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eu destruirei vocês #51: ninguém sente nada com uma música do Imagine Dragons
Fanta Mistério, os novos radicais, arte conceitual e esmalte de NFT
e depois de quem matou Marcelo em A Favorita, mais um mistério começa a assolar o Brasil: Fanta. depois da enigmática e indecifrável Fanta preta de 2021, que era uma Fanta laranja normal que deixava a língua preta, a Coca-Cola quebrou uns novecentos paradigmas diferentes + a convenção de Genebra e nos trouxe uma Fanta com o sabor mais natural de todos: azul. similarmente aos sorvetes pedacinho de céu e blue ice, isso é um alimento que pode ser melhor caracterizado como sendo apenas azul. qual o sabor? ele é azul. você não come azul? problema seu
parece que a nova onda da Fanta é, todo halloween, lançar um novo sabor misterioso pois o halloween é misterioso e tem bruxas e monstros e coisas de mistério — tem gente se fantasiando de Jeffrey Dahmer, é muito mistério. portanto, eu esperava que essa nova edição tivesse um sabor mais macabro, algo entre sangue de cabra e gases de putrefação, mas infelizmente é bem mais soft do que isso
a Fanta Mistério das Máscaras de Chumbo é um dos refrigerantes mais doces que eu já tomei em toda a minha vida. acredito que uns 90% da composição dela é feita de açúcar — ao contrário dos outros refrigerantes, onde esse número não passa de 89%. quando enfiei esse negócio na minha goela, o primeiro pensamento foi hm, isso parece um refrigerante de maçã, pensamento corroborado pelo fato de um dos ingredientes listados na lata ser sabor artificial de maçã
porém, quando a Bruna provou, ela chegou a uma conclusão muito mais certeira: a Fanta Incidente do Passo Dyatlov tem exatamente o mesmo gosto que Monster Mango Loco. é um Mango Loco que não te causa ansiedade nem te deixa acordada até as 3:33h da manhã, e isso é uma das maiores vitórias da ciência nos últimos 50 anos. o ranking é: 1. ida do homem à lua, 2. Fanta com sabor de Mango Loco e 3. clonagem da ovelha Dolly
e desde já esperarei ansiosamente pra ver qual sabor de Fanta Taman Shud teremos ano que vem. imagina só uma lata de Fanta roxa, com gosto de uva? o Brasil ia literalmente explodir, como se tivesse colocado Mentos nele
Os Novos Radicais é um nome horrível de banda
os clássicos do pop rock dos anos 90
pra mim, os melhores hits dos anos 90 são aqueles que parecem ter existido desde o início dos tempos. músicas que são tão intrínsecas à nossa sociedade que a gente escuta e reconhece elas na hora mesmo sem nem saber onde a ouvimos antes. tipo, eu não faço ideia qual filme ou desenho eu assisti na minha infância que tocou Bitter Sweet Symphony do The Verve, mas quando ela apareceu pela primeira vez numa playlist que eu estava ouvindo no YouTube lá por 2008 e eu escutei aquele violino icônico no início, todas as memórias voltaram para mim. infelizmente a única parte boa dessa música é esse violino aí, mas o que importa é a intenção
eu acho o pop rock dos anos 90 um gênero engraçado porque grande parte das músicas é muito ruim mas também tinha uma sinceridade nelas que é difícil ver na música pop hoje em dia — e isso é irônico considerando que os anos 90 supostamente eram pra ser a década da ironia. você pode achar Two Princes péssima — e ela meio que é — mas ela era exatamente o que os cantores e compositores da banda queriam fazer. isso não dá pra negar. Mr. Jones do Counting Crows é uma merda? claro que é, mas eu sinto alguma coisa ouvindo. ninguém sente nada com uma música do Imagine Dragons
e por isso eu gosto tanto de New Radicals – You Get What You Give. música sincera da porra
apesar de Os Novos Radicais ser o pior nome possível para uma banda, eu acredito em absolutamente tudo que o Gregg Alexander canta nessa música. you’ve got the music in you? putz, tenho mesmo. eu tenho a música em mim. you've got a reason to live? nossa, sim. não vou mais me matar. é uma música catártica, rebelde, com um refrão enorme e é outra que eu não faço ideia onde eu escutei pela primeira vez — provavelmente foi em algum American Pie da vida. ela tem cheiro, gosto e cor de infância, de um verão na praia, de edição das 18h do Disk MTV, de anos 90. uma década que eu vivi muito mais conceitualmente do que fisicamente — eu nasci em 96
beije-me, porra. sob o crepúsculo enevoado. caralho. Kiss Me, do Sixpence None The Richer, é uma daquelas canções que quando você para pra analisar é simplesmente a melhor música do mundo. essa é uma música tão boa que até os adolescentes de hoje em dia gostam dela, e eu pensei que eles só escutavam Rap do Coringa
se You Get What You Give é pra ser tocada no verão, isso aqui praticamente inventou o conceito de primavera — antes dela ser lançada, só existia um buraco entre o inverno e o verão. talvez estranhamente, eu sempre associo muito essa música com Smashing Pumpkins, mesmo sabendo que não tem um careca no clipe cantando — mas sei lá, sinto que o Billy Corgan teria feito essa música se nunca tivesse visto um pedal de distorção na vida, sabe? faria sentido. essa é uma música muito trilha sonora de anime dos anos 90 — mas não trilha sonora de anime dos anos 80, essa vibe é totalmente diferente
e se for pra fazer associações quase indecifráveis, gostaria de dizer que Torn é a música mais trilha sonora de novela das 19h da Globo que eu conheço. pode até não ter sido em nenhum momento, mas eu sinto dentro de mim que essa música algum dia tocou no intervalo entre o RBS Notícias e o Jornal Nacional
uma constante com todos esses hits do pop rock noventista é que eles tinham refrãos gigantescos, que não são necessariamente um negócio U2 arena rock mas que te fazem querer os gritar a plenos pulmões. Torn é assim. "i'm all out of faith, this is how i feel” sim, é assim que eu me sinto! “i'm cold and i am shamed” SIM!!!! “lying naked on the floor” hm ok talvez eu não esteja tão mal assim
não sei se ser one-hit wonder chega a ajudar pra um artista ter um hit pop rock anos 90 perfeito, mas é uma coincidência meio curiosa que quase todas as melhores músicas dessa década foram feitas por gente que sumiu imediatamente depois de lançar sua obra-prima. já ouviu falar da Natalie Imbruglia depois de Torn? claro que não. algo sobre a descartabilidade do artista no meio pop, blá blá blá
e agora, mais dez hits do pop rock dos anos 90 que eu tenho sentimentos fortes a respeito
The Cranberries - Dreams. uma música inacreditável, poderosíssima, e daria pra adicionar Linger nessa lista também
The Wallflowers - One Headlight. filho do Bob Dylan escreve um refrão melhor que todos que o pai já fez
Meredith Brooks - Bitch. meio vergonhosa? claro que sim. mas as melhores músicas dessa época tem ao menos um pouco de cringe dentro delas
Mazzy Star – Fade Into You. dream pop mainstream
Blind Melon – No Rain. eu odiava esse estilo de pop psicodélico meio-XTC até literalmente ano passado. agora amo tudo e não há ódio em meu coração
Wheatus – Teenage Dirtbag. meio que aprendi a gostar. não é tão boa quanto qualquer coisa do Weezer dos anos 90, mas me dá vergonha. isso é bom.
Barenaked Ladies – One Week. os mestres da métrica
Goo Goo Dolls – Iris. o nível máximo de pós-grunge que um ser humano normal consegue aguentar — se passa disso, entramos em território quasi-Creed
Harvey Danger – Flagpole Sitta. power pop nerd e para nerds
Len – Steal my Sunshine. não é pop rock, mas é perfeita.
4 Non Blondes – What's Up. na verdade eu odeio essa música mais que tudo e coloquei ela aqui só pra poder xingá-la um pouco. puta merda, que música ruim
arte arte arte arte arte
a 13ª Bienal de Artes do Mercosul, em Porto Alegre
nesse último ano, eu finalmente descobri que gosto de arte. e sim, essa é a frase mais genérica que alguém poderia escrever, mas eu comecei a me interessar muito por arte conceitual, instalações, video art e aquelas coisas lá que o John Cage fazia — não sei como se chama. o Marcel Duchamp é foda, o Andy Warhol também é foda e eu continuo odiando NFTs e tudo que eles representam, mas hoje em dia eu entendo porque tem gente no mundo da arte que se interessa tanto assim pelo conceito deles. se você tirar todas as coisas ruins atreladas aos NFTs, eles são uma ideia bem legal mesmo. dá pra dizer a mesma coisa de assassinato
então, quando vi que os cursos de Artes Visuais e Teatro da Unesc estavam planejando uma viagem pra Bienal de Artes do Mercosul em Porto Alegre eu falei pô. quero ir. já que a Bruna cursa Teatro e eu faço uma disciplina isolada de Artes Visuais — Estética, porque eu só gosto da parte teórica de artes — cruzamos a fronteira e fomos pra POA. eu estava com medo do meu cartão não passar no Rio Grande do Sul porque não é internacional, mas acabou que deu tudo certo. nem pediram meu passaporte na entrada do país
eu até queria falar de tudo que vimos na Bienal, mas foram umas trezentas obras de arte diferentes e o limite de caracteres da newsletter ia ser dizimado se eu fizesse isso. portanto, seguem as obras de arte que mais me impactaram durante o final de semana dos dias 15 e 16 de outubro de 2022. a Bienal rola até o dia 20 de novembro, então ainda dá tempo de ir dar uma olhada se você mora na região!
Biocenosis
Sigismond de Vajay & Kevin Lesquenner + LAPSO
você sabe que uma obra vai ser boa quando, antes de entrar, se depara com um aviso que diz A obra contém glicerina líquida. Favor não tocar. eu sempre quis tocar em glicerina líquida, mas decidi respeitar o trabalho e obedeci ao aviso. essa era uma instalação que tomava uma sala inteira no Cais do Porto e consistia em uma maquete toda iluminada de uma cidade — só que boa parte dela está inundada. preservação do meio ambiente, aquecimento global, essas coisas. essa aqui me pegou pela beleza mesmo, é um negócio enorme que me lembra cenários de filmes de aventura dos anos 90. se me dissessem que essa é a cidade do filme de 1993 do Mario, eu acreditaria
textos nos banheiros dos espaços de exposição
Karola Braga
essas são obras que quase não percebemos que existiam. dentro dos banheiros do MARGS e da Casa de Cultura Mário Quintana haviam pequenas histórias ao lado das saboneteiras, que tinham sabonetes líquidos com uns aromas meio exóticos/diferentes/não-convencionais — esse de baixo, por exemplo, tinha cheiro de laranja — e uma história fofinha. algumas falavam sobre encontros românticos, outras eram só histórias do cotidiano, todas eram interessantes. não fui no banheiro de todos os espaços então talvez tenha perdido algum texto, mas os que nós vimos foram super legais e também tipo eles estavam no BANHEIRO nunca tem obra de arte em banheiro isso é muito legal
Pulse Topology
Rafael Lozano-Hemmer
3000 lâmpadas de LED no hall central do Santander Cultural com um sensor quase escondido no meio delas que, quando você aproxima o pulso, sente seus batimentos cardíacos e todas as luzes do lugar ficam sincronizadas com você. ótima pra quem quer ter um mini-crise de identidade ao perceber que não é mais humano e sim uma obra
quadros do pintor Rodrigo Andrade
não sei nada sobre pintura, não consigo desenhar nada além de bonecos e palitos, mas as obras desse cara que eu nunca tinha ouvido falar me impactaram demais. elas estão na Fundação Iberê Camargo, o último lugar que visitamos na viagem, e… droga, eu não sei explicar elas. mas são lindas e usam uma técnica que eu nunca tinha visto, são quase 3D, parece que o artista jogou trinta baldes de tinta na tela e foi moldando ela, coisa de louco. pintura-escultura. teve gente chorando com esses quadros
e agora, uma análise da cidade de Porto Alegre: vários lugares lindos e também alguns dos mais deprimentes que já vi, uma quantidade enorme de bares hétero de rock, não consegui ir no Brechó do Futebol, a Redenção é linda e os Zaffari são iguais ao Giassi da Centenário em Criciúma
considerações finais
caso você não esteja acompanhando o noticiário, ocorrerá neste final de semana o segundo turno das eleições presidenciais no Brasil. terei a oportunidade inédita de, num segundo turno, votar 13 pra presidente e governador, algo que provavelmente nunca se repetirá em Santa Catarina
e falando em música, acordes e instrumentos: a nova música da Emerald Hill, meu pai. Cidades em Chamas é o último single antes do lançamento nesta sexta-feira (28/10) do ótimo álbum Cidades em Chamas, que eu já escutei pois a banda me enviou o álbum antes da hora — sim, me respeitem pois eu tenho conexões. esse é o meu single favorito do álbum empatado com Feliz Aniversário, outra música foda
o que me mais me deixou puta com a coleção de esmaltes Nosso Metaverso da Risqué é que as cores são muito bonitas. eu não quero ter que comprar um esmalte chamado Hitou na NFT
obcecada com esse conceito que descobri de scannear em 3D brinquedos antigos. é super legal no sentido de preservação e também de reprodutibilidade, porque dá pra você imprimir eles numa impressora 3D e aí você tem uma versão nova de um bonequinho japonês do Bomber Kid do Super Bomberman 3
lendo os comentários, descobri que o cara que faz isso usa uma scanner que custa 6 mil dólares e foi criada para uso em hospitais. acho a coisa mais incrível que tem gente no mundo que dedica tanto tempo e dinheiro pra projetos de uso coletivo
três anos depois do lançamento, finalmente escutei Caroline Polachek – Pang e estou obcecada com ele. eu já adorava So Hot You’re Hurting My Feelings mas por algum motivo deixei pra ouvir ele só em outubro de 2022 — talvez porque eu pretendia ficar triste de perder o show dela no Primavera Sound. basicamente esse é um dos melhores discos pop dos últimos dez anos e essa mulher é maluca. quem diria que a doida do Chairlift realmente era doida?
esse gol perdido vai me assombrar pro resto da vida
eu destruirei vocês #51: ninguém sente nada com uma música do Imagine Dragons
a gente viveu os anos 90 porque no brasil ele chegou um pouco atrasado mesmo
thorn estava na trilha sonora internacional de corpo dourado, novela das 19 da globo em 1998.
e sim, o pop rock de gente branca com cabelo bagunçado está para os anos 90 como o tema romântico com um solinho safado de saxofone está para os anos 80. você ouve 3 segundos da música e é sugado para uma época, quer tenha vivido ela ou não.