eu destruirei vocês #89: sonhos e pesadelos
Kanye West em São Ludgero, disco pop amaldiçoado e R$20,83 de orégano
como fã de narrativas experimentais, eu sou completamente fascinada por sonhos. eu adoro pensar que, mesmo enquanto estou dormindo, meu cérebro não para de imaginar situações mirabolantes e esdrúxulas envolvendo pessoas do meu convívio, celebridades aleatórias ou ambos. boa parte das pessoas que eu conheço sonha com coisas que fazem um pouco de sentido — dentes caindo é um sonho clássico, por exemplo, que significa que você tem medo de perder tudo que conquistou, mesmo um dente não sendo necessariamente algo que você tenha conquistado. ele já veio com você. conquista é quando você compra uma geladeira com dispenser de água na porta. dente é o mínimo que você espera ter na vida
hoje em dia, com o advento da tecnologia, existem diversos tipos de sonhos. o sonho premonitório é um dos meus favoritos: quando você sonha que o Agnaldo Timóteo sofreu uma combustão espontânea, acorda desesperada, abre o globo.com e descobre que isso aconteceu de verdade enquanto você dormia
e isso me lembra de um sonho dessa estirpe que eu tive semana passada, quando eu cochilei durante o segundo tempo de Brasil-França pela Copa do Mundo Feminina e sonhei que a Wendie Renard tinha feito um gol no final da partida e o Brasil havia sido derrotado. isso realmente aconteceu, mas foi com um gol de cabeça da Renard. no meu sonho, tinha sido um golaço. um golaço que vocês nunca verão, porque o meu subconsciente inventou ele. golaço imaginário
e muitos dos sonhos que eu tenho são meio nesse estilo. eles podem até ter algum significado, mas acho que são mais difíceis de decifrar do que sonhar que está voando ou algo do tipo. noite passada, eu sonhei que a Gisele Bündchen e seu marido, o streamer Casimiro, me convidaram para ir ao supermercado — e eu comprei R$20,83 de orégano
mais tarde, no mesmo sonho, encontrei o rapper Kanye West na cidade de São Ludgero comprando uma camisa do Atlético Tubarão para ir em uma excursão até Rondonópolis, no Mato Grosso, assistir um duelo da equipe pela primeira fase da Copa do Brasil Sub-17. se você sabe o que esse sonho significa, por favor, não me fale. eu gosto de mistérios na minha vida de vez em quando
e claro, existe também a deliciosa paralisia do sono — vai tomar no cu. houve uma época em que eu constantemente tinha sonhos lúcidos em circunstâncias muito específicas: se eu acordasse de manhã, levantasse para ir ao banheiro, voltasse para a cama e dormisse novamente, eu 100% teria um pesadelo horroroso e extremamente realista. eu tentava gritar para acordar do sonho, mas nada acontecia. toda vez era uma experiência pior que a outra — mas não posso negar, olhando pra trás, que era um negócio meio divertido. dava uma adrenalina, sabe. o sentimento de que você vai morrer a qualquer momento é indescritível
esses sonhos aconteceram umas cinco vezes entre a metade de 2021 e o início de 2022, e quase sempre envolviam algo querendo me pegar. em uma das vezes que eu dormi com a porta aberta, um fantasma ficou na porta do meu quarto olhando pra mim — eu tentava gritar, nada acontecia. outra vez, também com a porta aberta, uma sombra com a silhueta de um ser humano apareceu voando, entrou no quarto e tentou me pegar. mas não conseguiu, considerando que eu ainda estou aqui
e em certa ocasião, quando caí no sono assistindo Simpsons, o episódio saiu do ar e minha televisão começou a mostrar um ritual satânico com várias figuras encapuzadas. quando eu acordei, ainda estava passando Simpsons. como ficou evidente, eu estava muito bem de saúde mental e nenhum demônio estava me perseguindo
existem alguns pesadelos da infância e adolescência que eu até hoje lembro com carinho — quer dizer, eles foram horríveis na época e me traumatizaram, mas hoje em dia eu vejo que eles possuíam um certo mérito narrativo. quando eu tinha uns 10 anos de idade, eu comi uma cocada inteira depois de ir no parque de diversões e acabei sonhando que um monstro 3D do Coragem o Cão Covarde estava atrás de mim na saída do parque — e eu lembro disso porque pesadelos com monstros de Coragem são algo recorrente até hoje
acredito que já tenha passado da casa das dezenas os pesadelos que eu tive com a garota de stop-motion que toca violino. eu não tenho medo dela hoje em dia, mas os pesadelos continuam
e tem um pesadelo da minha adolescência que eu penso até hoje só porque eu adoraria transformar ele em um filme ou curta-metragem em algum momento da minha vida. basicamente, havia um CD amaldiçoado do disco New World, da banda britânica dos anos 60 The Zombies, que me perseguia pela casa do sítio onde eu morava na época e tentava matar a minha família de vários modos — não quero dar spoiler, vocês vão ter que assistir o filme que eu provavelmente nunca vou fazer. até hoje eu não escutei esse disco. talvez ele seja horripilante mesmo
já o meu sonho favorito de todos os tempos na verdade é um sonho duplo: em meados do ano passado, eu e a Bruna sonhamos, na mesma noite, que tivemos que cuidar da filha da Tatá Werneck. foram sonhos completamente diferentes, com histórias muito divergentes — só que em algum ponto dos sonhos, nós cuidávamos da filha da Tatá Werneck. sabe o que isso significa? que nós cuidamos muito bem da filha da Tatá Werneck. e nada mais
precisamos falar sobre os inúmeros lançamentos musicais da última sexta-feira.
o novo álbum de George Clanton, Ooh Rap I Ya, é a maior obra nostálgica da história da música. enquanto grupos chinfrins como Greta Van Fleet tentam simplesmente recriar algo que funcionou nos anos 1970 como se a música em geral não tivesse evoluído nesses últimos cinquenta anos, George Clanton pega aquele estilo britânico meio dance do início dos anos 90 e o distorce completamente. Ooh Rap I Ya é um disco do Stone Roses mixado com a loudness war dos anos 2000 em mente. chillwave triturado em um liquidificador.
inacreditável como os discos de canções descartadas da Carly Rae Jepsen constantemente são melhores que os álbuns de verdade dela. The Loveliest Time contém músicas que não apareceram no The Loneliest Time — e é pelo menos uns 70% melhor que o disco do ano passado. é o mais perto que ela chegou do estilo E·MO·TION, e eu agradeço por isso — não quero os últimos álbuns tenham sido ruins, mas E·MO·TION é transcendental. inspirador. o planeta Terra teria muito mais héteros se esse disco nunca tivesse existido
tudo sobre o novo álbum do FBC é chiquérrimo — e não tinha como algo chamado O amor, o perdão e a tecnologia irão nos levar para outro planeta ser qualquer outra coisa. o homem simplesmente foi lá e fez um disco de brazil grooves misturado com city pop — Djavanesco em certos pontos, Jessie Waresco em outros. é pra escutar tomando Jack Daniel’s. o original, não o de maçã verde
não escutei o do Travis Scott ainda. nem o da Luiza Lian. o da Pabllo eu achei ok.
isso é psicopatia.
eu odeio tanto o attenzione pickpocket. um meme que veio de cima. ordens superiores nos forçando a achar um meme engraçado. não é um meme do povo, é das grandes corporações. existe única e exclusivamente para o social media do Nubank e da Melissa fazer um post engraçadinho com a frase. um bora bill colonizador. trickle-down memeconomics
eu estou aproveitando muito tudo isso. até semana que vem
a experiência do pesadelo é muito boa. é um filme de terror personalizado para os SEUS medos onde você não precisa ouvir ninguém falando "aff é só jumpscare" ou "mas não é esses terror que só tem jumpscare, sabe?"
Toda noticia que vejo do Agnaldo Timóteo é muito louca. Eu só sei que ele existe pq soube que em um programa de realizar sonhos malucos uma pessoa queria ver Agnaldo Timóteo dirigindo um carro passando por uma rampa e quebrando um outdoor e isso foi feito.