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eu destruirei vocês #73: que filme do Mario?
uma análise de Mario em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, o título catarinense do Criciúma e o trailer do filme da Barbie
depois de ir ao cinema e assistir Super Mario Bros. — O Filme na última quinta-feira, cheguei a uma chocante conclusão que é capaz de abalar as estruturas hollywoodianas e mudar o jeito que a sociedade pensa: é possível que este filme tenha sido feito para crianças. tal afirmação pode fazer com que homens barbudos & nintendistas cuja função social é aparecer triste em thumbnails do YouTube pulem desesperados das janelas de seus apartamentos, mas querendo ou não, o fato é que o já mencionado Mário — O Filme do Mário nada mais é que um jeito de você garantir que seu filho hiperativo não encha o seu saco por uma hora e meia na sala do cinema. e tá tudo bem. tem vezes que um filme só precisa ser isso mesmo
Que Mário? — O Filme marcou a primeira vez que eu fui ao cinema desde o início da pandemia — e eu não demorei tanto tempo assim para voltar às salas devido a algum possível receio de dividir um espaço fechado e com poucas saídas de ar com várias outras pessoas: é que não existiam opções de películas mesmo. isso pode lhes surpreender, mas eu não sou o tipo de mulher que curte assistir um Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania — primeiro por não gostar de filmes da Marvel, segundo por não fazer a mínima ideia do que uma quantumania é
Super Mario Bros. — O Filme é muito mais simples de entender do que isso. são duas partes neste título. a primeira diz de quem é o filme — dos Super Mario Bros. — e a segunda parte te avisa que isso, sim, é um filme. não tem um universo cinemático, não tem uma sequência, não tem um subtítulo — é o filme dos Super Mario Bros. e nada mais que isso. tudo é tão genérico e transparente que no momento em que serviços de inteligência artificial forem avançados o bastante para criarem filmes inteiros a partir de uma simples frase digitada no computador, um usuário poderá forçar a tecnologia a criar este exato filme utilizando a sentença filme super mario bros. criado pelo mesmo estúdio de minions animação 3d mario dublado pelo chris pratt
a história de Super Mario — Uma Aventura Mario não importa. ela não importa para o filme e não importa para os propósitos de qualquer análise sobre o próprio — ninguém vai assistir o filme do Mario por esperar uma narrativa envolvente. Mario tem um irmão, ambos são encanadores, eles entram em um cano errado e caem no Reino dos Cogumelos, onde aventuras acontecem. no final, [SPOILERS] o mal é derrotado. e durante todo o trajeto até o clímax do filme, ocorrem coisas demais
eu não sei se estou pouco acostumada com filmes de animação atuais, mas o ritmo de Mario em Todo Lugar ao Mesmo Tempo é alucinante a ponto de eu achar que a película deveria ter tido ao menos três horas de duração para que tudo acontecesse num ritmo em que as coisas fizessem sentido. essa é a primeira animação feita especificamente para crianças que passam o dia no TikTok vendo vídeos de adolescentes com toalha na cabeça fingindo serem suas próprias mães enquanto uma pessoa não-identificada brinca com slime no canto inferior direito da tela. eu tenho certeza que uma criança de seis anos vai adorar esse filme. uma criança de sete anos eu já tenho minhas dúvidas
Minions 3: Super Mario Bros. é, acima de tudo, uma obras cinematográficas mais calculadas de todos os tempos. tudo nesse filme foi feito para atingir o maior número possível de pessoas e assegurar que ninguém vai sair da sala de cinema tendo odiado o filme — tudo bem terem achado a película apenas ok, mas ninguém podia pensar que o filme é um lixo completo
para as crianças, o universo e as cores que emanam da tela como um efeito do LSD irá hipnotizá-las, e para seus pais, o constante uso de músicas dos anos 80 vai fazer com que eles desliguem o celular por um instante para escutar os quinze segundos de Mr. Blue Sky que tocam enquanto o Mario dirige um kart — que os pais também se lembram, pois jogaram Mario Kart em algum ponto de sua vida. é como se o filme estivesse implorando para que você sorria, nem que seja um pouquinho
tudo em Super Mario e a Peach: Cogumelomania é tão planejado pra te dar um sentimento específico que o filme acaba ficando cínico — eu sou uma das maiores fãs da Nintendo que eu conheço e fiquei irritada nos primeiros dez minutos do filme com a quantidade incessante de referências óbvias a outras propriedades da empresa. uau, uma Arwing de Star Fox em cima da televisão do Mario! um pôster do Glass Joe em uma barbearia que se chama Punch-Out! um fliperama de Donkey Kong no canto da loja! parece que estou assistindo um filme da Marvel!
eles tentaram tanto se distanciar o máximo possível do trauma que foi o filme live-action de 1993 que acabaram criando um monstro na outra direção do espectro das adaptações de games. Super Mario Bros. (1993) é um filme cyberpunk em que Goombas são criaturas humanóides, o Bowser é interpretado pelo Dennis Hopper, o ator que faz o Mario é um bigodudo de verdade e tudo nele é infinitamente mais interessante do que Mario: O Filme de 2023 Em Que O Mario Pula Em Inimigos
para mim, uma versão ideal de um filme do Mario consistiria em uma história sem nenhuma ameaça. em Meu Mario Favorito, o vilão Bowser quer casar com a princesa Peach e por isso, deve ser derrotado — histórias assim já existem aos montes e eu estou cansada delas. todo jogo da franquia já é exatamente assim.
o melhor filme possível do Mario teria apenas o personagem titular, juntamente com seu irmão Luigi, a princesa Peach e um Toad caminhando por uma série de mundos fantásticos enquanto pouquíssimos eventos ocorrem ao seu redor — eu não quero ver inimigos, não quero ver monstros e principalmente não quero ver um castelo cheio de lava aparecendo nos céus. eu só quero que eles caminhem por aí e fiquem conversando entre si, como bons amigos fazem. eu quero que eles olhem para uma paisagem linda no horizonte, com vários Yoshi, e caminhem até lá em tempo real. eu quero que o filme dure quatro horas e que nada aconteça
eu quero o Jeanne Dielman, 23, quai du commerce, 1080 Bruxelles dos filmes do Mario
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tigrão, ê ô
o Catarinense Fort Atacadista 2023, vencido pelo Criciúma Esporte Clube
o último sábado foi certamente um dos dias mais alucinantes que a cidade de Criciúma viveu nos últimos dez anos — empatado apenas com o assalto ao Banco do Brasil em 2020 e aquela vez que colocaram um telão no Parque das Nações pro povo assistir a final do BBB19 na esperança de Alan Possamai ser campeão do programa
ele perdeu a final pra Paula, o Criciúma Esporte Clube foi rebaixado pra Série C do campeonato brasileiro no mesmo ano, em 2020 quase desfaleceu para a Série D, em 2021 caiu pra segunda divisão do catarinense… e no dia 8 de abril de 2023, foi campeão catarinense da primeira divisão pela primeira vez em dez anos. porque esse time, assim como o futebol, os esportes e a vida em geral, não faz sentido nenhum
o Catarinense Fort Atacadista 2023 foi um dos torneios mais nivelados por baixo de toda a história do esporte bretão — Hercílio Luz primeiro colocado geral da primeira fase? Barra, o time de Balneário Camboriú, na semifinal? isso são coisas que só acontecem quando todos os times supostamente grandes do estado estão em fases horríveis ao mesmo tempo. não sei qual está dando mais pena ultimamente: o Figueirense pedindo pros torcedores mandarem pix pro clube, a Chapecoense já se preparando psicologicamente pro rebaixamento para a Série C ou o Joinville desistindo de tudo e indo pra mais um ano sem participar de nenhuma divisão do campeonato brasileiro. é o clube mais fora de série do Brasil
o que sobraram, portanto, foram um Brusque completamente normal, com uma invencibilidade enganosa — foram sete empates só na primeira fase — e um Criciúma que fez uma primeira metade de campeonato péssima mas passou a jogar como um time de verdade com a chegada dos atacantes Fabinho, ex-Athletico, e o idoso Éder, natural do sul catarinense e que fez a carreira na Europa jogando pela Internazionale e seleção italiana, tal qual um colono da região carbonífera de Santa Catarina. basicamente eles são o Romário e Bebeto do Criciúma — o Marquinhos Gabriel, quando puder jogar, vai ser o Zinho
e sábado foi o dia de confirmar que realmente, o Criciúma era o único time desse campeonato — o resto estava mais para um selecionado de jogadores do que uma equipe. depois da vitória por 1-0 no primeiro jogo, a torcida toda passou a semana com medo de um desastre no jogo de volta que deixasse o título com o Brusque — mas olhando agora pra trás, isso nunca ia acontecer. eles tinham Everton Bala no ataque, sabe? a gente tinha um cara que fez gol em Eurocopa
e como a partida era em Brusque, a direção do Criciúma acabou colocando um telão no estádio Heriberto Hülse para que o povo da cidade que não conseguiu ingresso pra partida ou não queria se deslocar para Havancity assistir gratuitamente a partida — o que foi a melhor ideia do mundo.
o telão foi colocado em um lugar péssimo? sim. ninguém conseguia ver a bola a maior parte do tempo? óbvio que sim, tanto que a maioria da torcida só reagia mais intensamente aos lances quando assistiam o replay da jogada e entendiam o que tinha acontecido — e tá tudo bem, porque só a atmosfera de assistir a final no estádio já valeu a pena. eu peguei spoilers do gol do Criciúma porque um cara estava ouvindo o jogo no rádio e gritou GOL alto pra caralho uns oito segundos antes dele acontecer no telão? claro que sim. e é sobre isso
mas o grande ápice da noite foi no apito final, quando o povo adentrou o gramado do campo para comemorar loucamente o título — foi uma sensação que eu só posso descrever como muito legal. sempre foi meu sonho entrar no gramado do estádio mesmo sabendo que ele nada mais é que um gramado — é literalmente só grama aquilo, mas ao mesmo tempo é uma grama muito especial. sabe quando você vê um caminhão bem grande na rua e fica hipnotizada, como se alguma parte do seu cérebro de criança tivesse sido ativada? foi mais ou menos isso. eu entrei lá e os únicos pensamentos que vinham na minha cabeça eram gramado grande uaaaaaau gramado verde. jogador joga bola aqui. gol
em suma, pessoas usando camisas amarelas, pretas e brancas estavam gritando pois o time que elas torcem ganhou um campeonato estadual pela primeira vez em dez anos. e eu consegui bater uma foto muito boa no gramado
considerações finais
antes que me perguntem, sim, estou interessadíssima no filme da Barbie. minha única ressalva é que ao invés de um remix de Fun Fun Fun, eles poderiam ter utilizado a música que o Brian Wilson lançou em 1987 juntamente com a boneca Barbie California Dream, intitulada Living Doll. se quisessem ir mais fundo ainda, podiam colocar a terrível Barbie dos Kenny & The Cadets — que eram os Beach Boys com outro nome. acho que não tem mais nenhuma música dos Beach Boys com referência a Barbie.
enfim, bem rosa o trailer. eu gostei
aparentemente tem um doido no Twitter — e eu uso o termo doido afetuosamente — que conseguiu de algum jeito cartuchos com demos de Project Dream, também conhecido como o protótipo de Banjo-Kazooie, e Twelve Tales: Conker 64, a versão boa de Conker que não tem palavrões nem escatologia. que Deus abençoe os historiadores de games
a música nova do Zé Felipe infelizmente é pavorosa, muito pior do que tudo que ele já lançou, mas a parte que mais me pegou nela foi o fato dos cantores estarem creditados com as suas contas de Instagram no título da canção. como se eles fossem apenas uma web brand e não artistas de verdade.
quando falam de tiktokzação da música, é nisso que temos que nos ligar. é uma ameaça tão grande quanto a inteligência artificial. você quer ser um humano ou uma marca?
aparentemente o corno do Elon Musk, como bom corno que é, ficou furioso com o Substack por ousar lançar uma plataforma parecida com o Twitter e agora eu não posso colocar nenhum tweet na minha newsletter — sem contar que todos os links para o Substack postados no Twitter estão tendo seu engajamento diminuído artificialmente
mas sabe qual a parte boa nisso tudo? eu posso xingar o Elon Musk do que eu quiser aqui no Substack que ele não pode fazer nada. o Substack não é dele, o que esse imbecil vai fazer? portanto, segue uma lista de xingamentos que eu encontrei no Google
e sim, eu já estou no novíssimo Substack Notes e definitivamente estarei usando ele para assuntos de 𝒆𝒖 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒊𝒓𝒆𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔 e de vez em quando, não-𝒆𝒖 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒊𝒓𝒆𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔 também. porque eu gosto de estar do lado certo da história
eu destruirei vocês #73: que filme do Mario?
eu vi o filme do mario acompanhada de algumas pessoas Gueimes(TM), o que eu não sou, e minhas reações foram:
1) po legal
2) puts não sei lore de mario o suficiente
3) por que as pessoas ainda tentam usar holding out for a hero em filmes animados depois que shrek 2 já fez a cena definitiva?
4) meudeus não acredito que os toads ESCOLHERAM sair da sociedade comunal deles para se tornar uma MONARQUIA sob o comando da princesa (quando fui ridicularizada pelos meus amigos por tentar fazer análise sociopolítica do filme do mario)
- Q filme do Mario?
- Aquele q eu assisti dentro do armario '-'
- Sobre q Mario?
- O do jogo msm, eu baixei um torrent no celular e assisti dentro do armário pq eu ñ qria ver gente