

Discover more from eu destruirei vocês
eu destruirei vocês #80: não existe "mirtilo"
Red Bull sabor azul, jogos de Simpsons pra Game Boy e meta-linguagem
de acordo com os valores da marca Red Bull, encontrados em seu site oficial, a principal missão da brand é “dar asas a pessoas e ideias”. isso se refere ao fato de que, sendo uma bebida energética com alto teor de açúcares, há uma pequena chance de seres humanos que consomem o produto desenvolverem estranhos tumores nas suas costas semelhantes a asas — fato este que pode ser facilmente verificado em sites da deep web. infelizmente, a grande imprensa parece não se importar com isso e continua fazendo propagandas do energético como se nada estivesse acontecendo, mas eu vi os dados. eu tenho acesso. isso é mais comum do que se pensa
outra coisa que a Red Bull sabe e finge que não sabe é que o produtor de conteúdo na internet adora produtos novos. a criatura não pode ver um Cheetos sabor chorume que já vai comprar e contar para os seus seguimores — termo cunhado por Virgínia Fonseca que é uma junção de seguidores e mármores
esse é um tipo de conteúdo fácil de produzir, em que o único gasto real que o influencer terá é comprando o produto no supermercado ou padaria local — e de vez em quando nem isso, já que eles recebem o produto de graça em suas casas, exatamente como acontecia em monarquias absolutistas ao longo dos séculos
bom, eu ainda não cheguei no ponto em que eu recebo sabores novos de Red Bull de graça diretamente na minha retina, mas o que eu posso dizer é que eu fui sim ao supermercado e eu adquiri sim este produto utilizando dinheiro — um primitivo objeto que auxilia nas transações financeiras. eu não sou superior a ninguém. eu também faço parte do problema
nos últimos anos, a Red Bull andava adotando a estratégia de lançar um sabor novo de energético todo verão — e todo mundo que eu conheço ficava o ano inteiro tentando descobrir qual seria o novo Red Bull da vez. no meu trabalho, por exemplo, foi feito um bolão para prever o sabor que a empresa lançaria neste ano — e eu acabei de inventar isso. mas a empresa, esperta como só, percebeu que eles não precisam fazer isso só uma vez por ano: existem outras estações também. chegou o novíssimo Red Bull — The Winter Edition — sabor cereja & frutas silvestres. agora você também pode beber Red Bull quando está frio
é o gostinho da cereja e das frutas silvestres diretamente na sua goela — tentei falar com eles pra usarem isso de slogan mas a empresa me bloqueou depois do 14º e-mail. encontrei este novíssimo & lúdico sabor no Angeloni da Avenida Centenário aqui em Criciúma — e esse sabor aparentemente é exclusivo da loja, um negócio que eu nunca vi acontecendo em Criciúma. normalmente isso é uma parada mais dos grandes centros — compre o novo Carmed de Fini exclusivamente na Droga Raia, coisas assim. isso prova de uma vez por todas que Criciúma é a cidade do futuro. é o único lugar no mundo em que há um Parque Astronômico Municipal Albert Einstein E = mc²
este inovador Red Bull sabor azul surge após inúmeras novidades que mudaram o mercado de energéticos — só nos últimos anos a Red Bull lançou os sabores verde, vermelho e branco, entre outros. cereja & frutas silvestres é um sabor curioso para um energético primeiramente por ser meio genérico — ok, eu conheço o gosto de cereja, mas frutas silvestres pode ser quase literalmente qualquer coisa. sei lá, na minha concepção existe uma diferença entre amora e blueberry, mas aqui eles colocam tudo como se fosse do mesmo balaio. a amora possui todo o gingado e malemolência do povo brasileiro, já a blueberry é uma yankee colonizadora. nem traduziram o nome dessa fruta. mirtilo é literalmente só uma invenção dos caras
sendo assim, posso afirmar que o Red Bull cereja & frutas silvestres conta com um gosto acentuado de cereja e de frutas silvestres — mas frutas silvestres sujas, que você encontrou no chão de uma floresta e pensou duas vezes antes de colocar na boca. você colocou mesmo assim. você bebeu o Red Bull azul. não tenho praticamente nenhuma vontade de provar isso novamente, mas se um dia ele estiver em promoção por uns 3 reais no supermercado e todos os outros sabores estiverem 8 reais, eu talvez compre um — mas será exclusivamente para suprir meu corpo com energia e nutrientes. eu vou beber, mas eu vou beber triste.
o maior problema em relação ao Red Bull cereja & frutas silvestres, porém, é que ele é um produto da Red Bull — ou seja, comprando ele, eu estou apoiando a existência do pavoroso Red Bull Bragantino. nem me vem com esse negócio de que “não há consumo ético no capitalismo”: eu, com minhas ações, estou destruindo o futebol brasileiro
olá! a seção a seguir foi escrita para a edição #X3: laçando as redes internéticas, lançada exclusivamente para assinantes no dia 16 de janeiro de 2023. isso foi há mais de quatro meses. socorro!
você sabia que com 10 reais ao mês, você ganha acesso a todas as 12 edições exclusivas da 𝒆𝒖 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒊𝒓𝒆𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔 lançadas até hoje — e a todas as futuras até o final dos tempos? de quinze em quinze dias tem uma edição extra nova cheia de conteúdo. inclusive teve uma nova essa segunda-feira. daqui a quinze dias tem outra. pois é assim que o calendário funciona.
obrigada pela atenção!
jogando golfe com Comichão & Coçadinha
os jogos de Simpsons para Game Boy
uma das maiores tragédias modernas é o fato de não existirem mais jogos dos Simpsons. desde a década de 2010, o único game novo da franquia foi The Simpsons: Tapped Out, um daqueles jogos pra celular cheios de monetização onde você constrói uma versão não-canônica de Springfield — e também gasta todo o dinheiro que deveria ir para as fraldas do seu filho comprando uma laboratório novo pro Professor Frink
mas nas décadas de 90 e 2000, não só saíam novos jogos dos Simpsons todo ano como às vezes até quatro no mesmo período de doze meses. em 1991, por exemplo, foram lançados The Simpsons pra fliperamas, Bart vs. the Space Mutants e Bart vs. the World para o NES e o esquecidíssimo Bart Simpson's Escape from Camp Deadly para Game Boy. inclusive, cacilda, existiu muito jogo dos Simpsons pra Game Boy que eu nunca tinha ouvido falar na minha vida. estou sentindo o equivalente a um efeito Mandela aqui enquanto leio a lista de games dos Simpsons na Wikipédia
e óbvio, faz muito sentido essa quantidade enorme de jogos no console. os Simpsons e o Game Boy vieram ao mundo no mesmo ano, o longínquo 1989, e a popularidade dos dois foi crescendo exponencialmente ao longo do anos — seria estranho se tivessem saído poucos jogos da franquia no portátil. e como os games tinham que ser desenvolvidos um atrás do outro, numa lógica de linha de produção, eles normalmente eram ruins. simplesmente não tinha tempo pra criar uma obra-prima que revolucionaria a indústria — tem que sair mais um jogo antes que Simpsons perca toda sua popularidade e a gente não tenha mais o que fazer com a licença que adquirimos da franquia
é assim que foram criadas, por exemplo, obras como Bart & the Beanstalk, lançado exclusivamente para o Game Boy em 1993. é um dos conceitos mais inexplicáveis da história dos videogames: uma paródia de João e o Pé de Feijão com o Bart Simpson no lugar do João. nunca existiu nenhum episódio do desenho com essa história. ou seja, criar um jogo com essa proposta tão imbecil foi uma decisão criativa dos próprios desenvolvedores da Acclaim Entertainment— não foi algo imposto à equipe. eles tinham a opção de fazer qualquer coisa e escolheram uma paródia de uma fábula merda
Bart & the Beanstalk é um jogo de plataforma — como quase todos os jogos eram em 1993 — que se especializa em frustrar o jogador o máximo possível e a todo momento. Bart Simpson, numa jornada até o topo do pé de feijão, ataca sapos, baratas e outros inimigos usando o estilingue com o menor alcance que eu já vi — esses animais vão conseguir te matar antes de tu conseguir acertar um tiro sequer neles. é um projétil, mas parece até uma faquinha do Counter Strike de tão curto
fora que o jogo é cheio de armadilhas de game design. plataformas que parecem fixas mas caem aleatoriamente quando você passa por elas, elementos nas fases que parecem sólidos mas não são, objetos que não fazem o que você espera deles, inimigos impossíveis de matar ou de evitar — tudo isso está aqui, por um preço módico de 60 dólares. é só não comer essa semana
o anteriormente mencionado Bart Simpson's Escape from Camp Deadly, de 1991, é outro jogo de plataforma com uma história completamente original e sem qualquer relação com algum episódio de Simpsons — estou começando a ver um padrão aqui. a única explicação que eu tenho pra eles decidirem nunca utilizar qualquer coisa dos desenhos é que existia alguma cláusula no contrato que impedia eles de fazer isso — o problema é que uma cláusula dessas faria pouquíssimo sentido. portanto, a explicação mais plausível é que os desenvolvedores eram totalmente malucos
quase Acampamento Krusty em sua essência, Bart Simpson's Escape from Camp Deadly lida com temas suaves e simples, como campos de trabalho forçado. Bart e Lisa são enviados para um acampamento de férias liderado por Ironfist Burns, sobrinho do Sr. Burns — se ele é canonicamente da família eu não sei, mas é o que a Wikisimpsons fala. como e por que as crianças foram parar num lugar tão horrível é um mistério, mas eles estão lá e é isso que importa
esse é um jogo de plataforma em que os seus maiores inimigos são adolescentes normais e abelhas — os mesmos inimigos que eu tenho na vida real, coincidentemente. Bart Simpson, tentando fugir do lugar abominável onde se encontra, deve fugir dos conselheiros que querem o capturar enquanto coleta bandeiras ao longo da fase — ninguém falou que um jogo assim precisava fazer sentido. é um péssimo jogo com controles horríveis, gráficos genéricos e um sprite aterrorizante do Bart. os olhos vermelhos significam que a presa está prestes a ser dizimada
e parece que com o passar dos anos, a pouca criatividade da Acclaim foi ficando mais evidente. Itchy & Scratchy in Miniature Golf Madness, de 1994, é simplesmente um jogo de minigolfe do Comichão & Coçadinha. vou deixar essa frase pairando no ar por um tempo. jogando como Coçadinha — esse é o gato — você tem que colocar a bola no buraco, pois esse é um jogo de golfe, enquanto vários mini-Comichão tentam te impedir usando dinamite, bomba atômica, tiro na cara e outras táticas
talvez a pior parte disso é que eu consigo ver claramente o potencial desse game de ser algo especial — se ele não fosse um jogo de minigolfe. a movimentação dos personagens é bem satisfatória pra um jogo de Game Boy, os gráficos são bem feitos e as fases tem um design bem interessante. pena que, no final do dia, você ainda precisa colocar uma bola no buraco
minha teoria da conspiração é a de que esse jogo originalmente era um game de plataforma normal mas os desenvolvedores perceberam que o jogo ficaria curto demais, aí inventaram uma mecânica de golfe pra demorar mais tempo pra completar as fases. sim, fonte: vozes da minha cabeça mesmo
Krusty's Fun House, lançado em 1992, é outro jogo que mergulha em um gênero diferente de plataforma. esse é um puzzle platformer cuja maior característica é o quão aterrorizante os sprites do Krusty são — todos os desenhos do Krusty no game são assustadores de um jeito ou de outro. o sprite principal dele, o ícone de vidas e até um Krusty olhando pra frente com uma cara de quem vai puxar uma faca e te destruir a qualquer momento. se me atacar, eu vou te atacar
algo que contribui ainda mais para a sensação de que esse Krusty não é do bem é o fato das animações dele serem incrivelmente fluídas, ainda mais pra um jogo lançado em 1992 — é meio nível Shantae isso aqui. basicamente, é não-humano. fora o design das fases, que é indecifrável — a quantidade de rua sem saída nesse jogo é enorme. corredores que você vai seguindo e só encontra uma parede no final, ou então uma sala com algumas plataformas e só. é uma vibe de jogo de creepypasta, tem cenários que eu olhava e ficava esperando a guria do Exorcista aparecer gritando pra me assustar
Night of the Living Treehouse of Horror é o game mais diferente dessa lista porque incrivelmente não foi desenvolvido pela Acclaim, mas sim pela Software Creations, uma subsidiária da THQ. e também o jogo foi lançado em 2001 e para o Game Boy Color — que pra quem não sabe, é um Game Boy só que em cores. enfim, outra coisa que diferencia Night of the Living Treehouse of Horror dos outros jogos dos Simpsons é que ele é bom. é um jogo de plataforma com sete fases, cada uma com um objetivo diferente e com personagens controláveis diferentes — eu tô quase me emocionando aqui, isso é inacreditável
todos os seus personagens favoritos de Simpsons estão aqui: tem o Bart, tem a Lisa, tem o Homer robô, a Maggie mosca e o Homer King Kong. a fase da Lisa, por exemplo, consiste em acabar com a farra dos professores da escola que se tornaram canibais e estão devorando alunos — e olha só, isso é a história de um episódio! era tão difícil fazer algo assim, Acclaim? era? controles fluídos, gráficos show de bola — um dos sprites de aspirador de pó mais bonitos que eu já vi — e um bom design de fases faz desse um dos melhores jogos dos Simpsons que eu já joguei. o que não é muito difícil pois quase todos são horríveis
ah, e tem outro que eu não falei ainda. Bart vs. the Juggernauts, de 1992, é uma coletânea de seis minigames estrelando o Bart. é a coisa mais ignorável que eu já vi
a newsletter dessa semana ficou tão grande que eu simplesmente não posso colocar mais nenhuma imagem nessa edição, senão ela vai ficar tão grande que eu não poder enviar ela por e-mail para vocês. ou seja, nenhuma piadinha que eu fizer agora vai ter qualquer ilustração ou link atrelada à ela — já que links, por algum motivo, também gastam preciosos kilobytes que poderiam ir para mais palavras
curiosidades: sabia que itálico também gasta mais kilobytes do que texto normal? não é uma diferença muito grande, mas uma vez eu consegui deixar uma newsletter do tamanho exato pra poder ser enviada só retirando uma frase que estava toda em itálico. pra mim isso é loucura. em itálico
neste exato momento, são 14:09 da tarde e eu estou na biblioteca da Unesc finalizando a edição #80 da 𝒆𝒖 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒊𝒓𝒆𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔. ainda irei revisá-la, fazer uma thumbnail pra ela no Photoshop, revisá-la mais uma vez e enfim programá-la para ser enviada amanhã aos inscritos — ou melhor, hoje, já que você está lendo ela na quarta-feira. mas quando eu escrevi, ainda era terça-feira. é por isso que ninguém deve confiar em escritores e jornalistas
a música que toca nos meus fones de ouvido no momento é Cidadão Quem — O Amanhã Colorido. a Bruna me fez voltar a ouvir rock gaúcho depois de me lembrar da existência do grupo Bidê ou Balde, que apesar de diversas evidências apontarem o contrário, é sim bom. quatro palavras pra você: Acústico MTV Bandas Gaúchas. se você parar pra pensar, isso seria na verdade cinco palavras, pois MTV é uma forma aglutinada de Music Television. o diabo prega muitas peças no ser humano
olhando ao meu redor, tem mais 16 pessoas no segundo andar da biblioteca da Unesc nesse momento — 17, acabou de entrar uma. 19, pois eu acabei de ver duas gurias numa das salas de estudo em grupo — como se isso realmente funcionasse. estudo só funciona quando você está completamente quieto lendo o conteúdo necessário enquanto escuta discos de dark ambient. o que eu sinto com harsh noise é o que uma pessoa normal sente ouvindo lives de lo-fi no YouTube
se eu fosse futriquenta, eu poderia sair da minha cadeira nesse exato momento e olhar o que todas as pessoas aqui estão estudando — elas provavelmente não iriam perceber, já que a arquitetura da biblioteca possibilita facilmente uma simples olhada lateral para observar o que o coleguinha está lendo. acho que uns 70% das pessoas que eu vejo na biblioteca estão estudando medicina e os outros 20%, direito — o que faz sentido. existem tantos ossos no corpo humano quanto existem leis no mundo. eu acabei de inventar isso, eu não sei quantas leis existem
ok, vou ter que acabar por aqui. acabei de ultrapassar o limite de tamanho do Substack. até a próxima