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eu destruirei vocês #78: covers musicais de músicas
covers musicais, Johnny Bravo e árvore filogenética da Série A 2023
eu adoro que vivemos em um mundo onde as leis de direitos autorais, mesmo reconhecidamente sendo as coisas mais imbecis que existem, ainda permitem que um artista faça um cover de uma música de outro sem que seja processado até perder as calças. se eu quiser gravar um cover de Amigo Estou Aqui na sanfona e postar no YouTube, por exemplo, o máximo que a Disney pode fazer contra mim é enviar cartas com ameaças de morte ou vídeos de armas pelo WhatsApp — mas legalmente? não podem fazer nada. agora tenta fazer um curta-metragem estrelando o Mickey pra ver o que acontece contigo. o sol vai nascer igual Minecraft
o conceito de covers musicais é incrível — “ah, essa música é sua? agora é minha também. lol”. de acordo com registros históricos, o primeiro cover da história foi performado há 1.452.916 anos atrás, quando um ancestral humano da espécie Homo habilis chamado Piteco bateu uma pedra na parede de uma caverna e fez exatamente o mesmo som que seu colega de quarto Bolota havia produzido alguns dias antes no mesmo local
a partir daí, tudo foi ladeira abaixo, e hoje em dia a indústria de covers é sustentada principalmente pela cantora Miley Cyrus e seus fãs que insistem que sua versão de Heart of Glass é melhor do que a original só porque ela consegue gritar mais alto do que a Debbie Harry
pra mim, os melhores covers que existem são os que tentam fazer alguma coisa de diferente da versão original — ou seja, eu odeio o cover de Africa gravado pelo Weezer que é basicamente só a mesma música de novo. talvez o exemplo mais clássico desse tipo de cover é aquele lá que todo mundo fala: Johnny Cash regravando Hurt, do Nine Inch Nails
antes de efetuar qualquer juízo de valor, vamos parar um pouco pra analisar a situação aqui: o Johnny Cash, em 2002, já um idosinho, decidiu parar o que estava fazendo e regravou uma música do Nine Inch Nails, banda favorita dos participantes da balada da cena inicial do filme Blade. poucas coisas que já aconteceram no mundo foram mais legais–barra–inesperadas do que isso
hoje em dia, a impressão que eu tenho é que em algum momento ao longo do caminho esse cover passou a ser menos louvado do que era há alguns anos atrás — hoje, ele é acusado de ser meio brega. e eu até entendo esse ponto, mas não concordo. não com Hurt. acho que isso talvez seja culpa de toda a aura em torno das produções do Rick Rubin — tem vezes que o cara extrapola e vai pra uma direção meio reddit 2013 nos trabalhos dele. talvez isso tenha sido incompreensível, mas acho que o que eu quero dizer é que brega mesmo é o cover de Personal Jesus que ele produziu pro sr. Cash — e tem sim uma diferença entra os dois. só deixem Hurt fora disso
um outro estereótipo clássico de cover musical é quando um artista indie decide regravar uma música pop famosíssima — e em 90% dos casos, os resultados são abismais. sinto que nessa relação cover–artista há quase uma inversão de valores: um artista pop faz um cover de uma música menos conhecida por sentir que ela diz algo que ele não consegue dizer — Justin Bieber cantando Fast Car — enquanto o cover de uma canção pop feito por um artista indie muitas vezes vem de um lugar mais cínico. pois o artista é uma pessoa que tem o ego infladíssimo
hoje em dia a música pop é um pouco mais respeitada nesses meios, mas até alguns poucos anos atrás só se fazia covers de músicas pop praticamente para rir da cara dela, sem respeito algum com o material — o Ben Folds obviamente não fez um cover de Bitches Ain’t Shit porque via algum mérito artístico na música. ele fez porque era supostamente engraçado — spoilers, não era muito
e pensando nisso, eu juro que não consigo decifrar qual era o intuito das bandas Macha e Bedhead quando se juntaram no ano de 2000 pra regravar Believe, da Cher
primeiramente: esse cover é magnífico. ele começa com um minuto de sons de teclas de telefone sendo apertadas enquanto leves batidas de bateria lentamente se intensificam, ao mesmo tempo em que alguns poucos acordes de piano são tocados — é um cover extremamente minimalista. o vocalista parece que acabou de acordar e não é que ele cante igual ao Thom Yorke, mas o som da voz dele pra mim é igual ao rosto do Thom Yorke — talvez um dia eu escreva um artigo científico pra explicar o que eu quis dizer com isso
o mais incrível desse cover pra mim é o jeito que ele incorpora o bip bop das teclas do telefone na música — elas fazem parte do instrumental mesmo. o refrão não seria nem de longe tão impactante se não tivesse esses sons no fundo e eu acredito que a maior perda relacionada ao fim dos telefones fixos é que não dá mais pra fazer isso em uma música hoje em dia
talvez a melhor banda cover do mundo — não uma banda cuja existência é focada em ser um cover de outra, mas sim a melhor banda em fazer covers — seja o Xiu Xiu. além de terem os instrumentais mais caóticos do mundo, a voz do Jamie Stewart é a mais 666 morte destruição que existe — quando criarem um modelo AI da voz dele, vou passar o dia fazendo-o regravar músicas da Ivete Sangalo com aquele vibrato
ao longo dos anos, eles lançaram dois álbuns 100% compostos de covers. Nina, de 2013, é repleto de reinterpretações de músicas da Nina Simone e Xiu Xiu Plays the Music of Twin Peaks é exatamente isso aí — ao mesmo tempo em que é uma das maiores obras musicais da última década
o negócio é que eles possuem um estilo muito próprio — a voz única do Jamie Stewart, as guitarras dissonantes, o violino tocado com violência, tudo contribui para um atmosfera meio dark e errada em suas músicas. pra mim faz total sentido eles tocarem a trilha sonora de Twin Peaks porque as músicas deles parecem que foram compostas dentro do black lodge enquanto a Laura Palmer ficava fazendo dancinha de Tik Tok com a mão
em 2017, eles tocaram na incrível & finada série A.V. Undercover uma versão completamente maluca de Sharp Dressed Man, o clássico do ZZ Top — só que dessa vez sem barba. juro que não é exagero meu quando falo que essa é uma das maiores gravações fonográficas já feitas desde a invenção da música. não sei como é possível uma música só com bateria e guitarra conseguir ser tão caótica, anárquica, mas deve ser alguma magia proveniente da Califórnia. quanto mais distorção melhor
fique agora com uma playlist no Spotify de alguns dos meus covers musicais favoritos. é no Spotify porque eu não sou cadelinha da Apple nem do Jay-Z
o texto a seguir faz parte da edição #X11 da 𝒆𝒖 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒊𝒓𝒆𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔, lançada nesta segunda-feira. ela conta com uma novidade: o quadro 𝖘𝖊𝖗𝖛𝖎𝖈̧𝖔 𝖉𝖊 𝖈𝖚𝖗𝖆𝖉𝖔𝖗𝖎𝖆 𝖎𝖘𝖆𝖇𝖊𝖑𝖆 𝖙𝖍𝖔𝖒𝖊́, que é um serviço de curadoria da isabela thomé. basicamente, em toda edição exclusiva para assinantes eu recomendarei três coisas diferentes
pode ser um jogo, pode ser uma música, pode ser um filme, pode ser um podcast, pode ser um sanduíche muito gostoso — literalmente qualquer coisa que seja boa. talvez algum dia eu fale sobre algo muito ruim também, mas que seja interessante. espero que ninguém me bata quando isso acontecer
como uma prévia desse novo quadro, deixarei aqui a primeira recomendação que fiz nele: o jogo Klonoa: Moonlight Museum, lançado em 1999 para o fracassado console WonderSwan. espero que goste, e caso queira assinar a 𝒆𝒖 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒊𝒓𝒆𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔 para ter acesso a mais textos, clique neste link! obrigada e até mais
#1. o jogo Klonoa: Moonlight Museum
você já ouviu falar do… WonderSwan? conhecido como o pequeno notável por absolutamente ninguém, pois eu acabei de inventar isso, ele foi um videogame portátil lançado em 1999 pela Bandai, empresa famosa por ??? e _______. ele foi criado pelo Gunpei Yokoi, icônico designer da Nintendo, e tinha como principal função divertida uma tela que poderia ficar tanto na horizontal quanto na vertical. no WonderSwan, os jogos mudavam de orientação durante o gameplay. o console mais bissexual da história
talvez seja óbvio pra você que ele tenha sido um fracasso, mas o que não faltam são jogos ótimos no console — e Klonoa: Moonlight Museum é um exemplo perfeito disso. lançado exclusivamente no Japão no mesmo ano de estreia do portátil, ele foi o primeiro jogo 2D da série e também, ouso dizer, o melhor. Moonlight Museum é o gameplay de Klonoa transplantado perfeitamente para o plano bidimensional
é inacreditável o quão fluido o gameplay desse jogo é — quase como se realmente estivesse jogando um Klonoa 3D. todas as ações do jogo original estão aqui — jogue o seu chapéu, segure inimigos em cima da cabeça, dê uma pequena voadinha — mas são todas usadas de modos diferentes e super criativos. defenestrar inimigos que você odeia nunca foi tão satisfatório
e toda a temática de museu que permeia o jogo é incrível. você entra em pinturas para ir às fases, tal qual em Super Mario 64, e cada mundo é como se fosse uma visão do Klonoa — é literalmente esse o termo que eles usam para se referir à fases no jogo, uma visão. é um negócio meio esotérico. a história do game é que um coletivo de artistas dividiu a Lua em vários pedaços e cada um roubou pra si uma parte dela, cabendo ao gato de boné Klonoa recuperar os pedaços e salvar o mundo. eu consigo ver facilmente o Andy Warhol e seus amigos fazendo algo assim nos anos 1960
em suma, Klonoa: Moonlight Museum é a prova de que a arte deve sim ser vilanizada
atenção para as atualizações de lost media encontrada na última semana, porque aparentemente agora eu sou uma referência nesse assunto ou algo do tipo
primeiramente, o misterioso — nem era — programa do Johnny Bravo em que ele respondia ligações de telespectadores do Cartoon Network foi encontrado depois de anos de sumiço — e tem um episódio em que ele comenta por cima de Dragon Ball Z, como se fosse um react do Casimiro
e Rock Odyssey, um especial de 1987 da Hanna-Barbera que conta a história do rock nas suas quatro décadas de existência até então, também ressurgiu das cinzas. o filme é quase todo cantado e a animação é muito estranha e é perfeito na verdade eu adorei preciso de mais disso
Laurinha Lero está entre nós. prevejo que a próxima pessoa a começar um Substack será o jornalista Zeca Camargo, com uma coluna semanal destacando os lançamentos no mundo da música. depois vai ser a Dani Calabresa
ótimo vídeo de iceberg sobre Just Dance. não sei mais o que eu faço com a minha vida
inacreditável o que anda acontecendo no r/futebol
segue o meu review do novíssimo game The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom
ainda não saí do tutorial
eu destruirei vocês #78: covers musicais de músicas
isa, vou ter que deixar um reclame aqui porque sua playlist não tem nenhum cover da banda Devo.
Devo por si só já é uma banda subestimada e uma de suas essências é fazer covers subversivos:
- Satisfaction do Rolling Stones virou uma música robótica e maníaca completamente nova e parte do catálogo essencial da banda, inclusive muito melhor a versão do Devo.
- Secret Agent Man do Johnny Rivers ganhou uma letra nova e virou uma música sobre paranóia e perseguição do governo cantada pelo guitarrista Bob 1 por ter a voz mais próxima de um "regular Joe".
- Working In The Coal Mine do Lee Dorsey vira uma música sobre trabalhar todo dia no escritório.
E outros...
essa edição foi feita pra MIM (tenho uma playlist Apenas de covers que amo e seus originais https://open.spotify.com/playlist/0bnOZ4lYpEe1hCLxlZ1Opw?si=H-N9LxgHSJapDtr9qe8x1g). destaques:
* placebo canta syd barrett - dark globe;
* placebo canta the smiths - bigmouth strikes again;
* siouxsie and the banshees canta sparks - this town ain't big enough for both of us;
* the cure canta jimi hendrix - foxey lady