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Henrique Sandri Zimermam's avatar

Esse teu texto me fez refletir um pouco a respeito de coisas que eram comuns pra mim no passado e que hoje não são mais. Quando criança, eu visitava várias vezes por ano o cemitério da minha cidade natal. Meu pai faleceu logo depois de eu nascer, então para mim era comum ir até lá para levar flores, acender velas e rezar um pouco, com o passar do tempo, isso foi deixando de ser tão frequente, acredito que conforme o tempo passa, acabamos nos acostumando com a ideia de que alguém que a gente ama (sem mesmo ter conhecido direito) não está mais entre nós.

Quando eu era pequeno, o único motivo de ir ao cemitério era para "visitar" o meu pai, mas com o passar dos anos, o número de entes sepultados nesse mesmo cemitério foi aumentando, primeiro minha avó materna, depois meu irmão, então meu avô paterno e mais recentemente, meu avô materno, entretanto, minhas visitas não aumentaram proporcionalmente ao número de pessoas queridas pra mim que estão "descansando" lá, não tenho dúvidas que o fato de não acreditar em Deus tenha contribuído para isso, mas sou sincero em confessar que as vezes simplesmente quero evitar a sensação de chegar lá e ver que essas pessoas realmente se foram, o que contrapõem a ideia que de que vamos nos acostumando com isso, as vezes simplesmente preferimos ignorar ou então, pensar em outras coisas.

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isabela thomé's avatar

eu te entendo. sempre pensei como é maluco que eu tive pouquíssimas experiências com a morte de pessoas próximas na minha vida. meus avós por parte de pai morrendo antes de eu nascer, os por parte de mãe faleceram depois de um bom tempo doentes — e quando isso acontece, vc vai lentamente ao longo dos anos aceitando que eles vão embora uma hora

esse texto meio que é sobre uma amiga minha que faleceu esse final de semana, e talvez seja a primeira vez na vida em que eu realmente esteja passando pelo processo de luto. nunca havia sentido isso antes e é um misto de emoções absurdo. um negócio de precisar ocupar a cabeça constantemente pra tentar não pensar no fato, que nem vc falou. é o lembrar de momentos específicos e desabar. tentar navegar o mundo sem a presença da pessoa. é muito injusto e muito cruel, e é muito injusto e muito cruel que precisa ser assim

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Henrique Sandri Zimermam's avatar

Perfeito, é isso mesmo. Apesar de já ter perdido o pai e a minha avó, nenhuma dessas mortes tinha sido muito impactante para mim. Meu pai faleceu quando eu tinha 1 ano, então obviamente não me lembro de nada, enquanto a minha avó teve cancer e conforme você falou, aos poucos vamos nos acostumando com a ideia, apesar de não ser fácil quando acontece.

Eu realmente tive que lidar com o luto quando em 2015 meu irmão faleceu vítima de um afogamento. De uma hora pra outra o cara que eu via como exemplo, que era meio que uma figura paterna pra mim deixou de existir e eu me vi sozinho com a minha mãe, sem estar preparado para assumir a responsabilidade de ser "o homem da casa". Não foram tempos fáceis depois disso, mas acho que a gente é muito bom em simplesmente seguir em frente.

Olhando em retrospecto, posso te dizer que não vai ser fácil, conforme o tempo for passando, a saudades dessa tua amiga irá aumentar, em alguns dias você vai tentar entender o porquê isso aconteceu, mas algo que sempre me deu forças, foi lembrar de todos os momentos bons que eu tive com o meu irmão e ser grato pelos 21 anos que eu consegui conviver com ele. Desejo muita força para você <3

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Gabriela De Camargo Senra's avatar

Passei anos indo com minha mãe, desde que "me entendo por gente", indo cemitério são Luiz limpar a capelinha do meu avô...ficava correndo pelos caminhos com minna prima, admirando o monstruoso mausoléu da familia Guglielmi. hoje, estão lá meus tios, avós e minha mãe. Antes de ela partir, eu também ficava olhando as datas, fazendo a matemática, olhando as fotos, os azulejos das capelas. Hoje não sinto esse chamado pra ir no cemitério, é difícil ir e me lembrar dos sentimentos que tive quando me separei pra sempre dela. Mas gostei de ler tuas memórias e saber que compartilhamos de sentimentos semelhantes. 🙏🏻❤️

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thiago's avatar

Oi Isabela! Eu tava lendo um livro sobre urbanismo semana passada que tem um trecho sobre isso que pra mim faz muito sentido: tem um mito de que as cidades cresceram como uma fortificação, uma proteção (muros etc) mas na verdade a maioria delas nasceram de algo muito mais ritualístico e espiritual. Roma por exemplo foi fundada por um cemitério, o que faz muito sentido já que é super importante pra qualquer civilização marcar um lugar como nosso, e pra isso nós precisamos da conexão com o passado. Louco, né? Bjs.

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Gamendias's avatar

isa, eu gosto de ir em cemitérios por conta dessa calmaria. Diria minha falecida avó Belarmina, mãe de meu pai conhecida por ser MUITO dramática com tudo: a gente só descansa quando morre. Toda morte é uma perda imensurável, um sonho interrompido. Acho que a dor de verdade sempre fica pra quem tá vivo, a morte pra quem morreu é o breu mesmo.

Por mais que o John Lennon não tenha sido a melhor pessoa do mundo, eu como muito fã de Beatles sempre fico muito triste de ler a última entrevista dele. Cê vê ali o homem se reerguendo de novo, começando a sonhar em fazer música mais uma vez, tecendo comentários muito respeitosos até pra seu ex companheiro Paul McCartney e seu então novo single "Coming Up". É uma entrevista cheia de esperança no futuro e daí... Tudo acaba por algo tão nada.

Minha primeira morte consciente na família foi a do meu avô materno, Firmino Mendes da Silva. Eu tinha 5 anos de idade, lembro que quando a notícia veio lá pra casa eu tava jogando um jogo horrível do Taz Mania pra Super Nintendo. Minha mãe chorou muito e eu não entendi nada, só voltei a jogar. Que que era morrer? Minha mãe inclusive diz que eu já sabia que meu avô ia falecer, mas daí é papo de doido pra outro dia. Enfim, levou ANOS pra eu entender o que era meu avô morrer e senti muita culpa. Por mais que ele já fosse velho, ele não era tão velho assim. Não viu meus irmãos nascerem, não viu minha família se tornar próspera em algum nível, não conversou comigo adulto. Sempre penso nisso, nas memórias difusas, na barraca de feira dele que vendia objetos para casa e também consertava panelas, nas codornas que ele criava pra ter ovinhos e poder me dar, no Ferrorama que ele me deu e deve ter sido uma fortuna pra época. Sinto saudades de uma voz que eu não lembro como era.

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