caramba, que ano maluco — e eu adoro essa frase porque ela pode ser usada sempre para qualquer ano. nós chegamos em um ponto em que não é mais possível existir um ano normal. a sociedade já deixou o conceito de normalidade no passado, e parece haver um esforço coletivo para transformar tudo no mais absoluto caos. está por todo o nosso redor: é um tipo de aceleracionismo meio besta que faz a Andressa Urach gravar conteúdos com a própria nora e o Mirassol subir para a primeira divisão do campeonato brasileiro. eu estou esperando desligarem a simulação em que vivemos a qualquer momento, mas eu ainda acho que eles vão deixar rodando por mais um tempo. o Diogo Defante está no Domingão do Huck, e o Domingão do Huck é algo que existe
é aquilo, né. como pode um ano ser comum quando ele começa com o Criciúma contratando o atacante congolês Yannick Bolasie. o Sílvio Santos literalmente morreu e todo mundo agiu como se fosse a coisa mais normal da história — e essas pessoas passaram décadas falando sobre como seria a comoção quando esse homem morresse e, de repente, era só um sábado corriqueiro. vocês tem noção de que o Twitter acabou? quer dizer, eu não entrei mais tanto nele. talvez ainda tenha gente lá postando sobre algum casal de Big Brother que todo mundo esqueceu. Breno e Paula do BBB18. meu Deus do céu, 2024 foi o ano de Davi Brito. por onde anda Bia do Brás? espero que continue descansando a imagem por muitos anos ainda. o fascismo voltou de novo? 2016 nunca acaba mesmo
eu nem consigo lembrar direito de tudo. um cara literalmente matou o CEO da Agemed estadunidense. incrível o que as pessoas podem fazer quando focam nos seus objetivos. eu lembro só dessas coisas aqui
os melhores jogos de 2024
talvez a parte mais assustadora, diferente e estranha de 2024 foi o fato de eu ter constantemente jogado jogos que saíram esse ano. vocês me conhecem: eu tenho um pavor ao zeitgeist. enquanto pessoas normais estão jogando o novo DLC de Elden Ring ou fantasiando sobre determinados aspectos de GTA VI que talvez sejam reais ou não, eu estou no meu quarto com o RetroArch aberto decidindo se eu começo a jogar Gregory Horror Show para PlayStation 2 ou algum game ridículo — mas colorido — para WonderSwan Color. mas esse ano não. esse ano eu joguei sim Mouthwashing antes da fandom se tornar extremamente tóxica e irritante
pois é. eu acho que estou lentamente descobrindo que o meu ódio em relação a jogos de terror é só porque eu nunca joguei um jogo de terror bom. realmente existe uma parte do meu cérebro que coloca um Garten of Banban da vida no mesmo cesto que Silent Hill 2, e eu tenho plena noção de que são jogos extremamente diferentes, mas na minha cabeça é tudo igual. é videogame de se assustar, e eu não gosto de me assustar. por que eu escolheria ficar com medo se eu posso jogar um simulador de fazendinha altamente wholesome e sentir apenas sentimentos felizes e bobinhos? eu tenho uma resposta. porque a vida real não é igual Stardew Valley. na vida real, você fica bêbado de enxaguante bucal
Mouthwashing é lindo, e é um jogo de terror, e é um jogo de terror lindo. na minha visão, todo videogame que para abruptamente o gameplay pra te mostrar uma tela preta com texto branco e uma frase meio perturbadora é um bom videogame — como se fosse um analog horror bobinho lançado em 2020, exceto que eu me importo o bastante com os personagens e o enredo para aceitar quase tudo que jogarem em minha direção. é meio terror de Tumblr? absolutamente. tudo bem. eu sou extremamente Tumblr
e nos últimos meses, eu passei por uma assustadora transformação em um ser levemente fitness. tem algo sobre o fato de Fitness Boxing 2: Rhythm & Exercise ser um jogo da Nintendo que eu considero muito engraçado — é uma daquelas franquias chatas e sem identidade que quando aparecem em um Nintendo Direct você ignora com todas as suas forças e vai, sei lá, buscar uma água na cozinha. é que não é nem um videogame de verdade, né? é quase uma ferramenta. um jogo que um governo totalitário te obrigaria a ter em casa. produzido pelo Departamento de Diversão de uma nação distópica e burocrática. infelizmente, tal departamento parece possuir ótimos game designers. a franquia Fitness Boxing é viciante, satisfatória e, de fato, possui jogos
esse foi o meu Balatro pessoal. o sound design desses jogos é tão perfeito que eu sinto vontade de jogar todos os dias unicamente para ficar ouvindo os sons realistas de soco quando eu faço um perfect — e eu estou exagerando quando digo que esse é o único motivo, mas um exagero não é uma mentira completa. também exagero quando falo que jogo Fitness Boxing todos os dias: se eu fizesse isso, provavelmente estaria morta neste exato momento. as sessões diárias duram de 30 a 40 minutos e eu sempre me sinto mais próxima a Deus quando termino. mas tudo bem. ao menos esse jogo me fez descobrir que YoPRO é muito gostoso
ah, é. eu menti. Balatro foi o meu Balatro. sem querer ser uma indie ridícula que gosta das coisas antes de todo mundo, mas eu joguei a demo desse joguinho genérico de cartas em algum festival da Steam no ano passado e fiquei obcecada quase que imediatamente — e talvez seja esse o grande apelo do jogo. o quão instantâneo ele é. você sabe jogar poker? você sabe jogar Balatro. é um daqueles típicos jogos em que o gameplay consiste em ver um número aumentar cada vez mais — ficar apertando o botão de adição na calculadora e, de vez em quando, o botão de multiplicação. eu já joguei muito Football Manager. eu entendo o que é isso
e nos momentos em que eu queria desligar completamente o meu cérebro mas sem ver um carta de planeta sequer na minha frente, eu jogava Post Void. belíssimo videogame. eu sou fã de jogos que você pode só pegar e jogar por 15 minutos, e uma sessão de Post Void pode facilmente durar uns 30 segundos — se você for muito ruim e morrer extremamente rápido, claro. é um jogo de atirar em inimigos, e você nem sabe direito o que são os inimigos, mas você tem uma arma e tudo está indo rápido demais. eu não vou comparar com Cruelty Squad. eu jamais faria isso. é como comparar qualquer música experimental com Death Grips ou Björk. chamar qualquer filme mais esquisitinho de lynchiano. mas assim… tem alguma coisa aí
esse ano eu também joguei muito UFO 50, fechei Bem Feito, completei Metroid Prime, joguei a tradução de Boku no Natsuyasumi 2: Umi no Bouken-hen durante o mês de agosto e passei uma semana inteira obcecada com Videoball. não me arrependo de nada
os melhores discos de 2024
Christopher Owens – I Wanna Run Barefoot Through Your Hair
de uma beleza ímpar. talvez uma das obras mais lindas já gravadas em um disco de vinil, ou um CD, ou disponibilizada digitalmente em plataformas de streaming. eu nunca tive muito contato com a banda Girls durante o seu auge no início dos anos 2010, e talvez isso torna I Wanna Run Barefoot Through Your Hair mais prazeroso. descobrir todas as suas nuances, todas as suas verdades e todos os seus segredos foi uma das melhores experiências que eu tive esse ano — e que poderia ter tido em qualquer ano. é uma daquelas coisas que aparecem na sua vida para te relevar algo, e você deseja que continue na sua vida pra sempre.
pode me chamar de dramática. não tem problema. talvez eu tenha uma conexão espiritual com esse homem de 45 anos que já foi modelo da H&M e passou os últimos anos morando em uma van. ele deve entender coisas que eu entendo, ou então nós somos a mesma pessoa. Do You Need A Friend tem sete minutos de duração e uma interpolação de It Must Have Been Love, do duo sueco Roxette. backing vocals femininos com uma explosão ao final. My Sweet Lord para uma nova geração, ou talvez para a mesmíssima geração, ou quem sabe para qualquer geração que precise. if you really wanna know, i’m barely making it through the days. eu não sei se eu acredito em genialidade, mas eu acredito em espíritos
Still House Plants – If I don't make it, I love u
eu não consigo colocar If I don't make it, I love u dentro de um gênero, e meio que grande parte de seu apelo vem exatamente daí. tem um pouco de black midi e toda aquela cena britânica de bandas de rock experimental com canções cheias de time signatures esquisitinhas — eu não sei nada sobre teoria musical, mas a palavra poliritmo acaba de surgir em minha cabeça. mistura isso com uma performance vocal legitimamente insana, como se fosse um Xiu Xiu ainda mais trêmulo, e alguma coisa acontece. eu não sei explicar o que acontece em If I don't make it, I love u. mas se eu não chegar no final, saiba que eu te amo
escute o novo disco do Geordie Greep também. ele merece
Vampire Weekend – Only God Was Above Us
sim, eu sou uma indie velha — e se você está questionando meu status como tal só porque Vampire Weekend “nem é tão velho assim”, o primeiro disco deles completará 20 anos de idade em breve. isso é a mesma idade de uma pessoa adulta. principalmente se ela tiver 20 anos de idade. você será ultrapassado em breve
Only God Was Above Us é tudo que eu sempre quis. dez canções potentes advindas do maior cover de Paul Simon que a cidade de Nova York já incubou — e especificamente a era Graceland do Paul Simon, que todo mundo sabe que é o ápice da música em geral. nem é tão legal gostar tanto assim de Vampire Weekend em 2024, mas tudo bem. 2013 foi há onze anos. a Sky Ferreira nunca mais lançou um disco, todo mundo esqueceu que Deafheaven existiu e o Spike Jonze não fez mais nada depois de Her. nossa juventude está morta. Yeezus nem era tão bom assim
Black Dresses – LAUGHINGFISH
eu entendi muita coisa em 2024, e uma delas foi Black Dresses. claro, eu sempre tive uma obsessão meio doentia pelo Devi McCallion — a mulher que, juntamente com Cate Wurtz, inventou tudo — mas sempre foi mais pela figura dela. seus canais obscuros no YouTube, sua presença no Tumblr em 2012 e uma ou duas canções de projetos paralelos que ficam na minha cabeça até hoje. mas agora eu entendi. é sobre todos os sentimentos do mundo. é sobre alienação, e quando você se sente alienada demais de tudo, a melhor coisa a se fazer é gritar muito alto. não resolve muita coisa, mas nesses momentos a gente não quer nem resolver algo. a gente só quer se sentir melhor
Projeto Hare – O Coração É Um Fardo Pesado
eu acredito que o ápice da música de guitarra é o grupo norte-americano Weezer, e talvez essa minha opinião te faça questionar todas as outras opiniões que eu poderia ter sobre música, mas não tem problema. tudo é sobre Weezer, e Projeto Hare é muito Weezer. primeiro disco dessa banda porto-alegrense, O Coração É Um Fardo Pesado tem tudo que eu necessito em minha vida: guitarras pesadas mas-não-tanto, power chords e melodias insanas — certamente foi um dos discos que eu mais cantarolei mentalmente nos últimos doze meses. se em algum ponto desse ano você me viu comprando pão d’água no Bistek, as chances do meu cérebro estar tocando Pesado ou Jéssica era de uns 35%
os melhores filmes de 2024
nossa, é verdade. o cinema existe. a sétima arte, né. definitivamente algo que eu acompanho seriamente. me desculpa, eu sou uma ridícula: deve ser o cérebro fritado pelo uso sem supervisão de computadores desde os meus seis anos de idade, mas eu tenho muita dificuldade em parar para, de fato, assistir um filme. eu odeio fazer só uma coisa. se eu não estou fazendo ao menos três ao mesmo tempo, é como se eu estivesse jogando a minha vida fora — e claro, eu acabo não fazendo bem nenhuma dessas três coisas, mas a sensação de cérebro completamente cheio é ótima. estou escutando uma demo péssima do Rivers Cuomo nesse exato momento. é tipo um campo de força contra qualquer pensamento. mas pelo menos eu não tiro o celular da bolsa quando vou assistir algo no cinema
tudo bem, Hello Kitty: Árvore da Sabedoria não é um filme de 2024, mas isso não importa. o que importa é o impacto que ele causa. poucas obras lançadas no último século são tão ricas em detalhes e perfeitas em sua execução quanto esse DVD aleatório que você alugava em um América Vídeo em meados dos anos 2000. sem querer ser uma garota Sanrio em pleno 2024, mas essa é a maior obra cinematográfica da história. é cheia de intrigas: todos foram à casa de Pompompurin comer biscoitos, e os biscoitos são tão deliciosos que sobrou apenas um. quem irá comer o último biscoito? My Melody e seus amigos estão viajando em um balão e sem querer chegam aos céus, onde encontram Kiki e Lala. tem uma panqueca envolvida na história. os personagens inventam um carro a partir de uma casca de kiwi. é tudo lindo, e é tudo intenso. e o melhor de tudo? nenhum sinal da maléfica Kuromi. eu odeio ela. eu não sou e-girl.
eu gostei de I Saw the TV Glow também. e Ainda Estou Aqui. mas isso nem importa. todo mundo gostou. eu não gostei de Wicked, porém. e isso me torna interessante
previsões para 2025
e o pior é que, aparentemente, depois de 2024, vai ter outro ano. o tempo literalmente não para e eu não aguento mais isso. mas pelo menos, pelo que eu pesquisei, o próximo ano é 2025 — um belíssimo número. forte, imponente. múltiplo de 5? sou fã.
todo ano eu faço essas previsões e eu nunca acerto nenhuma, mas é aí que está a beleza. eu amo a liberdade de estar sempre equivocada. eu posso falar o que eu quiser. quer ver?
com um Zé Ricardo revitalizado no comando, o Criciúma Esporte Clube voltará para a Série A — e se isso não acontecer, eu conheço ótimos espaços dentro do estádio Heriberto Hülse para cometer suicídio
ninguém assiste o Big Brother Brasil 25 e a temporada é cancelada no meio. em seu lugar, é exibido um compacto da novela O Tempo Não Para estrelando Edson Celulari como um velho
a canção Ronda Tristeza, lançada em 1978 pela cantora paulista Celeste, se tornará o novo hit do TikTok e aparecerá no primeiro trailer de Pobres Criaturas 2 — dirigido por Guel Arraes
a Ricardo Eletro ressurge das cinzas — e pronta para vingança
o novo disco do Car Seat Headrest será ótimo. desculpa por ser uma indie irreparável
eu irei descolorir o cabelo uma vez e pintá-lo de três cores diferentes. quais cores? não faço ideia. eu estarei muito triste em alguma tarde de junho e agirei no impulso. e tá tudo ótimo
tudo que você já sonhou se torna realidade — as coisas boas e as ruins
e agora, um aviso
socorro! a eu destruirei vocês entrará em férias no mês de janeiro — eu preciso de um mês inteiro para esquecer que essa publicação existe. quer dizer, não teremos textos inéditos, mas talvez tenhamos outras coisas. eu não quero dar spoilers. eu não posso dar spoilers. eu prometo que vai ser legal. você acredita em mim? eu jamais mentiria para você. eu sou literalmente a isabela thomé
até 2025! que seja um ano ótimo para todos nós. eu te amo tanto. você nem imagina
isa, esse ano eu fui muito anacrônico, acho que não consumi quase nada 2024. Tudo que eu vi no cinema foi com a minha irmã, então, gostei de Divertidamente 2, não gostei de Wicked, sei lá, apresentei uma versão musical de Fausto como tecladista e coro, editei um documentário, viajei um monte sozinho, fui meio desempregado num geral. Morri e nasci tantas vezes.
Comprei um Monster de melancia na véspera de natal por sua culpa, vou comprar UFO50, ouvi discos por sua causa, talvez eu assine filmicca. isa, na minha casa você é uma influencer do bem, mesmo nem existindo esse contexto. feliz 2025, pise na grama.
A coincidência de finalizar assim, numa assíncronia entre realizar demasiadamente e iniciar desesperadamente. Feliz 2025, assim espero, para absolutamente qualquer alma digna de ver o Sol e relaxar.