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eu destruirei vocês #64: tudo sobre a história das cisternas
madrugadas da Rede Globo, um desabafo sobre as farmácias de Criciúma e o jogo de repolho do Miyamoto
por muito tempo da minha vida, eu fui uma pessoa noturna — não no sentido de ser gótica e escutar The Cure, mas no quesito sono mesmo. durante as minhas férias da escola, por exemplo, era comum o meu sono ficar tão desregulado que lá pelo início do mês de janeiro eu estava indo dormir 7h da manhã e acordando 16h da tarde — uma verdadeira inversão de valores que deixava a família brasileira em polvorosa. quer dizer, só a minha família mesmo. que, ironicamente, se você for ver, é brasileira
era uma época em que eu ficava a madrugada inteira no computador fazendo basicamente o que eu faço hoje: lendo todos os artigos da Wikipédia, conversando com amigos no Twitter — a diferença maior é que eu também jogava muito Football Manager, e hoje em dia eu tenho um ódio mortal com esse game por eu ter desperdiçado ao menos 2000 horas da minha vida o jogando ao longo dos meus dias na Terra. mas em uma época em que não existiam youtubers direito, qual era o meu som ambiente para essas noites de fazeção de nada no computador? ora bolas, é óbvio. Tecendo o Saber.
a programação da Globo de madrugada era mais diversificada do que em qualquer outro horário do dia. ao invés de só novelas ou programas de variedade, a madrugada tinha tudo: talk show, sessão de filmes, educativos, desenhos e até sitcom — na forma de Tecendo o Saber. quando há alguns anos o termo comfort television começou a ser usado pra descrever séries que dão um quentinho no coração e te acalentam, eu só conseguia pensar que essa série da Globo é o maior exemplo possível disso pra mim
estrelando Bemvindo Sequeira, Antônio Fragoso, Roberta Rodrigues e grande elenco, Tecendo o Saber seguia a vida de várias pessoas de um bairro humilde em uma cidade não-especificada que aprendiam lições valiosas não só sobre a vida, mas também sobre matemática, biologia, língua portuguesa e muito mais. todos os problemas, todas as situações dos personagens eram solucionados usando o poder do conhecimento
em um dos episódios, por exemplo, o bairro inteiro fica sem água e o único lugar que ainda tem é a mercearia do Bemvindo Sequeira, porque ele tem uma cisterna. então, nos próximos três minutos, o público aprende tudo sobre a história das cisternas. é a informação sendo passada adiante de um modo lúdico. eu quero saber quem inventou as cisternas porque eu gosto desses personagens
Tecendo o Saber era exibido junto com um dos maiores sucessos do edutenimento da Rede Globo de Televisão, o igualmente icônico Telecurso 2000. eu não lembro qual passava antes, mas eles eram colados um no outro para o telespectador receber uma enxurrada de aprendizado logo no começo do seu dia — é o horário perfeito para aprender sobre mecatrônica e segurança no trabalho. eu não diria que eu aprendi muito assistindo o Telecurso 2000, mas eu adorava assistir especialmente as lições de inglês com o grande professor Tom — que eu acabei de descobrir que na verdade não era americano e era só um ator brasileiro fazendo um sotaque falso muito bom
eu achava legal também assistir os Telecursos de uns negócios que eu não tinha nenhum conhecimento ou interesse sobre — tipo, sei lá, usinagem eletroquímica. eles eram interessantes porque tudo era de um nível tão mais avançado do que a minha cabeça de quinze anos de idade sabia que eu não aprendia absolutamente nada com eles, eu só recebia as informações e elas eram imediatamente jogadas pra fora do meu cérebro. “ahã, cloreto férrico. é verdade. vou voltar a jogar Elite Beat Agents no meu DS agora “
também passava Luluzinha esse horário na Globo, mas isso talvez tenha sido só uma alucinação contínua da minha adolescência causada pelo sono
a morte do planejamento urbano
uma desabafo sobre as farmácias de Criciúma
não sei se esse é exatamente um fenômeno exclusivo de Criciúma, mas eu gostaria de expressar aqui todo o meu ódio & ojeriza à todas as redes de farmácias que vêm se instalando e ocupando toda a área central da cidade. tudo bem, eu entendo que nossa população está cada vez mais velha e que a Covid-19 deixou todo mundo fudido, mas não existe uma justificativa pro que anda acontecendo nessa cidade. nós estamos virando reféns das redes de farmácias
e isso não é nem um exagero: a quantidade de farmácias novas que abriram no centro de Criciúma nos últimos meses é um negócio absurdo. que eu lembre de cabeça, foram ao menos seis — e todas muito perto ou de farmácias que já existiam, ou de farmácias que estão sendo construídas. um dos vários exemplos ridículos é a da nova Drogaria Catarinense localizada na rua Joaquim Nabuco. com licença, vou precisar da ajuda do Google Maps pra isso
é isso mesmo: em uma esquina uma farmácia, na outra esquina outra farmácia. essa Drogaria Catarinense foi inaugurada mês passado e fica imediatamente na frente de uma Droga Raia — essa que eu até respeito, por ser uma das únicas duas drogarias 24 horas da cidade e por existir há pelo menos uns dez anos. agora meu respeito com essa Catarinense nova é nulo: ela não tem motivo nenhum para existir, e ainda por cima foi construída no lugar de uma pizzaria — que não era muito boa mas poxa, era uma opção, sabe. no lugar de uma pizza de chocolate branco, agora só existe Lexotan
e algo que me deixa mais furiosa ainda é que nesse ponto onde eu apontei várias setas, está sendo construída mais uma farmácia — também nos escombros de onde antes havia um lugar interessante. lembram do Hambrientto, uma hamburgueria da cidade que eu analisei na edição #30 da newsletter? fechou. era aí o Hambrientto. agora vai abrir uma Farmácia São João no lugar. era uma opção de entretenimento pros jovens da cidade que agora vai virar uma local de peregrinação pra quem quer comprar suplemento vitamínico, e isso me causa uma tristeza enorme
e como eu falei, são vários exemplos disso por todo o Centro da cidade. a Farmácia do Trabalhador, por exemplo, apesar da estética quasi-comunista que eu aprecio muito, não para de construir unidades novas. há alguns meses, o único Chiquinho Sorvetes da cidade fechou e no lugar foi construída o que? uma Farmácia do Trabalhador que fica a menos de cinco minutos de caminhada de outra Farmácia do Trabalhador. no calçadão central da cidade, tem algo que chega a ser caricato: duas Farmácia do Trabalhador praticamente ao lado da outra, separadas apenas por uma loja do Koerich — e a três minutos de caminhada, outra unidade
e enquanto isso, no meu bairro, que fica bem mais longe do Centro, não tem nenhuma farmácia nos arredores de casa. a mais perto fica há uns vinte minutos de caminhada, e ninguém tem tempo pra caminhar vinte minutos hoje em dia. você tem? eu não tenho
considerações finais
eu me pego com uma frequência desesperadora pensando em CatRoots, um jogo de Nintendo 64 anunciado na E3 de 2000 com um trailer que não mostrava nenhum gameplay e consista apenas em um rato atacando um gato com as mais variadas armas. seria o Comichão & Coçadinha da Nintendo, basicamente
esse é um jogo que eu sei da existência desde lá por 2008, quando eu li sobre numa edição da icônica revista NGamer Brasil, e até hoje ele me fascina pelo quão misterioso ele é. quase que a única informação existente sobre Catroots é que ele estava sendo desenvolvido pela Marigul Management, uma joint venture entre a Nintendo e a empresa japonesa Recruit que surgiu porque poucas empresas de fora estavam fazendo jogos pra Nintendo 64. praticamente todos os jogos que essa empresa trabalhou ou financiou foram cancelados, e a coisa de maior calibre que fizeram foi Cubivore: Survival of the Fittest pra GameCube. que seria originalmente pra Nintendo 64, mas também foi cancelado
basicamente eu quero jogar Catroots
e continuando nesse assunto, Cabbage, hein. um jogo de Nintendo 64 dirigido pelo Shigeru Miyamoto (!), Satoru Iwata (!!!), Tsunekazu Ishihara (!!!!!) e Shigesato Itoi (!!!!!!!!!!!!) que consistiria em cuidar de uma criatura chamada Cabbage. o jogo ficou em desenvolvimento por cinco anos, o Miyamoto falava dele o tempo todo em entrevistas no final da década de 1990 e… nunca nem sequer foi mostrado em público. não existem fotos, vídeos, nada desse jogo. é tudo muito misterioso
pensando mais uma vez no quão assustadoras essas imagens do beta de Super Mario 64 encontradas num registro de patente do Nintendo 64 são
soube da existência desses protótipos de Nintendo 64 que nunca foram lançados e agora estou obcecada com esse branco meio transparente. um videogame feito de gelo
outra coisa que eu soube recentemente da existência: Advance Wars 64, um jogo cancelado que tinha a melhor estética de um game na história
só lembrando a todo mundo que Super Mario 64 é um nome temporário e pode mudar a qualquer momento
você sabia que em Rampage 2: Universal Tour, lançado para o Nintendo 64 em 1999, você pode destruir completamente o Rio de Janeiro?
mais sobre a cidade do Rio de Janeiro na próxima edição da 𝒆𝒖 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒊𝒓𝒆𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔
eu destruirei vocês #64: tudo sobre a história das cisternas
Telecurso tinha uma atmosfera muito confortante, tinha uma trilha sensacional do André Abujamra (que eu adoraria escutar isolada!) e um monte de atores do Rá-Tim-Bum - o professor Tom era o pai da família e também aparecia muito o onipresente Théo Werneck (o pinguim de geladeira do Rá-Tim-Bum além de DJ do programa do Luciano Huck na Band)
Eu ainda amo ver TV de forma randomica - o antigo zapear dos maias - porque é muito legal encontrar conhecimentos e trechos aleatórios de tudo, em vez de buscar ativamente pelas coisas ou receber o que o algoritmo acha que vou curtir.