uma retrospectiva de 2025
o ano de 2025, em retrospectiva
é incrível como todo ano as coisas continuam acontecendo — e o pior de tudo? elas nunca param. em 2025, o tempo não parou; tudo que era para acontecer aconteceu, e o que não era para acontecer ficou para os anos subsequentes. talvez as coisas que não aconteceram acabem nunca mais acontecendo, e existe uma categoria de coisas que aconteceram que podem acontecer de novo — assim como tem coisas que aconteceram que nunca mais vão acontecer de novo. se vocês quiserem, eu posso continuar com isso por mais um tempo. ah, tem as coisas que jamais aconteceriam também. deixa eu pensar… deve ter mais coisa
em memória a um ano que aconteceu, a eu destruirei vocês, representada legalmente por isabela thomé, traz uma lista d’as melhores coisas de 2025 — porque eu gosto de quando algo é muito vago. que tipo de coisas eu estou falando? ah, coisas. nada muito específico. só algumas coisinhas
esse cinzeiro de mesa de sinuca
sinceramente? um belo ano para todos os objetos de cerâmica. olhando agora é bem possível que eu tenha usado a aquisição de canecas e cinzeiros ao longo dos últimos doze meses como uma fuga da realidade, mas, se for parar para pensar — coisa que eu faço com uma certa frequência — existem vícios piores e mais destrutivos. imagina se, em toda a minha dor e sofrimento, eu tivesse começado a adquirir velas aromáticas? talvez eu estivesse em alguma sarjeta neste exato momento. mas ao menos teria uma quantidade muito grande de velas aromáticas ao meu redor
como sempre, o Angeloni mudou a minha vida com as suas canecas de 2025. de vez em quando, uma caneca azul e rosa com um cabo de florzinha te atravessa tal qual um afeto e te faz repensar todas as escolhas da vida — principalmente as escolhas que te levaram a, anteriormente, não ter uma caneca azul e rosa com um cabo de florzinha. e vocês viram os absurdos que eles estão fazendo comigo, especificamente comigo, nessa nova coleção de primavera/verão? uma caneca de moranguinhos, uma caneca de lacinhos, uma outra caneca com um cabo de florzinha. eles querem me matar, e estão conseguindo. o melhor de tudo é que eles estão conseguindo
e já que 2025 me transformou em fumante — pode ficar tranquilo que não foi por causa de nenhum trauma —, agora eu sou uma mulher de cinzeiros. para mim, a melhor parte da existência dos cinzeiros é o quão volátil essa categoria é. eu consigo, com o poder da criatividade, transformar qualquer coisa em um cinzeiro. um porta-velas? cinzeiro. um porta-joias? cinzeiro. um vaso de morcego da Daiso? não tem porque usar isso como outra coisa além de cinzeiro. sejamos honestos agora. ninguém em sã consciência veria isso e não pensaria em um cinzeiro. ah, e tem mais uma coisa que eu precisava falar sobre; esse cinzeiro de mesa de sinuca.
tudo envolvendo cameron winter
é assustador o nível de dominação cultural que o grupo nova-iorquino Geese alcançou em 2025. estamos falando de um patamar Vampire Weekend em 2013; nos últimos doze meses, o mundo não conversou sobre qualquer coisa que não envolvesse Cameron Winter e seu disco solo, Cameron Winter e seus shows lotados no Carnegie Hall, Cameron Winter e seus blue caps. e pela primeira vez sabe-se-lá-desde-quando, o suposto artista do ano realmente merece ser tratado como tal. passaram por cima de Leonard Cohen, Jackson Browne e David Berman com um rolo compressor e o resultado final foi um homem branco de cabelo ensebado e uma voz angelical. pensando melhor, sua voz é mais demoníaca — e eu não vejo problema nenhum nisso. se Deus não quisesse que eu escutasse Geese, ele simplesmente teria os feito pior
toda vez que eu lembro que eles estão só começando a carreira, eu tenho um pouco mais de esperança pelo futuro. eu pretendo estar no show gratuito de cinquenta anos de carreira do grupo em Copacabana, daqui a mais ou menos… deixa eu fazer as contas… cinquenta anos. espero que o prefeito Eduardo Paes Do Futuro não me decepcione
mario + pokémon
é como se nós nunca tivéssemos passado de 2003 — e tudo bem. eu duvido ter existido em algum ponto da nossa existência terrestre uma ideia mais infantil do que Super MarioMon: um rom hack de Pokémon Emerald que troca todos os Pokémon por inimigos da franquia Mario, que troca todos os líderes de ginário por Waluigis da vida, que troca as cidades-não-Mario para cidades-Mario. eu gostaria de voltar no tempo e mostrar isso para uma versão criança minha, despreocupada com a guerra no Iraque e sem entender as repercussões do fim do mata-mata no Campeonato Brasileiro.
“isabela-thomé-criança”, eu diria logo após sair da minha máquina do tempo da Polishop. “tem um jogo em que você pode treinar um Goomba como se ele fosse um Pokémon”. após um breve período de choque, essa criança provavelmente perguntaria porque a sua versão do futuro era uma mulher. eu tentaria explicar com os termos mais simples que conheço
sabe o que me assusta muito em Super MarioMon? o quão complexo é. um rom hack de Pokémon que muda tudo, que praticamente não deixa resquícios do que um dia já foi. nenhum Spinda foi ferido durante a produção deste jogo, exceto os que levamos de olhos vendados até um campo aberto e executamos com um tiro na nuca. o passado não existe mais, Camerupt. um balde de água e você já morreu
a plataforma de vídeos longos
tudo de mais importante artisticamente no mundo hoje em dia está acontecendo no YouTube — e pode ter certeza que eu não estou falando isso só porque sou uma idosa de quase trinta anos de idade que se recusa a engajar seriamente com qualquer plataforma de vídeos curtos. sabe qual o problema delas? essa última palavra aí; curtos. por que diabos eu assistiria um vídeo curto se eu posso passar uma hora e doze minutos da minha maravilhosa vida assistindo The History of The Simpsons Hit & Run World Records? eu não procuro uma resposta de verdade. caso você possua uma resposta, guarde para si
esse foi um ano em que eu não assisti nada de novo — quase que literalmente. se colocar meu tempo gasto na plataforma em uma planilha cheia de dados frios e sem emoção, é possível que 80% do meu 2025 tenha sido gasto assistindo os mesmos três canais. o temível YouTube Recap, que mostra onde mais eu passei tempo no site, me disse que eu assisti mais de 600 vídeos do Dropout nos últimos doze meses, o que me deixa entre os 0,1% maiores fãs do canal. eu odiei essa informação, mesmo ela fazendo muito sentido. é tipo quando o iFood faz uma retrospectiva e você fica horrorizada com o tanto de x-salada que você pediu. mas tudo bem; o fato é que eu reassisti obsessivamente a nova temporada de Game Changer e ela foi a minha companhia nos dois meses em que eu morei em uma sala comercial no centro de Criciúma. e eu não vou falar mais nada sobre isso
e nas noites em que eu havia esgotado as possibilidades dropoutísticas, eu estava assistindo Glub Glub Clube. não adianta; é o segundo melhor podcast do mundo. eu poderia passar horas escutando esses jovens falando sobre qualquer assunto do mundo, e eu devo ter passado dias fazendo exatamente isso. é aquilo: sempre é importante criar fortes relações parassociais com pessoas que moram no seu computador — exceto quando alguém faz isso comigo. nesses casos, eu começo a gritar muito alto e saio correndo por um terreno baldio
e qual o terceiro canal? pelo oitavo ano seguido, Scott the Woz. esse nerdzinho ridículo é o meu melhor amigo pessoal
gameplays de mario kart world
a grande questão, pelo menos de momento, é que eu ainda não possuo um Nintendo Switch 2. sim, existem muitos motivos para adquirir o novo console da Nintendo, mas peço que considere o seguinte: eu sou uma adulta e não consigo justificar nem mesmo a compra de carrinhos da Hot Wheels para a minha coleção patética. imagina os malabarismos mentais que eu precisaria realizar para justificar a aquisição de um console cujos jogos custam 500 reais? não diria nem que é complicado. é impraticável. e também complicado
mas hoje em dia, com o advento da tecnologia, eu posso simplesmente assistir vídeos dos meus games-favoritos-que-eu-nunca-joguei e fingir que eu estou me divertindo. é o poder da imaginação, a criatividade ilimitada sendo utilizada para o bem. eu poderia ter curado alguma doença ridícula com o tempo que eu passei assistindo streamers aleatórios jogando Mario Kart World? sim, mas eu me conheço. eu não sou formada em nada importante e não teria a capacidade de resolver qualquer problema da humanidade mesmo se recuperasse todas as horas jogadas ao vento assistindo corridas ridículas em volta de DK Spaceport. o porto espacial do Donkey Kong. que ideia extraordinária. anota aí
talvez um dia eu de fato jogue Mario Kart World, mas no momento, estou completamente satisfeita em ser apenas uma voyeur. assistir uma vaca de desenho animado dirigindo uma moto já é o bastante para me deixar feliz
voltar a ler com frequência
e eu estou utilizando o termo “com frequência” do modo mais liberal possível. mas pelo menos 2025 foi um ano no qual eu tentei não utilizar o meu tempo livre inteiro clicando em links do Rate Your Music ou lendo o artigo da Wikipédia sobre Steve Urkel; quando eu percebia que estava fazendo algo deprimente do tipo, eu jogava o meu notebook da Lenovo pela janela e sentava no meu sofá com um belo livro em mãos — ou um belo Kindle em mãos, dependendo da minha vibe naquela fase da minha vida. eu sou assim; passo três meses querendo ler tudo no Kindle e três meses querendo tudo físico. e quando eu estou em minha fase física, eu sempre gasto muito mais dinheiro com livros de papel
observando meu Storygraph — eu não quero saber de Goodreads —, vejo que consegui ler quinze livros diferentes esse ano. sinceramente? um número absurdo, considerando que a média dos últimos anos orbitava entre o 0 e o 1. ótimos números, nada contra, mas existem algarismos maiores. nenhuma dessas leituras foi enorme; eu comecei a ler Infinite Jest, de David Foster Wallace, em outubro e não estou chegando perto de terminar — inclusive, ter uma edição física de Infinite Jest em inglês vem sendo importantíssimo para as performances de cada dia nas praças criciumenses. recomendo para todo mundo que tenha interesse em performances
“ah, isa, que papo chato”, você grita na minha janela. “fala logo quais os livros que você mais gostou de ler esse ano. que saco”. olha, depois de ser tratada com tamanho desrespeito, eu nem deveria te dar qualquer satisfação. mas eu tenho o coração mole. Little Blue Encyclopedia (for Vivian), de Hazel Jane Plante, é lindo e trans, The Crying of Lot 49 está me obrigando a ler mais Pynchon e Morangos Mofados, do Caio Fernando Abreu… todo mundo já sabe que é bom. eu não estou trazendo nenhuma novidade.
ah, eu não li o Guinness World Records desse ano, mas imagino que seja ótimo também.
música pop com reverb
mês passado, quando eu escutei pela primeira vez ‘You got time and I got money’, do grupo norueguês Smerz, eu entendi tudo. ao menos tudo que eu precisava entender; a Escandinávia parece não ter qualquer interesse em parar de nos dar o melhor da música pop, tradição iniciada com os vencedores do Eurovision ABBA e seguida com a perdedora do Eurovision Robyn. a diferença, agora, é que eles estão escutando uma quantidade absurda dos discos mais lo-fi do Ariel Pink e se afogando nas charts de sophisti-pop do Rate Your Music. eu compreendo; um mergulho tão profundo nas entranhas de Next Time Might Be Your Time te fará querer produzir exatamente o mesmo tipo de música, e quando você ouve Jordan: the Comeback pela primeira vez, sua vida muda do dia pra noite. long ago one gorgeous night, we let the stars go free
Fine não lançou disco esse ano? tudo ótimo. Erika de Casier lançou. esperando ansiosamente o próximo da ML Buch, mas eu escutei Suntub obsessivamente esse último ano e ele curou onde doía. Nourished by Time não é escandinavo, When the War is Over é a música do ano. mais alguma coisa que eu esqueci? certamente. aquele novo disco da Joanne Robertson é uma delícia. você escutou Dean Blunt esse ano? ainda dá tempo.
e agora, algumas breves previsões para 2026
ocorre o arrebatamento, mas ninguém vivo na Terra é merecedor do paraíso então ninguém percebe que rolou
décimo-primeiro lugar para o Criciúma Esporte Clube na Série B, uma eliminação ridícula nas quartas-de-final do Catarinense contra o Marcílio Dias. cansei de acreditar nessa equipe; talvez se eu não acreditar, eles me provem o contrário
o Brasil vai passar da fase de grupos na Copa do Mundo. depois eu não sei o que vai acontecer
o vencedor do BBB26 será um dos participantes do programa
eu serei feliz para sempre
e você, tem alguma previsão para 2026 que queira compartilhar? caso a resposta seja sim, por favor, não faça isso nessa seção de comentários. eu não quero saber. compartilhe com pessoas próximas, talvez seus familiares ou amigos; eu não tenho qualquer interesse nesse tipo de informação. obrigada!




