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eu destruirei vocês #92: uma falta de personalidade inacreditável
o cantor Jão, a cantora Luísa Sonza e outras coisas
é deprimente pensar que um país que já produziu artistas pop como Kelly Key e Br’oZ conseguiu chegar em um poço tão profundo que, atualmente, o nosso maior cantor de música pop é um homem chamado Jão. por anos e anos, o pop no Brasil foi praticamente ignorado pelas grandes mídias & gravadoras — nos últimos 20 anos, na era pós-Rouge, o único momento em que parecia que a música pop conseguiria engrenar foi lá por 2013, no surgimento da Anitta e Ludmilla, mas antes e depois disso, o que teve?
o que existiu no meio desse caminho, além de tentativas desesperadas de Wanessa Camargo/Sem Camargo atingir alguma relevância e a suposta cantante Claudia Leitte se autointitulando Lacradora ao lado de Maiara e Maraísa? não teve nada. e ainda por cima, essa música acabou elegendo Jair Messias Bolsonaro em 2018. não existe um desastre na história do Brasil que Claudia Leitte não esteja envolvida
SUPER, o novo disco de Jão, teve a maior estreia de um álbum no Spotify Brasil nos últimos 250 anos — um feito que mostra o poder desse homem cujo nome caberia na tela de high scores em um fliperama. ao mesmo tempo, é um fato consumado que ele não faz música pra mim — ou para qualquer pessoa com mais de 21 anos de idade. absolutamente tudo em SUPER é extremamente imaturo — não só as letras, como as melodias, arranjos, produção, mixagem, masterização, encarte do CD. tudo tem uma obviedade extrema, uma falta de personalidade inacreditável, uma tabula rasa em forma de cantor pop. mas é bom quando algo não tem personalidade, porque aí você pode projetar o que quiser naquilo
as composições do cantor Jão são uma mistura chernobylesca de Renato Russo e Taylor Swift — mas apenas as piores partes dos dois. Escorpião, a primeira faixa do disco, parece uma demo do Legião Urbana produzida pelo Jack Antonoff, e quando as músicas tentam falar sobre sexo, a situação piora mais ainda: essas são as canções com menos tesão já escritas na história da humanidade.
nenhuma música de sexo desse cantor teen de 28 anos significa qualquer coisa. são músicas de sexo para jovens que pulam qualquer cena de seriado da Netflix que mostre um simples seio. Me Lambe é uma música de maconha e sexo ao mesmo tempo e mesmo assim parece uma versão com classificação indicativa livre de uma canção do início da carreira da Pabllo Vittar. em Lábia, o refrão diz que eu vou tirar a sua roupa, você vai rir da minha cara. imagina transar escutando isso.
ironicamente, as melhores músicas do disco são quando ele tenta descaradamente escrever uma música no estilo Taylor Swift — Alinhamento Milenar, apesar do título tilelê, é completamente ok. um filme coming-of-age em forma de música pop genérica. poderia facilmente ser uma das piores músicas em Fearless — isso é um elogio
mas é muito difícil encontrar qualquer ponto positivo na maioria esmagadora dessas canções — Gameboy é sobre querer ser seu game, boy e a instrumental tem uma parte com chiptune, sabe? é nesse nível de previsibilidade que nós trabalhamos aqui. Julho parece uma música do Restart que jamais seria lançada como single e São Paulo, 2015 tem uma produção semi-hino de empoderamento da Katy Perry circa 2013
tudo em SUPER É muito datado, ao mesmo tempo em que é irretocavelmente 2023. um disco que só poderia ser feito em uma época tão sanitizada quanto a que nós vivemos. o pop brasileiro não pode mais ter personalidade. é o mínimo denominador comum da música. ao mesmo tempo em que…
o que deve ser feito?
a canção Luísa Sonza — Campo de Morango
…isso é lançado. existem várias polêmicas em torno de Campo de Morango, e quase nenhuma delas me interessa: quem reclama que é uma canção sexualizada demais é bobo, quem reclama de quem reclama disso é mais ainda — vocês todos merecem mais dez anos de um reinado de Jão. ao menos a Luísa Sonza tenta fazer algo de interessante — pelos motivos mais errados e péssimos possíveis, mas pelo menos ela tenta. não tem nenhuma pessoa no Brasil em 2023 que queira mais ser vista como interessante do que Luísa Sonza
Campo de Morango é um amalgamado de quases. o clipe é quase impactante — ela obviamente queria chocar alguma parcela da sociedade com todo aquele vermelho, mas o máximo que ela conseguiu foi chocar alguma senhora evangélica de Ribeirão Preto/SP e algum adolescente que fica tempo demais no TikTok assistindo vídeos de falha na matrix. qualquer pessoa que já tenha tido alguma experiência na vida com arte não se impressionou muito — como diria Chico Bento, isso é normar. é tudo normar.
e a música em si, novamente, é quase experimental. ela quis emular um negócio meio Arca, drill, hyperpop, industrial dos anos 70 — Luísa Sonza certamente escutou 20 Jazz Funk Greats antes de abrir o FL Studio e produzir essa música. - se isso fosse uma instrumental do Death Grips na era Government Plates, ninguém falaria nada — mas infelizmente, Death Grips era vanguarda há dez anos. hoje em dia, todo mundo já viu isso. logo depois da intro, a música vira uma canção normal da Luísa Sonza, uma prova de que essa suposta experimentação só serve pra tentar chocar o público. a senhora evangélica de Ribeirão Preto/SP não se importou muito
mas e aí, o que nós fazemos com tudo isso? o que deve ser feito com Luísa Sonza? trago outro questionamento: será que uma cantora pop rasa não tem o direito de fazer arte ruim? Luísa Sonza não pode fazer arte em um nível aluno de 2ª fase de Artes Visuais — Licenciatura? ela não pode querer ser blasé? ela não pode decidir do nada que adora os trabalhos do On Kawara, adquirir um fascínio pela land art de Robert Smithson? a Luísa Sonza, se ela quiser, não pode fazer land art? ela não pode querer que as pessoas achem que ela tem conceito? quando ela eventualmente entrar em sua fase comportada e tentar fazer um rebranding para uma artista séria que canta músicas com 70 BPM, a gente faz o que? apoia ela? acha besta? crucifica? destrói ela? o que a gente faz com a Luísa Sonza?
e quando todos nós formos apenas ossos? o que faremos?
joguei semana passada a demo de Twin Peaks: Into the Night, um fangame no estilo PlayStation 1 baseado em adivinha só. é uma demo curtíssima que você vai terminar em menos de meia hora, mas ela é super interessante — é meio como se fosse um Resident Evil que se passa na cidade de Twin Peaks, inclusive com os mesmos controles horrorosos dos Resident Evil originais
infelizmente, por isso ser um jogo de terror, eu levei um susto em determinado momento após entrar no black lodge — e é por isso que eu odeio jogos de terror: eles tentam te assustar. eu sou terminantemente contra esse tipo de coisa
estou esperando receber um estrondoso não como resposta, mas alguém assistiu a estreia do novo programa da Band segunda-feira, o Melhor da Noite. eu achei ele surpreendentemente bom, e não faço ideia de como isso aconteceu. é um programa de auditório com participação de repórteres ao vivo de todo o Brasil, e isso é algo que deveria ser básico nesses programas mas parece que os diretores se esquecem
talvez metade do apelo do programa pra mim seja o fato dele ser apresentado por Glenda Kozlowski e Zeca Camargo, dois dos maiores entertainers do Brasil. hoje em dia, é muito difícil existirem pessoas carismáticas na televisão, então precisamos apoiar aqueles poucos que ainda resistem
tem um quadro parecidíssimo com o antigo Me Leva Brasil, do Fantástico, tem o Rodrigo Alvarez falando de coisas da Europa em um quadro chamado Antimatéria e o Magno Navarro fazendo exatamente o que fazia no SporTV até outro dia. é impossível ser ruim, sabe?
eu infelizmente não tenho mais acesso às fitas VHS das corridas de jeep que meu pai participava nos anos 1990 com seu JPX vermelho, mas descobri que existem algumas gravações perdidas no YouTube desses raids de jeep clubes gaúchos e catarinenses da época.
e eu só queria dizer que a minha obsessão com a combinação de cores rosa + verde neon vem de assistir essas fitas incessantemente durante a infância e ver esse jeep maravilhoso em quase todas elas. pelo que meu pai me falou, o jeep era de algum maluco de Turvo, uma cidade perto de Criciúma ao lado de Ermo e Sombrio. é uma tríade de municípios meio macabros
finalmente escanearam as bolachas recheadas da Oreo especiais do filme do Mario pra posteridade. “ah isabela, como assim escanearam uma bolacha” é exatamente isso que eu falei. é impossível eu ser mais clara do que isso.
participei de uma oficina de colagem esse domingo e fiz isso. desculpa
eu destruirei vocês #92: uma falta de personalidade inacreditável
senti q essa edição foi cuidadosamente crafted pra mim, falando (ate que bem) da taylor e chamando atencao para a combinação de cores mais winner que existe.. mas vc nao vai me convencer a dar play em campo de morango, isabela thomé ..
sabe o pior. a do jão nem parece renato russo pra mim, parece cazuza. o que é muito muito pior