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eu destruirei vocês #95: a minha estrela pop
o álbum da Olivia Rodrigo, a seleção do Fernando Diniz e a newsletter da isabela thomé
não importa a sua idade, gênero, raça ou credo: toda pessoa precisa de uma estrela pop adolescente. mesmo que você seja um advogado da área tributária de Lauro Müller/SC ou um desenvolvedor full stack morando em Bayeux/PB, existem sentimentos que só podem ser genuinamente expressados por uma cantora básica de 22 anos de idade que só se tornou famosa porque as grandes gravadoras decidiram que valia a pena investir nela por achar que havia naquela pessoa um nicho que poderia ser explorado comercialmente
a gente não precisa ter nenhuma ilusão de que esses cantores e cantoras fazem uma arte qualificada e quebradora de padrões, e não tem problema nenhum nisso. o último artista que realmente fez alguma coisa nova no mundo foi o Marcel Duchamp, há mais de 100 anos, e só pra você ver onde essa busca pela originalidade pode nos levar, hoje em dia ele está morto
hoje em dia, existe uma estrela pop para cada grupo demográfico do mundo: a Taylor Swift faz música para mulheres brancas entre 20 e 29 anos, a Miley Cyrus faz música para gente que posta Boomerang nos stories, a Dua Lipa faz música para gostosas que foram assistir o filme da Barbie vestindo rosa, a Selena Gomez faz música quem passa o dia votando em alguma mulher normal pra ser campeã do Big Brother Brasil, a Charli XCX faz música para gays legais e a Demi Lovato faz música para gays insuportáveis.
e aí, óbvio, tem a Olivia Rodrigo, que faz música para mim.
a Avril Lavigne dos anos 2020 é exatamente igual à Avril Lavigne dos anos 2000 — que era, no caso, a Avril Lavigne. um pop punk adolescente, sobre problemas de adolescentes, feitos por uma pessoa que era adolescente há pouquíssimo tempo. todas as suas vivências relacionadas a passar com o carro na frente da casa do ex ou mostrar uma música do Billy Joel para outra pessoa continuam frescas na memória dela, como se tivessem acontecido ontem — porque aconteceram. em 2002 as vivências de Avril Lavigne eram quase iguais, exceto que elas envolviam mais skate, pistas de skate e programas de skate na MTV
Olivia Rodrigo e Avril Lavigne fazem parte do mesmo gênero: o pop punk corporativo, modelado para que não assuste ninguém que realmente importe. e não tem problema nenhum, porque grandes corporações já trouxeram muitas coisas positivas para a sociedade ao longo das décadas. não consigo pensar em nenhuma agora, mas se eu lembrar eu falo
em GUTS, o segundo álbum com título em caixa alta da carreira de Olivia Rodrigo, a humanidade finalmente conseguiu inventar um Weezer para mulheres. enquanto o primeiro álbum com título em caixa alta da artista, SOUR, contava com uma quantidade desnecessária de baladinhas tristes meio filme-da-Disney, GUTS é quase totalmente composto de canções com guitarra e bateria e baixo — e nada me deixa mais feliz do que a Olivia Rodrigo perceber que é isso que ela faz de melhor. good 4 u é um dos maiores feitos da música pop no século XXI, e agora existe um disco inteiro de músicas assim. obrigada, grandes corporações!
a Olivia Rodrigo é uma garota de muita atitude — a Lilica Ripilica da nossa geração — e dá pra ver isso perfeitamente em GUTS. se isso fosse os anos 1970, ela certamente teria uma banda punk chamada Olivia junto com outros quatro caras e teria que insistir em toda entrevista na televisão que ela não é um artista solo, e sim faz parte de um grupo. ela é básica demais para ser uma Poly Styrene, mas existe algum universo em que Olivia Rodrigo amadurece o bastante e se torna a Patti Smith da nossa geração. e eu estarei lá na frente, apreciando o Horses do século XXI como se nunca tivesse existido nenhuma música antes disso
além da deliciosa love is embarrassing — música sobre como amar é vergonhoso — o disco é cheio de canções com guitarra e bateria e baixo: em ballad of a homeschooled girl, a artista canta sobre se apaixonar por homens meio gays e se sentir inepta em situações sociais, algo que toda mulher já passou na vida, e all-american bitch é uma música toda sobre o fato dela ser uma garota básica — e ser básica pode até ser chato, mas admitir isso traz várias camadas extras e, paradoxalmente, a torna interessante. bad idea right? é um canção de rock sobre querer comer o ex. isso existe desde o início dos tempos e sempre vai existir
GUTS não vai mudar o mundo, porque vivemos em uma época com uma cultura tão diversa e espalhada por todos os lugares que nada vai mudar o mundo novamente. todas as coisas meio que vão ser assim até o final da vida humana, daqui a cerca de 150 anos, porque todo mundo já desistiu de tentar salvar o mundo das ameaças do aquecimento global, bombas nucleares e capitalismo destrutivo. mas enquanto A Grande Escuridão não chega, pelo menos a gente ainda pode escutar um disco de pop punk adolescente e se divertir
redução de seleção brasileira
a seleção brasileira de Fernando Diniz
eu preciso admitir: sou sim adepta do Dinizismo. assim como todas as pessoas do mundo, passei a admirar o trabalho do treinador a partir do momento em que ele realmente começou a ganhar partidas e títulos com o Fluminense esse ano — antes disso, ele não passava de um burro, uma fraude e um Professor Pardal.
os times de Fernando Diniz praticam um futebol experimental: praticamente nenhum jogador tem uma posição definida e, na grande maioria dos casos, eles criam 38 oportunidades de gol por partida e acabam perdendo de 2 x 0 com um gol de escanteio e um chute de fora da área. de algum modo, porém, ele conseguiu transformar um elenco semi-ridículo do Fluminense em um dos times mais difíceis de enfrentar no Brasil, colocando o Ganso pra jogar de líbero e o Germán Cano de gandula
portanto, colocar a maior seleção do mundo nas mãos de um completo lunático é algo que apenas uma confederação formado por doidos faria — e no dia 4 de julho de 2023, a CBF confirmou a contratação de Fernando Diniz como novo técnico da seleção brasileira. enquanto Carlo Ancelotti supostamente não vem, o cargo será de Fernando Diniz, queira você ou não. se ele quiser convocar o Jhon Arias, ele vai fazer isso. a única coisa que você pode fazer é reclamar na sua rede social de preferência do alto de sua insignificância. afinal, você não é treinador do Fluminense — e muito menos da seleção brasileira
e se você acha que por ser treinador dos dois times ele convocaria atletas de equipes rivais do Fluminense para enfraquecê-las na reta final do Brasileirão, saiba que ele ainda não fez isso. aliás, ele enfraqueceu foi o próprio time, chamando os desconhecidos atletas Nino e André para o escrete canarinho — assim como outros atletas de nível duvidoso, caso do reserva do Wolverhampton Matheus Cunha e do aposentado Neymar Jr., esquecido na deprimente liga da Arábia Saudita. não importa quantos gols a mais do que o Pelé o Neymar faça ou venha a fazer, ele continuará estando na liga da Arábia Saudita, e eu continuarei sendo contra qualquer jogador que decida jogar a carreira no lixo pra jogar lá. tô de olho nesse Ibañez aí também
para ver o nível decadente do decrépito Neymar Jr., é só olhar o pênalti patético que ele perdeu na goleada contra a Bolívia na sexta-feira — e se possível, convenientemente ignorar os dois gols marcados pelo mesmo jogador e todas as contribuições para jogadas perigosas na partida. ele tratou os zagueiros da Bolívia de um jeito tão humilhante que eles pareciam os beques do Al-Qadsiah
ao mesmo tempo em que Neymar da Silva Sauro é o novo herói do povo brasileiro, o outrora herói Richarlison é a pessoa mais odiada no país nesse momento. é aquele negócio: eu ainda sou defensora do Richarlison, mesmo com tudo que aconteceu desde a Copa do Mundo — é como se esse homem tivesse desaprendido como se chuta uma bola. eu não colocaria o Richarlison atual no lugar do Felipe Vizeu no ataque do Criciúma
mas também eu tenho plena consciência de que isso é só uma fase e que é tudo psicológico — o problema é que o pior lugar do mundo para tentar recuperar o psicológico de um jogador de futebol é dando pra ele a camisa 9 da seleção brasileira. o Tottenham não pode colocar ele pra jogar contra um Forest Green Rovers da vida na Copa da Inglaterra e deixar ele marcar uns nove gols? no dia seguinte o cara vai estar marcando gol de voleio em Copa do Mundo de novo. no jogo contra o Peru, mais uma vez Richarlison foi decisivo: ele esteve em campo por cerca de 60 minutos, impedindo assim o Brasil de jogar com um homem a menos em campo. sua existência ajudou a seleção. e isso já basta
em geral, eu acredito no trabalho de Fernando Diniz. ao longo da minha vida, eu também acreditei que O Sétimo Guardião seria uma novela das 21h incrível, que os Beach Boys continuariam juntos após a turnê de reunião em 2012 e que o Gilson Kleina levaria o posteriormente rebaixado Criciúma Esporte Clube à Série A em 2019. eu não sou muito boa com previsões
falando em futebol, nada me deixou mais feliz essa semana do que a final da Série D ser disputada entre Ferroviária/SP e Ferroviário/CE. Juscelino Kubitschek deve estar se revirando em seu túmulo
e falando mais uma vez de futebol, eu juro que vou enlouquecer até o final dessa Série B. a sensação que eu tenho é que todos os times do mundo estão com chances de subir. não duvido que de algum modo o Flamengo apareça no G4 em breve
ontem foi o aniversário de 73 anos da primeira aparição da Flatwoods Monster. feliz aniversário pra esse querida!
ultimamente ando obcecada em usar a câmera angular do celular pra fazer parecer que eu tenho membros muito compridos. eu não preciso de muito pra me divertir
eu destruirei vocês #95: a minha estrela pop
Em relação à arte de Olivia Rodrigo, um grupo bem específico de publicidade clama por este conteúdo para suas trilhas. Chicletes sem açúcar, absorventes com abas, chicletes com abas, campanha de Outubro Rosa, anúncio da nova biografia de Noel Rosa. Além destas varejeiras da comunicação, roteiristas de novelas teen olham pra Olivia Rodrigo e já esboçam na cabeça aquela cena da atriz protagonista olhando a tela do smartphone, na complexa dúvida se avisa o namoradinho ou não que a sua menstruação atrasou, pois ele está prestes a servir a Aeronáutica e um filho arruinaria os planos do promissor piloto de caças.
Mesmo não sendo boa em previsões foi uma bela análise da seleção, mas quem acompnaha série B já tá calejada também né...