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você chegou na fronteira final. eu, isabela thomé, passei os últimos trinta dias organizando esta edição específica da eu destruirei vocês. talvez a edição mais megalomaníaca da história dessa publicação, ao mesmo tempo em que é de uma simplicidade absurda. nos últimos trinta dias, eu fiz uma pergunta singela para diversas pessoas.
qual o seu vídeo favorito do YouTube?
ao longo dos trinta dias subsequentes, elas responderam. obrigada.
Clara Browne
pesquisadora e escritora da intern3t!!!11
Você pode achar o que quiser de São Paulo, mas tem uma coisa que nenhuma (01) cidade no mundo tem, só em São Paulo mesmo: a estátua do Borba Gato. Feita no quintal da casa de seu artista, Júlio Guerra, a estátua do Borba Gato é um marco único no mundo. Quantas cópias do David de Michelangelo você encontra por aí? O Beijo do Rodin? Até as estátuas do túmulo dos Médicis estão repaginadas também em São Paulo na grandessíssima Praça Cidade Milão (uma história pra outro dia). Mas o Borba Gato? O Borba Gato é único.
10 metros e 20 toneladas de pura pastilha, mais um pedestal de 3 metros, essa obra é um alvo fácil para críticas e piadas. Por quê? Ela é feia. E não é que ela é pouco feia. Ela é feia pra caralho. Ela é um caso de horror que assombra qualquer cidadão que cruza o bairro de Santo Amaro. Criticar o Borba Gato – pixar, incendiar, depredar... Tudo isso é fácil. As pessoas argumentam que devemos derrubá-la porque ela é um símbolo da escravidão, mas a estátua do Borba Gato deu a volta: ela nos lembra dos horrores, da feiura e das atrocidades cometidas pelos bandeirantes. Polêmico seria quebrar O Monumento às Bandeiras. Trocar o nome da avenida Bandeirantes. Mas ninguém quer polêmica de vdd vddr.
É por isso que, no dia de hoje, como melhor vídeo do YouTube, eu convoco o vídeo da Galeria Filmes de inscrição do Borba Gato como a oitava maravilha do mundo. Dos confins da internet, mais ereto que Brasília, olha só como ele brilha! Vote Borba.
Laurinha Lero
podcaster aposentada e escritora da Respondendo
Meu vídeo preferido, DUNKEY STREAMS ELDEN RING (DAY 3), tem quatro horas de duração. Um pouco excessivo, talvez; certamente maior do que a média nesse post. Mas a escolha é sensata. Quatro horas de vídeo é exatamente o que você precisa quando chega do trabalho, aperta um fininho e deita no sofá com um saco de M&M rotulado "Pra Galera". É longo o suficiente pra você se distrair da TV sem culpa, e ainda assim bom o suficiente pra você pegar um momento engraçado toda vez que lembrar que a TV existe.
Dois grandes destaques: os quarenta segundos entre o Dunkey descobrir uma parte do mapa que ainda não tinha visitado, reagir com curiosidade a um ÓBVIO indício de violência e morrer nas mãos de um rato gigante; e os VINTE E QUATRO MINUTOS gastos na luta com o Radahn porque ele decide tentar sobreviver a uma chuva de meteoros rolando. Ao todo, a playlist DUNKEY STREAMS ELDEN RING dura 24h e 23 minutos — e o dia em que você se entregar a essa experiência será o melhor da sua vida.
Will Toledo
vocalista e compositor do Car Seat Headrest
Eu admito: eu gostava de Crepúsculo. A série foi lançada quando eu estava no ensino médio e, embora o romance não me atraísse nem um pouco, a intensidade e a dramaticidade de sua visão era atrativa e divertida, uma boa forma de voltar ao mundo real com os amigos depois de Harry Potter. Essa perspectiva paradoxal - reconhecer o absurdo dos livros e aproveitar com entusiasmo o tempo gasto com eles - foi, creio eu, compartilhada por muitos leitores da época. Uma prova disso é a série do YouTube que começou por volta dessa época: Twilight: The Musical, da Gliff Productions.
Twilight: The Musical é uma joia incrível e semi-perdida. Ela tem o charme de um filme caseiro feito por um grupo de amigos do ensino médio e um roteiro equivalente aos melhores longas-metragens do gênero paródia. (O seu conteúdo mais fraco e juvenil aparece na “parte 1”, que pode ser pulada). Como esses filmes, ele se aproxima muito de seu material original, fazendo apenas pequenos ajustes no absurdo inerente para que se torne engraçado. Veja a cena do laboratório na parte 3a, que, em sua maior parte, é um diálogo extraído diretamente do livro, com a cadência irreprimível de um episódio de Bob Esponja e algumas piadas visuais para fechar com chave de ouro.
Infelizmente, como muitos projetos cinematográficos amadores e indepedentes, a série nunca passou da “parte 4a”. Informações sobre a série são escassas; talvez nunca saibamos como eles aparentemente envolveram uma escola inteira na produção de um filme de paródia. Por um tempo, os vídeos foram completamente apagados da face da internet. Foi um grande dia quando quem administra o canal do YouTube - possivelmente o Gliff, que interpretou Edward e criou a série - optou por torná-los públicos mais uma vez. Esses vídeos são um ótimo exemplo de como tornar algo ridículo e divertido ainda mais ridículo e divertido.
nota da editora: texto original, em inglês, aqui
Rafa Castro
roteirista, host do podcast Fábrica de Filmes e escritor da Você por Aqui?
Difícil demais essa tarefa de escolher um vídeo favorito do youtube, mas às vezes na vida passamos por esse tipo de ‘Dilema do Bonde’ em que as vítimas são um locutor de rádio que fala os nomes das músicas errado ou uma menina desesperada para evitar que um forninho preso à parede caia. Minha escolha ficou com esse singelo compilado de 3 minutos que sempre me alegra quando estou para baixo. Um vídeo que costumava deixar rolando no trabalho, desligava o monitor e ia tomar um café. Espero que curtam.
Bruna Machado
depre_sivinha e primeira-dama da eu destruirei vocês
O meu vídeo favorito do YouTube é o twins in paradise.
Em 2022 eu entrei um burnout miserável trabalhando como recepcionista de uma clínica de saúde. Depois de dois anos os meu desenhos se transformaram em rabiscos indecifráveis feitos com caneta bic e o meu maior objetivo era fechar qualquer folha que estivesse ao meu alcance enquanto eu atendia o telefone, sem deixar nenhum cantinho em branco. Era o fim, eu havia crescido e minha criatividade tinha ido embora junto com a minha juventude.
Mas o senhor YouTube tinha outros planos quando recomendou um vídeo sobre duas garotinhas loiras e tenistas super coloridas.
Eu consigo lembrar exatamente do momento em que o meu cérebro derreteu por completo quando eu vi aquelas PerSpEcTiVaS pela primeira de muitas vezes. A perfeição da trilha sonora, as cores, os detalhes, tudo, tudinho mesmo. Ele meio que me salvou.
Show do Vitinho
comediante stand-up e roteirista
Nessa obra de apenas 22 segundos vemos Galvão Bueno em seu auge vocal e emocional, ele atingia níveis patrióticos tão grandes, que começa chamando o zagueiro “Aldair” de dono da defesa brasileira após o mesmo realizar um simples domínio. Apesar do leve exagero, até aí ele está narrando fatos, a partir do momento em que Bebeto domina a bola o narrador se torna um brasileiro comum, e grita: “ROMÁRIO NO MEIO!” Indicando qual seria a melhor jogada para Bebeto, que não seria burro o suficiente pra ignorar um pedido de tamanha nobreza. Após o passe decisivo, Galvão encerra a narração esbravejando: “VAI ROMÁRIO, VAI ROMÁRIO!” Eu não era nem nascido em 1994, tão pouco me importo com a carreira do deputado Romário, mas esse com certeza são os melhores 22 segundos de prazer que eu já presenciei. Sóbrio ou alterado.
hazel m
youtuber e musicista nos projetos Twinkle Park e Smiling Broadly
Eu tenho em meu coração um profundo amor e fascínio por outsiders. Nossos fracassados, anormais e depravados revelam um tipo de honestidade humana que muitas vezes fica trancada naqueles que são remotamente capazes de se encaixar. É desconfortável e assustador confrontar-se com estilos de vida, desejos, paixões e ideologias anômalas que você nunca concebeu ou, pior ainda, que você se vê aceitando relutantemente de acordo com as convenções sociais. É claro que dificilmente alguém que poderia ser chamado de outsider pensaria de si mesmo dessa forma, afinal, suas vidas são simplesmente suas vidas - e acho que ter e reconhecer a relação com esse fato é a chave para evitar que o fascínio se transforme em um voyeurismo. No entanto, hoje em dia, o envolvimento subconsciente com o voyeurismo é mais fácil do que nunca, quando ele faz parte da dinâmica de uma das plataformas dominantes de comunicação de massa na era moderna; um site que já teve o slogan “Broadcast Yourself”.
2013 não é o que eu chamaria de estágio “inicial” na história do YouTube, mas as convenções do site e as limitações impostas pela plataforma ainda eram incipientes - poucos dominavam a “thumbnail face” nesta época. Ainda assim, mais de uma década depois, é quase impensável considerar que o This Exists (um canal lançado pela aux, agora mantido por seu apresentador, o jornalista musical Sam Sutherland) tenha tido algum sucesso fornecendo semanalmente (!) uma olhar por trás das cortinas de uma gama diversa de subculturas e seus artefatos, seja jogos de sexo não-licenciados para NES, músicos de noise destruindo seus locais de apresentação ou exibicionismo de eBay (também conhecido como reflectoporn) — todos assuntos que causariam um ataque cardíaco em um executivo da PepsiCo — sem qualquer ofuscação, linguagem codificada ou auto-censura.
O que, na superfície, parecia um turismo cultural insincero, tal qual os inúmeros canais reacionários de sua época (o auge econômico do ódio aos bronies) era, na realidade, uma exploração de mente aberta sobre tudo e qualquer coisa, até mesmo o feio e repreensível, que trouxesse alegria e um senso de comunidade a um pequeno grupo de desajustados. Para mim, uma adolescente isolada obcecada pela mídia e problemas em aceitar autoridade que eu era sensível demais para colocar em prática, foi um curso semi-intensivo sobre o que significava ser verdadeiramente contracultural, sobre o que tornava a arte perigosa. Eu instantaneamente me tornei uma acólita. Até hoje, faço o possível para levar o espírito da This Exists para todos os meus projetos.
Esse vídeo em particular, “Malt Liquor, Mukbang, and Me”, representa a sinédoque do canal. É uma celebração cautelosa de como a solidão na era digital obrigou algumas dúzias de esquisitões isolados a beber litros de refrigerante em suas garagens ou comer Taco Bell em cemitérios para a diversão uns dos outros e como, querendo ou não, há uma parte desses suínos homens republicanos com máscaras de esqui e jaquetas camufladas em todos nós.
nota da editora: texto original, em inglês, aqui
Silva João
brasileiro e faz gibi
quer me quebrar, arremessar uma gorda chave inglesa nas minhas engrenagens? pergunte-me qual é o meu vídeo favorito do youtube.
estou inclinado sobre a pergunta há alguns dias.
para não tomar muito do seu tempo, leitores da eu destruirei vocês, vou evitar começar a resposta definindo vídeo, favoritismo ou youtube.
vamos pensar brevemente sobre a internet em si, essa que todos une, que as barreiras esmaece. essa que, para mim, começou como uma escada de degraus compridos e vãos enormes e promissores. uma hora, ela se tornou um escorregador irado, cheio de foguinhos estampados nas laterais.
ao final do escorregador, um moedorzão. liquefeito, achei na internet tudo de ruim e de perigoso. às vezes, só pensamentos. às vezes, a própria coisa registrada. maior coisa de millennial, ir na internet ver o oco.
mas tudo o que eu achei do outro lado do moedorzão, talvez por conta do inquebrantável espírito brasileiro na net, do tomar-sol-e-tocar-gramacore, me pareceu tão patético (pathoso) que, depois de um tempo, só fui capaz de escutar o chororô adolescente que emanava desses rincões da web. o abismo acabou sendo uma escola.
voltei por onde tinha ido, moedorzão acima, com renovado e sincero apreço pelas coisas, e um pouco mais versado em um pouco do pior que a humanidade inventou, transformou em bits e enterrou nessa mundialíssima rede de computadores.
a lição que tirei da internet, como esse vídeo aqui muito bem demonstra, é a de como se pode tirar algo novo e bom a partir dos escombros da psiquê humana.
Ora Thiago
roteirista e produtor de vídeos
Tem um subgênero específico de videos do youtube publicados mais ou menos entre 2016 e 2019 por criadores gringos de esquerda que eu costumo chamar de "vamos combater os doido, mas uma doidice de cada vez". Não sei se esse é o melhor título, mas é engraçado olhar pra trás com ele em mente. E isso não é um deboche, só um pouquinho. Muito da minha compreensão de mundo contemporênea surgiu a partir de videos como "Incels", da Contrapoints, ou "Soy Boys: A Measured Response", do Hbomberguy. Mas o tempo passa, o mundo muda, a paciência acaba e algumas estratégias discursivas se mostram, no mínimo, insuficientes. Anos depois, é meio frustrante perceber que rebater retórica fascista argumento por argumento, falácia por falácia, tem, no melhor dos cenários, um certo limite.
Mas dentro desse subgênero, o video que eu sempre acabo voltando é o "In Search Of A Flat Earth", do canal Folding Ideas. Eu gosto dele porque, a princípio, parece mais do mesmo: "vamos combater os terraplanistas, uma terraplanice de cada vez". Até o momento em que o criador percebe que não, não adianta. Não importa a forma, a retórica, a estratégia discursiva, não importa até onde a sua paciência leva: não há limites para a insanidade. Mas a gente faz o que com isso? Um video de 1h16, mais próximo de um documentário tradicional do que de um típico "conteúdo", onde a primeira parte é sobre um lago e a segunda é sobre o QAnon. Ah, e esse video é de setembro de 2020, quando eu tava trancado em casa sonhando com a minha própria morte. Tem essa camada também.
Claudio Moreira
artista visual, coordena a editora Molécula
Claro que, para começar este texto, tive que navegar pelos m/eus likes do YouTube e, quando vi, caí num vórtex temporal, vertiginoso, oscilante e viscoso, que ia de tutoriais de francesinha na unha até o abecedário do Deleuze. Claro que esse texto poderia ser sobre overdose — de imagens, de sons, de papel de hambúrguer amassado, de tweets que não vingaram, de sets do HOR que amplificaram batidas enquanto eu batia os dedos no teclado, fritando o corpo para fazer um tweet ameno. Claro que em algum momento de 2013, poucos anos antes de entrar no curso de Artes Visuais, a thumbnail do Andy Warhol comendo um hambúrguer apareceu e, com meu dedo curioso e fritado, cliquei. Ok, sabemos que um hambúrguer frita em óleo pelante a 220 graus. Ok, sabemos que um hardtechno pela na sua cabeça em 180bpm. Claro que alguém escreveu nos comentários que dá play nesse vídeo pra não jantar sozinho. Claro que é um pacto coletivo: a solidão repartida em pixels, cada mastigada em slow motion firmando uma ceia. Claro que o vídeo é um loop de banalidades que mastigam você enquanto você mastiga junto — ou talvez só olha. Escuta? Claro que o Burger King caiu na tentação de remastigar o vídeo no Super Bowl décadas depois, transformando Warhol em um zumbi publicitário, um morto comendo o que já foi comido, vendendo o que já foi vendido, enquanto a embalagem faz um barulho seco que ressoa nas nossas sinapses cansadas. E claro, a cultura apodrece no estômago. Claro que ela fermenta em lentidão enquanto o sódio implode, percorrendo vasos que se reviram no refluxo dos comentários escorrendo em slow motion no m/eu feed infinito dessa ceia de hambúrguer partilhado. E claro que isabela thomé estava certa: Warhol faria bons tweets. Claro que você me disse que se recusa a usar o “X” pra se referir ao Twitter porque a palavra também pode apodrecer no estômago. Meu nome é Andy Warhol e eu acabei de comer um hambúrguer. Ele disse. E ele simplesmente fez isso.
maia arson crimew
jornalista e hacker
Eu nunca havia pensado se eu tenho um “vídeo favorito do YouTube” antes, mas quando a Isabela me procurou para fazer isso, eu soube imediatamente qual era. Apesar de ter praticamente crescido no YouTube e provavelmente tendo visto milhares de vídeos na plataforma, o vídeo que me veio à mente tem apenas pouco mais de ano e já me parece um clássico futuro, apesar de ainda não ter um milhão de visualizações.
Bobby Fingers é um artista irlandês de próteses com experiência em efeitos especiais para TV e cinema, e seus vídeos mostram definitivamente suas habilidades como artista, tanto na criação de modelos quanto no cinema. À primeira vista, você pode pensar que esse irlandês frio e monótono é apenas mais um YouTuber de dioramas, mas não é bem assim. O humor seco de Bobby e o seu amor por contar histórias são o grande foco dos seus vídeos, transformando o que poderia ser “apenas” uma habilidade artística impressionante em alguns dos vídeos mais engraçados e memoráveis do YouTube.
E nenhum vídeo deixa isso mais claro do que “Jeff Bezos Rowing Boat”. O vídeo de meia hora de duração é repleto de meia dúzia de reviravoltas que você jamais esperaria antes mesmo de ele transformar a cabeça de um bilionário careca em um barco a remo. Não quero estragar muito o vídeo falando sobre ele aqui, porque é algo que você precisa experimentar por si mesmo, com todas as tangentes das quais até Chekov se orgulharia.
Prometo que, depois de assistir a essa obra-prima, você será uma nova pessoa. Ele não só irá lhe ensinar que os quatro Rs são “reduzir, reutilizar, reciclar e registrar-se como agressor sexual”, mas você pode até mesmo descobrir se ser careca pode torná-lo um homem de negócios melhor.
nota da editora: texto original, em inglês, aqui
Andrey Raychtock
jornalista e criador de conteúdo
Não sei se é meu vídeo favorito, mas foi o primeiro que pensei. É um trecho em baixa qualidade retirado de uma transmissão de esportes da Globo, em que o jogo vai para pênaltis. Eric Faria abre o microfone pra dizer que Romário está comendo uma banana. Segundos de silêncio e Galvão Bueno arremata: Cálcio Esse vídeo singelo é um resumo do motivo pelo qual todos amamos Galvão Bueno. Cálcio. Simples assim.
Julia Lacerda
designer, artista multimídia, entusiasta de websites
pra mim esse vídeo é uma das peças audiovisuais mais importantes do nosso século. mesmo depois de 16 anos (o vídeo foi publicado em 19 de abr. de 2008), sendo uma piada sobre previsões do próximos consoles na sua próxima geração, ele continua sendo atemporal: música edgy de fundo, os efeitos do movie maker (a estética dos anos 2000 tá de volta com tudo) e um "plz subscribe" no final que mostra que a finalidade dele era literalmente ser um post pro youtube.
além da construção estética perfeita, hoje enxergamos que de fato alguns aparelhos realmente tem semelhanças com seus novos lançamentos, por exemplo o nintendo switch (0:29) e o ps5 (1:15). pra finalizar, quando fui pegar o link o autor atualizou a descrição do video com um life update: “I now work on the Fortnite team at Epic Games! Funny how things turn out!”
tudo nesse vídeo é perfeito.
Rik Editor
youtuber
Quando eu recebi o seu convite, esse foi o primeiro vídeo que me veio à mente.
Por crescer com TV, tudo que brinca com isso tem uma cadeira cativa no meu cérebro. Obviamente, alguns mais que outros: os vídeos da Salt Cover ou da Rede Clone, por exemplo, me agradam demais e os motivos estão neles próprios.
Mas no fim do dia, apenas três palavras irão me fazer rir com tamanha simplicidade: Cães pra Caralho.
A avalanche de cachorros junto com essa música que saiu diretamente de um CD de trilhas brancas chamado “Músicas Engraçadas Vol. 2” me faz tão… mas TÃO FELIZ.
Sem contar que é um vídeo em 4:3 que usa vídeos 16:9, quase que emulando aquela experiência de assistir um DVD na TV de 14 polegadas do seu tio (até ele dar zoom na imagem pois não suporta barras pretas).
Talvez esse nem seja o meu vídeo favorito de todos os tempos, mas se veio tão rápido na minha cabeça, ignorar seria meio errado.
Chico Barney
jornalista
Não existe nada que eu ame mais do que o vídeo do Ibrahim Sued entrevistando Chiquinho Scarpa no restaurante Pérgula do Copacabana Palace. É um quadro do Fantástico dos anos 70, com uma edição esquisitíssima e efeitos sonoros pitorescos. Me faz ter saudades de uma época que eu não vivi —não só pela questão temporal, mas especialmente pela questão financeira. Uma vida melhor é possível, mas custa caríssimo.
Sputnik
cantora e compositora nos projetos Weatherday e Lola’s Pocket PC
Acho que esse vídeo faz um bom trabalho ao mostrar o tipo de obsessão inesperada que se pode ter pela arte. Especificamente, quando você se depara com algo que não conhecia e que realmente o afeta. A maneira como você começa a pensar sobre os detalhes e o propósito da obra em sua vida.
Embora possa ser visto como um vídeo bobo, sempre penso nele no meu dia a dia como um lembrete para me envolver mais com minha curiosidade.
nota da editora: texto original, em inglês, aqui
João Vitor Panda
artista e criador de conteúdo
Favoritismos costumam ter uma altíssima volatilidade, e consequentemente a tarefa de eleger um favorito se torna amarga. Minha cabeça trafegou por algumas possibilidades, mas estacionou tantas vezes na obra trevosa de Natalie Wynn que me dei por vencido e a aceitei como resposta. “The Darkness” é um videoensaio de quase trinta minutos que descabela a espiga do humor enquanto ferramenta de sobrevivência e cura, aponta dedos para aqueles que utilizam a comédia como ferramenta de tortura & tangencia a discussão da natureza do próprio riso, tudo isso decolando de um canal que faz esse formato virtual já batido alçar novos voos graciosos.
Nessa divertida dissertação, a autora estabelece A Escuridão como um conglomerado pessoal de feridas pulsantes de onde a mais poderosa forma de humor pode vir a brotar, e elenca exemplos de boas e más práticas de comédia das trevas. Natalie escolhe as piadas transfóbicas repetitivas do comediante rebeldão Ricky Gervais para ilustrar como um olhar ignorante às minúcias produz um humor não apenas capenga, mas que também, parafraseando a própria, “torna o mundo um lugar um pouquinho mais assustador para pessoas como eu”. Entretanto, ela não parte do que convencionou-se chamar de “politicamente correto”, e demonstra inclusive um certo incômodo com esses espaços, bem como um desejo de se entregar ao “humor negro”, ou no mínimo uma vocação para desfilar em cima dessa corda bamba. Já o bom exemplo fica por conta do vídeo “Minha experiência no banco de esperma”, da youtuber Gigi Gorgeous, uma mulher trans que decide coletar uma amostra de sua própria porra para conceber um neném com sua namorada. O relato nos coloca dentro de uma sala com luzes neon, pornografia e uma poltrona reclinada de couro, onde por falta de prática, Gigi erra o potinho de coleta e estoura seu champanhe na parede. Ao final da película, descobrimos que todo o esforço foi em vão. O tratamento hormonal já havia tornado-a infertil. Todavia, ela decidiu narrar o acontecido de forma bem humorada para lidar com a situação.
Segundo Natalie, isso é A Escuridão. O inerente absurdismo contido nesse ato, uma mulher raspando seu semen da parede com um potinho por puro instinto materno, é a mais pura matéria prima para comédia transexual, mas apenas a detentora dessa Escuridão tem suficiente conhecimento de causa para confeccionar esse humor. Ricky Gervais ao abordar o tema, só conseguiu conjurar o meme internético de “mas e se eu me identificar como um chimpanzé?”. Parafraseio novamente a nossa brabinha: “Algumas pessoas apenas querem ver o mundo queimar, mas você só tem o privilégio de assistir se não estiver em chamas. A Escuridão é quando você consegue fazer uma piada sobre estar pegando fogo”. Como o eterno gordinho engraçado da classe, esse vídeo me cai como uma incrível coceira, que me perturba e me instiga a permanecer em perpétuo movimento cômico em direção à minha própria, pessoal, intransferível, e flamejante Escuridão.
Felps
streamer e youtuber
ESSE VÍDEO. Não digo que é FAVORITO pq dificilmente eu funciono na base do FAVORITO DE TODOS, mas com certeza ele é bem marcante pra mim como um dos primeiros vídeos que vi no youtube, via direto, DE NOVO E DE NOVO. Lindo demais.
nota da editora: realmente é isso mesmo. afinal, esse comentário está no vídeo.
Lua Viana (sonhos tomam conta)
musicista nos projetos sonhos tomam conta e Antropoceno
Enquanto a primeira metade do vídeo aborda clássicos argumentos que foram discutidos exaustivamente no youtube, como o Paradoxo de Fermi, é na segunda parte que Dr. Fatima apresenta o que foi pra mim uma das discussões mais interessantes que encontrei no Youtube, dissecando a lógica por trás daqueles argumentos para expor o pensamento colonial que permeia o campo científico, mostrando como a visão sobre a exploração espacial revela muitos aspectos sobre a visão imperialista de quem a conduz. Um dos pontos mais importantes que ela apresenta é que, ao comparar a impossibilidade logística do crescimento desordenado de cidades com o desejo de replicar tal lógica a nível cósmico, nos é feito claro como que a lógica capitalista de crescimento infinito é tão incompatível com a exploração espacial quanto é com a própria vida na terra.
Anna’s Void
jornalista e escritora da anna’s void
“Stay Golden” é uma canção de 2005, cujo clipe é composto por vídeos caseiros de uma família comum da década de 50 (acredito eu). achar aquilo aleatoriamente no youtube foi como encontrar um tesouro. nunca existiu outra música tão sublime como essa na minha vida, que me fizesse entender o quanto o ser humano é pequeno diante da imensidão do universo e do tempo. entender que cada um é único, mas algo maior nos conecta. entender que o simples é extraordinário. entender que tudo passa, mesmo. eu só tinha 12 anos. ver aquelas pessoas desconhecidas que provavelmente já estavam mortas ou bem idosas me deixou bastante melancólica, mas grata por terem sido eternizadas em um clipe que eu posso ver e rever quantas vezes quiser graças à internet. a verdade é que me apeguei a essa família de tal forma que já deixei escapar algumas lágrimas enquanto a assistia. eu sempre volto pra “Stay Golden” e é como se estivesse ouvindo e assistindo pela primeira vez de novo. é ouro.
Jhonatan Marques
roteirista, humorista e depressivo
Quando a Isa me perguntou qual era meu vídeo preferido do Youtube eu me senti no programa “Provocações” com o Abujamra, especificamente naquele momento da entrevista que ele insiste na pergunta “O que é a vida?”, até o convidado, completamente humilhado, mostrar sua inferioridade perante ao cosmos e dizer um sonoro “eu não sei, me deixe em paz, Abujamra, seu chato”. Mas depois de muito pensar, acho que o vídeo que eu revisito com mais frequência é um clipe da música “Let´s Go”, da banda francesa de indie rock Stuck in the Sound, e sim, essa é a única música que conheço dessa banda, então não tente puxar conversa comigo usando esse tópico.
O clipe é uma animação sobre um garoto chinês que, desde criança, sonha em ser astronauta, e ele se dedica para realizar seu sonho tal qual qualquer criança se dedica em ser um Youtuber famoso ou um adulto médio que se dedica em não morrer de fome. O rapaz se abdica de todos os prazeres que a vida nos oferece, desde sexo até assistir filmes do Luccas Neto, para focar em uma série de treinamentos intensos, e ele acaba conseguindo realizar o sonho! Final feliz?! Querido leitor, NADA NO MUNDO É FELIZ!
Quando o rapaz finca a bandeira de seu país na Lua, o planeta Terra explode, simplesmente explode! O rapaz volta para a nave, e tem um flashback de todas as coisas boas que ele perdeu como festas, sexo, Luccas Neto em Acampamento de Férias, ter uma família e Luccas Neto em Acampamento de Férias 2. Quando tudo parece estar perdido ele recebe um sinal da estação espacial internacional, é um vídeo de uma mulher loira, chamando ele para sua nave. O astronauta se anima, ele tem um novo objetivo: fazer uma família extraterrestre com uma pessoa desconhecida! Então ele atravessa milhares de detritos terrestres como caminhões, bonecos do Bob Esponja e baleias mortas até chegar na nave e perceber que não era uma mulher, era um cara loiro de cabelo grande, e pela frustração do astronauta eu posso afirmar que ele é hétero. O rapaz chinês surta, mas o cara loiro de cabelão (que na minha cabeça se chama Kauê) o chama para jogar Playstation, e isso acalma o astronauta, o que prova mais uma vez que ele realmente é muito hétero para achar que tudo pode ser resolvido com entretenimento barato.
Esse clipe me faz pensar em muitas coisas, tipo, a vida não tem sentido, o lance é aproveitar a jornada; eu jamais seria astronauta; e será que vale a pena vagar pela imensidão do espaço jogando Playstation com um loiro cabeludo lindo enquanto todas as pessoas que você ama foram obliteradas da existência? O que é a vida? Eu não sei, Abujamra!
Doc Lee
videomaker, DJ e escritor da Não Sei Desenhar
(mãe, tô na Isabela Thomé!!!!) Veja bem, eu não sei nem se esse é o meu vídeo preferido da história porque eu sou péssimo em elencar esse tipo de coisa. Se eu fosse parar pra pensar mesmo talvez até fosse outro, mas como eu tive que escolher um só, esse foi o primeiro que me veio. O lance é que eu não tenho o costume de rever muitos vídeos. Esse aqui porém foi o primeiro Youtube Poop que eu vi, faz muito tempo, e eu quase consigo sentir a minha cabeça expandindo depois de ter passado horas assistindo vários outros seguidos desse. O cérebro trabalhando com as palavras repetindo e os zooms exagerados e os cortes rápidos e os links visuais aleatórios... tinha muito a ver com o que eu curtia ver no Tim & Eric Awesome Show, Great Job. Aí foi alegria pelo resto da vida, nada nunca mais aconteceu de errado. Eu sabia que o Youtube Poop estaria lá pra mim. (plug descarado: em certa edição da minha newsletter eu fiz um poop em forma de prosa, a quem interessar dar uma olhada)
L. M. Golizia
pessoa humana que localiza jogos e escreve a Brechó de Maluquices Sofia Sandices
COMUNIDADE DE CACHORRO SENTADO - GOIÁS, o ideal platônico da Não Reportagem, é o equivalente jornalístico de um desconhecido te interpelar no fumódromo e você demorar demais pra decidir entre sacrificar seu cigarro pra vazar ou sacrificar sua paciência pra fumar. vai além de ser mera oposição das qualidades do bom jornalismo, tornando-se a absoluta neutralização. esse desafio quase surrealista à minha compreensão executa perfeitamente sua missão de investigar à exaustão todas as informações e personagens relevantes sobre Cachorro Sentado: muito tempo atrás, um cachorro sentou na rua. e depois o vilarejo mudou de nome. agora olha só que árvore bonita. ó. que árvore esplêndida.
Givly Simons (Figueroas)
cantor de lambada, DJ, pesquisador musical e vendedor de discos
Esse é o meu vídeo predileto do YouTube. Vibrante, jornalista esportivo - um grande profissional, tenho que salientar - cai numa fake news onde a estrela Toni Kroos citaria o volante Ronaldo Henrique, cria do Sport e hoje no Avaí, como um jogador que lhe chama a atenção. Pode parecer bizarro, mas rolou mesmo
Sereia da Buceta Dentada do Lago Paranoá (Clarice Pelotas)
pesquisadora e subcelebridade
Não sei exatamente como aconteceu, nem como eu descobri isso, mas em algum momento dos últimos anos eu decidi compilar uma série de oito vídeos de um sujeito (com o qual não tenho contato, nem maiores informações) gritando num ônibus em direção a Curitiba - saído de onde? eu honestamente não sei, mas definitivamente um lugar que tem uma PUC - para um show da banda Pixies em fevereiro de 2006, dezoito anos atrás.
Eu não sei exatamente a graça disso, talvez o fato dos vídeos serem uma incógnita para mim pois, como eu já disse, eu não tenho maiores informações sobre absolutamente nada que acontece neles. Ele pede para acessar um fotolog (que não existe), humilha uma série de pessoas que usam óculos de aro preto, quase como um Pol Pot do início deste século, odeia profundamente todos os estudantes de design (um sentimento relativamente comum). Talvez a melhor representação de um espírito maligno, um sujeito sem nenhum compromisso ético além de instaurar o caos sem propósito, um retrato de um rockismo que se perdeu ao longo do tempo… se você, você mesmo, que está lendo este texto, souber de maiores informações sobre essa série de vídeos, peço que nunca me mande. Eu prefiro permanecer sem saber e continuar achando engraçado.
“Eu estou aqui, infernizando os senhores, mas meu espírito está em treze de maio no Motorhead. Foda-se”
isabela thomé
escritora da eu destruirei vocês
nenhuma banda no mundo consegue chegar nos lugares em que Nana Grizol chega. é como se eles tivessem inventado toda a sensibilidade tumblr anos antes do site ser relevante fora de qualquer mini-bolha de nicho. as canções de amor e de ódio mais sinceras da história, e nada é heterossexual. hoje em dia, os jovens escutam Cavetown para alcançar os mesmos sentimentos. eu sou contra isso. qualquer música inspirada por experiências que acontecem primariamente na internet vai estar infectada, de algum modo, pela ironia. escute Photos From When We Were Young. mas escute de verdade. preste atenção
essa performance específica de Cynicism, talvez a melhor canção da banda, me traz aquele sentimento clássico de nostalgia por coisas que eu não vivi. todo mundo sente isso, e eu sinto isso com umas coisas muito idiotas. talvez essa seja uma referência específica demais para quem não é criciumense, mas esse vídeo me lembra de um Pik Nik Coletivo. é fim de tarde, você está conversando com três amigos e duas pessoas que você vai ver novamente mas no máximo darão um oi de longe, uma banda meio pop-punk está tocando no palquinho. você olha nos olhos de alguém. ela olha de volta. você olha pra longe. i’m not sure if i’ll recover, but i know it was worth it
agradecimentos especiais
Emílio Júlio, pelo auxílio nas traduções dos textos. Billis Helg e Clara Moodysson, pelas pontes. e você, por ter lido até aqui. espero que tenha gostado! eu te amo.
pqp o we are the world do substack que coisa linda
Sou o autor do vídeo "cães pra caralho" e fico feliz de ter feito parte dessa grande festa