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eu destruirei vocês #53: alerta de cachorro doido
todos os filmes da história, Daniel Alves, pumas, alienígena terceirizado e FESTA
de acordo com um dos portais brasileiros sobre cinema mais respeitados da internet, o blog Kléber Filmes, desde o início dos tempos já foram produzidos exatamente 946516546516984561325135 obras audiovisuais dos mais diferentes tipos. eu sempre parto do pressuposto de que, no fundo, todas as obras de arte do mundo tem o mesmo valor: não existe diferença entre as películas hollywoodianas mais megalomaníacas, como As Crônicas de Spiderwick, e aquele vídeo de um minuto e dezessete segundos que seu celular começou a gravar sem querer no seu bolso
por isso, a partir de hoje, inicio um projeto ambicioso que levará anos para ser terminado: eu vou analisar todos os filmes de todos os tempos. não só filmes, na verdade, mas também qualquer vídeo de qualquer espécie — pelo que eu estou vendo, tem um site chamado YouTube que tem um monte desses aí. a cada semana falarei por aqui sobre uma dessas obras na ordem em que foram lançadas, e começo hoje com aquele que é o filme mais antigo do mundo: Roundhay Garden Scene, lançado em 1888
porra, a sétima arte começou bem pra caralho. segundo o Kléber Filmes, esse filme foi dirigido pelo inventor francês Louis Le Prince e mostra que pouquíssima coisa mudou no mundo nesses 134 anos. até hoje em dia pessoas caminham, olham para trás e dançam — inclusive, acredito que Roundhay Garden Scene poderia facilmente ser considerado o primeiro TikTok de dancinha da história. qual a diferença disso para um “desenrola, bate, joga de ladinho”? nenhuma.
e as atuações nesse filme são facilmente as melhores já vistas em um filme até então. quase todo mundo está dando o seu melhor, menos a mulher com vestido branco no meio do enquadramento, que parece ter só desistido de fazer o que o diretor havia mandado. ela olhou pra câmera rolando, ficou com vergonha e tentou fugir dessa situação — algo que todos nós já fizemos em algum ponto da vida
mas o resto do pessoal tá dando a vida por essa obra. o homem na frente é um que tá se achando demais, por exemplo. usando os ensinamentos dos Peaky Blinders, esse homem alfa caminha toda a extensão do quadro querendo se mostrar, querendo aparecer, querendo ser a estrela desse projeto — ele quer um camarim próprio e ele vai ter isso. calçar as sandálias da humildade esse cidadão nunca vai
o outro homem no vídeo, com um casacão longo e branco, também descobriu naquele momento que o destino dele na vida era ser ator. ele caminha por trás de uma idosa como se fosse um gângster dos anos 1930 — nesse sentido, ele foi um visionário. é uma das melhores caminhadas que eu já vi alguém dar numa obra cinematográfica, e eu já vi muita gente caminhando então eu tenho propriedade pra falar disso
já a idosa de vestido preto é a mais misteriosa dessa obra. eu não consigo entender o que ela tá fazendo aí, pra mim parece que ela só tá andando pra trás ou então tentando se equilibrar e não conseguindo. talvez ela sabia de alguma coisa que nenhum de nós tinha conhecimento e estava querendo fugir daquilo. ela conseguia prever para onde as obras audiovisuais levariam a humanidade: fake news no zap, discórdias entre os povos, Shrek Para Sempre. ela estava certa de querer se distanciar daquilo
em suma, Roundhay Garden Scene é melhor do que Velozes & Furiosos 6, tão bom quanto Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw, mas é pior que Velozes e Furiosos 5: Operação Rio
semana que vem, neste seção: o filme do trem puta merda ele tá vindo pra cima de mim ele vai me atropelar SOCORRO
Daniel Alves, Pumas.
a convocação da Seleção Brasileira
em mais uma decisão polêmica e que já vem sendo chamada de clubista por torcedores brasileiros, o treinador Tite convocou os 26 jogadores que vestirão a camisa do Brasil na Copa do Mundo deste ano — não por serem bolsonaristas, mas porque vão jogar futebol mesmo. quer dizer, a grande maioria deles deve ser bolsonarista, mas eu não vou deixar um ou outro fascista estragar a minha diversão. o Neymar tá lá? bom pra ele. tomara que faça gols
às 13h da segunda-feira, deu para escutar perfeitamente o som do Brasil inteiro entrando em curto-circuito assim que a lista de laterais convocados começou a ser anunciada. é só o que todo mundo anda falando: Tite calmamente lendo as palavras Daniel Alves, Pumas. não bastasse convocar um lateral de 39 anos de idade que não joga há dois meses, ele ainda chamou várias onças-pardas junto, como se não soubesse que só humanos podem jogar em partidas oficiais de competições da FIFA
só que pra mim, a convocação do Daniel Alves foi só uma cortina de fumaça para distrair o povo de um problema muito maior: a não convocação do atacante Germán Cano, artilheiro isolado do Campeonato Brasileiro e constantemente ignorado em todas as listas do Tite. talvez alguém fale “como assim, ele nem é brasileiro, o cara é alemão. nome dele é German.” mas isso nunca impediu ninguém de jogar pelo escrete canarinho. desde quando Antony e Fred é nome de jogador brasileiro?
mas a verdade é que, na minha opinião, o Brasil precisaria de várias mudanças se quiser alguma coisa nessa Copa do Mundo. primeiramente, teríamos que ter um goleiro mais experiente, talvez um nome como… o Júlio César, ex-Internazionale. na lateral, o Marcelo anda jogando bem na Grécia e o Maicon tá indo bem em San Marino também — ambos tem muita história na Seleção e agregariam bastante ao elenco
David Luiz foi campeão da Libertadores esses dias, e o Dante conhece muito bem os alemães, possíveis adversários nossos no mata-mata. Fernandinho foi vice-campeão da Libertadores também, Luiz Gustavo acaba de chegar no terceiro lugar do campeonato da Arábia Saudita e o Oscar é o melhor jogador do campeonato chinês
o Fred se aposentou recentemente, então ainda teria um bom gás pra queimar, o Hulk foi o melhor jogador do Brasileirão ano passado e o Bernard, se você perceber bem, tem muita alegria nas pernas e encaixaria como uma luva nessa equipe. uma seleção dessas chegaria, pelo menos, nas semifinais dessa Copa do Mundo
um game, dois game, três game
os jogos Frogun, Part Time UFO e Grapple Dog
nos últimos anos, eu venho sendo gamer muito mais conceitualmente do que qualquer coisa. adoro ler sobre jogos, assistir gameplays, participar de acaloradas discussões sobre qual personagem do Mario é mais gostoso, mas jogar mesmo? blergh. não tenho tempo. e quando eventualmente tenho tempo, prefiro fazer coisas chatas de gente adulta como estar ao lado de minha família e amigos
mas isso não significa que eu parei completamente de apertar todos os botões de todos os controles: de vez em quando, algum jogo ultra-casual ainda consegue prender a minha atenção por mais de cinco minutos. é o caso desses três jogos, que são praticamente só o que eu joguei nos últimos meses — e também só o que eu precisei jogar
esta seção foi inspirada pela newsletter Seu Próximo Jogo, de Gabriel Toschi, que toda semana fala de games que não são mega conhecidos pelo grande público. selo eu destruirei vocês de aprovação
Frogun
tem um frog? tem. ele é uma gun? é. pronto: frogun. o único jogo da história a contar com um sapo que é um arma, Frogun é mais um daqueles games inspirados pela estética de PS1 que não param de sair ultimamente — e quase todos, infelizmente, de terror, o gênero mais burro de videogames. pra que que eu vou querer sentir medo enquanto aprecio um game? eu só quero me divertir com uma Sapoarma
por isso Frogun é tão legal: ele realmente parece um jogo que teria saído logo depois do lançamento do PS1, com tank controls e tudo. é um game que foi transportado diretamente de uma prateleira da Gamestop em 1995 para a loja digital de sua preferência. não é um jogo ágil, a câmera em vários momentos parece estar ativamente jogando contra você, a personagem se move com uma lentidão extraordinária… e tudo isso só contribui pra ele ser melhor ainda
é um game de plataforma 3D que me lembra de tempos mais simples, quando tudo que um jogo precisava era de um sapo e uma arma
Part Time UFO
a terceirização no Brasil anda tão complicada que até mesmo OVNIs precisam trabalhar pra conseguir sobreviver. Part Time UFO é um jogo que pode ser melhor descrito como simulador de máquina de pelúcias: você é uma navezinha alienígenazinha fofinha que precisa usar sua garra para completar diversas missões na terra — tipo colocar caixas de laranjas em uma camioneta, empilhar o maior número possível de cheerleaders uma em cima da outra ou reconstruir o Parthenon peça por peça
o que fez eu me apaixonar de verdade por Part Time UFO foi o humor dele. é um jogo besta e que não tem vergonha de admitir isso, seja nas missões malucas que ele propõe, seja nas diversas roupinhas que o jogo permite você colocar no seu OVNI — uma delas é só um cachorro que fica se segurando no seu personagem e voa pela fase com ele. isso é ótimo, cachorro é ótimo
esse é um jogo perfeito pra quem, como eu, é viciado nessas máquinas de agarrar — com o adendo de que agora, você pode jogar elas um trilhão de vezes sem precisar gastar 58 reais pra conseguir um tucano de pelúcia
Grapple Dog
seguindo a linha de pensamento que nos trouxe títulos como Frogun, Grapple Dog é um jogo sobre um cão (dog) que possui um gancho (grapple). esse é um game de plataforma 2D que eu recomendo por ter um dos gameplays mais satisfatórios de todos os tempos — fazer o seu cachorro se jogar de um lado pro outro pelas fases com o gancho é um negócio de maluco. nunca vi um cachorro mais doido do que esse
só que ao mesmo tempo em que o gameplay é perfeito, um detalhe praticamente estraga o jogo na minha percepção: durante as fases, você tem a opção de coletar diamantes que ficam escondidos nos lugares mais inóspitos. procurar eles é um saco, achar eles é um saco… e eles são obrigatórios caso você queira chegar no chefe de cada mundo. eu odeio quando um game faz isso porque eu sempre sinto que foi uma decisão pensada só para deixar o jogo artificialmente mais longo
eu nunca falei isso sobre nenhum game na minha vida, mas sinto que Grapple Dog teria sido muito melhor se fosse um metroidvania. jogue Grappe Dog, mas talvez pare antes do primeiro chefe? essa é a minha dica de hoje
⚠️ ALERTA PARA OS HABITANTES DE CRICIÚMA ⚠️
na segunda-feira, dia 14/11, véspera de feriado, haverá uma especialíssima festa no After, espaço meu e da Bruna no centro de Criciúma, comemorando os seis meses do lugar — e um ano de newsletter! haverá música — sets de DJ com o melhor dos anos 2000 — bebidinhas, decorações especiais, além de curtição, azaração e badalação. mais informações no instagram oficial do After, @espacoafter — nos mande uma DM caso queira ir e nos enviaremos o endereço do local. be there or be square
considerações finais
o carregador chegou.
sexta-feira saiu o novo disco do cantor e ex-youtuber sem graça Joji, Smithereens. eu sempre tive uma má vontade extrema com esse cidadão mas, depois do lançamento de Glimpses of Us, eu comecei a dar mais chances pra ele. essa é uma música maravilhosa e isso nem o TikTok pode tirar dela. é tão boa que o Roberto Carlos teria cantado ela em 1971 se uma demo aparecesse na caixa de entrada do Gmail dele
mas Smithereens é uma das experiências musicais mais pau-mole desse século. como os jovens dizem, esse negócio é intankável. fazia tempo que eu não via um álbum tão obviamente feito às pressas só porque uma música bombou do nada — é evidente que o sr. Joji tinha uma ou duas músicas prontas pro disco e o resto ele inventou nas últimas três semanas
que isso sirva de lição: nunca confie num artista pop
estou pensando seriamente em jogar o novíssimo e provavelmente decepcionante Sonic Frontiers. peço que alguém tire essa ideia da minha cabeça
minha mesa do trabalho agora está oficialmente em clima de Copa: tem um mini Denílson nela
gente, o Primavera Sound estava incrível! (não fui)
eu destruirei vocês #53: alerta de cachorro doido
Obrigado Isabela Thomé por mais uma edição clássica do "eu destruirei vocês"!
Eu sou morador de Criciuma e gostaria de saber se você teria a indicação de um cabelereiro que não seja bolsonarista, acredito que seja uma prerrogativa para a função.