folhas de São Paulo
cinco dias com Laurinha Lero
então, eu viajei para São Paulo. me desculpa.
mas por favor, acalmem-se. antes que toda a população criciumense apareça com tochas e armas de fogo na frente da minha casa, tenho algo para dizer: eu não moro mais na frente do shopping Della e vocês não sabem o meu novo endereço. ai, olha, sinceramente, uma hora ia acontecer. por mais que as águas do rio Criciúma me chamem todos os dias implorando para que eu me veja em seu reflexo só mais uma vez, existem coisas que você não encontra em Criciúma — e dessa vez, especificamente dessa vez, eu não estou falando da Festa do Colono no município de Turvo.
em São Paulo, eu encontrei pôsteres espalhados pelas ruas promovendo o novo disco de David Byrne, Who is the Sky?, enquanto em Criciúma, de vez em quando, eu vejo um outdoor promovendo um show do grupo tradicional Os Campesinos em alguma casa de shows que eu jamais visitarei. antes fosse Los Campesinos. infelizmente o indie rock dos anos 2000 ainda não chegou por aqui
mas o fato é que, nesses últimos tempos, eu estive hospedada na casa da minha grande amiga virtual-que-agora-é-pessoal
, frequente respondedora, conhecendo tudo que A Cidade Grande tem a oferecer — desde feirinhas de rua vendendo apontadores em formato de máquina caça-níquel até cafeterias muito chiques que você sabe que são chiques porque tem plantas por todo o recinto.belíssimo itinerário, Laurinha; muito obrigada por tudo. eu poderia fazer uma simples recapitulação dessa viagem, numerando todos os lugares que visitei, mas eu acabei de olhar pro lado e perceber que eu tenho uma sacola cheia de papéis aleatórios que eu trouxe da cidade mais populosa da América Latina e ela está me chamando tal qual a máscara de algum duende de cor indefinida. calma aí, deixa eu pegar isso na mão
eu sou uma grande fã de papéis. desde os tempos mais primórdios, o papel tem como função ser utilizado para colocar coisas que você coloca em um papel. foram alguns os motivos que me levaram a guardar todo e qualquer papel que eu trouxesse de São Paulo; o primeiro deles é que eu sou louca, o segundo é que eu adoro todo tipo de tralha e o terceiro não existe, mas eu gosto de múltiplos de três.
eu usarei eles em algum momento da minha vida? certamente não. eles ficarão guardados para sempre dentro da mesma sacola, talvez sendo tirados uma vez por ano para eu relembrar da viagem e pensar “nossa, é verdade, o Farol Santander tem um mirante muito curioso” até começar a pensar no mirante do morro Cechinel, em Criciúma, e esquecer da existência da sacola por mais um ano. é assim que eu vivo. mas pensa pelo lado positivo; pelo menos é uma sacola muito interessante. eu acabei de mentir; a sacola é normal, da loja de card games Epic Game, localizada na Liberdade. mas eu comprei sim em tal loja um booster de Yu-Gi-Oh! que veio com a carta Golem de Lava. e qualquer dia em que eu sou confrontada com um golem de lava é um bom dia
e pra mostrar o quão séria eu sou em relação a guardar qualquer lixo do mundo, aqui estão dois bilhetes do metrô de São Paulo. se você mora em São Paulo, talvez você já tenha visto um. as chances são grandes de você já ter se deparado com um desses. provavelmente, em algum momento, você já viu um. ahn? como? você me perguntou se em Criciúma tem metrô? não preciso responder isso agora. tenho coisas mais importantes para pensar. Criciúma tem um ônibus que vai de uma extremidade para a outra da avenida Centenário e se reclamar, o prefeito corre atrás de você com uma baioneta
talvez seja meio woke o fato de terem colocado um trem debaixo da terra, já que um trem normalmente fica em cima da terra, mas eu não me importo; um belíssimo meio de transporte. em algumas linhas você precisa descer uma quantidade absurda de escadas rolantes para chegar no seu destino e isso é lindo. uma única estação de metrô em São Paulo vai ter mais escadas rolantes do que a cidade de Criciúma inteira. caso você não saiba o nome disso, é progresso. seu valor na vida será decidido pela quantidade de escadas rolantes perto de você. não adianta fugir disso. Eles já decidiram que será assim.
e sabe a melhor parte de ficar observando e analisando papéis e similares? eu tenho a pior memória do mundo e não fazia mais ideia de metade das coisas que eu fiz naquela cidade. acaba de aparecer na minha frente uma incrível nota fiscal de uma loja da Granado, e se isso não tivesse acontecido, eu jamais teria me lembrado que nós fomos, de fato, em uma sorveteria da Granado. mais um conceito woke que apenas a cidade grande poderia nos proporcionar. admito: fazia um tempo que eu sentia que precisava, em algum momento da minha vida, provar os sorvetes da Granado — sim, os sabonetes são deliciosos, mas chega um momento em que eles não saciam mais o seu apetite. você precisa de algo novo, uma consistência diferente. talvez um pouco menos de espuma
acabei provando dois sabores; rosa damascena, um sorvete floral frutado a base de geleia de morango com água de rosas, e apotecário, um gourmand especiado com canela e toque de cumaru. estarei falando a seguinte frase ainda sem saber exatamente o que ela significa: um completo absurdo. eles são gostosos? até que são, mas talvez na próxima vez eu decida comprar um sorvete que não fique do lado de cremes de mão em um segundo andar de uma loja de cosméticos. e também eu me arrependi de ter comprado 100 gramas de sorvete em um dia onde eu já havia me alimentado. eu só preciso de uma refeição no dia. a influencer Laurinha Lero pode confirmar isso para você
em determinado dia da viagem realizamos uma peregrinação até uma Daiso misteriosa — ela não é tão misteriosa assim, eu só não lembro exatamente em qual shopping da cidade ela fica. e também não foi uma peregrinação, nós só estávamos fazendo outra coisa e uma Daiso se materializou em nossa frente. um lugar aterrorizante. eu realmente evitei entrar nos corredores de pelúcias; não precisava daquilo naquele momento. eu poderia organizar minhas compras da Daiso em um mesmo lugar e bater uma foto muito fofinha das aquisições, mas eu tenho as notas fiscais do estabelecimento, então não precisaremos de nada muito lúdico. utilize o poder da palavra e da escrita e imagine estes três objetos;
bloco de anotação de papel
calendário de papel 2026
vaso decorativo de cerâmica
é como se você estivesse sentado na bancada da minha cozinha e eu estivesse te mostrando os objetos um a um. ah, e caso você seja um grande fã de Laurinha Lero, eu por algum motivo fiquei com a nota fiscal dela dessa mesma visita à Daiso e posso te mostrar exatamente o que ela comprou por lá. mediante pagamento de 500 reais via transferência bancária
então, mais ou menos uns cinco segundos atrás eu encontrei um misterioso guardanapo por aqui que, após uma análise minuciosa, contém um incrível papelzinho de brigadeiro dentro. não sei se alguém por aí sabe disso, mas tem uma quantidade enorme de restaurantes em São Paulo — eu poderia elencar todos eles aqui, mas não quero no momento. um entre as dezenas de restaurantes da cidade é o Dona Onça, localizado na galeria do icônico Copan. caso você não tenha muitas referências de São Paulo, o Copan é maior que o edifício Lúcio Cavaler. eu posso falar mais, é só você pedir
o Dona Onça talvez foi o lugar em que eu mais me senti intimidada em São Paulo. talvez tenha sido os garçons e garçonetes do local, que vestiam camisas manga-curta com estampa de oncinha, mas é muito mais provável que tenha sido pelo público; eu e minha amiga Lero provavelmente éramos as pessoas mais jovens naquele recinto. uma quantidade absurda de idosos às 13 horas, horário perfeito para se almoçar enquanto idoso porque todos os jovens que ainda trabalham em um lugar de verdade já foram embora. sobraram apenas os mais próximos da morte. mas pelo menos o tartar de carne era uma delícia, e eu não estou dizendo isso só para ser legal. grande fã do brigadeiro também. tanto que eu trouxe o papel para Criciúma. enrolado em um guardanapo









“ok, isabela thomé, mas você fez alguma coisa em São Paulo que não envolva pequenos papéis guardados em uma sacola de uma loja de card games?” bom, eu tirei muitas fotos de bancos. se isso for o suficiente para você, fico feliz








você só precisar de uma refeição no dia ACABOU com os meus planos. eu ia emendar um restaurante no outro até a hora de vc ir embora
minha nossa, que crossover maravilhoso. me sinto representada num tanto! "ah porque também coleciono papéis?" claro que não. é que sou de criciúma e moro em são paulo. é tipo "uau, minhas duas personalidades sendo mencionadas num texto da minha conterrânea que um dia será referência mundial quando o assunto for criciúma! slk!!" além disso, tem A laurinha lero. é tipo "uau, duas pessoas que eu acompanho na internet JUNTAS?"
incrível. a internet é incrível.