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eu destruirei vocês #99: Cheetos já não era crocante?
o novo Cheetos Crunchy, a nova temporada de Simpsons e o novo álbum do Sufjan Stevens
imagine você um Cheetos. um salgadinho magnânimo, onipresente nas prateleiras de alimentos ultraprocessados juntamente com inúmeros outros produtos da multinacional Pepsico — dentre os quais não consta o refrigerante Coca-Cola. após anos de um marketing incessante nos Bom Dia & Cia, TV Globinho e programas infantis da televisão aberta sortidos, o Cheetos se tornou um símbolo de status. ao contrário do resto, ele é a elite. um salgadinho Fofura não vêm com tazos de Yu-Gi-Oh dentro. um Biluzitos pode possuir o sabor, mas não possui grife. um Torcida sabor pão de alho pode não parecer, mas também é um produto Pepsico
mas o que fazer quando o capitalismo entra em crise? o que fazer quando um chips tão icônico parece não mexer mais com o imaginário popular? o que fazer quando jovens preferem gastar seu dinheiro com uma assinatura mensal do Mubi ao invés de adquirir um pacote de Doritos de 850 gramas? o que fazer quando estes mesmos jovens gastam todo o seu tempo enviando convites do Mubi para amigos na esperança de ganhar uma ecobag azul ao invés de gastar esse tempo comendo um pacote de Doritos de 850 gramas? é aí que esse sistema nefasto precisa colocar suas melhores armas na mesa. é nesse momento que eles utilizam suas bombas de fragmentação varejistas. Cheetos Crunchy chegou
e como chegou. uma febre de décadas nos Estados Unidos, o Cheetos Crunchy vem ganhando destaque entre os jovens tiktokers de todo o mundo por obras fictícias que lidam com o tema — como o péssimo clássico do bedroom pop Flamin’ Hot Cheetos da cantora Clairo, e a inútil película Flamin’ Hot, uma biografia cinematográfica de um produto alimentício nos moldes dos filmes sobre o tênis Air Jordan & o jogo Tetris. afinal, marcas sempre serão mais importantes do que seres humanos.
bizarramente porém, apesar de fazer parte da mesma árvore genealógica, o Flamin’ Hot Cheetos não está presente nessa leva de lançamentos cheetásticos. o Cheetos Crunchy brasileiro vem nos sabores white cheddar & super cheedar, em minúsculos pacotes de 48 gramas que custam R$5,49 no supermercado Giassi do bairro Santa Bárbara, na cidade de Criciúma/SC. não me perguntem o preço dele no Giassi da Avenida Centenário. eu não sou onisciente
a grande promessa desse tal Cheetos Crunchy, como o próprio nome já diz, é ser crocante. é o grande chamariz, a grande novidade, a grande inovação. isso é muito crocante, diz a embalagem, prometendo uma crocância nunca antes vista em qualquer outro produto alimentício. uma bala Fini não é crocante, uma barra de chocolate Sonho de Valsa muito menos, quiçá um Stikadinho da Neugebauer. essa é a razão do Cheetos Crunchy existir: o croc croc. nesse quesito, ao menos, ele não decepciona. é como se eu estivesse me alimentando diretamente de alguma rocha — exceto que o gosto é um pouco melhor do que qualquer pedra que eu já tenha provado na infância e início da adolescência
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como era de se esperar, o sabor super cheddar é o destaque entre esses lançamentos — e como era novamente de se esperar, ele lembra muito o sabor do todo-poderoso e onipotente Doritos. a cor é a mesma, o odor é o mesmo, até o gosto do farelo possui uma similaridade amedrontadora com o clássico salgadinho laranja. isso não quer dizer, porém, que o Cheetos Crunchy de white cheddar seja completamente horroroso — ele só não tem como competir.
fala a verdade: entre um sabor chamado super cheddar e outro chamado white cheddar, qual você prefere comer? o super cheddar, como o nome já diz, é super. isso traz toda uma pomposidade, uma honra ao sabor. há uma certa majestade em um Cheetos de super cheddar. o que umwhite cheddar traz à mesa? quase nada. ele só é branco. ele é um cheddar soft. um cheddar totalmente contrário à vanguarda. um cheddar que existe, e nada mais. ele é medíocre.
as únicas vezes na sua vida que você vai pensar no Cheetos Crunchy de white cheddar serão quando você ver ele na prateleira do supermercado e quando você comer ele no conforto da sua casa. logo depois, ele irá embora pra nunca mais voltar. e não tem problema nenhum nisso: a vida é composta quase em sua totalidade de momentos assim. existe uma quantidade incontável de atos e etapas da sua vida que ocorrem e logo em seguida, somem. mas de algum modo, eles te mudam. toda experiência muda quem você é. compre Cheetos Crunchy
trinta e cinco?!?!?!?!?!?!?
o início da trigésima quinta temporada de Os Simpsons
os ouvintes de longa data desse programa de rádio talvez se lembrem de uma época na qual isabela thomé falava toda semana sobre o seriado The Simpsons — em português, Os Simpsons. textos constantes sobre coleções antigas de bonecos, produtos licenciados bizarros e episódios estrelando o fracassado bilionário Elon Musk, até o momento em que, assim como todas as outras obsessões que eu tenho, tudo parou abruptamente. em um dia, leituras profundas no site WikiSimpsons. em outro dia, nada. faz mais ou menos um ano que o meu cérebro não tem nenhum pensamento relacionado a Simpsons. eu esqueci completamente o que é uma Marge Simpson. eu nunca vi nenhuma pessoa com cabelo azul na minha vida
mas esse mês, a trigésima quinta temporada de Simpsons estreou — e a cada ano que passa, a mera existência desse desenho animado fica mais inacreditável e desorientadora. isso está há tanto tempo no ar que chegou um ponto em que todos os dubladores principais claramente tem voz de velho — até porque eles já passaram dos 60 anos de idade e em alguns casos, também dos 70. basicamente é um milagre que até hoje nenhum deles morreu, apesar de alguns deles parecerem estar com meio pé na cova já. a voz da Julie Kavner cada dia mais parece a múmia do Coragem o Cão Covarde
o fato, porém, é que as duas últimas temporadas de Simpsons foram boas. após vinte anos de completa letargia narrativa e humorística, eles decidiram que não tem problema nenhum escrever episódios engraçados e diferentes de vez em quando
a temporada 33 teve uma paródia de Fargo estrelando Ned Flanders, Bart e seus amigos sendo perseguidos por satanistas em uma floresta & uma das histórias mais lindas do Homer e Marge mais lindas de todos os tempos. a temporada 34 teve um episódio hackeado pelo Anonymous, toda a cidade de Springfield fazendo vídeos para o YouTube e um Death Note estrelando Lisa Simpson. e os dois primeiros episódios da temporada 35 estão ai
sei lá, eu ainda não me acostumei com essa era nova dos Simpsons. é muito estranho assistir um episódio atual e realmente, de vez em quando, dar risadas. escutar uma piada e achar ela engraçada. Homer’s Crossing , a grande estreia dessa temporada, é um daqueles clássicos episódios sobre o Homer conseguindo um novo emprego e eventualmente formando uma milícia. nesse caso, uma milícia de guardas de trânsito.
e como vários episódios atuais, esse é um episódio esquerdista: o Homer se voluntaria para ser guarda de trânsito e lentamente vai percebendo que não existe nada mais gostoso, mais enriquecedor do que o poder. depois de transformarem seu trabalho em algo essencial para a cidade de Springfield utilizando regras arbitrárias e o poder da intimidação, eles começam a demandar muito dinheiro do governo para realizar o seu trabalho, e em determinado momento, assassinatos ocorrem. todos os personagens nessa história são amarelos e fazem piadas de vez em quando
já A Mid-Childhood Night's Dream, que passou na Fox estadunidense no último domingo, é um dos episódios mais experimentais da história de Simpsons. ele não tem nem uma história por si só, o que significa que é até difícil de explicar exatamente o que ele é além de uma narrativa sobre as ansiedades de ser mãe.
a Marge percebe que eventualmente vai perder o Bart e começa a passar por uma síndrome do ninho vazio antes mesmo do ninho estar vazio. a história toda se passa dentro de sonhos que ela tem enquanto está com uma gripe muito forte, o que é uma desculpa perfeita para os artistas criarem algumas das cenas mais visualmente lindas que já estiveram um episódio de Simpsons. eu sei que ninguém aqui vai assistir isso, mas você devia assistir.
o próximo episódio vai ser o especial de halloween e o Bart vai virar um NFT
certas coisas precisam ser ditas sobre o novo disco do Sufjan Stevens, a primeira dela sendo puta merda. críticos poderão dizer que todas as músicas seguem a mesma fórmula de banjo no início → elementos eletrônicos na metade, mas um monte de coisa no mundo também segue uma fórmula e é maravilhoso.
já ouviu falar de física? matemática? já olhou em sua volta e viu a natureza? hein?
o trailer de Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo é simplesmente perfeito. parece uma novela da Viih Tube com um pouquinho mais de orçamento, ou um filme do Luccas Neto com um pouquinho menos de orçamento. meu ingresso já está garantido
ok, uma parte de mim está muito feliz que o Amazonas subiu para a Série B do Brasileirão, mas a outra me diz que eu estou sendo uma traíra por estar torcendo para o time rival do Manaus — esse sim um time que eu torço & acompanho há quase uma década
portanto, a solução é não ter nenhum sentimento positivo ou negativo com essa notícia. eu vou ficar olhando fixamente pra parede pelas próximas horas
isso sou eu, aliás. quando você me machuca, é isso que você está machucando
eu destruirei vocês #99: Cheetos já não era crocante?
Impressionante o ritmo que você dá ao texto. Eu odeio cheeetos, nunca vi Simpsons, e nem sei de que banda você teceu comentários, mas li e adorei heheheh
você precisa pagar pelos direitos de reprodução da minha imagem. o gato comendo urânio sou literalmente eu.
estarei processando você, isabella tomé, a pelúcia de solzinho.