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eu destruirei vocês #X7: todos os pinball do mundo, pt. 1 [ABERTO]
era o melhor dos tempos, era o pinball dos tempos
bom dia! esta é a primeira parte de um texto extremamente longo que eu decidi escrever sobre jogos de pinball.
originalmente, minha ideia era enviá-lo apenas para os assinantes pagos da newsletter, porém esse negócio ficou tão gigante que eu percebi, na metade do caminho, que seria inevitável dividí-lo em duas partes. e é isso que estou fazendo!
a primeira parte, que você está prestes a ler, vai ser uma cortesia para todos os inscritos. a segunda parte do texto será enviada apenas para os assinantes na segunda-feira que vem,
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sim, eu acabei de quebrar uma linha com uma vírgula. o bom da gramática é que você literalmente não precisa seguir nenhuma regra
videogames de pinball talvez sejam alguns dos jogos mais confusos que existem — não em gameplay, mas sim conceitualmente e filosoficamente. as primeiras máquinas de pinball na vida real surgiram nos anos 1930, cerca de 25 anos antes da primeira coisa que pode ser considerada um videogame ser jogada no mundo e uns 40 anos antes de Space Invaders aparecer e mostrar ao mundo que entretenimento eletrônico poderia ser uma coisa viável
pinball, se você parar pra pensar, é um negócio bem simples — ao mesmo tempo em que é a coisa mais complicada já criada na face da terra. máquinas de pinball se caracterizam principalmente pelos seus flippers, os pequenos mecanismos que ficam na parte de baixo de uma mesa e que um ser humano pode controlar usando botões. hoje em dia isso pode parecer bobo, mas em uma época em que praticamente não haviam botões para um ser humano controlar, a introdução desses apetrechos foi uma inovação tecnológica similar à invenção da wi-fi anos depois
e jogos de pinball podem vir em vários sabores. a primeira máquina com flippers na história, por exemplo, foi lançada em 1947 e era temática do Humpty Dumpty, uma cantiga de ninar americana sobre um ovo com feições humanas ou algo assim — uma coisa sobre estadunidense é que eles são um povo pouquíssimo criativo. ao longo dos anos, a indústria cultural foi cada vez mais entrando na jogada até existirem máquinas de pinball de absolutamente tudo no mundo — rápido, pense em uma coisa agora. pensou? procura por “_______ pinball” no Google que você com certeza vai achar um resultado. pensei em AC/DC e realmente existiu um pinball dessa porcaria
mas eventualmente os videogames entram na parada, e aí tudo ficou inexplicável. afinal, todo videogame de pinball é apenas uma representação do pinball — algumas mais realistas que as outras, claro, mas nenhuma delas é o pinball de verdade. afinal, os botões de um controle não são os mesmos botões de uma máquina real, as luzes não são as mesmas, a sensação não é a mesma. todo game de pinball é um fac-símile de pinball, assim como FIFA é apenas uma versão bastarda de futebol de verdade e Mario Super Sluggers não é uma representação realista de uma partida de baseball. no baseball de verdade não tem o Waluigi
lembrando hoje, minha primeira experiência com pinball em geral não foi em uma máquina de verdade, mas imagino que seja uma experiência compartilhada com muita gente. foi com ele, o incrível, o magnífico, o inigualável 3D Pinball for Windows: Space Cadet
o amigo de toda criança sem internet nos anos 2000, 3D Pinball for Windows: Space Cadet inaugurou o vício em pinball de toda uma geração — quem jogava isso imediatamente saía correndo na direção de um pinball de verdade toda vez que ia em um fliperama e ignorava por um instante Daytona USA e similares. esse era um jogo que já vinha embutido no Windows XP, juntamente com Paciência e o misterioso Paciência Spider, que nem mesmo os mais renomados cientistas do mundo sabem como se joga
e apesar de ser apenas um brinde da Microsoft para os consumidores, esse surpreendentemente não era um jogo de pinball ruim — comum talvez sim, mas ruim jamais. até hoje, quando penso em um bumper de pinball, as cores branco, vermelho e azul vem diretamente à minha cabeça por influência dessa mesa, e esse talvez é o maior legado dela: quando muita gente — especialmente crianças e adolescentes dos anos 2000 — pensa em pinball, é exatamente nessa mesa que elas pensam, com todas as suas cores, aberturas e zonas
pra quem nunca foi atrás de pesquisar sobre 3D Pinball for Windows: Space Cadet — e não os culpo por isso, ele é na verdade uma demo de um jogo chamado Full Tilt! Pinball, desenvolvido pela Cinematronics e lançado pela Maxis em 1995. além de Space Cadet, o jogo possuía outras duas mesas baseadas em temas genéricos: Skullduggery, com a temática pirata, e Dragon’s Keep, um negócio meio medieval com dragões e calabouços e aquela porra toda lá. o pessoal adorava uma aventura medieval medíocre nos anos 1990
mas o que fez a paixão por pinball crescer verdadeiramente dentro de mim foi um pequeno jogo para Nintendo DS que ninguém lembra. calma aí, deixa eu só abrir um entretítulo rapidinho
pinball do Joy Mech Fight
os pinball da Nintendo
ok, agora eu vou continuar. Metroid Prime Pinball foi um dos jogos que eu aprendi a amar naquela delirante época em que o Nintendo DS era rei e o R4 existia — tenho certeza absoluta que nunca na vida eu terei uma experiência tão incrível com videogames quanto foi existir nesse período de tempo. uma mistura confusa e estranha de Metroid Prime com pinball, Metroid Prime Pinball é Metroid Prime, só que com pinball. isso é tudo que você precisa saber
o que mais me fascinava e fascina até hoje nesse jogo é a quantidade de coisas que podem acontecer nele. pra começo de conversa, ele é um jogo de pinball finito — as fases eventualmente terminam aqui. o motivo incrível pra essa bizarrice é que toda mesa possui um chefe que você precisa derrotar utilizando as suas bolas — ou seja, é possível ganhar nesse pinball. não é um jogo capitalista de acumulação de recursos ou pontos, esse é um game do povo
fora que ele tem uma das coisas mais importantes em um jogo de pinball: um gameplay satisfatório. grande parte do que determina se um game de pinball é bom ou não são as físicas do negócio — o quão gostoso é quando você acerta a bola com uma das alavancas, e Metroid Prime Pinball se destaca nesse quesito. esses são facilmente alguns dos melhores flippers da história do gênero
e a quantidade de minigames que pode ocorrer do nada durante as sessões também é inigualável — um jogo normal de pinball não tem minigames, mas esse aqui tem, e são vários. em Triclops Terror, por exemplo, um monte de caranguejos aparecem na mesa tentando roubar sua bola — e sua única opção é assassiná-los. um Chozo pode aparecer a qualquer momento, atirar na sua bola e mudar a trajetória dela, e a própria Samus Arantes do Nascimento, anteriormente recolhida à sua insignificância e existindo apenas no modo bolinha, pode virar uma Samus normal e começar a atirar em todo mundo quando determinado número de pontos é atingido. isso é girl power
Metroid Prime Pinball é a prova concreta de que talvez jamais tenha existido um console tão bom para pinball quando o Nintendo DS — e mesmo assim, ele é um dos poucos jogos relevantes do gênero no videogame. não sei se existe uma explicação lógica para isso, mas tudo que sei é que se toda franquia da Nintendo tivesse um jogo de pinball tão incrível quanto este, o mundo seria um lugar um pouquinho melhor. mas infelizmente, nem todos podem ser Metroid Prime Pinball
o game que acabamos de falar foi desenvolvido pela Fuse Games, empresa britânica especializada em jogos de pinball extinta em 2014. o jogo que falaremos a seguir também foi desenvolvida pela Fuse Games, mas nem parece. Mario Pinball Land, lançado em 2004 para o Game Boy Advance, é literalmente uma das experiências mais tristes que eu já tive com a mídia dos games
a vontade que eu tenho é de nem sequer pensar nesse jogo, mas ao mesmo tempo, é pra isso que eu estou aqui. o meu problema com Mario Pinball Land é que ele não é um jogo de pinball. em games normais do gênero você tem uma mesa e a ação fica restrita a ela apenas, mas Mario Pinball Land funciona mais como uma adaptação de Super Mario 64 para o pinball do que como um jogo comum — e resumindo desse jeito parece até que pode ser legal, mas não é
o intuito do game é coletar estrelas ao longo das várias mesas e assim, ganhar acesso a portas que te levam a outras áreas do mundo. agora, os problemas com essas mecânicas
todas as estrelas são conseguidas da mesma maneira: atacando inimigos aleatórios usando a bola-Mario
as supostas mesas são todas minúsculas e extremamente sem graça, com pouquíssimos elementos pra dar um pouco de diversão pra elas
ter que entrar nas portas usando só os flippers é chato, difícil e desgastante
frequentemente você entra em uma porta e, por descuido, acaba voltando uma mesa sem querer — e aí é um suplício pra conseguir entrar nela novamente
as físicas são horríveis e o Mario constantemente sai voando por aí sem que isso seja a sua intenção
fora que a música é altamente genérica e os gráficos me lembram jogos em flash dos anos 2000 — se bem que um Super Mario 63 da vida é mais bonito do que isso.
se Mario Pinball Land fosse só um jogo desenvolvido dentro da própria Nintendo eu até entenderia o desleixo com todos os elementos do game, mas pensar que a Fuse Games realmente pensava que o jogo estava bom desse jeito me deixa super triste — é um milagre que Metroid Prime Pinball foi lançado treze meses depois desse jogo. esse é facilmente um dos maiores saltos de qualidade de um jogo pra outro em todos os tempos
já um game que não foi feito pela Fuse Games é Pokémon Pinball: Ruby & Sapphire — esse foi a Jupiter que desenvolveu, aqueles mesmos que fazem todos os jogos de picross do mundo. quero falar sobre a versão Ruby & Sapphire do jogo porque, no fundo, a original de Game Boy Color é a mesma coisa só que com menos recursos tecnológicos — o gameplay em si é completamente igual entre ambos os jogos, até parece que são da franquia Pokémon
uma coisa que ninguém pode acusar Pokémon Pinball: Ruby & Sapphire e seu antecessor é da falta de charme. qualquer criança obcecada com Pokémon também vai ficar obcecada com essa série por ela ser extremamente simples, colorida e chamativa — tipo aqueles brinquedos de bebê com trinta cores diferentes que você chacoalha na frente da criança pra ela aprender… coisas novas. sei lá, não sou pedagoga. e assim como essas distrações infantis, a série Pokémon Pinball não possui nenhuma profundidade — e isso é lindo
o gameplay dos jogos segue a seguinte fórmula: é pinball com mesas temáticas de Pokémon. mesas muito legais, diga-se de passagem — como eu já disse, são coloridas, tem várias mini-fases bônus que você pode encontrar, tem chefes pra derrotar que nem um bom jogo de pinball da Nintendo, mas ao mesmo tempo, o gameplay é tão lento que é quase impossível eu conseguir me divertir com ele hoje em dia. e por que o gameplay é lento? porque é um jogo feito pra crianças. estou furiosa que não faço parte do público-alvo de Pokémon Pinball
e claro, existe a mecânica divertidíssima de capturar pokémon — mas ela é divertidíssima só até o momento em que você para pra pensar “…por que eu estou capturando eles?”. a única coisa que existe pra fazer com os Pokémon que você captura é ver eles na sua Pokédex — não tem um modo que você pode, sei lá, colocar uma skin do Pokémon que você capturou na sua bola e jogar com ela, qualquer coisa. é uma mecânica que só existe pro jogador se divertir e eu acho isso inadmissível. péssimo game design — nem mesmo eu sei o quão irônica estou sendo aqui
basicamente, um pinball de Pokémon poderia ser muito mais do que é, mas ele também não tinha necessidade nenhuma de ser algo grandioso. a The Pokémon Company e a Nintendo tem noção de que um jogo de Pokémon não precisa ser ótimo, bom ou até aceitável pra vender bem — Pokémon Channel saiu nesse mesmo ano, sabe? eles podem lançar qualquer coisa que alguém vai comprar
pensamento esse que me leva ao icônico e perfeito console Virtual Boy — ele, o magnífico videogame de realidade virtual da Nintendo nos anos 90 que só exibia jogos em preto e vermelho. o Virtual Boy teve uma biblioteca enorme de mais de dez jogos ao longo de sua história, e um deles — que inclusive foi um jogo de lançamento — é Galactic Pinball. um pinball galáctico? não falta mais nada pra pensarem mesmo. daqui a pouco vai ter até um gato galáctico se continuar desse jeito
pessoal, vocês não vão acreditar. Galactic Pinball é ruim. desenvolvido pela Intelligent Systems, que faz Paper Mario, Fire Emblem e WarioWare, esse é provavelmente o jogo mais lento de pinball que existe na face da terra — a não ser que exista um jogo indie transgressor cujo objetivo é apenas ser uma versão lenta de pinball
e por causa das limitações técnicas do Virtual Boy, Galactic Pinball peca nos principais aspectos das máquinas que ele tenta emular. todas as quatro mesas, por exemplo, são minúsculas — tipo, realmente muito pequenas, a ponto de nem mesmo serem divertidas. elas só existem, sabe. existem tridimensionalmente e depressivamente, tal qual eu em um mundo cada vez mais destruído pelo capitalismo
outro pecado: não consigo entender porra nenhuma do jogo — e aí eu sei que é por que eu estou jogando um jogo com tecnologia 3D em um emulador com um tela que não é 3D, mas caramba, é insalubre o negócio. eu juro que teria jogado mais do que cinco minutos disso aqui se eu conseguisse ver algo
no outro lado do espectro político, temos ainda Revenge of the 'Gator, lançado para Game Boy em 1989 pela HAL Laboratory e possivelmente o jogo de pinball mais simpático do mundo — apesar do nome implicar uma terrível vingança por parte do tal aligátor do título, nada do gênero ocorre neste game. é sério, todos os personagens desse jogo são tão fofinhos que literalmente dá vontade de jogar mais só pra ficar vendo eles brincando e fazendo besteirinhas. agora eu entendo como os adultos que assistem Bluey se sentem
novamente, esse não é um jogo complexo de jeito nenhum — ele nada mais é que um jogo de pinball com uma temática de crocodilos, mas isso não impede eu de me apaixonar completamente por ele. mesas pequenas, poucas fases bônus, uma trilha sonora que repete um loop de cinco segundos, falta de coisas para fazer em geral — mas os crocodilos são muito bonitinhos
não consegui pensar em nada pra falar sobre Kirby’s Pinball Land, lançamento de Game Boy em 1993. existe um hack chamado Kirby's Pinball Land DX que deixa o jogo colorido. bom pra ele
considerações da metade do conteúdo
uau, obrigada por ler até aqui! como eu já disse anteriormente, a continuação dessa edição será exclusiva para assinantes pagos e lançada na segunda-feira que vem
nela, vou falar sobre os vários jogos de pinball do capeta que existem e diversos outros que possuem a fórmula de pinball, mas fazem coisas diferentes com ela. pelas minhas contas, vou falar de mais catorze jogos de pinball. tomara que eu não precise fazer uma terceira parte disso
até semana que vem!
eu destruirei vocês #X7: todos os pinball do mundo, pt. 1 [ABERTO]
meudeus eu preciso jogar o pinball de windows de novo IMEDIATAMENTE!!!!
e fazendo aqui o adendo que pra mim o paciência spider sempre foi muito mais fácil de jogar que o paciência normal, que até hoje eu não sei direito como funciona
Bom saber que o Pinball do Metroid é bom porque carrego sequelas do pinball do Sonic e do Mario até hoje. Vou jogar depois