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eu destruirei vocês #86: Nintendo 64 de jabuticaba
videogame com sabor, música de TikTok e a ligação entre os Beach Boys e o surf rock
imagine você um mundo em que consoles de videogame possuem gosto. um universo completamente diferente do que vivemos, onde você pode adquirir um Switch de morango, um Magnavox Odyssey de butiá, um PlayStation Vita de amora, um Nintendo 64 de jabuticaba… então, eu tenho uma notícia para você. Carla Zambelli queria invadir urnas e e-mail de Alexandre de Moraes. e também o Nintendo 64 de jabuticaba existiu
existem poucos consoles na história da humanidade tão lindinhos quanto o Nintendo 64. claro, o Xbox original é lindo, mas tem uma distinção importante aí: ele não é lindinho. as curvas do Nintendo 64 dão um toque todo especial que o faz parecer mais um brinquedo do que um videogame propriamente dito — é o mais próximo que os games já chegaram de ser um chocalho para bebê antes do lançamento de Fortnite
o console original, lançado em 1996, talvez era a versão mais feia dele já criada — era apenas um trambolho preto com um controle cinza, uma combinação triste e sem vida. mas tudo mudou com a coleção que viria no ano seguinte, chamada no Brasil de Multi-sabores — todos translúcidos, todos coloridos, todos com nome de fruta no Brasil. a vida é maravilhosa, nunca tive depressão
imagina comer um Nintendo 64 sabor cereja. hoje em dia, consoles não tem mais sabores — protótipos de um PlayStation 5 de bergamota foram encontrados em uma fábrica no Vietnã, mas isso é o mais próximo que chegamos de algo parecido. ao todo, seis cores foram lançadas no Brasil, cada uma com um nome inspirado por frutas. o laranja era o tangerina, o verde era de kiwi, o roxo era o uva e o azul era de anis — a única fruta azul que existe na natureza é o Cheetos requeijão, então eles precisaram improvisar nesse caso
pra mim esses consoles são o suprassumo da fofura. eles são um amorzinho, e colonizados diriam que eles são wholesome — em todos os sentidos. e caso você queira imaginar o que poderia ter sido, saiba que em 2019 foram reveladas outras cinco variantes translúcidas do Nintendo 64 que nunca chegaram a ser lançadas para o público, ou seja, mais frutas ainda poderiam ter sido contempladas com um nome de Nintendo 64
se eu fosse encarregada de dar nome aos bois — que no caso são versões não lançadas do Nintendo 64 — eu chamaria o azul escuro de mirtilo, o azul claro de gelo, o transparente de vácuo eterno, o lilás de Djavan e o amarelo neon de mijo. e é por isso que quando eu mandei meu currículo pra Nintendo, eles me enviaram de volta uma foto da folha A4 sendo triturada pelo Waluigi na sala de tortura do quartel-general da empresa em Kyoto
olá! a seção a seguir faz parte da eu destruirei vocês #X15: música de TikTok, lançada exclusivamente para assinantes nesta segunda-feira. além desse texto, também falei nessa edição sobre o jogo cancelado de Wii Sadness e o belíssimo analog horror argentino Valle Verde
você sabia que com 10 reais ao mês, você ganha acesso a todas as 15 edições exclusivas da 𝒆𝒖 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒊𝒓𝒆𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔 lançadas até hoje — e a todas as futuras até o final dos tempos? de quinze em quinze dias tem uma edição extra nova cheia de conteúdo. daqui a exatamente 12 dias tem outra. pois é assim que o calendário funciona.
obrigada pela atenção!
música de TikTok
a carreira musical de Addison Rae
se você me dissesse algumas semanas atrás que eu estaria escutando e gostando da obra musical de uma tiktoker, eu falaria pra você “hm. até que faz sentido, considerando que o TikTok é uma rede social extremamente diversa e com uma pluralidade sem igual de pessoas e estilos”. você pode até nunca ter ouvido falar de uma pessoa chamada Addison Rae, mas saiba que ela possui 88 milhões de seguidores — e que isso é mais do que Alemanha, França e Reino Unido. mas um pouco menos do que a República Democrática do Congo
quer dizer, até o momento, a única canção oficialmente lançada pela Addison foi Obsessed — um single de 2021 com uma vibe k-pop de Ibiza que é super genérico — mas perceba o conveniente texto em itálico na palavra oficialmente. a cantora/tiktoker já gravou mais de trinta músicas diferentes nos últimos anos que ela simplesmente não lança por algum motivo misterioso e vazaram na internet. e sabe o pior de tudo? elas são muito boas
escute isso e me diga se não é uma música da Britney Spears por volta de 2003. na verdade, está mais para uma terceira via entre Britney e Rina Sawayama — a mistura da tradição com a modernidade, como diria o Globo Repórter. é como se tivessem sequestrado uma estrela pop dos anos 2000 e trazido ela para a atualidade por meio de avançadas técnicas de viagem no tempo que só o Comando Vermelho possui acesso
a melhor parte das músicas da Addison é que apesar de serem feitas por uma personalidade do TikTok, elas não são feitas para o TikTok. aqui não tem nenhuma canção com cadência de cantiga de ninar — Bella Poarch who — e as músicas não demandam você dar uma dançadinha. são músicas para dançar, mas não para dançar no TikTok. é pra dançar de verdade
Nothing On (But the Radio) talvez seja a mais famosa dessas canções nunca-lançadas — não necessariamente por ser a melhor, mas porque foi escrita pela Lady Gaga para o álbum Born This Way em 2010 mas acabou sendo descartada. existe uma versão cantada pela Gaga disponível no YouTube, mas — e isso talvez seja heresia — tudo na versão da Addison é melhor, até a voz dela. espero que nenhum little monster me envie uma carta-bomba
entre as minhas canções favoritas de todo esse vazamento estão U Had It Coming, tão anos 2000 que tem referências a Cry Me a River, Rock All By Myself que tem um sample de Nelly – Dilemma e uma beat bem Need For Speed Underground 2 e He’s Everything, que é o suprassumo do pop adolescente de filme da Disney por volta de 2007. mas a melhor de todas, pra mim, é Before U. tem vezes que a perfeição pop é atingida quase por acaso
olá! estou colocando o texto a seguir neste edição por dois motivos: o primeiro é que eu estou cansada demais para conseguir escrever mais do que uma unidade de texto para a edição dessa semana. quarta-feira que vem vai ser melhor, eu prometo
o segundo motivo é que eu comecei a escrever um livro sobre Beach Boys — mas não se empolgue tanto, porque eu desisto de quase todos os projetos que eu inicio na minha vida!
você talvez vai perceber que esse texto é um pouco mais sério do que os da 𝒆𝒖 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒊𝒓𝒆𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔, e isso é porque eu quero que alguém se interesse pelo projeto o bastante para ele realmente ser publicado. particularmente, eu duvido que alguém publicaria um texto 𝒆𝒖 𝒅𝒆𝒔𝒕𝒓𝒖𝒊𝒓𝒆𝒊 𝒗𝒐𝒄𝒆̂𝒔 inalterado. mas coisas mais estranhas já aconteceram no universo. o vice-presidente é Geraldo Alckmin
stoked!
as músicas de surf rock dos Beach Boys
a maior mentira sobre os Beach Boys que ainda hoje é contada por supostos entendidos em música é que eles eram uma banda de surf rock. apesar das influências óbvias que o gênero teve no grupo, foram poucas as ocasiões em que a banda realmente surfou nessa onda com tudo — pois a partir do momento em que o grupo começou a adicionar letras, palavras e vozes nessas canções, praticamente um novo gênero de música foi criado. ninguém antes deles havia feito algo mesclando esses dois. seus pés estavam fincados na areia do surf rock, mas o que eles estavam criando mesmo era uma nova onda
antes dos Beach Boys, o surf rock já fazia sucesso nos Estados Unidos e consistia praticamente de músicas instrumentais com guitarras cheias de reverb e uma influência da música árabe — pense em Dick Dale com Miserlou, talvez o maior hino do surf rock, que nada mais é que um cover rock & roll de uma canção tradicional da região do Mediterrâneo Oriental, onde ficam Turquia, Grécia e Egito. e o que os Beach Boys tem a ver com a Constantinopla? ora, eles obviamente gravaram um cover dessa música. pois pensou surf, pensou Dick Dale
ao longo dos seus primeiros discos, os Beach Boys gravaram quase uma dezena de canções estritamente surf rock — sem vocais, sem harmonias, apenas guitarras tocadas rapidamente. entre as 12 músicas de Surfin' Safari, álbum de 1962, por exemplo, havia um intruso: Moon Dawg, um cover do hit do grupo The Gamblers lançado um ano antes. a versão dos Beach Boys, como o resto das canções do disco, não era exatamente enérgica — é como se tivessem colocado uma inteligência artificial para criar um cover de Moon Dawg. se pensar neste sentido, a tecnologia para se fazer algo dessa magnitude em 1962 era incrível
no disco Surfin' USA, de 1963, porém, foi quando o grupo mostrou com mais afinco sua veia surfista. das doze canções do disco, nove lidam diretamente com o esporte e a cultura em volta dele — e dentre estas, cinco são instrumentais, número que nunca mais se repetiu em qualquer álbum da banda. além do já mencionado cover de Miserlou — aqui chamado de Misirlou por algum misterioso motivo — o grupo regravou Honky Tonk, clássico de Bill Doggett, e Let's Go Trippin', do mestre Dick Dale, todos em versões nada mais do que competentes. entre as originais, Surf Jam é uma divertida peça improvisada de Carl Wilson, guitarrista oficial do grupo, mas o destaque sem-palavras do disco fica com a gostosíssima Stoked, faixa 4 do álbum
escrito por Brian Wilson, Stoked não é nenhum *clássico* do surf rock mas mostra a proficiência técnica que muitas vezes é deixada de lado da banda — talvez muito culpa do próprio Brian, que a partir de 1965 parou de usar os colegas de grupo nas gravações de estúdio mais complexas. liderada pela guitarra de Carl Wilson e bateria de Dennis Wilson, a canção é simplesmente divertida — certamente ela já tocou em algum documentário do canal Off. as únicas vozes que são ouvidas na música aparecem ao final de cada verso instrumental, quando o grupo se junta para cantar a palavra stoked — gíria dos anos 60 que significa estar empolgado com algo. e logo em seguida, volta a guitarra. não precisamos de mais nada
esta não foi a última vez que os Beach Boys flertaram diretamente com o surf rock. em quase todos os primeiros discos da banda, houve ao menos uma canção instrumental no estilo do gênero — em Surfer Girl (1963) foram Rocking Surfer e Boogie Woodie, ambas escritas por Brian Wilson, em Shut Down, Part II (1964) a faixa-título escrita por Carl Wilson segue a mesma linha e em All Summer Long (1964) a vez é de Carl's Big Chance, que apesar do nome é uma composição conjunta entre Brian e Carl
a partir deste momento, as canções estritamente surf rock ficaram para trás no catálogo da banda e as instrumentais dos discos subsequentes seguiam uma linha mais orquestral, com influência maior das obras de Phil Spector — caso de *Summer Means New Love*, canção de Brian Wilson lançada no disco *Summer Days (And Summer Nights!!)* (1965). querendo ou não, os Beach Boys jamais teriam existido sem o surf rock — e o surf rock não teria se tornado um gênero gigantesco se não fosse os Beach Boys. uma mão lava a outra
e agora, um convite especial para os habitantes de Criciúma e região: no dia de hoje, quarta-feira, às 20h, o curso de Teatro da Unesc fará um ensaio aberto na sala 001 do Bloco B da peça Poema em Queda Livre, que trata sobre… coisas. em geral. eu assisti hoje um ensaio e é muito boa. que no caso, foi um ensaio fechado. não aberto.
em outras opiniões, eu odiei o Threads, achei o novo da Taylor Swift ok e não tenho opinião relevante sobre a personalidade Gustavo Scat. até semana que vem
eu destruirei vocês #86: Nintendo 64 de jabuticaba
isa, mas isso que você entrou dos Beach Boys é puro entretenimento.
Oque você recomenda pra alguém que só ouviu o Pet Sounds e clássicos de fora dele ouvir de Beach Boys depois?
As 570 versões diferentes de "isso aqui era pra ser o smile" sempre me deixaram triste e confuso.
A nintendo foi de fazer nintendo 64 com sabor de fruta pra fazer cartucho do switch com sabor de veneno de rato