliciosa TV Cultura às 15h da tarde. segundo os meus pais, antes de completar um ano de idade eu era fascinada com os Bananas de Pijamas — minha primeira festa de aniversário foi temática deles — e, eventualmente, desenvolvi um gosto mais sofisticado por Teletubbies e Barney. fora, claro, os icônicos Tina, Tom e Tico da Tots TV. eu era obcecada por esses fantoches britânicos
lá pelo final de 2002, meus pais instalaram TV a cabo na nossa casa e tudo mudou. abriram-se as portas não de um novo mundo pra mim e eu descobri que existiam canais que passavam desenhos animados 24 horas por dia. é engraçado que eu lembro até hoje de vários horários específicos que passavam alguns desenhos — Looney Tunes no Cartoon Network às 23h, Os Padrinhos Mágicos no Jetix às 11h, Yu-Gi-Oh! na Nickelodeon às 21h — um conhecimento completamente inútil mas que vai ficar comigo pra sempre, assim como os números dos canais da TV aberta em Criciúma na época. na minha cabeça a Globo sempre vai ser o 9, o SBT sempre vai ser o 25 e a Band sempre vai ser o 3
mas nada foi mais influente pra mim do que a MTV Brasil. todo mundo que viveu a época de ouro do canal já escreveu um texto falando sobre o impacto dela em toda a televisão — toda a linguagem e a estética inovadora. era um canal que realmente sabia fazer coisa pra adolescente. não quero me prolongar muito então vou só listar programas da MTV Brasil que eu adorava e ninguém lembra
Ya! Dog, onde Luisa Micheletti mostrava as novas tendências da internet e onde eu descobri que um site chamado Twitter existia
Furfles MTV, meio que um precursor do Comédia MTV que era mais engraçado
Covernation, batalha de bandas cover apresentado pelo Marcos Mion e com o infelizmente bolsonarista Tiozão Ambervision
Balela MTV, programa sobre o universo feminino apresentado por Didi Wagner e Marina Person — não acredito que demorei tanto tempo pra perceber que eu não era nem hétero nem cis
boa parte do meu fascínio com o audiovisual veio também de um estabelecimento específico em Criciúma: a Vídeo Beta, maior locadora de DVDs e VHS do sul de Santa Catarina. eu lembro até hoje de entrar pela primeira vez naquele lugar enorme e bater o olho em um box da terceira temporada de Simpsons que ficava numa prateleira logo na entrada, junto com os DVDs de outros desenhos animados. alugamos e foi aí que o meu vício começou. a mesma coisa aconteceu com Futurama, um desenho que eu nunca tinha ouvido falar mas aí vi aquele robô prata engraçado na capa, senti que já tinha visto ele em algum lugar e levei pra casa o DVD. paixão a primeira vista é isso
e agora, uma lista aleatória de obras televisivas que eu amo
Twin Peaks, que não necessariamente mudou minha vida mas mudou a relação que eu tenho com a arte e abriu uns trinta horizontes diferentes
Tim and Eric Awesome Show, Great Job!, a maior influência no meu humor
séries da Fernanda Young na Globo. O Sistema é uma das minhas coisas favoritas de todos os tempos e ninguém hoje em dia fala sobre essa série, Os Aspones era incrível, Como Aproveitar o Fim do Mundo e até O Dentista Mascarado eu aprecio pelo fator camp
The Phone: A Missão. não vou falar mais nada porque quem sabe sabe
Jornal do Almoço é bem legal também
perguntas para conhecer alguém melhor #2
ok, hora da intermissão. vamos responder mais perguntas
#64 → Em uma escala de 0 a 10, quanto aproveita bem o dia?
em termos de produtividade, diria que um 8. em termos de bem estar, descansar o suficiente, fazer todas as refeições, coisas básicas desse tipo… 2
#84 → Qual é a música mais tocada em seu celular?
já que eu não sou normal e tenho um last.fm desde 2010, vou deixar ele responder essa pergunta
#139 → Quando era criança, comia a casca do pão de forma?
pior que não, e quando eu lembro disso tenho vontade de voltar ao passado e me dar um cascudo
interesses: videogame
como já dizia o rapper Projota, videogame. quando eu tinha uns 4 anos de idade, meus tios passaram a morar com a gente no sítio e junto com eles, veio o Mega Drive do meu tio que só tinha um cartucho: Sonic the Hedgehog 2. eu nunca tinha ficado tão fascinada com um ouriço na vida quanto aquele dia
e como era o único cartucho que o meu tio tinha, eu joguei demais aquilo. numa época em que eu ainda não ia pra escola, eu passava horas tentando fechar o game e nunca conseguia, porque aquela parte com os blocos no Act 2 de Chemical Plant Zone era impossível. talvez a água subindo lentamente e afogando o Sonic nessa fase tenha sido a causadora do meu diagnóstico de ansiedade alguns anos depois.
quando eu já era adolescente descobri por acaso que aquele Mega Drive era japonês, porque eu fui comprar um cartucho de Gunstar Heroes numa locadora perto de casa e ele não funcionou. aí eu lembrei que o cartucho do Sonic que o meu tio tinha era japonês mesmo e tudo fez sentido
só que depois desse tempo, o meu interesse por games deu uma hibernada. eu tive um PlayStation 1 por um tempo — sem memory card — que eu jogava praticamente só Tony Hawk’s Pro Skater 2 e 3, curtia jogar um FIFA e um The Sims no computador mas era só isso. sabem o que reativou completamente o meu fascínio por essa arte? isso aí embaixo. não quero falar agora
não lembro como cheguei nesse trailer — talvez decidi procurar sonic no YouTube quando descobri que existia aquele site — mas eu enlouqueci quando vi isso. “como assim o Sonic não tá mais andando só pra direita, porra “ pensava o meu eu de 10 anos de idade, talvez sem o palavrão no final. eu queria demais um PlayStation 3 pra poder jogar essa suposta obra-prima, só que ele custava uns oito mil reais na época — e o salário mínimo no Brasil era 350 reais. mas o trailer meio que reavivou a chama dos games em mim e eu comecei a comprar um monte de revistas sobre o assunto. “pô. que legal. existe um monte de jogo diferente, né”
foi aí que, lendo uma EGM Brasil na metade de 2007, eu descobri que existia Super Paper Mario. até então, eu queria um PS3 pra jogar Sonic e só, mas quando eu vi as cores daquele joguinho do Mario eu enlouqueci. não lembro qual havia sido meu contato com esse homem vermelho de bigode antes — algum jogo em flash talvez? — mas naquele dia, decidi que eu ia querer na verdade um Nintendo Wii. pra poder jogar o joguinho colorido do Mario. e também porque custava oito vezes menos que a porcaria de um Play 3
e aí, mais um mundo se abriu pra mim. como a pirataria existe e o meu Wii era desbloqueado, eu podia baixar jogos em casa, passar pra um DVD e jogar o que eu quisesse de graça, num dos maiores cases de democratização da arte já vistos no mundo. nessa época eu joguei praticamente toda a biblioteca do Wii e também do Gamecube, já que eram compatíveis com o console, e pensando agora, logo depois que surgiu o homebrew pra Wii, eu passei a jogar muita coisa nos emuladores não-oficiais também. ou seja, praticamente tudo da Nintendo eu acabei jogando no meu Wii, de StarTropics até FlingSmash passando por Sin & Punishment e Mole Mania. o melhor console do mundo — empatado com o DS
e agora, uma simples lista dos meus jogos favoritos
Super Mario 64, sempre será
Paper Mario: The Thousand-Year Door, o universo mais confortável dos games
Mother 3, porrada
Tony Hawk's Pro Skater 3, skate é arte
Super Mario Sunshine, odeio fase de água do Mario, adoro esse jogo
Doom, o original
Paper Mario, necessito de um remaster
EarthBound, mudou minha vida
Shovel Knight, o melhor jogo de NES da história
The Legend of Zelda: The Wind Waker, estranhamente relaxante
Bloodborne, estranhamente relaxante também
Super Paper Mario, o jogo das cores
Ghost Trick: Phantom Detective, Shu Takumi é um gênio
Pokémon HeartGold Version, o ápice da série Pokémon
Retro Game Challenge, joguinho de nostalgia
The Legend of Zelda: A Link Between Worlds, eu queria ser a Hilda
The Simpsons: Hit & Run, a definição de icônico
Undertale, eu te amo
Kid Icarus: Uprising, se fosse relançado em outro console subiria umas 10 posições
Yo Noid 2: Enter the Void, em homenagem aos jogos experimentais estranhos
perguntas para conhecer alguém melhor #3
mais pergunta, mais pergunta
#60 → Já teve um crush em algum(a) famoso(a)?
quando era criança eu achava a Deborah Secco muito bonita mas hoje eu entendo que era inveja. já tive uma fase Aubrey Plaza, uma fase Will Toledo e atualmente estou em minha fase Barbie Ferreira
#61 → Prefere ver filmes no cinema ou em casa?
prefiro não ver filmes
#97 → Qual conselho daria a si mesmo(a) de 10 anos atrás?
sim, tu é trans mesmo
pelo amor de Deus, faz uma faculdade e não fica só em casa
tudo vai melhorar depois da Copa 2014
interesses: música
música é outra coisa que, modéstia a parte, eu sei que existe desde que nasci. eu acho o conceito de música favorita de criança engraçadíssimo porque elas sempre agem como se aquela fosse a única música do mundo: se você deixar, uma criança escuta Não falamos do Bruno 24 horas por dia e 7 dias por semana
e eu era bem assim com Trem das Onze — versão Demônios da Garoa, porque eu tinha um gosto sofisticado já naquela época. e o pior é que eu escutei tanto essa música quando tinha cinco anos de idade que saturou completamente pra mim até hoje, ou seja, provavelmente nunca mais vou gostar dessa canção tanto quanto gostava em 2001. cê lá ví
quando eu tinha uns 7 anos de idade, um programa de rádio quase destruiu minha vida. não lembro o nome dele, quem era o apresentador ou qual a estação, mas de segunda a sexta às 17h tinha uma hora inteira dedicada à arte da jovem guarda. hoje em dia eu acho esse o gênero mais imbecil, mais besta que já existiu em território brasileiro, mas eu adorava aquilo em 2003. eu escutava obsessivamente no carro e em casa algumas das piores canções já escritas em português — vai tomar no cu, calhambeque bi-bi. Festa de Arromba, pelo amor de Deus. senhoooooooor juiiiiiiz, pare agora eu VOU me m-
e foi mais ou menos nessa época que apareceu na minha vida o primeiro artista que eu verdadeiramente fui fã: o Raul Seixas. sempre tinha ouvido falar dele porque meu pai gostava bastante, tínhamos até vinil dele em casa, mas só escutei mesmo quando viajamos pra Florianópolis e o pai me deu uma coletânea Bis Raul Seixas com a pior tracklist de todos os tempos. um mix dos três piores discos dele, do final dos anos 80, junto com algumas músicas do Raulzito e os Panteras, grupo que ele teve na época em que estava começando a carreira e que é uma cópia descarada dos Beatles. e mesmo assim, não sei como, eu gostei o bastante pra continuar ouvindo ele
e a minha banda favorita até hoje, The Beach Boys, surgiu na minha vida de um jeito meio engraçado. lá por 2008, eu decidi que ia escutar todos os discos da lista da Rolling Stones de melhores álbuns de todos os tempos. escutei o primeiro lugar, o Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, pensei “pô, legal” — hoje eu acho o disco uma merda — e aí fui pra segunda posição da lista: Pet Sounds. quando eu ouvi aquilo, eu virei o meme do cérebro expandido na hora. meio que uma porta se abriu naquele momento e eu entrei nela de cabeça — por favor não entre numa porta de cabeça, pode causar traumatismo craniano
foi a partir desse momento que eu descobri que coisas como Bob Dylan, The Zombies e música indie existiam. o primeiro artista desse mundo de música de gente estranha que eu escutei foi Vampire Weekend e aquele icônico primeiro álbum deles, o que me levou a drogas mais pesadas como Weezer, Neutral Milk Hotel e Kanye West — graças a Deus eu nunca usei muito Radiohead. e meio que o meu gosto musical continuou nessas duas vertentes aí durante a próxima década: indie e Beach Boys. viciei em Car Seat Headrest uma época e isso é engraçado de se pensar em 2022
hoje em dia eu só escuto James Ferraro, Luísa Sonza e isso aqui
considerações finais
eu meio que amo a vida e isso é bom
obrigada por me lerem
me aguentarem
e gostarem do que eu faço
até semana que vem
eu amo vocês
eu destruirei vocês #50: quem é isabela thomé?
hoje foi uma edição colecionador. a parte do pis pasep, como dizem por aí, eu perdi tudo
os cara fizero uma coletânea O Pior de Raul Seixas. É isso
te amo isa