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eu destruirei vocês #59: considerações natalinas
a dona Natalina Kowalczyk, a estrelinha mágica da Mônica, o inverno do Weezer e #tbt
⚠️ AVISO: leia esta seção na voz de um jornalista de telejornal do meio-dia de afiliada da Globo ⚠️
As decorações e presentes típicos da época de Natal encantam jovens e adultos todo mês de dezembro, mas para uma simpática senhora do bairro Linha Batista, em Criciúma, o Natal não acontece só uma vez por ano. É a dona Natalina Kowalczyk, de 89 anos, claro, nascida no dia 25 de dezembro.
“Eu comemoro o Natal desde que eu me entendo por gente”, explica a idosa, proprietária de uma sapataria/agropecuária nos arredores do bairro. “Mas hoje em dia, acho um feriado meio merda. Quando a gente chega nessa idade, não quer mais ficar vendo parente”, afirma. “Eu gosto mesmo é da Proclamação de República”.
Apesar de não ser tão fã assim desta data comemorativa, dona Natalina ainda encontra tempo para decorar sua casa com o espírito… natalino. Em cima da sua mesa de cabeceira, um simpático boneco do bom velhinho, o Papai Noel, alegra e enche de vida o seu quarto. “Na verdade é o espírito do meu marido que vive dentro do boneco”, explica. com um olhar distante, a empresária. “Ele morreu na noite de Natal em 2008 e acabamos usando uma técnica avançada de criogenia para colocar a alma dele dentro do boneco. Não mexe nele.”, completa.
Mas os nomes natalinos não ficaram restritos apenas à dona Natalina. A idosa teve ao longo da vida sete filhos, todos com nomes relacionados à data mais mágica do ano:
Ceia Kowalczyk
Pinheiro Kowalczyk
Globo de Neve Kowalczyk
25 de Dezembro Kowalczyk
Natal Luz de Gramado Kowalczyk
Simone – Então é Natal Kowalczyk
Liquidação de Final de Ano das Americanas Kowalczyk
“Apesar de não ser tão fã do Natal, gosto que todos os aspectos da minha brand tenham uma sinergia entre si, e isso se estende aos nomes dos meus filhos”, afirma Natalina.
Mas afinal, para a dona Natalina, qual o verdadeiro significado dessa data tão especial? “Não sei”, conclui. E, de certo modo, não é esse o verdadeiro espírito do Natal?
uma estrela de Belém, tal qual Joelma
o especial Turma da Mônica e a Estrelinha Mágica
Turma da Mônica é um negócio que eu eu associo muito com o Natal — e não é nem por causa dos incessantes especiais dessa data que eles teimam em fazer praticamente todo ano. é que essa turminha muito louca foi parte crucial do presente de Natal mais incrível que eu já ganhei em toda a minha vida: quando eu tinha seis anos de idade, em 2002, meus pais foram em um sebo de Criciúma e compraram todos os gibis da Turma da Mônica que lá estavam. portanto, nos anos subsequentes, eu sempre tinha alguma coisa pra ler quando ia ao banheiro
arrisco dizer, inclusive, que não existiria o Natal sem a Turma da Mônica — eles com certeza são mais importantes pra data do que, sei lá, os três reis magos. pra ter uma noção, o primeiro desenho animado deles foi exatamente um especial dessa data, um curta de cinco minutos exibido pela Globo em 1976 intitulado O Natal da Turma da Mônica — nunca avisaram que um nome precisa ser criativo. esse curta é tão antigo que, na época, a Magali ainda nem fazia parte da turminha, tanto que o quarto integrante nesse curta é o Anjinho, um personagem sem profundidade nenhuma e que só faz o bem. impossível fazer uma narrativa boa com um sujeito tão unidimensional
mas um dos meus desenhos favoritos da Turma da Mônica era, sem dúvida, A Estrelinha Mágica — e isso talvez seja uma blasfêmia no período de Natal, mas reassistindo ele, não consigo nem entender porque gostava tanto assim. pra quem nunca assistiu esse curta, a história é a seguinte: uma estrela cai do céu diretamente no Bairro do Limoeiro e, acuada após quase ser detida pelo exército, se esconde na casa da Mônica para se proteger — até aqui, é o mesmo enredo de Earthbound. a dentuça então encontra a estrela embaixo de sua cama e descobre que ela na verdade é a Estrela de Belém — ou seja, ela veio do Pará. juntamente com a banda Calypso e Paulo Henrique Ganso
Mônica pega a estrela — com as mãos mesmo, incrivelmente a criança não foi obliterada imediatamente após tocar nesse objeto celestial — e vai pedir ajuda do Cebolinha pra levar ela de volta ao céu. e aí acontecem magias de Natal na catedral do Limoeiro e o filme eventualmente acaba com todos felizes
agora eu só queria entender: por que eu gostava tanto desse especial quando era criança? sem a intenção de blasfemar contra uma instituição tão importante quanto a Turma da Mônica… ele é muito sem sal. pensando agora, talvez seja porque eu adorava histórias que tinham igrejas na minha infância — O Corcunda de Notre Dame era o suprassumo do cinema pra mim quando eu tinha quatro anos de idade mas hoje em dia… porra, é O Corcunda de Notre Dame. eu literalmente prefiro Formiguinhaz a esse filme
mas o filme ser um porre não impediu A Estrelinha Mágica de se tornar um sucesso gigantesco de público. exibido na Globo em 24 de dezembro de 1987, logo antes da Missa do Galo, ele foi um dos VHS mais vendidos da Turma da Mônica — apesar da real estrela dessa fita, pra mim, ser o clássico noir estrelando Cebolinha O detetive
a Tec Toy chegou até a fazer um boneco da Estrelinha que, aparentemente, possuía sensores eletrônicos. muito foda a tecnologia
e isso não tem muito a ver com Natal mas o meu desenho da Turma da Mônica favorito quando eu era criança, o top 1, era Mingau com chuva. o icônico filme de terror O Abilolado
Weezer inventa o inverno
o EP Weezer — SZNZ: Winter
convenhamos, não existe nada mais natalino no mundo do que a banda norte-americana Weezer. pensou Natal, pensou Weezer, e é por isso que o grupo escolheu o dia 21 de dezembro para lançar o quarto e último EP na série SZNZ, em que cada disco remete à uma estação do ano. você achava que o ano era quente demais? não se preocupe: o Weezer acaba de inventar o inverno. SZNZ: Winter está entre nós
o que eu vou falar agora é uma frase dita em todo lançamento de álbum do Weezer desde o ano 2000, mas dessa vez eu sinto que é verdade: esse disco me lembra Pinkerton. esse é o mais próximo do emo que o Weezer chegou nos últimos 20 anos, e em vários momentos eu lembrei de My Chemical Romance enquanto escutava as novas canções — The Deep and Dreamless Sleep é ótima e, com uma produção um pouquinho diferente, seria um dos destaques de The Black Parade
Iambic Pentameter, a segunda faixa do álbum, é uma música que é notável por ter um nome engraçado, claro, mas ela também é uma canção de Natal — quer dizer, não é, mas eu decidi que os acordes dela me lembram o Natal então vai ficar assim mesmo. música maravilhosa, inclusive, são várias sessões diferentes, um negócio muito modular, bem Brian Wilson, coisa de louco
voltando pra temática emo, Basketball pra mim é extremamente Pinkerton — essas canções lentas com uma guitarra pesada. e lendo sobre a música no fascinante site Weezerpedia, descobri que os versos dela realmente foram escritos em 1995. faz sentido, se você parar pra pensar. Sheraton Commander também é emo, mas um daqueles interludes calmos e acústicos que todo disco de emo tinha no final dos anos 90
Dark Enough to See the Stars também é uma música de Natal — decidi que é, então é. letras sobre chaminés e compasso de valsa? claramente Natal. essa é melhor canção do disco, inclusive — um refrão perfeito que eu já estava cantarolando na segunda vez que escutei. eu adoraria cantar essa música num show com um monte de gente podre de bêbada ao meu lado, logo depois de I Want a Dog. top 5 melhores músicas no catálogo do Weezer sobre querer um cachorro
e finalmente, depois de nove meses de EPs trimestrais de Weezer, a série SZNZ chega ao seu fim. valeu a pena? eu diria que sim. entre os quatro EPs, eu adorei dois deles (Winter e Autumn), gostei bastante de um (Spring) e achei outro meio chato (Summer)
mas acho que a maior lição que aprendemos com esses lançamentos é que realmente, o problema dos últimos discos do Weezer era que os caras trabalhavam por tanto tempo no mesmo álbum que ele se desfigurava e perdia a essência original — Make Believe, Red Album, Black Album e mais um monte de discos da banda seriam muito melhores se só as demos fossem lançadas. dessa vez eles só tinham uns dois meses pra escrever cada álbum e o resultado foi melhor do que todos os lançamentos dos anos 2000 da banda
só que, no final, o mais chocante da série SZNZ foi o fato de que o Rivers Cuomo conseguiu terminar o projeto. vendo o histórico dele, eu tinha certeza ele ia abandonar tudo pela metade e começar a escrever um álbum inspirado pela Peppa Pig ou algo do tipo
e caso alguém acuse essa seção de não ser natalina o bastante: fica com isso aqui. quer mais Natal do que isso?
considerações natalinas
Natal chegando e todo mundo, sem exceção, já está sentindo o gosto do peru na boca. espero que todos que o comemoram tenham um ótimo Natal e, caso não comemorem, comam alguma coisa boa no dia 24 também! faz um pudim gostoso aí na sua casa
e caso queiram mais conteúdos natalinos, não deixe de relembrar a edição especial do Natal de 2021, onde eu falei sobre músicas de Natal, personagens de Natal e… games de Natal? não existe game de Natal, mas tudo bem
eu destruirei vocês #59: considerações natalinas
momento nerd da literatura e do teatro: iambic pentameter é pentâmetro iâmbico, um tipo de métrica usado na poesia, drama e também na dramaturgia, especialmente pelo mais famoso dramaturgo de todos, Shakespeare. mais um motivo pra ser difícil traduzir as obras dele rs. daí a música do Weezer ter esse nome, não sei, mas é 100% aulas de literatura inglesa o título
Nossa eu também gostava demais de "Mingau com Chuva", adorei reassistir.